Estrangeiros residentes ajudaram Porto a recuperar população na última década

  • Lusa
  • 16 Setembro 2024

População do Porto aumentou mais de 6% entre 2013 e 2023. Rui Moreira justifica-o "em larga medida" com "fluxos migratórios que estão a suplantar aquilo que é o saldo natural de envelhecimento".

A população estrangeira residente no Porto está a contribuir para contrabalançar o índice de envelhecimento da cidade que em 2023 contava com 248.769 habitantes, mais 6,1% do que em 2013, revelou o presidente da câmara.

“Depois de muitos anos em que o Porto perdeu muita população, aquilo que verificamos é que, quando comparamos 2023 com 2013, a população do Porto aumentou mais de 6%”, afirmou, em declarações à agência Lusa, o presidente da câmara, Rui Moreira.

Os dados constam de um documento apresentado durante o Conselho Municipal de Economia realizado a 11 de setembro e que, entre outros temas, se debruçou sobre a demografia com base em dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) e do Eurostat.

Em 2023, o Porto tinha 248.769 residentes, mais 6,11% do que em 2013, ano em que contabilizava 234.453 residentes. Dos 248.769 residentes, 62% tinham entre 14 e 65 anos, 26% 65 ou mais anos e 12% até aos 14 anos.

“Hoje, a cidade do Porto recupera população em larga medida porque há fluxos migratórios que estão a suplantar aquilo que é o saldo natural do envelhecimento”, salientou.

Apesar de os dados sobre a população estrangeira residente no Porto não coincidirem com o mesmo período em análise, demonstram que, entre 2012 e 2022, se registou um crescimento de 210,8%. Dados mais pormenorizados indicam ainda que em 2022 o Porto tinha 23.312 residentes estrangeiros, mais 23,1% do que em 2021, ano em que contava com 18.936 imigrantes.

A população oriunda de Moçambique (53,1%), Índia (42,5%), Angola (32,5%), Brasil (27,3%) e Itália (11,7%) foi a que mais cresceu entre 2021 e 2022 no Porto.

“Temos de ser capazes de perceber que se o Porto é hoje uma cidade mais cosmopolita tem de tratar estas pessoas como se fossem portuenses. São pessoas que fazem parte do tecido económico e social da cidade, e são iguais a nós a partir do momento em que cá estão a viver”, considerou Rui Moreira.

A par dos 248.769 residentes, os dados revelam ainda que, em 2023, 140.800 pessoas se deslocaram diariamente ao Porto para trabalhar ou estudar. A estas 140.800 pessoas somam-se os cerca de 14.000 turistas que diariamente a cidade acolhe.

“Estes dados de alguma maneira desmentem alguns dos paradigmas que têm sido apontados à cidade”, defendeu Rui Moreira, dando como exemplo “algumas das visões catastróficas” sobre o turismo.

“Tem havido uma sobrevalorização do papel e da presença dos turistas, que é verdade que é muito grande em determinadas zonas da cidade, mas percebemos que comparativamente às pessoas que vem para o Porto todos os dias representam apenas 10% e, portanto, temos de perceber que as futuras políticas da cidade devem ser baseadas em números objetivos”, afirmou.

Se por um lado, Rui Moreira considerou que o Porto, a Área Metropolita e o Governo devem “continuar a agir e investir em políticas de mobilidade”, por outro, defendeu que a cidade deve “tentar evitar a excessiva concentração de turistas” em determinadas zonas.

“Temos de conseguir um fenómeno de dispersão organizado que faça com que os turistas continuem a visitar a cidade, porque representam uma mais-valia para o comércio local. O que não podemos é ter uma hiper concentração turística”, acrescentou.

Já quanto à população estrangeira, o autarca independente, que termina o seu terceiro e último mandato no próximo ano, considera que o Porto deve ter “uma política cuidadosa” de acolhimento e integração. “Os discursos extremistas de forças de direita e de esquerda contribuem para um fenómeno de rejeição, que quem vier para cá [presidência do município] seguramente terá de contrariar”, defendeu.

Fachada atlântica deve ser prioridade da alta velocidade

O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, defende, por outro lado, que a linha de alta velocidade não deve ter por base razões políticas, mas técnicas e de procura, considerando que a prioridade deve continuar a ser a fachada atlântica. “As linhas de caminho-de-ferro não devem ser feitas por razões políticas, devem ser feitas onde há procura”, afirmou hoje Rui Moreira.

O autarca, que falava à Lusa na sequência do Conselho Municipal de Economia, que se debruçou sobre o projeto da alta velocidade, defendeu que o Governo deve manter como prioridade “infraestruturar a fachada atlântica”. “O Governo anterior entendeu, e a meu ver bem, que o primeiro objetivo deveria ser a ligação em alta velocidade de toda a fachada atlântica”, referiu, admitindo estar “objetivamente preocupado” com esta matéria, sobretudo depois de algumas declarações, entre as quais, as do seu homólogo de Lisboa.

Destacando que na fachada atlântica vivem cerca de 11 milhões de pessoas, Rui Moreira considerou que o anterior Governo, liderado por António Costa, “olhou com cuidado” para o tema. “Quando olhamos para a ligação Porto – Lisboa os estudos apontam para uma procura de 16 milhões de passageiros por ano”, observou, notando que a procura entre as duas cidades portuguesas é 60% maior do que a procura entre Madrid e Barcelona.

“Quando olhamos para a ligação entre Lisboa e Madrid, que de repente o engenheiro Carlos Moedas e outras pessoas consideram que é absolutamente fundamental, estruturante e importante, a procura é de 1,5 milhões de passageiros por ano”, observou, notando que entre o Porto e Vigo a procura é igual.

“Há tantas pessoas a viajar entre Lisboa e Madrid como entre o Porto e Vigo, mas entre o Porto e Lisboa há 11 vezes mais pessoas do que entre Lisboa e Madrid. É importante que não seja por razões políticas, mas seja por razões técnica que se continua a manter a prioridade”, indica o autarca.

Questionado se temia que o atual Governo revertesse as prioridades relativamente a esta matéria, Rui Moreira afirmou que quando o ministro das Infraestruturas visitou a Área Metropolitana do Porto “garantiu que as ligações de Lisboa ao Porto e do Porto a Vigo vão continuar a ser prioritárias”. “Quero acreditar que não vai haver uma inflexão naquilo que é o desígnio estratégico português”, acrescentou.

A linha de alta velocidade Lisboa-Porto deverá ligar as duas principais cidades do país em cerca de uma hora e 15 minutos, com paragens possíveis em Gaia, Aveiro, Coimbra e Leiria. O percurso Porto-Vigo está estimado em 50 minutos. A primeira fase (Porto-Soure) da linha de alta velocidade em Portugal deverá estar pronta em 2030, estando previsto que a segunda fase (Soure-Carregado) se complete em 2032, com ligação a Lisboa assegurada via Linha do Norte. Já a ligação do Porto a Vigo, na Galiza (Espanha), prevista para 2032, terá estações no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, Braga, Ponte de Lima e Valença (distrito de Viana do Castelo).

