José Neves partilha os valores-base da Farfetch: otimização, sustentabilidade e disrupção
José Neves esteve na conferência "Voices" da Business of Fashion deste ano e partilhou o manifesto que escreveu sobre os três pilares da Farfetch e como se prepara para o futuro da empresa.
No manifesto que José Neves, fundador da Farfetch, escreveu e enviou a cada membro da sua companhia, a mensagem mais importante a retirar é que as promessas são para cumprir.
No documento, entre outras coisas, José Neves explicava que quando se anuncia que se vai inovar alguma coisa, tem mesmo de se cumprir com o prometido. “Há uma afirmação verbal que tem de ser levada em frente”, disse, durante um dos painéis da conferência anual Voices, organizada pela Business of Fashion, onde também participou Marco Bizarri, CEO da Gucci.
Ainda sobre o manifesto, acrescentou que não se devia tentar medir o lucro de algo revolucionário, porque se for realmente revolucionário, ainda não haverá forma de prever quão proveitoso será. “Podemos medir o investimento na parte da otimização e da inovação sustentável, mas não na disrupção, é impossível”.
Esses são precisamente os três valores na base na companhia: otimização, sustentabilidade e disrupção. E para uma marca como a Farfetch, que começou como startup e veio a crescer rapidamente — sendo o único unicórnio fundado por um português –, como se mantém o espírito do princípio?
“Não é fácil, porque as consequências que advêm dos riscos são ampliadas e as recompensas por fazermos o que fazemos bem, só um bocadinho melhor, são muito maiores. Chegamos a um ponto de tensão entre otimização e inovação, mas temos de conseguir ambas. As grandes empresas como a Google são fantásticas a otimizar-se enquanto máquinas de fazer dinheiro. Mas depois tiram parte do lucro que conseguem para continuarem a otimizar o seu sistema operativo e os seus negócios, em pormenores que podem parecer distrações. Porque é que uma empresa que detém um motor de pesquisa decide criar um sistema operativo para um telemóvel? Porque eles estariam ‘mortos’ se não tivessem Androids. O mundo hoje é móvel e eles já estariam nas mãos da Microsoft ou da Apple se não se tivessem adaptado. É esta tensão que temos de saber usar”, explicou José Neves.
“Foi muito interessante para mim ouvir companhias gigantes como a Gucci e a Tommy Hilfiger falarem sobre romperem com os seus modelos tradicionais e terem na inovação um valor fundamental para o seu progresso”, acrescentou, quanto aos restantes painéis.
Inovar não é fácil, porque se fores uma grande empresa, é uma decisão que pode levar-te ainda mais longe ou dar cabo de ti. Admiro a coragem de quem o faz.
“Somos uma companhia tecnológica e, por isso, temos a inovação no nosso ADN. No fundo, é tudo sobre as pessoas que contratamos. Precisamos de estar rodeados de sonhadores, que tragam os seus sonhos para cima da mesa, e de pessoas diferentes, que venham de ângulos diferentes e tenham algo a dizer”.
Outra prioridade para o CEO é que toda a organização, dos investidores aos membros dos quadros e à pessoa que está a atender telefones, estejam absolutamente focadas nos objetivos e nos valores da empresa. “Digo sempre à minha equipa, para choque de muitas pessoas, que o nosso modelo pode ser fantástico hoje e estar a crescer muito depressa, mas em cinco anos pode tornar-se irrelevante. E eles perguntam porquê, e eu não sei dizer! Só lhes digo que nunca vi uma companhia tecnológica manter-se igual por mais de cinco anos e sobreviver. Por isso pergunto: ‘Até podemos sobreviver, mas estamos a jogar para ganhar ou estamos a jogar para não perder?’ Quando uma companhia joga para não perder a curto prazo, vão perder a longo”.
A Farfetch, até agora, tem estado a jogar para ganhar. A empresa é a única em Portugal a ser considerada unicórnio, designação dada às startups avaliadas em mais de mil milhões de dólares. Para isso terão contribuído os cerca de 270 milhões de euros (mais de 300 milhões de dólares) angariados em seis rondas de investimento. Ainda no princípio deste mês, e no seguimento da iniciativa Unicórnio Português, lançou a iniciativa “Farfetch para Todos”, através da qual distribuiu 40 milhões de dólares (37 milhões de euros) em ações da empresa por todos os 1.300 funcionários do grupo, dos 11 escritórios em todo o mundo, desde o staff júnior aos altos cargos. Tem o teto dos lucros planeados para este ano em mil milhões de euros, para condizer com o título de unicórnio, e está a preparar a entrada na bolsa ao longo dos próximos anos.
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