Hidrogénio verde veio pra ficar. Procura pode aumentar 50% até 2050 e Portugal está na corrida

É provável que o crescimento inicial na utilização de hidrogénio limpo se concentre na Europa, Japão e Coreia, responsáveis por cerca de 30% da nova procura, revela estudo da McKinsey.

Na próxima década, a procura global de hidrogénio renovável poderá crescer 50% e este gás renovável poderá contribuir com mais de 20% da redução global do carbono até 2050. Estas são as conclusões do relatório “Hidrogénio para o Net Zero”, desenvolvido pela consultora McKinsey & Company em colaboração com o Hydrogen Council, que apresenta novos dados sobre o potencial de redução do carbono através do hidrogénio.

Segundo o estudo, esta pode ser a solução para garantir um quinto da procura de energia até meados do século – contribuindo ao mesmo tempo para uma redução acumulada de 80 gigatoneladas (Gt) de CO2. Até 2030, seria assim uma redução anual das emissões de CO2 equivalente ao volume total de CO2 emitido pelo Reino Unido, França e Bélgica juntos.

No entanto, “a concretização deste passo requer um aumento significativo da produção, das infraestruturas e das utilizações finais de hidrogénio”, refere Bruno Esgalhado, sócio da McKinsey & Company em Espanha.

“Atualmente, o impulso do hidrogénio é muito forte. Se compararmos as estimativas de capacidade de produção para 2030 feitas nos últimos três anos — de 2019 a 2021 — mais do que triplicaram todos os anos. Ao mesmo tempo, o volume de projetos maduros — ou seja, projetos que já têm uma solução técnica ou financiamento por trás — já totalizam mais de 70,9 mil milhões de euros“, acrescenta o responsável.

Atualmente, a indústria do hidrogénio está a mostrar uma forte dinâmica a nível mundial, com mais de 520 projetos de grande escala anunciados em 2021, 100% mais do que no ano anterior, e com 150 projetos acrescentados só nos últimos três meses da realização deste relatório, o que resultará num investimento de 142 mil milhões de euros.

No entanto, isto cobre apenas 25% dos 623 mil milhões de euros necessários para atingir os objetivos do net zero, onde se nota que são necessários 267 mil milhões de euros para a produção de hidrogénio, e 356 milhões de euros para infraestruturas e para utilizações finais de hidrogénio.

É provável que o crescimento inicial na utilização de hidrogénio limpo se concentre na Europa, Japão e Coreia, que serão responsáveis por cerca de 30% da nova procura. Seguem-se a China e a América do Norte, atualmente mercados de hidrogénio significativamente maiores, com cerca com 20% da procura de hidrogénio limpo cada um.

Por outro lado, a contribuição para a descarbonização da utilização de hidrogénio limpo será diferente de acordo com o segmento de utilização final:

  • Utilizações industriais, especialmente através da descarbonização da refinação e da síntese de amoníaco;
  • A mobilidade terrestre, poderia evitar cerca de 90 toneladas de emissões de CO2, em 2030, graças aos veículos movidos a hidrogénio;
  • Os combustíveis à base de hidrogénio, que são as alternativas escaláveis mais promissoras para a descarbonização da aviação e aplicações marítimas;
  • O aço, que requer maiores investimentos iniciais, mas pode representar cerca de 4% da procura de hidrogénio em 2030, ao mesmo tempo que conduz a quase 20% das reduções de emissões nesse ano;
  • Energia, onde o hidrogénio permitirá a descarbonização precoce dos recursos existentes de produção de energia a partir de combustíveis fósseis.

Em última análise, o pleno potencial do hidrogénio só pode ser realizado se forem tomadas medidas em três frentes: estimular a procura, permitir o acesso através de infraestruturas e criar escala para reduzir custos e colmatar o fosso económico das soluções de descarbonização do hidrogénio em relação às alternativas convencionais.