No total, segundo o anterior governo, os custos do investimento no eixo Lisboa-Valença rondam os sete a oito mil milhões de euros.

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Portugal está “muito avançado” na descarbonização, mas indústria ainda é um desafio

  • ECO
  • 16 Setembro 2024

Eletrificação é o caminho para tornar a atividade industrial mais verde, afirmou o presidente da ERSE durante a Conferência Energy 2024.

São cerca de 800 mil milhões de euros que a União Europeia (UE) precisa de investir, anualmente, para conseguir competir com as economias norte-americana e chinesa. A conclusão é de Mario Draghi, no relatório de 400 páginas publicado esta semana, que chama a atenção para, entre outras prioridades, a necessária industrialização da Europa. Durante a Conferência Energy 2024, organizada pelo ECO esta quinta-feira, o tema mereceu reflexão. “Creio que nos falta discutir o que é a transformação económica a partir das energias verdes. Há uma oportunidade para pensar a transformação económica com esta reindustrialização”, sugere António Costa, diretor do ECO.

António Costa, diretor do ECOHugo Amaral/ECO

As renováveis têm vindo a ser apontadas como uma oportunidade de ouro para Portugal ganhar competitividade europeia, já que tem recursos naturais – como o sol ou o vento – em abundância, mas também pelo seu caminho de descarbonização. “Portugal está muito avançado neste processo”, garante o presidente da ERSE Pedro Verdelho, que destaca o progresso alcançado nas últimas décadas. “Em 20 anos, duplicámos a penetração da energia renovável na nossa matriz energética”, sublinha.

Pedro Verdelho, presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE)Hugo Amaral/ECO

Porém, não basta reduzir emissões. É preciso extrair valor dos investimentos acumulados nas renováveis e a estratégia de reindustrialização da UE, esta semana reforçada por Draghi, é uma oportunidade que o país não deve desperdiçar. Com os preços “a descer” graças à produção verde e ao crescimento do armazenamento, “isto representará uma transformação geopolítica dentro da Europa” que pode significar alterações profundas “no Sul da Europa”.

A indústria deve ser, por isso, uma prioridade da economia nacional – não só promovendo a sua descarbonização, como também atraindo novos investimentos a partir do estrangeiro.

Eletrificar a indústria é um desafio

Luís Delgado, administrador da Bondalti, acredita que “a indústria tem feito o seu papel” em Portugal e na Europa no que à descarbonização diz respeito. “Reduzimos as nossas emissões de âmbito 1 e 2 na ordem dos 30% desde 2000. O que falta agora é perceber como damos o salto seguinte”, afirma. Em causa está a eletrificação dos processos industriais que, apesar de ser hoje possível gerar mais calor a partir da eletricidade, continua a ser um desafio técnico e financeiro. “No caso do investimento em baterias, só com incentivos é que conseguimos ter um business case positivo”, exemplifica.

Se é verdade que a península ibérica partilha das mesmas vantagens ao nível da geração de energia verde, os tempos do licenciamento para a indústria podem ser cruciais na altura das empresas decidirem onde investir. No caso da Liftium, empresa do grupo Bondalti que atua na cadeia do lítio, a escolha para a localização da nova fábrica de refinação pode mesmo pender para Espanha. “O tema absolutamente crítico é o licenciamento de unidades industriais”, reforça, lembrando que a decisão final ainda não está tomada.

O licenciamento industrial em Portugal “é um processo longo e penoso”, assinala Emanuel Proença, CEO da Savannah Resources em Portugal, que avançou a possibilidade do acionista AMG Critical Material construir uma refinaria de lítio em território nacional. O empresário diz que o país está “a dar bons passos” para se afirmar como um dos candidatos a albergar o projeto e aponta que a decisão final ainda será demorada.

Emanuel Proença, CEO da Savannah, Cristina Melo Antunes, Responsável de Negócio ESG e Green Finance, Santander Portugal, e Luís Delgado, Membro do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da BondaltiHugo Amaral/ECO

Há um potencial de transformação enorme para os países que conseguem andar à velocidade de transformação mundial e que conseguem atrair os investimentos que lhes estão associados”, insiste Emanuel Proença sobre a importância de ter uma estratégia industrial para o país.

Financiamento verde é essencial

Para Cristina Melo Antunes, responsável de ESG e Green Finance no Santander Portugal, é crucial que a banca aposte “na capacitação das empresas” para ajudá-las a percorrer o caminho da descarbonização. E para isso é fundamental que as organizações tenham estratégias de sustentabilidade, identifiquem os temas de foco mais relevantes e definam métricas. “Diria que é preciso [as empresas] alterarem o modelo de negócio, mas não para serem financiadas”, aponta a especialista. Em causa está a manutenção da competitividade e o cumprimento de critérios ESG que vão, mais tarde ou mais cedo, impactar diretamente a capacidade de as empresas acederem a financiamento bancário.

Cristina Melo Antunes, Responsável de Negócio ESG e Green Finance, Santander PortugalHugo Amaral/ECO

“Uma empresa que não esteja preocupada em fazer a transição para ser mais sustentável, terá um risco maior do que as outras (…) e isso afeta a capacidade de devolver o crédito ao banco”, diz.

O financiamento verde é ainda “um mundo novo” no contexto empresarial, mas que a banca tem procurado descomplicar através de instrumentos de capacitação. Um dos projetos passa pela criação de uma plataforma digital, que resulta da parceria entre a banca e a SIBS, para centralizar os pedidos de dados não financeiros e facilitar estes processos.

Redirecionar fundos

João Galamba foi um dos oradores da Conferência Energy 2024, onde reconheceu, a propósito da atual revisão do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC), ter sobrevalorizado a importância do hidrogénio na transição energética. “Tenho hoje uma visão em que atribuo um papel menos relevante ao hidrogénio”, disse, justificando com a necessária eletrificação da indústria. “Aqui sim, devíamos concentrar fundos [públicos] porque será preciso alterar processos industriais”, até porque, sublinhou, conhece bem “os riscos que a indústria portuguesa enfrenta por estar dependente do gás”.

“A eletrificação é fundamental para a resiliência e sobrevivência da indústria. Ainda há pouco tempo houve uma empresa de cerâmica que entrou em falência, na Figueira da Foz, pelo preço do gás”, destacou o ex-secretário de Estado da Energia.

