Longe da febre dos ‘tokens’, portuguesa Realfevr está à venda

Empresa das ligas de futebol de 'fantasia' apresentou insolvência, mas está em conversas avançadas com uma tecnológica de 'gaming' para um negócio de cerca de dois milhões de euros.

Em 2022, valia 45 milhões de euros. Em 2025, está à venda por até dois milhões de euros. A empresa portuguesa Realfevr, que ganhou mediatismo com os seus NFT (tokens não fungíveis) de futebol, está em negociações avançadas para ser integrada noutra empresa do setor do jogo online (gaming), apurou o ECO. A tecnológica que conquistou investidores norte-americanos está pronta para renascer das cinzas à medida que as criptomoedas voltam a valorizar.

A empresa de blockchain (Web3) ligada ao desporto encaixou mais de 12 milhões de euros entre 2021 e 2022, em rondas de investimento de capital de risco através das sociedades de venture capital, como a norte-americana ADvantage, as portuguesas Semapa Next, Shilling Capital Partners e Apex Capital, também a SportMultimédia, a Moonrock Capital e a Morningstar Ventures e alguns jogadores profissionais, inclusive Sérgio Oliveira (Galatasaray) e Xeka (Estoril).

O ECO sabe que o CEO, o ex-presidente da Associação Portuguesa de Blockchain e Criptomoedas (APBC) Fred Antunes, cessou funções no final de agosto e que o CEO da Semapa Next, Hugo Augusto, também saiu da gestão e não se encontra no conselho de administração da Realfevr desde setembro. Contactado pelo jornal, Fred Antunes não quis fazer comentários.

A Realfevr operava no mercado dos NFT (tokens não fungíveis ou Non-Fungible Tokens), que arrefeceu nos últimos anos, e acabou por levar a que a empresa se apresentasse à insolvência no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste – Unidade Central de Sintra, no início de setembro. Até porque existia um acordo parassocial que bloqueava a recapitalização da empresa.

Agora, o registo de falência permite que a transação ocorra sem ser necessário a aprovação por unanimidade da estrutura acionista. Certo é que os jogos da marca continuam disponíveis online, embora as funcionalidades da plataforma não estejam a ser desenvolvidas devido às mudanças societárias.

Fred Antunes, ex-CEO da RealFevr

 

O interesse neste tipo de investimento deve-se à recuperação dos ativos digitais, que se inspira no outro lado do Atlântico. O setor está a tentar reconstruir-se à boleia dessa valorização, desvinculando-se mais dos NFT – obras de arte (e não só) virtuais, cujo ímpeto aconteceu há cerca de três anos.

Ainda esta semana houve mais um movimento de consolidação com a venda da norte-americana das cripto Hashnote, que controla cerca de 1,5 mil milhões de dólares (1,4 mil milhões de euros) em ativos, à Circle.

Setor dos ativos digitais renasce pós-Trump

No dia da tomada de posse do 47º presidente dos Estados Unidos, fervoroso adepto das moedas virtuais, a bitcoin atingiu um recorde de 109.071 dólares (104.512 euros à cotação), pouco mais de um mês após chegar à marca dos 100 mil dólares (95,8 mil euros) pela primeira vez. Por volta das 15h25 desta terça-feira, a Bitcoin subia 1,40% 104,834.15 dólares.

Tanto na segunda-feira como em dezembro essas valorizações não foram em vão: além da chegada do ‘presidente cripto’ à Casa Branca, tornou-se oficial que o republicano Paul Atkins – também entusiasta das criptomoedas – seria nomeado para liderar o regulador SEC (Comissão de Valores Mobiliários). No entanto, enquanto não houver votação no Senado, o também republicano Mark Uyeda está a assumir a presidência interina da autoridade que supervisiona os mercados de capitais nos EUA.

A Realfevr ficou conhecida quando começou a fechar parcerias importantes ligadas ao jogo eletrónico, inclusive com a Playstation, e em 2021 criou o primeira loja online de NFT de vídeo de futebol e assinou acordos de propriedade intelectual com organizações desportivas, entre as quais a Liga Portugal, Federação Portuguesa de Futebol, Torino FC e Beach Soccer Worldwide, e até com atletas. Também esteve por detrás das ‘Fantasy Leagues’, que terminaram na plataforma no verão passado, gerando uma série de dúvidas que levaram a comentários na rede social Reddit.

Apesar de a Realfevr não ter operação comercial ativa neste momento, e de a casa-mãe Fantasy Revolution estar insolvente, como confirmou o Eco através de bases de dados empresariais, a empresa continua com a titularidade do software que lhe permite desenvolver esta indústria do gaming, o que desperta o interesse de outras empresas da área.

“Fundada em 2015, a missão da RealFevr é revolucionar completamente o ecossistema NFT desportivo, combinando tecnologia inovadora e descentralização de blockchain, além da exclusividade de colecionáveis em formato de vídeo, cuja utilidade vai além da perspetiva do mero colecionador, pois também serão itens jogáveis nos próximos jogos Web3”, sintetizam os investidores da ADvantage, apoiada pela Adidas, sobre a participada.

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O dia em direto nos mercados e na economia – 23 de janeiro

  • ECO
  • 23 Janeiro 2025

Ao longo desta quinta-feira, 23 de janeiro, o ECO traz-lhe as principais notícias com impacto nos mercados e nas economias. Acompanhe aqui em direto.

