Ryanair ataca TAP por “bloquear” slots em Lisboa e pede intervenção do Governo e da Comissão Europeia
Sem meias palavras, o CEO da Ryanair atacou a TAP por estar a "bloquear" slots em Lisboa que acaba por não usar. Michael O'Leary exige a intervenção do Governo e da Comissão Europeia.
O líder da Ryanair acusou a TAP de bloquear cerca de 20% dos seus slots no Aeroporto Humberto Delgado, os quais são libertados semanalmente, mas já sem a hipótese de serem usados por outras empresas. Michael O’Leary pede a intervenção do Governo e da Comissão Europeia, através do que vier a decidir no caso de ajuda estatal, para forçar a TAP a libertar cerca de 200 slots, prometendo que, se tal acontecer, irá investir mais em Portugal.
“Se esses slots forem libertados, vamos investir mais em Portugal e o turismo irá recuperar mais depressa“, assegurou O’Leary, acusando os responsáveis da TAP de reterem os slots que “sabem que não vão usar ou que não podem usar” por causa da redução de 20% das aeronaves prevista no processo de reestruturação da empresa. Numa conferência de imprensa, em que apresentou 26 novas rotas de inverno em Portugal, o responsável disse explicitamente que a “TAP bloqueia deliberadamente slots em Lisboa que não vai utilizar”.
O gestor da transportadora aérea low-cost disse ainda que a TAP, eventualmente, desbloqueia os slots não utilizados, mas com um “pré-aviso de 4/3/2 semanas”, o que não permite à Ryanair usá-los atempadamente. Michael O’Leary reconheceu que a TAP “não está a fazer nada de ilegal”, mas argumentou que é prejudicial para a economia portuguesa, uma vez que a empresa está “a bloquear cerca de 300 voos”. “O acumular de slots da TAP impede a concorrência e a recuperação”, criticou, pelo que é necessário acabar com isso para “maximizar o crescimento”, nomeadamente o da Ryanair.
Este mês, a TAP assumiu o compromisso de abdicar de menos de uma dezena de slots no aeroporto de Lisboa. Este é um dos pontos expressos pelo Governo na resposta às novas exigências da Comissão Europeia para a aprovação do plano de reestruturação da companhia aérea. Os slots, a joia da coroa de uma companhia aérea, são, na prática, as faixas horárias que as companhias aéreas podem usar para descolar e aterrar. Chegam a ser vendidos por 75 milhões de dólares nos principais aeroportos do mundo.
A comparação com a TAP foi constante na conferência de imprensa em que foram anunciadas novas rotas, garantindo a empresa que terá 124 destinos no inverno, “em comparação com os 75 destinos da TAP”, a partir de Portugal. Michael O’Leary argumentou que a libertação dos slots não iria apenas ser aproveitada pela sua empresa, mas também por outras transportadoras aéreas: “A TAP está a impedir que outras operadoras invistam em Portugal. Eles não gostam da concorrência e não gostam dos baixos preços da Ryanair“. “Isto é uma fraude”, rematou.
Na mesma lógica, o CEO da empresa criticou a demora da construção do novo aeroporto no Montijo, o qual criticou por ainda não estar em andamento, prometendo abrir mais rotas e criar mais empresas assim que este existir.
Questionado diretamente sobre as declarações do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, o qual disse que “não aceita intromissões nem lições de uma companhia aérea estrangeira que responde apenas perante os seus acionistas”, Michael O’Leary respondeu que o ministro “pode não gostar dos conselhos, mas deve ouvi-los”. “Não espero que os políticos entendam como funcionam os slots, mas estamos a expor os nossos argumentos”, notou.
O irlandês deu o exemplo italiano em que os reguladores foram “mais agressivos” a forçar a libertação dos slots da Alitalia, a qual teve de reduzir em 25% a sua frota e também bloqueou slots, de acordo com a Ryanair.
Comprar a TAP? “Nem de graça”
Questionado sobre o futuro da TAP, cujo apoio estatal é atacado pela Ryanair — até judicialmente –, o CEO da transportadora aérea estimou que “não há forma de o Governo português manter o controlo da TAP daqui a cinco anos“, pelo que terá de se encontrar uma solução a médio prazo. Se for comprada pela Lufthansa, Michael O’Leary disse ter “pena” dos portugueses, uma vez que a companhia aérea alemã é a “mais cara da Europa”.
E se fosse a própria Ryanair? “Não compraríamos [a TAP], mesmo se a oferta do Governo fosse de graça”, garante, criticando os prejuízos históricos da companhia aérea ao longo das décadas.
(Notícia atualizada pela última vez às 11h21)
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