Nuno Ribeiro da Silva, professor universitário e antigo presidente da Endesa em Portugal, João Galamba, ex-secretário de Estado da Energia e Luís Pinho, CEO da Helexia PortugalHugo Amaral/ECO

Redirecionar fundos de apoio, nomeadamente no âmbito do PRR, seria desejável, defendeu Galamba, que disse ainda ser “contra a utilização de um cêntimo do PRR em painéis fotovoltaicos” por terem um payback curto. A opinião é partilhada pelos colegas de painel, o professor universitário Nuno Ribeiro da Silva e o CEO da Helexia Portugal, Luís Pinho.

Acho que podemos estar a cometer um erro com a utilização do PRR”, afirmou Luís Pinho, que vê uma melhor aplicação dos fundos comunitários em “tecnologias que necessitam de apoio inicial, como o lítio, o hidrogénio e o armazenamento que ainda têm custos inviáveis”. O CEO defendeu ainda a importância de ser transparente sobre a redução do consumo de gás e a transição para as renováveis, que podem levar “os preços da energia subir” e que vão exigir investimentos avultados.

Nuno Ribeiro da Silva abordou ainda a dificuldade de Portugal exportar energia verde para a Europa e prefere falar numa estratégia de atração dos industriais para o país, tirando partido das vantagens competitivas ao nível energético. “Se não vai a energia ter com eles, vêm eles buscar a energia”, sugeriu. “Portugal e Espanha têm uma oportunidade histórica”, reforçou.

Pedro Vasconcelos, Executive Board Member EDPHugo Amaral/ECO

Participante como orador na conferência, o administrador da EDP, Pedro Vasconcelos, reconhece a “vantagem competitiva” da península ibérica não apenas ao nível da geração renovável, mas também do talento deste território que é, diz, “imenso”. Por outro lado, assinala, a Europa tem de ser ponderada na forma como se quer reindustrializar. “Precisamos de relações comerciais que transcendam esta lógica protecionista”, disse, em referência às guerras comerciais travadas entre EUA-China-Europa. “Não temos tempo, pelo menos até 2030, para conseguir garantir a capacidade produtiva que a China tem [nos painéis solares]”, apontou, lembrando que o protecionismo “é penalizador” para a transição energética.

Novas metas para o armazenamento

No encerramento da conferência organizada pelo ECO, a secretária de Estado da Energia, Maria João Pereira, admitiu a hipótese de o executivo rever “em alta” as metas para o armazenamento de energia prevista no PNEC. A razão é simples: o concurso de armazenamento encerrado esta semana teve uma procura quase três vezes maior do que o objetivo fixado de 500 megawatts. Para o Governo liderado por Montenegro, este “é um claro sinal de que podemos ser mais ambiciosos nesta matéria”, assegura a responsável.

Maria João Pereira, secretária de Estado da EnergiaHugo Amaral/ECO

“Em relação às metas de armazenamento de energia, quer hídrica quer de baterias, não descartamos a possibilidade de revisão em alta desses valores”, afirmou Maria João Pereira.

Consciente dos desafios da descarbonização em setores como os transportes e a indústria, a secretária de Estado da Energia admite que o caminho traçado pelo PNEC é “exigente”. “O Governo está a trabalhar para inventar soluções que permitam ter os processos de financiamento mais eficientes, que permitam que sejam mais rápidos e menos burocráticos”, clarificou.

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Com uma “esplêndida vontade” de viver, Duarte Zoio, da Vanguard Properties, na primeira pessoa

Se Duarte Zoio desse um conselho, seria para se viver a vida apaixonadamente. Embora seja chief communications officer da Vanguard Properties, um percurso na comunicação nem sempre foi algo evidente.

Duarte Zoio confessa-se um “apaixonado” em tudo o que faz. “Adoro ler, estar com os meus amigos, divertir-me ao máximo, adoro trabalhar – assumo que às vezes até com algum prejuízo para a minha família – e estou sempre a querer aprender coisas novas. Faço várias coisas, mas o que faço é sempre de forma muito apaixonada e muito intensa“, diz o chief communications officer (CCO) da Vanguard Properties.

E se essa já era a sua filosofia de vida, a mesma saiu reforçada por intermédio do avô que, mesmo antes de morrer, escreveu um pequeno texto onde constava a frase “toda a beleza da vida reside na força de uma esplêndida vontade“. “E isso ficou como o meu mantra. Tem tudo a ver com uma esplêndida vontade de nós querermos viver a vida de uma forma apaixonada”, afirma em conversa com o +M.

Detesto dar conselhos, mas se desse algum era para se viver a vida apaixonadamente, pois só assim vale a pena“, acrescenta o CCO de 45 anos.

Essa paixão pela vida começou logo desde os tempos de infância e juventude, em que assume ter sido um “privilegiado”. Enquanto filho de José João Zoio, um afamado cavaleiro tauromáquico que faleceu em 2009, teve não só a oportunidade de estudar nos melhores colégios e universidades, mas também de viajar “por todo o mundo”.

“Foi uma infância e adolescência muito diferente das dos meus amigos. Tinha um pai toureiro que viajava por todo o mundo, era uma celebridade na altura e um dos grandes nomes da tourada em Portugal. Mas apesar disto, e de todos os privilégios, o meu pai sempre foi uma pessoa que nunca permitiu que nós nos deslumbrássemos“, refere Duarte Zoio.

Apesar de ter acesso a contactos e a pessoas de um círculo bastante elitista, o meu pai sempre fez questão de dar uma educação de estar bastante próximo de todas as outras pessoas. É uma coisa que me ficou sempre muito presente, e falo com o CEO da mesma forma que falo com a senhora que vem limpar o escritório todos os dias e também faz parte da equipa”, acrescenta.

Além de fazer motocross, montava a cavalo e praticou também vários desportos – desde futebol a rugby, ténis ou ski – ou seja, foi sempre “muito virado para o desporto”. A paixão pelo mundo desportivo mantém-se – ainda que hoje em dia não pratique tanto desporto quanto gostaria – mas ainda joga futebol, padel e faz ski.

Casado, vive no Estoril com a mulher e as duas filhas – de 13 e 17 anos -, sendo que a mais velha, “na adolescência”, tem colocado “à prova” as suas “skills de liderança”.

Em termos profissionais, um percurso no ramo da comunicação nem sempre foi algo evidente para Duarte Zoio. Foi já a meio do curso de Direito que começou a ler sobre spin doctors e a ficar “muito interessado na questão da comunicação como parte estratégica das empresas”.

“Comecei a pesquisar, em Portugal ainda não havia assim muitas agências, ainda não era uma coisa muito explorada, e eu comecei a perceber que se calhar era por ali que eu queria ir”, explica. Nesse sentido, acabou o curso de Direito, mas depois fez o máximo de formações na área de comunicação, tendo depois percebido que “por mais formações e pós-graduações que fizesse na área”, iria ter sempre uma falha relacionada com a assessoria de imprensa.

