Inaugurada há cinco anos, a incubadora lisboeta mudou o panorama do ecossistema empreendedor na capital e no país. Foi lá que nasceram projetos como a Uniplaces ou a Hole 19.
Prólogo: a primeira etapa — e mais curta do que as normais — da volta. Funciona como apresentação, uma primeira abordagem ao terreno. Nesta volta a Portugal em incubadoras, arrancamos com um percurso de 3,4 Km, que separam a redação do ECO da Startup Lisboa, na rua da Prata.
Se Lisboa não tivesse a incubadora, o que seria hoje? A pergunta legitima a resposta e a história, detalhada, na primeira pessoa, por Miguel Fontes, diretor da Startup Lisboa, inaugurada a 2 de fevereiro de 2012. “A história do ecossistema de Lisboa cruza-se muito com a da Startup Lisboa. E a realidade está aí para o demonstrar: há cinco anos, contava-se pelos dedos de uma mão o que havia dentro desta área. E isso tem muito a ver com a missão da Startup que é, obviamente, apoiar as startups aqui incubadas como também ajudar ao desenvolvimento do próprio ecossistema empreendedor da cidade”, esclarece Miguel Fontes, em entrevista ao ECO.
Há pelo menos cinco anos que a história do ecossistema empreendedor se confunde com a da incubadora. Deixem-me explicar: incubadora, quando associada a startups, é uma ‘casa’ onde nascem, crescem, se consolidam e até, às vezes, morrem startups. É uma espécie de motor do ecossistema, um coração sobressaltado. A primeira paragem desta Volta a Portugal em Incubadoras, inaugurada esta sexta-feira pelo ECO, é em plena Rua da Prata, na Baixa lisboeta. É ali, no número 80 que, entre os seis pisos do prédio cedido pelo Montepio, que são partilhadas ideias, testados conceitos e comemoradas vitórias… e fracassos.
"Quando vemos um evento como o Web Summit vir para Lisboa é desde logo o reconhecimento de alguma coisa: era impensável que um evento com aquelas características escolhesse uma cidade como Lisboa há cinco anos. Há cinco anos, pouca gente conhecia até o léxico associado ao que era uma incubadora, uma aceleradora, uma startup, o que é isto de capital semente, de VC’s, de business angels. Tudo isso é muito novo mas acho que a Startup Lisboa contribuiu ao projetar, desde logo, algumas das startups que deram cartas nestes cinco anos e que aqui nasceram. Nada disto é obra do acaso, para mim isso é evidente. É o resultado de uma estratégia, de uma visão e de muito esforço.”
Seja no café Nata Lisboa (ex-incubada da Startup Lisboa), no rés-do-chão, ou no espaço de cowork, no 6º piso, ali os dias nunca são iguais. “A Startup Lisboa é tudo menos um centro de escritórios”, explica Ana Santiago, head of communications da incubadora lisboeta e, colaboradora do projeto desde o primeiro dia. A ideia de criar uma incubadora na e para a cidade surgiu do Orçamento Participativo 2009/10, o programa de Lisboa que recolhe ideias dos cidadãos para as implementar com investimento da autarquia e parceiros. Graça Fonseca, atual secretária de Estado Adjunta e da Modernização Administrativa e, em 2012, vereadora para as áreas da inovação e do empreendedorismo da câmara municipal de Lisboa, recorda, em conversa com o ECO, que a ideia terá partido da InvestLisboa, agência de promoção económica e captação de investimentos de Lisboa. Uma das ideias mais votadas desse ano, a incubadora foi ganhando forma até à inauguração, no início de 2012, com startups como a Uniplaces, a Hole19 e a Codacy a ocuparem as primeiras salas do primeiro edifício.
Ao longo dos anos, a incubadora foi crescendo em variedade de forma e de conteúdo: ao número 80 juntou-se a porta em frente (n.º81), também na Rua da Prata — também para empresas tech, como o projeto Academia de Código –, um edifício na rua Castilho, junto ao Marquês de Pombal, dedicado a negócios de comércio e serviços e, em julho de 2015, foi inaugurada a Casa Startup Lisboa, uma residência com 30 vagas para empreendedores estrangeiros e de fora de Lisboa instalada num edifício cedido pela Câmara Municipal. Esta forma de “abrir a casa” e “receber” é uma das razões para que os empreendedores cheguem e queiram ficar, considera Ana Santiago.
