BLX-Bragalux aposta na contratação de trabalhadores estrangeiros. Burocracia gera 6 meses de atraso

A empresa queixa-se da demora de todo o processo até ter finalmente as pessoas na companhia. Fala em atrasos no IEFP e nas embaixadas, que podem arrastar a contratação por seis meses.

A BLX-Bragalux está a contornar as dificuldades de escassez de mão de obra socorrendo-se da contratação de colaboradores estrangeiros, nomeadamente de países como Cuba, Venezuela e Equador. Atualmente, 66 dos 532 colaboradores da empresa são oriundos destes países e o número deverá aumentar em breve. A companhia sediada em Braga espera contratar entre 40 a 50 colaboradores estrangeiros durante este ano, sabe a Pessoas, mas queixa-se da demora do processo, que envolve o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), as Embaixadas e outras entidades, levando a meses de atraso até à chegada do colaborador.

“Estamos a falar de um processo que demora entre cinco a seis meses, até que o colaborador chegue finalmente à empresa”, começa por dizer Eduardo Rodrigues, diretor de recursos humanos da BLX-Bragalux.

“Não é compreensível a demora que o processo tem no IEFP, é necessário cerca de mês e meio até despachar a aceitação da contratação de mão de obra estrangeira. Se somarmos a isso o envio da documentação por correio para o país de origem, mais o processo junto da nossa embaixada nesse país, estamos a falar de um processo que demora entre cinco a seis meses, até que o colaborador chegue finalmente à empresa”, continua Eduardo Rodrigues, em conversa com a Pessoas.

Apesar das dificuldades sentidas ao longo do processo de contratação, o líder da companhia considera inevitável recorrer a mão de obra estrangeira para enfrentar o cenário que o setor — um dos mais sacrificados pela falta de candidatos disponíveis — atravessa atualmente.

A Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) estima que haja atualmente cerca de 400 mil trabalhadores na construção civil. Mas não são suficientes: ainda faltam quase 80 mil.

“Nos dias de hoje a colocação de anúncio para procura de mão de obra para o setor é simplesmente uma perda de tempo, pois já sabemos que não teremos respostas”, admite o líder de RH.

Nos dias de hoje a colocação de anúncio para procura de mão de obra para o setor é simplesmente uma perda de tempo, pois já sabemos que não teremos respostas.

Eduardo Rodrigues

Diretor de recursos humanos da BLX-Bragalux

“Os mais jovens não se sentem atraídos pela área, e os trabalhadores que existem no mercado não chegam para tanta oferta. Não existe outra forma de combater a falta de mão de obra, se não recorrer ao estrangeiro”, explica.

Integração de equipas internacionais

Com 532 colaboradores, 66 dos quais contratados em Cuba, Venezuela e Equador, a BLX- Bragalux adianta à Pessoas que irá contratar entre 40 a 50 novos colaboradores estrangeiros durante este ano. Para atraí-los, a companhia recorre a alguns trunfos: “salários acima da média, integração numa empresa cheia de oportunidades de crescimento e formação constante”, destaca Eduardo Rodrigues.

Mas há mais: acompanhamento permanente, apoio na vinda das famílias e apoios nos processos burocráticos, nomeadamente em matéria de legislação da sua situação laboral. Sobretudo nos primeiros tempos, em que o idioma é a principal barreira à integração e adaptação dos imigrantes, a empresa que se dedica ao setor das infraestruturas de distribuição e instalações elétricas, mecânicas e hidráulicas tem apostado num período de adaptação.

As equipas começam por ser “alertadas para a tolerância com quem fala uma língua diferente, tem uma cultura diferente e até a forma de trabalhar é diferenciada”. O segundo passo implicar ter “pessoas dedicadas que os acompanham de perto e dão a conhecer as cidades onde estão a viver e todas as informações necessárias para que eles efetuem as suas compras, frequentem espaços de lazer, culturais ou até religiosos“, detalha.

Já a integração profissional — e tendo em conta que a empresa recruta pessoas com o 12.º ano ou licenciadas e dá, posteriormente, formação especializada — é feita com recurso ao Centro de Formação da BLX-Bragalux, onde se promove a qualificação profissional e os trabalhadores têm acesso a um programa de gestão de carreira. Além disso, é também “estimulada e apoiada a qualificação académica”.

Apesar de olhar para 2022 com cautela, perspetivando um ano novamente “difícil”, Eduardo Rodrigues espera que, com “esta política de angariação e acolhimento de recursos humanos, aliada ao excelente quadro atual e à alta taxa de retenção de talento (temos muita gente com 20, 25 e 30 anos de casa)”, a companhia consiga aumentar a sua capacidade de resposta.

Hotelaria quer avanços na simplificação da contratação de estrangeiros

Quando a mão de obra disponível no país não é suficiente, recorrer a trabalhadores estrangeiros tem sido uma estratégia adotada por várias empresas, e não só na fileira da construção. O mesmo tem vindo a acontecer no setor da hotelaria, onde as marcas da pandemia ainda duram.

“O setor pode ter perdido profissionais”, e vai ser um desafio atraí-los de novo, dizia Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador da Vila Galé Vila Hotéis, no 52.º Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Gestão de Pessoas (APG), que decorreu no final do ano.

“Vamos ter de voltar a trazer pessoas de outros setores para o setor da hotelaria, bem como reter os que já cá estão. Vai haver falta de recursos humanos, e o mercado nacional não corresponde”, referiu na altura, dando como exemplos também a necessidade de estabelecer parcerias com outros países e promover a imigração responsável para colmatar a falta de talento.

Contudo, à semelhança das queixas do líder da BLX-Bragalux, a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) já veio dizer que espera que o novo Governo avance na simplificação dos processos de contratação de trabalhadores estrangeiros.

Uma interrupção no processo de simplificação legislativa representaria “um atraso inexplicável e que prejudicaria a economia do país e das empresas”, defende a presidente executiva da AHP, Cristina Siza Vieira.

“Neste momento, a lei dos estrangeiros é altamente complexa. [Nas reuniões com o anterior Governo] foram apontados alguns pontos que estariam em alteração para se poder simplificar estes procedimentos”.

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