Para colmatar essa falha, aceitou um convite em 2003 para integrar o jornal “Semanário”, entretanto extinto, onde fez “um pouco de tudo”. “Adorei a experiência, pelo muito que aprendi. Apesar de ser um péssimo jornalista e de não querer seguir jornalismo [este] foi um dos momentos mais importantes da minha carreira profissional em termos de aprendizagem“, confessa.

Cerca de dois ou três anos depois, surgiu a possibilidade de ir para “uma das maiores agências de comunicação da altura” ou ir para o lado do cliente. Decidiu ir para o lado do cliente, para a Knight Frank (mais tarde, Worx Knight Frank), onde esteve cerca de seis anos enquanto responsável pela comunicação estratégica da empresa.

Após um projeto “que não correu tão bem”, num “family office”, Duarte Zoio passou por “uma fase estranha”. “Sei que isto é um bocado lírico e romântico, mas eu queria trabalhar numa coisa que tivesse um propósito – nem que isso implicasse um downgrade na minha vida -, por algo que fizesse sentido. Queria poder olhar para trás com algum orgulho, porque ajudei a construir algo numa área social que me interessasse e onde pudesse fazer a diferença“, explica.

Foi nessa altura que recebeu o convite da Ordem dos Psicólogos, que funcionou como um “game changer” na sua vida profissional. Na entrevista para o cargo, Duarte Zoio disse ao bastonário “inúmeras vezes que não era a pessoa indicada”, uma vez que, na altura, considerava que “quem ia ao psicólogo era quem estava com problemas ou era maluco”.

“E o bastonário disse-me que era exatamente uma pessoa assim que queria, que pensasse dessa forma e que ajudasse a desmistificar e a mudar a perceção que as pessoas têm da psicologia”, conta Duarte Zoio. “Eu estava indeciso, mas ele disse-me ‘Duarte, você quer continuar a trabalhar para o lucro e só olhar para o dinheiro, ou quer ajudar-me a mudar a sociedade portuguesa?’, e aquilo para mim foi um clique e aceitei o desafio, acrescenta.

Acabou por desempenhar o cargo de chief communications officer na Ordem dos Psicólogos durante cerca sete anos e meio, e hoje avalia esse período como uma experiência “incrível”, onde percebeu que “a psicologia é a base do marketing e da comunicação“.

“Aliás, comecei a estudar cada vez mais isto. Comecei a aprofundar cada vez mais a parte da psicologia e das ciências comportamentais aplicadas à comunicação. E há inúmeros exemplos de campanhas em que há um insight psicológico, principalmente entre as maiores e de sucesso. 80 a 90% das nossas decisões são emocionais, nós simplesmente procuramos razões racionais para justificar a decisão que já está tomada em termos emocionais“, refere.

Integrou depois a Vanguard Properties, em 2021, enquanto corporatecommunicationdirector. Aceitou o desafio do CEO, José Cardoso Botelho, que “queria trabalhar a perceção da Vanguard, criar um verdadeiro universo Vanguard e uma marca forte, e não que esta fosse só uma promotora imobiliária em Portugal”.

“E é por isso que temos inúmeras ações paralelas, como uma revista – a ‘Pórtico’ -, experiências únicas oferecidas aos clientes e potenciais clientes ou uma fortíssima política de embaixadores de marca”, explica sobre a marca que na última semana assumiu o estatuto de mecenas do MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia no âmbito de uma parceria com a Fundação EDP.

Entretanto, o objetivo passou por se “industrializar a empresa”, pelo que se criou um grupo, com cerca de 12 empresas associadas, todas relacionadas com a área imobiliária. “E houve uma altura em que se chegou à conclusão que era importante haver um chief communications officer que tratasse desta estratégia toda da comunicação, não só da Vanguard Properties enquanto promotora imobiliária, mas também pensar na estratégia do grupo, da Vanguard Signature, enquanto um grupo muito virado para as questões da sustentabilidade”, adianta Duarte Zoio.

E foi assim que há cerca de três meses foi convidado para ser chief communications officer e ficar com toda a estratégia de comunicação do grupo. Segundo Duarte Zoio, apesar de a Vanguard ser uma marca “aspiracional” e “exclusiva”, a sua comunicação é “bastante aberta”, com inúmeras iniciativas e ações com os stakeholders regionais e que quer ser “muito próxima”.

“Não deixa de ser uma marca que apresenta um conjunto de produtos absolutamente exclusivos, para um nicho de mercado, mas que quer estar junto da sociedade, ser uma parte muito ativa junto das comunidades onde se insere. A nossa estratégia acaba por ser bastante flexível em termos de posicionamento. É um posicionamento elevado, que nos coloca como uma marca que não está ao alcance de todas as pessoas, mas que é ao mesmo tempo uma marca bastante acessível, próxima, disponível e aberta“, detalha.

Duarte Zoio em discurso direto

1 – Qual é a decisão mais difícil para um responsável de marca/comunicação?

Há diversas, mas diria escolher entre o que é racionalmente correto e o que terá maior impacto emocional. Em muitos casos, as decisões baseadas no Excel e na lógica pura podem não ressoar emocionalmente com o público – coisas que parecem triviais podem ter muito valor porque atendem a uma necessidade emocional. Encontrar esse equilíbrio é um desafio constante, especialmente quando se tenta inovar sem perder a essência da marca.

2 – No (seu) top of mind está sempre?

Sem comunicação não há relação, sem relação não há confiança e sem confiança não há razão para continuar.

3 – O briefing ideal deve…

O briefing ideal deve fornecer clareza sobre os objetivos e todas as outras premissas que todos bem conhecemos, mas deve igualmente dar espaço para a criatividade e exploração de soluções fora do comum. Deve orientar a agência a pensar além do funcional, encorajando-a a considerar como podemos surpreender e encantar os nossos (potenciais) clientes, criando valor emocional além do valor utilitário.

4 – E a agência ideal é aquela que…

Antes de mais, aquela cujo account não tem inúmeras contas em simultâneo, tornando a agência reativa ou mesmo passiva e não um verdadeiro parceiro proativo como se deseja. Gosto de uma agência com base estratégica, que esteja disposta a explorar abordagens não convencionais e que não tema desafiar as normas estabelecidas para criar algo verdadeiramente memorável, impactante… ou simplesmente eficaz. Os clientes não querem necessariamente grandes campanhas ou ideias para ganhar prémios do setor, mas agências que estejam alinhadas e desenhem estratégicas, planos ou ações, que até podem ser bastante simples, que cumpram com os objetivos previamente definidos.

5 – Em marketing e comunicação é mais importante jogar pelo seguro ou arriscar?