O hidrogénio pode permitir uma descarbonização eficiente das economias de todo o mundo. Há uma clara dinâmica nos investimentos em hidrogénio, mas uma transformação de tal magnitude requer uma mobilização sem precedentes de recursos públicos e privados através de fortes parcerias e apoio político. Estamos ansiosos por trabalhar com os governos sobre esta matéria em benefício dos nossos objetivos climáticos comuns”, disse, por seu lado, Tom Linebarger, vice-presidente do Hydrogen Council.

“A dinâmica do hidrogénio continua a acelerar: a capacidade de eletrólise anunciada para 2030 duplicou em 2021 e os investimentos associados ao projeto aumentaram para cerca de 140 mil milhões de euros, com investimentos totais no ecossistema estimados em mais de três vezes esse valor”, conclui Bruno Esgalhado, sócio da McKinsey & Company.

“Num caminho rumo aos nossos compromissos de descarbonização, a procura de hidrogénio neutro de carbono pode crescer para 75 milhões de toneladas até 2030. Deste valor, dois terços provirão de novos mercados como o aço, indústria, mobilidade, aviação e marítimo. Para satisfazer esta nova procura, assistiremos ao aparecimento de novos polos energéticos e cadeias de valor globais que irão permitir um mercado de hidrogénio sete vezes a sua dimensão atual até meados do século”.

Bons exemplos em Portugal

Esta semana, a EDP anunciou que vai finalmente começar a produzir-se hidrogénio verde em Sines. O GreenH2Atlantic, projeto de produção de hidrogénio renovável, prepara-se para avançar através um consórcio formado por 13 entidades, incluindo empresas como EDP, Galp, ENGIE, Bondalti, Martifer, Vestas Wind Systems A/S, McPhy e Efacec, e parceiros académicos e de investigação como ISQ, INESC-TEC, DLR e CEA, e do cluster público-privado Axelera.

O projeto terá um financiamento de 30 milhões de euros que servirá para a construção da unidade de hidrogénio, localizada na antiga central termoelétrica de Sines. A construção deverá arrancar em 2023 e a operação deverá começar em 2025, datas essas sujeitas às devidas autorizações pelas autoridades.

O GreenH2Atlantic foi um dos três projetos selecionados no âmbito do Horizon 2020 – Green Deal para demonstrar a viabilidade do hidrogénio verde numa escala de produção e aplicação tecnológica sem precedentes.

O eletrolisador de 100 MW será composto por módulos inovadores e escaláveis de 8 MW, com capacidade, para “atingir a máxima eficiência, dimensão, vida útil e flexibilidade”, refere a EDP em comunicado.

Na região de Lisboa, a Dourogás Renovável e a Águas do Tejo Atlântico anunciaram também esta semana dois projetos de Inovação Hidrogasmove e Solargasmove, para produzir biometano, hidrogénio verde e e-metano a partir de lamas de ETAR. Tratam-se de gases 100% renováveis que serão injetados na rede de gás natural e utilizados como combustível veicular, promovendo uma mobilidade mais sustentável

O projeto representa um investimento de 3,6 milhões de euros, financiados em 2,3 milhões de euros pelo FAI – Fundo de Apoio à Inovação.

Com início de operação plena previsto para julho de 2022, a iniciativa resulta de uma parceria entre a Dourogás Renovável, empresa do Grupo Dourogás, e a Águas do Tejo Atlântico, empresa do Grupo Águas de Portugal.

Por fim, um estudo produzido pelo projeto Ready4H2 (Ready for Hydrogen), em que participa a GGND (Galp Gás Natural Distribuição), conclui que a larga maioria (96%) dos gasodutos europeus de distribuição de gás, que abastecem 67 milhões de lares, empresas e indústrias, já estão prontos para o transporte de hidrogénio.

“Constatámos, em termos económicos, que é quatro vezes mais barato transportar hidrogénio por gasoduto do que por camião, o que justifica um forte investimento nas redes locais de gás”, afirma Peter Kristensen, presidente da Ready4H2.

A GGND (Galp Gás Natural Distribuição) participa nesta aliança com mais 90 distribuidoras de gás europeias de 16 países.

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