A angústia do líder antes da decisão
Não faltarão líderes a sentirem-se na pele do guarda-redes antes do penálti. A Covid-19 é um jogador imprevisível que tem sempre uma jogada surpresa. Perante a angústia da incerteza, há que decidir.
O evoluir da pandemia no País voltou a pôr em pausa os planos de muitas empresas de fazer regressar ao escritório as equipas, algumas há meses a fio a trabalhar remotamente. Há que fazer um novo compasso de espera, aguardando-se dias melhores para, em alguns casos, se estrear espaços onde se investiram muitos milhões, para acolher novas formas de trabalhar, modelos híbridos e colaborativos que a Covid-19 veio acelerar.
Desde março do ano passado que a incerteza e a necessidade de uma rápida adaptação é o dia a dia das lideranças. Mantiveram a máquina a funcionar, contrataram muitos colaboradores que, meses depois, não só ainda não colocaram o pé na empresa como não conhecem os colegas. São meros nomes e quadrados no ecrã em centenas de reuniões Zoom ou no Teams. As pausas para café – a cola informal que cria laços entre estranhos – ficaram para depois, até lá são substituídas por mini pausas em torno de um ecrã.
Nutrir o espírito das equipas, a união que nos faz todos remar no mesmo sentido, torna-se um desafio ainda maior e as lideranças de pessoas tiram verdadeiros coelhos da cartola para recriar o que antes dávamos por adquirido pela simples convivência e trabalho em conjunto no mesmo espaço físico.
Nesta estranha forma de vida, as jornadas de trabalho prolongam-se e todos, sem exceção, acusamos o cansaço do isolamento. Se tomar decisões é já em si um ato solitário, como confidencia João Miranda, o cofundador e ex-chairman da Frulact, em entrevista à Pessoas, agora torna-se quiçá um ato ainda mais solitário. Mas há que decidir. Para começar, como queremos que seja o futuro modelo de trabalho das empresas.
Depois de meses em casa, muitos colaboradores habituaram-se à sua autonomia e anseiam por uma maior flexibilidade das organizações na hora de escolher o local a partir do qual desempenham funções. Há empresas que abraçaram o trabalho 100% remoto ou modelos híbridos, mas há quem resista. Ou porque as funções exigem presença física ou porque não se sentem preparadas para alterar estilos de trabalho tradicionais. No fim do dia há que ponderar, se com esse agarrar ao passado não correm o risco de afastar o talento que tanto desejam e necessitam para a sua renovação. Como o guarda-redes perante o penálti, há que decidir, portanto. Esse ato solitário.
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