Penso que neste momento vivemos num mercado um pouco saturado e bastante agressivo. Portanto, tem de haver riscos calculados e outros que o maior risco é mesmo não arriscar. A diferenciação é crucial e muitas vezes isso só pode ser alcançado ao tentar algo novo, inesperado e ousado. Paralelamente, o risco (calculado) pode gerar grandes recompensas, criando ou reforçando uma marca que se destaca e permanece na mente dos consumidores. Atualmente, há inúmeras empresas que decrescem ou desaparecem, não por fazerem mal as coisas, mas por fazerem bem as mesmas coisas durante tempo demais…

6 – Como um profissional de comunicação deve lidar e gerir crises?

De forma transparente, rápida, proativa, demonstrar compromisso, estar preparado para ajustar a estratégia e com uma compreensão profunda das emoções envolvidas. É essencial reorientar a narrativa, garantindo que a nossa estratégia e resposta reconstrua a confiança e mantenha o valor percepcionado da marca. E estudar a fundo a crise do Deepwater Horizon de 2010 para perceber tudo o que não se deve fazer.

7 – O que faria se tivesse um orçamento ilimitado?

Esta liberdade traria consigo a responsabilidade de criar experiências únicas, influenciar o mercado de forma inovadora e decidir como deixar uma marca duradoura. O foco estaria em redefinir o conceito de exclusividade e de uma marca inspiradora e aspiracional, criando legados que superassem as expetativas e elevassem os padrões a novos níveis de excelência. Curiosamente, apesar de não ter um orçamento ilimitado, este já é o nosso “drive” na Vanguard Properties.

8 – A comunicação em Portugal, numa frase?

Assumo que possa estar a ser injusto com diversas organizações, mas são os perigos da generalização e do desafio colocado… Fruto das atuais circunstâncias sociais, sinto que nos últimos tempos surgiu um novo medo de arriscar e uma tremenda e desajustada necessidade de agradar e de ter uma opinião (superficial e por vezes insípida) sobre tudo e mais alguma coisa.

9 – Construção de marca é?

Criar uma narrativa envolvente que desperta ligações emocionais, transformando produtos em símbolos, experiências em memórias e necessidades em desejos. Diria que a maior parte das marcas tem como objetivo construir um legado, mas tal como promovemos na Vanguard Properties, legado não é necessariamente o que deixamos para as pessoas, mas o que deixamos nas pessoas.

10 – Que profissão teria, se não trabalhasse em comunicação?

Apesar do fascínio pelas ciências comportamentais como a psicologia, creio que teria seguido advocacia (e concretizado o sonho da minha mãe).

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Carris quadruplica frota de autocarros elétricos em Lisboa com 44 novos veículos

  • Lusa
  • 16 Setembro 2024

Trinta novos autocarros de dimensão standard e 14 miniautocarros elétricos vão passar a ser operados pela Carris até dezembro, reforçando utilização de veículos “zero emissões” em oito carreiras.

Trinta novos autocarros de dimensão standard e 14 miniautocarros elétricos vão passar a ser operados pela Carris até ao final do ano, reforçando a utilização de veículos “zero emissões” em oito carreiras, avança a transportadora pública de Lisboa.

Numa nota de imprensa, a Companhia Carris de Ferro de Lisboa (Carris) informou que “quadruplica a frota de autocarros elétricos, com a entrada em operação de 30 novos autocarros standard e 14 miniautocarros”.

A empresa explicou que se trata de um investimento global de 16 milhões de euros – 12 milhões para aquisição de 30 autocarros standard e 4 milhões para os 14 miniautocarros –, com financiamento assegurado através de apoios comunitários, em concreto, através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)/Fundo Ambiental e do programa POSEUR (Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos).

“Vem dar um impulso muito significativo à nossa aposta numa frota zero emissões, já que com estes novos 44 veículos quadruplicamos a frota de autocarros elétricos”, afirmou Pedro de Brito Bogas, presidente do conselho de administração da Carris, citado na nota, sublinhando a importância desta nova oferta.

“É um caminho que estamos a fazer, já há algum tempo, e no qual continuaremos empenhados, em nome de uma mobilidade sustentável para a cidade de Lisboa, com claros benefícios ambientais e para as milhares de pessoas que diariamente viajam na Carris”, acrescentou.

A nova frota vai reforçar duas carreiras de serviço regular, que passarão a ser operadas com autocarros standard elétricos – 732, entre Caselas e Hospital de Santa Maria (com passagem na Rua da Madalena), e 760, da Ajuda à Gomes Freire (com passagem na Rua da Madalena).

O reforço também incluirá a única carreira de serviço regular que já é operada, desde 2020, com autocarros standard elétricos: 706, do Cais do Sodré a Santa Apolónia.

Os miniautocarros elétricos serão operados em cinco carreiras de bairro, 10B – Santa Maria Maior (com passagem na Rua da Madalena), 19B – Arroios, 22B – Misericórdia, 67B – Estrela, e 73B – Alcântara.

Os novos autocarros vão ser apresentados esta segunda-feira na Praça do Comércio com a presença do presidente do conselho de administração da Carris, num momento simbólico de entrega dos autocarros à cidade de Lisboa.

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Rui Bairrada: “Só faz sentido trabalhar se tiveres um sonho seja ele qual for”

  • ECO
  • 16 Setembro 2024

O CEO da fintech Doutor Finanças é o convidado do segundo episódio do podcast “E Se Corre Bem?”.

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Rui Bairrada, o homem que “trocou a gravata pela bata”, conta no segundo episódio do podcast “E Se Corre Bem?”, como foi o seu percurso nesta jornada de empreendedor e como surgiu o Doutor Finanças, uma fintech que o próprio criou há 10 anos, com cinco pessoas e que, atualmente, conta com cerca de 500 colaboradores.

Rui Bairrada, CEO do Doutor Finanças, em entrevista ao podcast do ECO "E se corre bem?" - 09JUL24
Rui Bairrada, CEO do Doutor Finanças, no podcast do ECO “E Se Corre Bem?”Hugo Amaral/ECO

O percurso profissional de Rui Bairrada começou como estafeta no Deutsche Bank, onde esteve 12 anos, passou por vários departamentos e desenvolveu diferentes competências.

"Hoje se me perguntarem se eu era o melhor estafeta do mundo, eu tenho a certeza de que sim, pois foi só isso que me permitiu ir crescendo lá dentro”

Rui Bairrada, CEO do Doutor Finanças

“Comecei cedo a perceber que se fosse realmente bom a fazer uma determinada tarefa, teria a oportunidade de me darem outras para fazer e foi o que aconteceu ao longo desses 12 anos. Hoje se me perguntarem se eu era o melhor estafeta do mundo, eu tenho a certeza de que sim, pois foi só isso que me permitiu ir crescendo lá dentro”, explicou.

