Venda da Dielmar travada. Juiz manda ouvir outras propostas

Com o surgimento de mais interessados na Dielmar, o tribunal mandou travar a venda à Valérius, cuja proposta teve o dedo e o apoio do Governo. Processo de liquidação pode arrastar-se mais três meses.

Em menos de uma semana, cai por terra todo o cenário desenhado pelo Ministério da Economia para a reabilitação rápida da Dielmar. A apresentação de outras propostas para ficar com a marca e os ativos industriais da empresa de vestuário de Alcains — como a da leiriense Outfit 21 em parceria com um investidor brasileiro e até uma nova por parte de José Cláudio Monteiro Nunes, que ficou conhecido como o “Ronaldo de Viseu” e acena agora com cinco milhões de euros –, vem “[alterar] os pressupostos da pronúncia dos credores” durante a assembleia realizada na semana passada.

Segundo um despacho assinado pelo juiz Filipe Guerra, a que o ECO teve acesso, o administrador de insolvência, João Maurício Gonçalves, deve “promover a liquidação do ativo da massa insolvente, com a maior brevidade possível, conferindo aos interessados a possibilidade de apresentarem (…) as respetivas propostas”. O gestor judicial tem agora um prazo máximo de 90 dias para apresentar um “relatório atualizado acerca das diligências levadas a cabo”.

Depois de a assembleia de credores ter votado por unanimidade o encerramento definitivo e de a Valérius ter feito uma proposta de 250 mil euros que foi dada como praticamente fechada pelo Ministério da Economia, surgiu logo no dia seguinte outra empresa interessada em ficar com a Dielmar. Inclusive, a oferecer mais dinheiro (295 mil euros) e a prometer salvar mais alguns empregos (até 215) do que o grupo de Barcelos, que falara em duas centenas.

Perante o fecho de portas e a venda dos ativos decidida na reunião realizada no Tribunal do Fundão, a Outfit 21, uma empresa de confeções de Leiria que há três semanas tinha retirado a proposta apresentada após falhar o empréstimo bancário por faltarem as garantias do Estado, apresentou ao gestor judicial uma proposta para o que considerava uma nova fase do processo – algo validado agora pelo juiz –, considerando mesmo ilegal a votação vinculativa da solução da Valérius, com o argumento de que não tinha sido dada oportunidade a outros interessados.

Ameaça de Estado contra o Estado

Concretizada na sequência de um pedido de última hora feito pelo Governo, como apurou o ECO junto de fontes envolvidas no processo negocial, a proposta do grupo liderado por José Manuel Vilas Boas Ferreira – comendador minhoto especialista na reestruturação de empresas – foi de imediato acolhida com entusiasmo pelo ministro da Economia.

Pedro Siza Vieira confirmou que já tinha acertado com a Valérius o arrendamento das instalações industriais, que pertencem a um fundo estatal (FIEAE), e que o Estado, através do Banco de Fomento e da Garval, iria votar favoravelmente esta proposta. E antecipava também que a Segurança Social e os bancos estariam disponíveis para dar “luz verde” a esta solução no prazo de cinco dias que tinha sido dado pelo gestor judicial, que terminou esta segunda-feira.

Porém, a decisão do juiz Filipe Guerra invalida essa votação favorável realizada na assembleia de credores e também a que a tutela dizia ser previsível por parte desses outros grandes credores, que tinham pedido para responder por escrito. No entanto, segundo noticia o Público, foram a Segurança Social e a Caixa Geral de Depósitos a contrariar o desejo de Siza Vieira, ao dizerem ao tribunal não estar “em condições” de votar a proposta do grupo de Barcelos, que tem um prazo de validade de 30 dias e, assim, poderá cair por terra.

Fruto de vários apoios públicos concedidos nos últimos anos, o Estado detinha cerca de 30% do capital da empresa de confeções fundada em 1965, que até ao final de julho era liderada por Ana Paula Rafael. Logo após a apresentação da empresa à insolvência, a 2 de agosto, com uma dívida total de quase 17 milhões de euros a 355 credores, Siza Vieira avisou que “o dinheiro público não serve para salvar empresários” e reconheceu, que “se calhar” o Estado não [iria] recuperar o montante que tinha concedido à empresa.

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