Nick Clegg defende Facebook na Web Summit: “Há sempre dois lados da mesma história”
Lobista-chefe do Facebook defendeu a empresa no palco da Web Summit, horas depois de uma denunciante ter defendido no mesmo evento que Mark Zuckerberg deveria demitir-se.
O principal lobista do Facebook — oficialmente vice-presidente para os Assuntos Globais –, defendeu a empresa das acusações de Frances Haugen, a ex-trabalhadora do grupo que expôs centenas de milhares de documentos internos da companhia, negando que a rede social esteja a dar prioridade aos lucros em detrimento da segurança dos seus utilizadores.
Entrevistado por videochamada na Altice Arena, no âmbito da Web Summit, Nick Clegg afirmou que “existem sempre dois lados da mesma história”, horas depois de a denunciante Frances Haugen ter usado o mesmo palco para defender que Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, deveria demitir-se e ceder o cargo a uma pessoa mais focada na segurança dos cidadãos em linha.
Debruçando-se sobre a acusação de que o feed de notícias do Facebook promove o discurso de ódio e o conteúdo mais extremado, Nick Clegg respondeu que “quem gera receitas são os anunciantes” e estes “não querem os seus anúncios perto desse tipo de conteúdo”. Além disso, se as pessoas tivessem constantemente “más experiências” no Facebook, não usariam os produtos do grupo, alegou o também ex-vice-primeiro-ministro do Reino Unido.
Segundo Nick Clegg, o Facebook já investiu 13 mil milhões de dólares na remoção de conteúdo considerado malicioso, prejudicial à segurança ou que viola as regras da plataforma — e, recentemente, contratou moderadores de conteúdos para 12 novos idiomas. Porém, “nunca vamos reduzir o conteúdo malicioso até zero”, assumiu.
O responsável também citou dados internos para dizer que “mais de 90% do conteúdo” que os utilizadores visualizam no Facebook é “gerado por amigos” e pessoas próximas. O conteúdo de páginas que os utilizadores seguem ou outros conteúdos relacionados com os seus interesses representam os restantes 10%.
“Não é como o Tik Tok”, que recomenda conteúdo de desconhecidos com base no histórico do que foi visto. A composição do feed do Facebook “está muito associada às escolhas” de cada um, explicou o porta-voz da empresa.
Ainda assim, Nick Clegg admitiu que existem questões levantadas por Haugen que “devem ser endereçadas”. Uma delas é o denominado “Programa XCheck”, através do qual o Facebook permitia que milhões de celebridades escapassem às regras da rede social, muito embora tenha afirmado tratar-se apenas de “uma camada adicional de verificação” para “contas altamente mediáticas e sensíveis” e que “outras empresas também o fazem”.
No mês passado, o Facebook foi repreendido pelo próprio Conselho de Supervisão, depois de o The Wall Street Journal ter exposto a existência do “Programa XCheck” dentro da empresa. A entidade, que já foi apelidada de “Supremo Tribunal” por Mark Zuckerberg, exigiu “mais transparência” à empresa.
Metaverso como “esforço coletivo”
Há uma semana, Mark Zuckerberg anunciou que o Facebook vai passar a operar sob a chancela de uma nova holding, a que chamou Meta. Uma medida incluída na estratégia de desenvolvimento de tecnologias para o chamado “metaverso”, uma espécie de “mundo virtual” descentralizado.
Sobre isto, Nick Clegg explicou que a Meta não pretende desenvolver “o metaverso”, mas sim tecnologias “para o metaverso”. “O metaverso é mais um esforço coletivo, feito em parceria com outras empresas, como a Magic Leap, a Microsoft ou a Google. Estas tecnologias estão a 5, 10 ou 15 anos de distância, mas temos de entrar [neste mercado] o mais cedo possível”, rematou.
Por fim, Clegg foi confrontado com a recente quebra nas receitas provocada pela decisão da Apple de dar aos utilizadores a opção de não serem seguidos pelas aplicações na internet. “Está a ter um impacto material”, confirmou o responsável do Facebook, sublinhando que “a Apple tem as suas razões” para tomar esta decisão.
Todavia, o Facebook considera que a rival tem “dois pesos e duas medidas” no que toca ao seguimento dos utilizadores, sugerindo, desta forma, que a multinacional liderada por Tim Cook não cumpre os mesmos padrões de privacidade que impinge às aplicações de terceiros que funcionam nos seus equipamentos.
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