Questionado sobre se, atualmente, um estafeta teria a mesma possibilidade de crescimento, Rui Bairrada enumera alguns “ingredientes essenciais” que se devem ter como a “humildade, o querer e a capacidade de sonhar”.

O CEO que faz todos os on-boardings das pessoas que entram para o Doutor Finanças, por fazer questão “de conhecer as pessoas e não os CVs”, diz que dois dos requisitos que pede aos colaboradores é que sejam felizes e que sonhem. “Só faz sentido trabalhar se tiveres um sonho seja ele qual for”, afirmou.

O medo de mudar e de errar também foram tópicos abordados nesta conversa. “Nos últimos anos [no Doutor Finanças], nós vamos na linha da frente no que diz respeito a ser digital e em literacia financeira. Olhamos para a frente e não vemos ninguém. Portanto, só há uma forma que é experimentar e errar, voltar a experimentar até acertar, até porque não tens por onde copiar. Este é o processo natural de querer acrescentar valor aos outros”, referiu.

Além do percurso de Rui Bairrada, neste episódio falou-se do papel do líder, do incentivo da sociedade portuguesa no que diz respeito à cultura do trabalho, das pessoas como ativo principal das empresas, entre outros assuntos.

Este podcast está disponível no Spotify e na Apple Podcasts.

Se preferir, assista aqui:

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Thierry Breton demite-se da Comissão Europeia após von der Leyen pedir novo candidato francês

  • Joana Abrantes Gomes
  • 16 Setembro 2024

Indicado por Macron para um segundo mandato, o atual comissário do Mercado Interno demite-se com "efeitos imediatos" após pedido a França que nomeie um novo candidato para a Comissão Europeia.

O francês Thierry Breton, que era responsável pela pasta do Mercado Interno na Comissão Europeia e foi indicado pelo Presidente Emmanuel Macron para um segundo mandato, resignou ao cargo depois de ter sido pedido a França que indicasse um novo candidato para a próxima equipa do Executivo comunitário, liderada por Ursula von der Leyen. O Executivo comunitário “tomou nota e aceitou a demissão” de Breton, agradecendo o trabalho executado nos últimos cinco anos.

Numa carta dirigida à presidente da Comissão Europeia e publicada esta manhã na rede social X, Breton refere que, “há alguns dias, na reta final das negociações” para a formação do novo Colégio de Comissários e atribuição de pastas, von der Leyen pediu ao Presidente francês que “retirasse” o seu nome, oferecendo “como contrapartida política uma pasta alegadamente mais influente para a França”.

A decisão surge 24 horas antes do anúncio da nova lista de comissários e, segundo Thierry Breton, foi tomada “por razões pessoais que em nenhum caso [von der Leyen] discutiu diretamente” com ele, apontando tratar-se de “mais um testemunho da governação questionável” da líder do Executivo comunitário.

Como tal, “ser-lhe-á agora proposto um candidato diferente”, acrescenta o responsável, que entende que, por isso, não pode continuar a exercer as suas funções como comissário europeu do Mercado Interno, anunciando a sua demissão “com efeitos imediatos”.

“Ao longo dos últimos cinco anos, esforcei-me incansavelmente por defender e promover o bem comum europeu, acima dos interesses nacionais e partidários, e foi uma honra”, escreveu ainda Thierry Breton, que desde 2019 tutelava matérias como a política industrial, a defesa e a Lei dos Serviços Digitais da União Europeia.

A demissão de Breton é o mais recente revés no processo de formação do Colégio de Comissários que vai gerir o Executivo comunitário nos próximos cinco anos e pode voltar a adiar o anúncio dos 26 comissários da equipa de Ursula von der Leyen, previsto para esta terça-feira. Todos os candidatos indicados pelos Estados-membros têm primeiro de ser aprovados pelo Parlamento Europeu.

Além da França, que agora tem de nomear um novo candidato, também a Eslovénia ainda não indicou formalmente a sua candidata. Isto porque o presidente da Comissão dos Assuntos Europeus do Parlamento esloveno, que tem de aprovar Marta Kos como candidata a comissária, exige ter acesso a uma alegada carta enviada por von der Leyen ao primeiro-ministro Robert Golob antes de dar ‘luz verde’ à realização da audição. Até agora, desconhece-se se o chefe do Governo esloveno acedeu ao pedido.

Note-se ainda que, em França, Emmanuel Macron nomeou recentemente Michel Barnier, responsável pelas negociações do Brexit do lado da União Europeia, para o cargo de primeiro-ministro, na sequência do impasse provocado pelas legislativas antecipadas de 7 de julho, encontrando-se agora em processo de formação de Governo.

(Notícia atualizada pela última vez às 9h14)

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Megaprocessos e muitas opções de recurso tornam combate à corrupção ineficaz

  • Lusa
  • 16 Setembro 2024

Estudo conclui que ineficácia da justiça se prende "sobretudo, com razões de natureza procedimental", em detrimento de problemas sistémicos como a falta de meios ou de rigor do Ministério Público.

O combate à corrupção em Portugal é considerado ineficaz e isso deve-se, sobretudo, à existência de megaprocessos e às muitas possibilidades de recurso dos arguidos, conclui um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) publicado esta segunda-feira.

O Barómetro da Corrupção, coordenado pelos investigadores Luís de Sousa e Susana Coroado e assente em 1.101 entrevistas a residentes em Portugal continental com mais de 18 anos, realizadas entre 25 de março e 22 de abril de 2024, indica que mais de metade considera o combate a este fenómeno nada eficaz (51,3%) e reparte as responsabilidades da ineficácia do combate, por ordem decrescente, pelo poder político, pela sociedade civil e pela justiça.

Governo (25,5%), políticos (10,4%) e partidos (4%) totalizam perto de 40% das respostas dos inquiridos, enquanto a sociedade em geral alcança 28,8% e os tribunais são vistos como os principais responsáveis para 15,8% da amostra. Por outro lado, as empresas (1%) e a comunicação social (1,5%) são tidas como as menos responsáveis pela ineficácia do combate à corrupção.

Questionados sobre as razões que mais contribuem para a ineficácia da justiça no combate à corrupção, os participantes realçaram os megaprocessos demasiado complexos e intermináveis (71,9%). Segue-se o facto de haver demasiadas possibilidades de recurso, apontado por 43,4% dos inquiridos, e as dificuldades em provar a corrupção nos tribunais (28,5%).

Nesse sentido, o estudo conclui que a ineficácia da justiça se prende, “sobretudo, com razões de natureza procedimental”, em detrimento de problemas de ordem sistémica, como a falta de meios ou de rigor do Ministério Público.