“O maior valor da Startup Lisboa é o sentido de comunidade, o sentido de família. E isto não é blá blá blá, não é só porque fica bonito dizer: essa é a nossa principal distinção. E por tentarmos, de uma forma pouco ou nada interesseira, ajudar as startups a conseguirem aquilo que é mais importante: clientes, internacionalizarem-se, terem os melhores mentores, os melhores parceiros estratégicos e ajudá-las a crescer. Tentamos, de alguma forma, ser facilitadores. Para além de ter um espaço de trabalho que tentamos que seja cada vez mais agradável e que promova essa partilha de conhecimento e o sentido de comunidade, é também ajudá-las a fazer os melhores contactos e pô-las em contacto com o melhor investidor, com o melhor parceiro, fazer esse match”, detalha a responsável pela comunicação da incubadora.
Nas comemorações do 5º aniversário, a incubadora lisboeta que acelerou a cidade lançou um programa de turismo para empreendedores: a ideia é lançar um roteiro para empreendedores, uma maneira mais de conhecer a cidade através da comunidade empreendedora.
Se formos ver, somos como uma startup.
Inaugurar a pré-aceleração
À porta do número 80 está Malik Piara. Aos 19 anos, o rapaz conhece quase todos os que entram no edifício e cumprimenta mesmo aqueles de que desconhece o nome. É um dos mais recentes incubados da Startup Lisboa mas conhece tão bem os cantos à casa como os primeiros: há meses que a incubadora faz parte das suas rotinas. “Mudou-me a vida”, explica, sobre o impacto da Startup Lisboa. “Por isso estou concentrado em fazer qualquer coisa que possa ajudar”.
Fundador da Upframe, um programa de pré-aceleração cuja primeira edição tem início marcado para 19 de abril, Malik foi desafiado por Miguel Fontes para fazer da Startup Lisboa a sua ‘casa’. Para isso, vai trabalhar em estreita parceria com a incubadora. “Percebemos que muitos projetos que nos eram apresentados eram apenas ideias numa fase muito embrionária. E isso não nos permitia incubá-los”, explica Ana Santiago. Daí a perceberem que o projeto de Malik podia ser a solução para esse desafio, passaram poucos meses.
Em breve, a Startup Lisboa arranca com o programa de pré-aceleração promovido pela Upframe, uma maneira de fazer com que as próprias incubadas possam tirar partido da própria comunidade. E vice-versa. “Existe aqui um cuidado genuíno com as pessoas, uma partilha de valores e um mindset comum. Essa, do meu ponto de vista, é a grande diferença entre a Startup Lisboa e outras incubadoras”, sublinha Malik.
Segundo Ana Santiago, tanto a área tech como a do comércio, tanto online como sem base digital, são dois dos pilares fundamentais da missão da incubadora. “Queremos apostar cada vez mais no comércio tradicional. Estando ligado à câmara, estando nós também ligados à cidade de Lisboa, ajudar a dinamizar, a dignificar e a reabilitar o comércio tradicional é uma das nossas funções. Temos tido projetos como a Yonest ou a Nata Lisboa, que também servem a nossa próxima aposta, na área da food & beverage e do turismo que no fundo, são transversais a tudo isto. Tech, comércio, turismo, comida e bebida e comércio digital são os nossos focos”, garante, enfatizando o espaço quase ‘ilimitado’ para acolher novas ideias.
“É fácil vir cá? É, mas não divulgues”, brinca Ana Santiago. “O que é preciso nos negócios incubados aqui é ter internet, um espaço e talento. Porque focamo-nos em negócios de base digital, tecnológica: mobile, plataformas, marketplace, e-commerce”, diz.
Na verdade não somos uma incubadora de investigação, somos uma incubadora de inovação. É diferente.
Desde há mais de dois anos, a Startup Lisboa aceita permanentemente candidaturas para incubados. As candidaturas são submetidas online e analisadas a cada dois ou três meses, dependendo do volume de propostas. Os projetos selecionados são chamados para uma ronda de pitch perante o júri da incubadora, que inclui elementos do ecossistema como ex-incubados, investidores, mentores e outros intervenientes.
“Não é um pitch para investimento, não é um shark tank: a ideia é dar a conhecer o projeto e a equipa. Porquê? Para avaliar se aquele projeto é só uma ideia gira ou se pode resultar num bom negócio, e também para avaliar se a equipa é boa ou não”, explica Ana Santiago. A partir do momento em que o negócio começa a crescer, as startups deixam de ter espaço e têm de procurar novas instalações. Os projetos escolhidos podem passar até três anos na incubadora.
Todas as sextas-feiras, o ECO vai publicar mais uma etapa da Volta a Portugal em incubadoras. Não perca a próxima paragem, mais a norte.
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Volta a Portugal em incubadoras: um dia na Startup Lisboa
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