BCE não mexe nos juros e mantém decisões de dezembro
No comunicado após a reunião de política monetária, o BCE não dá nenhum sinal de que poderá subir os juros este ano por causa da aceleração da inflação na Zona Euro. As decisões de dezembro mantêm-se.
O Banco Central Europeu (BCE) decidiu esta quinta-feira manter os juros inalterados e as decisões tomadas em dezembro, naquela que foi a sua primeira reunião de política monetária de 2022.
O conselho de governadores reafirma que “está preparado para ajustar todos os seus instrumentos, consoante apropriado, a fim de assegurar que a inflação estabiliza no seu objetivo de 2% no médio prazo”. Apenas aqui há uma pequena mudança, dado que, no comunicado anterior, referia que o ajuste seria “em qualquer direção”, uma expressão que, ao cair, pode sugerir que a direção será de aperto monetário face às condições atuais.
“O Conselho do BCE confirmou as decisões tomadas na reunião de política monetária realizada em dezembro”, lê-se no comunicado das conclusões da reunião, referindo-se a redução das compras líquidas do PEPP (programa de compra de ativos devido a emergência pandémicas) até terminarem em março, com reinvestimentos até 2024. O programa mais antigo, o APP, será reforçado para compensar parcialmente a retirada do PEPP.
Isto significa que a política monetária vai continuar acomodatícia, mas com menor intensidade nos próximos meses. Porém, não está à vista nenhuma subida de juros este ano, pelo menos de acordo com o comunicado, mesmo com a taxa de inflação a acelerar para 5,1% em janeiro na Zona Euro, um máximo desde o início da série estatística em 1997. Em Portugal, a taxa de inflação atingiu os 3,3% em janeiro, um máximo de fevereiro de 2012.
A tese do BCE é que esta subida dos preços continua a ter razões temporárias, apesar de mais persistentes, e que a inflação no médio prazo ainda não está ancorada nos 2% que é o objetivo de médio prazo do banco central. Contudo, também há cada vez mais sinais de preocupação com a evolução da inflação no seio entre os governadores dos bancos centrais da Zona Euro.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, dá uma conferência de imprensa às 13h30 para explicar as decisões tomadas.
BCE reafirma caminho definido em dezembro
O comunicado da reunião de fevereiro, mês e meio após a última reunião de 2021, não tem mudanças significativas. No que toca à compra de ativos, o BCE reafirma que está a desacelerar as compras líquidas do PEPP, as quais acabarão no final de março, e que os montantes adquiridos desde o início da pandemia serão reinvestidos “até, pelo menos, ao final de 2024”. “De qualquer forma, a futura descontinuação gradual da carteira do PEPP será gerida de modo a evitar interferências com a orientação de política monetária apropriada“, garantem os governadores.
Consciente de que “a flexibilidade na conceção e realização de aquisições de ativos ajudou a resolver as dificuldades na transmissão da política monetária” durante a pandemia, o BCE assegura que a flexibilidade vai manter-se sempre que necessário, em específico quando houver risco de fragmentação, o que levará a um ajuste entre países.
“Tal poderá incluir aquisições de obrigações emitidas pela República Helénica [Grécia] num montante acima e para além das renovações de reembolsos, a fim de evitar uma interrupção das aquisições nessa jurisdição, que poderia dificultar a transmissão da política monetária à economia grega, enquanto esta ainda se encontra a recuperar das consequências da pandemia”, esclarece o BCE, uma vez que a dívida grega não é elegível para o APP.
Esse programa mais antigo, o asset purchase programme (APP) vai acelerar para aquisições líquidas mensais de 40 mil milhões de euros no segundo trimestre de 2022, após o fim do PEPP, e depois desacelera para 30 mil milhões de euros no terceiro trimestre. No quarto trimestre deverá descer para 20 mil milhões “enquanto for necessário, para reforçar o impacto acomodatício das taxas de juro diretoras do BCE”. “O Conselho do BCE espera que as aquisições líquidas cessem pouco antes de começar a aumentar as taxas de juro diretoras do BCE“, esclarece. E os ativos adquiridos serão reinvestidos, na totalidade, “durante um período prolongado após a data em que comece a aumentar as taxas de juro diretoras do BCE”.
Governadores não dão sinais sobre trajetória dos juros
Em relação às taxas de juro, não há novidades. “A taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito permanecerão inalteradas em 0,00%, 0,25% e −0,50%, respetivamente“, esclarece o comunicado.
Uma das dúvidas dos analistas era se o BCE ia deixar cair do comunicado a hipótese de baixar ainda mais os juros, dando um sinal de que a haver mexida será para subir, mas tal não se concretizou: “O Conselho do BCE espera que as taxas de juro diretoras do BCE permaneçam nos níveis atuais ou em níveis inferiores até observar que a inflação atinge 2%”.
O comunicado reafirma ainda as decisões quanto às operações de refinanciamento juntos dos bancos da Zona Euro, outro dos instrumentos que o BCE tem utilizado para reforçar a transmissão da política monetária. “Como anunciado, espera que as condições especiais aplicáveis no contexto das ORPA (operações de refinanciamento de prazo alargado) direcionadas III cessem em junho deste ano”, reforça o BCE.
(Notícia atualizada às 13h21 com mais informação)
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