A perceção sobre o combate à corrupção é, segundo os dados apurados, fundamentalmente formada através dos meios de comunicação tradicionais, nomeadamente, a televisão (63,7%) e a imprensa escrita e online (55,2%), sendo as redes sociais apenas a quinta opção mais votada (9,9%).

No entanto, aqueles que têm uma opinião mais negativa sobre o combate à corrupção são os que recorrem a novas fontes de informação, como redes sociais e podcasts/videocasts.

O barómetro da FFMS reflete também sobre uma perceção essencialmente coletiva da corrupção, uma vez que praticamente metade (49,6%) dos inquiridos declarou que a sua vida não tinha sido afetada pela corrupção no último ano, embora depois o número dos que indicam que a sua vida foi mais afetada por este fenómeno seja superior ao daqueles que dizem que tiveram a sua vida menos afetada.

Por último, o estudo analisa o impacto do tratamento da corrupção pela comunicação social e as respostas apontam para uma maioria de inquiridos satisfeitos com a abordagem dos media (41,9%) face àqueles que se confessam insatisfeitos (35,9%). Há ainda 21,2% que se dizem nem satisfeitos e nem insatisfeitos com o tratamento mediático deste fenómeno.

Sobre as razões de insatisfação, os motivos invocados distribuem-se de forma equilibrada, com 7,5% a apontarem a preocupação com as audiências ou os lucros, 7,3% a destacarem o sensacionalismo e 6,6% a indicarem que os ‘media’ são tendenciosos.

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Hoje nas notícias: corrupção, lítio e carros antigos

  • ECO
  • 16 Setembro 2024

Dos jornais aos sites, passando pelas rádios e televisões, leia as notícias que vão marcar o dia.

Os clubes de futebol, os partidos políticos e as autarquias são as entidades vistas como mais corruptas pelos portugueses. O custo previsto da refinaria de lítio em Setúbal aumentou de 700 milhões de euros para entre 1.100 a 1.300 milhões de euros. Conheça esta e outras notícias que estão em destaque esta segunda-feira na imprensa nacional.

Clubes, partidos e autarquias são vistos como os mais corruptos

Nove em cada dez pessoas em Portugal — isto é, 93% da população do país (acima da média de 70% da União Europeia) — veem a corrupção como um problema “grave”, sendo os clubes de futebol vistos como os mais corruptos, seguidos pelos partidos políticos, as autarquias, o Governo e a Administração Pública. O novo barómetro da Fundação Francisco Manuel dos Santos indica também que um em cada dois inquiridos sente que a corrupção tem um impacto diário na sua vida.

Leia a notícia completa no Público (acesso pago)

Custo da refinaria de lítio de Setúbal quase duplicou para 1.300 milhões

O custo previsto da refinaria de lítio de Setúbal, que está a ser desenvolvida pelo consórcio Aurora Lithium — composto pela Galp e a sueca Northvolt –, aumentou de 700 milhões de euros (estimativa de 2022) para um valor entre os 1.100 e os 1.300 milhões de euros, devido ao “esforço de melhoria de processos de engenharia e de performance nas áreas ambiental e económica”. Além disso, a entrada em operação da denominada Unidade Industrial de Conversão de Lítio (UICLi) atrasou de 2026 para 2028, sendo que o projeto está ainda à espera da decisão final de investimento pelos promotores.

Leia a notícia completa no Jornal Económico (acesso pago)

Governo retoma apoio ao abate de carros antigos

No Conselho de Ministros da próxima quinta-feira, 19 de setembro, o Governo vai anunciar a retoma do apoio ao abate de carros velhos, poluentes e em fim de vida. A medida em causa já constava do Orçamento do Estado para este ano, ainda elaborado pelo anterior Governo de António Costa e previa um gasto de 129 milhões de euros para abater até 45 mil carros com matrícula anterior a 2007. Porém, a antecipação das legislativas e a tomada de posse do novo Executivo criaram um impasse na entrada em vigor da medida. Há 1,5 milhões de carros com mais de 20 anos a circular nas estradas portuguesas, cerca de 26% do total do parque automóvel.

Leia a notícia completa no Jornal de Notícias (acesso pago)

Mais-valias da casa com dois regimes no mesmo ano

Há um “regime dual” de regras fiscais para quem tenha decidido vender a sua casa e pretenda reinvestir as mais-valias obtidas numa outra habitação caso a venda tenha ocorrido até 10 de setembro ou a partir do dia 11. As diferenças decorrem de um novo diploma do Governo, que entrou em vigor na última quarta-feira, em que são revogadas as normas que dificultavam o reinvestimento de mais-valias da venda da casa de habitação própria, passando a ser possível beneficiar de isenção de IRS sobre os ganhos da venda de casa própria quando os mesmos forem reinvestidos em nova habitação para a família.

Leia a notícia completa no Jornal de Negócios (acesso pago)

Escritório de ministra da Justiça faturou 2,5 milhões com a TAP

A PLMJ, escritório de que a atual ministra da Justiça foi sócia entre 2013 e 2023, foi a sociedade de advogados que registou a faturação mais elevada com o Grupo TAP no período de 2015 a 2022. Do total de 2,5 milhões de euros pagos pela companhia aérea ao antigo escritório de Rita Alarcão Júdice, mais de 2,066 milhões foram faturados com a TAP, SA e os restantes 454 mil euros provenientes da TAP, SGPS, segundo a auditoria da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) à transportadora. Ministério sublinha que a atual ministra da Justiça era “advogada de imobiliário”, não tendo estado envolvida em “nenhuma operação de venda ou de compra, ou sequer relacionada com a privatização” da TAP.

Leia a notícia completa no Correio da Manhã (acesso pago)

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O dia em direto nos mercados e na economia – 16 de setembro

  • ECO
  • 16 Setembro 2024

Ao longo desta segunda-feira, 16 de setembro, o ECO traz-lhe as principais notícias com impacto nos mercados e nas economias. Acompanhe aqui em direto.

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EDP Renováveis assegura contrato de longo prazo para armazenamento nos EUA

Assinado acordo com a Dominion Energy para 85 megawatts de armazenamento de energias por baterias. Projeto no estado da Virgínia com início de operação previsto para 2027.

Através da subsidiária EDP Renewables North America, a EDP Renováveis assegurou um Capacity Tolling Agreement de longo prazo com a Dominion Energy Inc., relativo ao sistema de armazenamento de energias por baterias de 85 megawatts (340 MWh).

De acordo com um comunicado enviada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) esta segunda-feira, o projeto está localizado no Estado da Virgínia, nos Estados Unidos da América, e o início de operação está previsto para 2027.

“A EDPR continua a reforçar o seu compromisso com a inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias, evidenciando o seu papel crítico no armazenamento de energias, maximizando o potencial das energias renováveis, promovendo a aceleração da transição energética e a descarbonização da economia”, frisa na mesma nota.

