Estado vende antigo hospital do Desterro por 10,5 milhões
Ao fim de oito anos como arrendatária e após alguns desentendimentos, a Mainside acabou por comprar o antigo hospital, em Lisboa, à imobiliária do Estado. Imóvel vai ganhar um hotel.
Ao fim de oito anos de impasses e desentendimentos, a Estamo (imobiliária do Estado) vendeu o antigo Hospital do Desterro, na Avenida Almirante Reis, em Lisboa. O edifício foi vendido por 10,5 milhões de euros aos próprios arrendatários: a Mainside Investments. O imóvel vai ganhar uma unidade hoteleira, uma zona de restauração e, talvez, um polo de produção para empresas. Ao ECO, os novos donos explicam que a compra foi a opção que consideraram mais fácil para fazer avançar o projeto.
O antigo hospital fechou portas em 2006, acabando por ser vendido pelo Estado à Estamo por 9,24 milhões de euros. Entretanto, em 2013, a Câmara Municipal de Lisboa assinou com a Estamo e a Mainside um acordo para a exploração deste imóvel por dez anos e a sua consequente transformação, tendo esta última ficado como arrendatária durante estes oito anos.
Nessa altura, apontou-se para o final de 2013 a conclusão das obras, mas os contratempos foram aparecendo sucessivamente, o que levou a diversas reformulações do projeto. Em 2018, em declarações a vários jornais portugueses, a Mainside esperava ter o projeto concluído no terceiro trimestre de 2019, “talvez com um arranque parcial”, mas, novamente, nada feito.
Em junho de 2020, a Mainside afirmou estar tentada a abandonar o projeto, depois de a Estamo ter recusado um pedido para suspensão temporária das rendas — 25 mil euros mensais — devido aos “efeitos devastadores da pandemia”. Em comunicado enviado na altura, a Mainside acrescentava que a Estamo convidou mesmo a empresa a rescindir o contrato de exploração e a “abandonar um investimento total estimado em cinco milhões de euros”.
Nesse mesmo comunicado, a Mainside responsabilizou a Estamo pelos sucessivos atrasos nas obras, afirmando que esta não tinha tentado encontrar “soluções ajustadas aos condicionamentos brutais provocados pela pandemia”. Dois anos depois dessas declarações, o cenário mudou.
De acordo com informação tornada agora pública, a Estamo acabou por vender o edifício do antigo hospital — que também funcionou como convento até 1834 — à Mainside. A operação foi fechada a 29 de dezembro de 2021 por 10,5 milhões de euros.
Ao ECO, a coordenadora do projeto da Mainside, Susana Pais, explica que, desde 2013, quando foi assinado o protocolo, “era suposto o projeto ter arrancado logo”. “E passou todo este tempo sem o projeto se concretizar. Houve uma pandemia pelo meio, que intensificou tudo, e chegou a uma altura em que colocamos essa opção [de compra] em cima da mesa porque iria simplificar tudo. E conseguimos chegar a essa conclusão”, explica.
O ECO contactou a Estamo para saber mais detalhes sobre a operação, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo.
Componente hoteleira, de restauração e um polo de produção
Passados todos estes anos, “os planos mantêm-se, de grosso modo”, afirma Susana Pais. A componente de alojamento que estava prevista desde o início vai manter-se. O antigo hospital vai ganhar um hotel de quatro ou cinco estrelas no primeiro piso e outra componente de alojamento, “mais descontraída”, noutro piso. “Não será um hostel, porque o upgrade é muito superior, mas será mais descontraído”, adianta a coordenadora do projeto, detalhando que cada quarto terá a sua própria casa de banho, embora não seja no interior.
Ambas as unidades vão funcionar através da Zero Hotels, marca com a qual a Mainside se estreou na hotelaria em 2019. Na altura em que foi assinado o protocolo, diz Susana Pais, a ideia era que o Desterro fosse a primeira unidade hoteleira da Zero Hotels, mas o projeto atrasou de tal forma que, entretanto, já foram abertas duas unidades — uma no Porto e outra em Coimbra.
No piso térreo, na saída para a Rua da Palma, haverá ainda uma componente de restauração. Resta uma parte do edifício cujo destino ainda não está decidido. “Inicialmente, em 2013, tínhamos pensado em criar um polo de produção, onde as empresas poderiam fazer a sua própria cerveja ou pão. Para essa parte do edifício ainda estamos a avaliar, para ver se mantemos esse polo numa escala mais pequena”, diz a coordenadora.
Nestes oito anos, foi feito um estudo ao edifício e correções em termos de estrutura, o que levou a “uma série de coisas que tiveram de ser adaptadas”, nota Susana Pais. “Obviamente que houve algumas alterações ao projeto, mas, de grosso modo, os planos mantêm-se”, diz.
Sobre prazos, que também já sofreram vários adiamentos, a responsável pelo projeto prefere não fazer projeções. “É tudo muito recente, ainda não analisamos tudo. Agora vamos ter de repensar tudo outra vez, porque está tudo em fase muito inicial”, diz.
A Mainside fundou o LxFactory, em Alcântara, tendo-o vendido em setembro de 2017 aos franceses da Keys Asset Management. É também a “mãe” da Pensão Amor e do Rio Maravilha, em Lisboa. Em 2019, estreou-se na hotelaria, com a criação do conceito Zero Hotels — uma ideia inspirada em caixas de madeira e nos hotéis cápsula do Japão, tal como o ECO adiantou na altura.
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