Maiores gestores de ativos do mundo pedem à UE que não classifique o gás natural como investimento “verde”
Os maiores gestores de ativos do mundo defendem que incluir o gás natural na Taxonomia da UE "comprometeria seriamente o status da Europa como líder global em finanças sustentáveis"
Uma coligação de grandes investidores mundiais que têm a seu cargo ativos na ordem dos 50 biliões de euros alertou esta quarta-feira a União Europeia para não avançar na ideia de querer rotular os investimentos em gás natural como sustentáveis, argumentando que isso “enfraqueceria sua liderança global em finanças verdes”, segundo noticia a Reuters.
A Comissão Europeia decidiu no início de 2022 começar a analisar até que ponto certas atividades ligadas à produção de eletricidade a partir de energia nuclear e gás natural podem ser consideradas como “verdes” e necessárias para a transição energética e a neutralidade carbónica daqui a 30 anos.
Incluir ou não o nuclear e o gás natural na lista é um tabu que se mantém desde o primeiro minuto em que a União Europeia anunciou em abril de 2021 a criação de uma Taxonomia no âmbito do Green Deal, uma espécie de guia de normas para classificar quais são, e não são, os investimentos “verdes” em vários setores, da indústria aos transportes e, assim, tentar combater o greenwashing.
Apesar de a decisão não ser para já e ter de passar ainda por uma série de crivos apertados até chegar à fase final, várias vozes a favor e contra já se levantaram contra a iniciativa de Bruxelas.
O Grupo de Investidores Institucionais sobre Mudanças Climáticas (IIGCC), cujos 370 membros incluem a maioria dos maiores gestores de ativos do mundo, como a BlackRock e a Vanguard, disseram esta quarta-feira que essa decisão prejudicaria as tentativas da UE de liderar esforços internacionais para estabelecer padrões baseados na ciência para investimentos verdes.
“Continuamos fortemente contra qualquer inclusão do gás natural na Taxonomia”, disse a presidente-executiva do IIGCC, Stephanie Pfeifer, numa carta aberta aos estados membros da União Europeia.
“A nossa opinião é que estas propostas comprometeriam seriamente o status da Europa como líder global em finanças sustentáveis, potencialmente desencadeando uma ‘corrida ao fundo’ que poderia diluir o nível de ambição climática nas taxonomias jurisdicionais emergentes”.
O gás natural emite cerca de metade das emissões de CO2 do carvão quando queimado para produzir eletricidade, e alguns estados da UE o consideram fundamental para reduzir sua dependência do carvão. Mas a infraestrutura de gás também está associada a fortes emissões de metano, que contribuem igualmente para o efeito de estufa.
O debate dos países da UE sobre o gás natural intensificou-se nos últimos meses, com os preços do gás a bater recordes e preços nunca antes vistos, por via da falta de abastecimentos à Europa e às tensões com a Rússia, o maior fornecedor de gás da UE.
Os investidores vieram agora aconselhar a Comissão a não rotular as centrais elétricas de ciclo combinado a gás natural como investimentos verdes, a menos que atingissem um limite de emissões de 100g CO2e/kWh.
A proposta inicial da Comissão Europeia para as regras incluía esse limite, mas enfrentou forte oposição de países como a Polónia (que terá centrais a carvão a funcionar até 2049) e a Hungria.
A última proposta preliminar, vista pela Reuters, estabeleceria condições, incluindo um limite de 270g CO2e/kwh para centrais a gás até 2030.
O IIGCC disse que isso já permitiria que as empresas de energia usassem o rótulo “verde” da taxonomia, apesar de não estarem no caminho certo para atingir zero emissões líquidas até 2050 – a meta que os cientistas dizem que o mundo deve alcançar para evitar mudanças climáticas desastrosas.
“Isso, por sua vez, dificulta a capacidade dos nossos membros alinharem as suas carteiras de investimentos com o carbono zero, prejudicando todo o propósito da taxonomia”, disse.
A carta citou o cálculo da Agência Internacional de Energia de que, para atingir emissões líquidas zero até 2050 globalmente, a procura de gás natural deve cair 8% abaixo dos níveis de 2019 até 2030.
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