No primeiro semestre deste ano, a empresa viu o resultado líquido disparar 163%, atingindo os 210 milhões de euros. O crescimento de 5% da produção ajudou a explicar o forte aumento dos lucros da elétrica, bem como os ganhos da rotação de ativos, apesar de um aumento dos custos financeiros.

Já depois da apresentação dos resultados até junho, a EDP Renováveis anunciou no início de agosto ao regulador do mercado ter concluído um acordo para a venda de um portefólio eólico e solar de 240 MW localizado na Polónia, num valor estimado de 300 milhões de euros.

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Episódio 5: Coverflex, a fintech portuguesa que está a revolucionar as soluções de compensação

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  • 16 Setembro 2024

Uma plataforma que permite que gerir integralmente todos os aspetos ligados à compensação além do salário, já impactou mais de 150 mil pessoas em pouco mais de 3 anos.

Compensação: Ato ou efeito de compensar. Equilíbrio. Equidade. Proporção. São algumas das definições encontradas no dicionário online. Quando remetemos o tema para mercado de trabalho, todas estas definições fazem sentido mas compensação ganha uma nova dimensão. E neste campo há uma fintech portuguesa em afirmação: a Coverflex.

A Coverflex é uma plataforma inovadora que está a revolucionar as soluções de compensação. Fundada em 2019 foi distinguida pela inovação da sua solução totalmente digital que permite que uma empresa possa gerir integralmente todos os aspetos ligados à compensação além do salário.

Fundada em 2019, a Coverflex tem ainda um curto período de vida, mas um crescimento notável. Em pouco mais de 3 anos, impactou já mais de 150.000 pessoas.

Curiosos? Fiquem a conhecer a Coverflex com este episódio do Tech Refresh:

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Mario Draghi alerta para “lenta agonia” da Europa e apela a reformas urgentes

  • Servimedia
  • 16 Setembro 2024

Mario Draghi, enviou uma mensagem urgente à União Europeia no seu último relatório, advertindo que a Europa enfrenta uma “morte económica lenta”, se não tomar medidas imediatas.

O antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, enviou uma mensagem urgente à União Europeia no seu último relatório, advertindo que a Europa enfrenta uma “morte económica lenta” se não tomar medidas imediatas e decisivas. O relatório, encomendado pela Comissão Europeia e apresentado à sua Presidente, Ursula von der Leyen, alerta para a falta de competitividade do continente face a potências como a China e os Estados Unidos, apelando à reforma da estrutura política e económica para evitar o declínio.

Draghi, conhecido por ter salvo o euro durante a crise financeira de 2012 com a sua famosa frase “farei o que for preciso para preservar o euro”, afirmou que a Europa se encontra num estado crítico, em grande parte devido à inação política e à incapacidade de se adaptar às mudanças globais. De acordo com o relatório, a Europa corre o risco de se tornar irrelevante na cena mundial se não tomar medidas para reformar o seu sistema burocrático, que impede a tomada rápida de decisões.

O documento sublinha que a competitividade da economia europeia foi ultrapassada pela dos EUA e da China, o que levou à deslocalização de sectores-chave, especialmente a indústria transformadora. Draghi sublinha a necessidade de a Europa adotar uma estratégia industrial comum que integre as políticas fiscal, comercial e externa, à semelhança das que são seguidas pelos seus principais concorrentes. No entanto, lamenta o facto de a UE estar ainda presa a um sistema de decisão lento e fragmentado, o que dificulta a implementação das reformas necessárias.

AVISO

O “relatório Draghi”, com mais de 400 páginas, não deixa margem para dúvidas: a Europa está em perigo. Durante a apresentação em Bruxelas, Draghi lançou um aviso grave: “Chegámos a um ponto em que, se não agirmos, teremos de comprometer o nosso bem-estar, o nosso ambiente ou a nossa liberdade”. O antigo presidente do BCE foi direto ao afirmar que os decisores políticos europeus têm de “agir em conjunto” e levar os desafios a sério. As reformas que propõe incluem a redução da burocracia, a simplificação dos processos legislativos e a coordenação em torno de uma estratégia industrial sólida.

Um dos problemas mais graves, de acordo com o relatório, é o excesso de legislação na UE. Em 2019, a UE aprovou 13.000 atos legislativos, enquanto os EUA aprovaram apenas 3.000, o que reflete um sistema sobrecarregado e lento. Esta teia burocrática impede a Europa de responder rápida e eficazmente aos desafios globais, como a transição ecológica, a crise na Ucrânia e a concorrência de economias mais dinâmicas.

O relatório sugere também que estamos a assistir ao fim da globalização tal como a conhecemos, um modelo económico que dominou o panorama mundial durante décadas e que foi ultrapassado por novos paradigmas. Draghi adverte que a classe política europeia parece incapaz de liderar as reformas necessárias para que a Europa se mantenha competitiva. Enquanto a China e os Estados Unidos estão a avançar nos domínios da inteligência artificial, dos semicondutores e das tecnologias limpas, a Europa continua a ficar para trás.

A situação em setores como o automóvel é particularmente preocupante. Draghi refere que a indústria europeia está a perder postos de trabalho devido à concorrência desleal da China e reitera a importância de uma resposta industrial coordenada, evitando o protecionismo.

DÍVIDA

Para Draghi, a única forma de enfrentar os desafios colossais que a Europa tem pela frente é através de um investimento maciço. O relatório estima que a UE precisaria de mobilizar mais de 750 mil milhões de euros por ano para competir com a China e os EUA, o que significa aumentar o investimento público e privado dos atuais 22% para 27% do PIB.

Draghi sugere também que a UE emita regularmente dívida comum para financiar projetos que reforcem a competitividade europeia em áreas-chave como a descarbonização, a transformação digital e a defesa. Esta estratégia, semelhante à implementada com os fundos de nova geração, é vista como uma ferramenta necessária para garantir o crescimento a longo prazo da Europa.

DESAFIOS

O relatório não deixa de apontar as resistências políticas que dificultarão a implementação das reformas propostas. O caso de Espanha é paradigmático. Mario Draghi alerta que, apesar de a Espanha ter aprovado mais de 206 mil regulamentos desde 1995, a produtividade continua estagnada e a burocracia continua a afetar o crescimento. A nível europeu, a ascensão da extrema-direita e dos movimentos populistas também complica o cenário, enfraquecendo os governos que deveriam estar a liderar a transformação.

Draghi conclui o seu relatório com uma mensagem clara: a Europa tem de agir agora ou enfrentará um declínio irreversível. “Mais uma vez, temos de confiar em Mario Draghi”, dizem alguns observadores, conscientes de que o seu diagnóstico da crise não é novo.

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