“É fundamental que a CP se posicione na alta velocidade”, diz ex-presidente
Nuno Freitas considera que é "fundamental a CP posicionar-se na alta velocidade ferroviária" e comece a preparar-se para a assinatura do próximo contrato de serviço público.
O ex-presidente da CP, Nuno Freitas, considerou esta quarta-feira “fundamental” que a CP – Comboios de Portugal se posicione para entrar na alta velocidade ferroviária e comece já a preparar-se para a assinatura do próximo contrato de serviço público.
“Em todo o lado as companhias estatais estão na alta velocidade e a concorrência que existe (salvo uma honrosa exceção) é entre companhias estatais de caminho-de-ferro, com capital público. Portanto, é fundamental para a CP e, também, para o país – pela qualidade que a CP trará para uma operação, mesmo que seja em competição – que a CP entre nesta oportunidade da alta velocidade”, afirmou Nuno Freitas.
O ex-presidente da CP falava no parlamento, durante uma audição na Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, onde foi, a requerimento do PSD, esclarecer a sua decisão de abandonar o cargo no final do passado mês de setembro, três meses antes do final do mandato.
Segundo Nuno Freitas, antes de sair, a sua administração deixou preparado “um plano estratégico para a CP, que assenta em vários pilares, com alguns objetivos estratégicos”.
“Os que me parecem mais importantes são a CP começar a preparar-se, desde já, para a assinatura do próximo contrato de serviço público”, avançou, recordando que o atual contrato “termina daqui a 10 anos, mais cinco de opção, mas que é fundamental a CP começar já a preparar-se para a assinatura do próximo”.
De acordo com Nuno Freitas, “isso passa por muitas coisas, desde a alteração de cultura, a aquisição de material circulante novo, o saneamento da dívida histórica e tirar a CP do perímetro, porque se a CP não sair do perímetro do Estado não consegue atingir este objetivo”.
De acordo com o antigo presidente da transportadora ferroviária, o futuro da CP passa também por “aproveitar a nova geografia ferroviária, [porque] mais ninguém vai fazer isso, dado os tráfegos existentes”.
“A nova geografia ferroviária vai mudar completamente com um eixo de alta velocidade Porto-Lisboa. A alta velocidade come distâncias, portanto, será fundamental a CP começar já a pensar em redesenhar a sua oferta para tirar partido da nova geografia ferroviária”.
Adicionalmente, acrescentou, “é fundamental que a CP evolua nas plataformas digitais para não ficar fora de algoritmos de escolha de itinerários que possam enviesar as escolhas”.
“Há muitas áreas da CP determinantes e que são fonte de vantagem competitiva para a CP poder ser um competidor no mercado liberalizado, que, pelo menos de alta velocidade, eu acredito que vai acontecer”, considerou.
No que diz respeito a uma eventual futura fusão entre a Refer (atualmente integrada na Infraestruturas de Portugal – IP) e a CP, Nuno Freitas relembrou que, “na União Europeia, os principais operadores têm a operação junta com a infraestrutura e isto não tem sido impeditivo de que andem comboios de diferentes operadores nessa infraestrutura”.
“Isto funciona tudo em integração e não é por acaso. Há razões para isso e a principal para mim é a coordenação de investimentos, que não podem ser feitos só nos comboios, como não podem ser feitos só na infraestrutura, tem que haver uma coordenação tremenda”, sustentou.
Nuno Freitas salientou ainda que “os principais blocos económicos e geopolíticos que concorrem com a União Europeia”, como o Japão, os EUA, a índia, a Rússia e a China, “têm a sua organização ferroviária completamente integrada”, o que “devia ser um ponto de reflexão” e “dá que pensar”.
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