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Restalia lidera as vendas de cerveja com mais de 250 milhões de litros servidos nos seus 25 anos de história

  • Servimedia
  • 23 Janeiro 2025

Os dados relativos ao consumo de cerveja nos estabelecimentos da Restalia revelam um crescimento notável do consumo médio por estabelecimento de mais de 20% em relação a 2023.

A Restalia encerrou o ano de 2024 consolidando a sua posição de referência no mercado da cerveja, uma vez que os números mostram um aumento significativo do consumo global de cerveja, atingindo os 22 milhões de litros vendidos nos seus estabelecimentos no último ano, informou a empresa na quinta-feira.

O consumo médio por estabelecimento também registou um crescimento notável de mais de 20% em relação a 2023 e as suas vendas de cerveja equivalem a 1% do total de cerveja consumida anualmente em Espanha no canal Horeca. “A aposta firme, desde as suas origens, nos jarros de vidro com cerveja gelada foi sempre um elemento diferenciador dentro do segmento de restauração de serviço rápido, melhorando a experiência de consumo, o que lhe valeu a confiança dos clientes ao longo de 25 anos. Não é em vão que, em 25 anos de história, a empresa já vendeu mais de 250 milhões de litros de cerveja”, refere a empresa.

A Restalia, liderada pelo seu “porta-estandarte” ‘100 Montaditos’, “tornou-se assim um dos principais atores da cena cervejeira no nosso país. As suas já lendárias canecas Sancho e Quijote e as suas atrativas promoções transformaram os pontos de venda 100 Montaditos numa referência para o consumo de cerveja”, acrescenta.

A empresa prevê igualmente continuar a liderar e a aumentar as vendas de cerveja nos seus pontos de venda e atingir 25 milhões de litros até 2025. Estes números são ainda mais ambiciosos no seu plano estratégico a 5 anos que, juntamente com o seu plano de expansão, prevê atingir 160 milhões de litros servidos nos próximos cinco anos.

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5 coisas que vão marcar o dia

  • ECO
  • 23 Janeiro 2025

Em dia de reunião de Conselho de Ministros, o Alojamento Local será tema de debate na AR. Lá fora, Donald Trump junta-se remotamente ao Fórum Económico Mundial, onde vai discursar a CEO da Sonae.

Em dia de reunião do Conselho de Ministros, o Alojamento Local será tema de debate em São Bento e a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) faz o balanço anual do mercado automóvel. Lá fora, o novo Presidente dos Estados Unidos junta-se remotamente ao Fórum Económico Mundial de Davos, onde a CEO da Sonae, Cláudia Azevedo, vai falar sobre a escassez de competências para impulsionar a transformação digital.

Reunião do Conselho de Ministros

Destaque esta quinta-feira para a reunião do Conselho de Ministros, na residência oficial do primeiro-ministro, em Lisboa, às 9h30. Cerca de meia hora antes, Luís Montenegro vai receber representantes da comunidade ucraniana em Portugal.

Alojamento local sob escrutínio no Parlamento

O Parlamento vai apreciar o regime jurídico dos estabelecimentos de alojamentos local (AL) aprovado pelo Decreto-Lei n.º 128/2014, de 29 de agosto, que revoga medidas no âmbito da habitação, a pedido do Partido Socialista. O Bloco de Esquerda vai mais longe ao apresentar um projeto de resolução para cessar a vigência do decreto.

Trump junta-se remotamente a Davos

O novo Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, vai juntar-se remotamente ao Fórum Económico Mundial de Davos nesta quinta-feira, penúltimo dia do evento que deverá contar com a participação de outros membros da nova administração norte-americana, mas não está ainda confirmado se um dos responsáveis será o empresário Elon Musk.

CEO da Sonae discursa em Davos

A CEO da Sonae, Cláudia Azevedo, vai também discursar no encontro anual do Fórum Económico Mundial. Será oradora no painel “Reskilling for the Intelligent Age” (“Requalificação para a Era Inteligente” em português, referindo-se a Inteligência Artificial). O foco do painel estará em debater formas de ultrapassar o que o fórum diz ser o principal obstáculo à libertação de todo o potencial da transformação digital – a falta de competências.

ACAP faz balanço anual do mercado automóvel

A Associação Automóvel de Portugal (ACAP) faz, em conferência de imprensa, o balanço anual do mercado automóvel esta quinta-feira. A ACAP já tinha adiantado que o país tinha produzido 332.546 veículos no ano passado, um crescimento de 4,5% em termos homólogos. Aliás, 2024 foi o segundo melhor ano de sempre para a produção automóvel doméstica, depois dos 345.688 automóveis produzidos em 2019.

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IGNITE teve um impacto em mais de 30 000 alunos e professores através dos seus programas pós-escolares e da ferramenta de IA IGNITE Copilot em 2024

  • Servimedia
  • 23 Janeiro 2025

A IGNITE, empresa do setor edtech espanhol consolidou a sua posição na educação de língua espanhola através de dois pilares fundamentais: programas pós-escolares STEM e a IGNITE Copilot.

Com mais de uma década de experiência, o IGNITE Serious Play oferece programas pós-escolares que integram ciência, tecnologia, engenharia, arte e matemática (STEAM). Estas atividades promovem competências críticas nos alunos, preparando-os para os desafios do século XXI. O IGNITE Serious Play encerrou 2024 com um volume de 8.150 alunos recorrentes todas as semanas nas escolas ou online.

Em 2024, o IGNITE voltou a colaborar com a Fundação Pfizer no desenvolvimento e execução do projeto Guardiões da Saúde 2030, uma iniciativa educativa focada na promoção de hábitos saudáveis e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável nas escolas de Espanha.

O programa Guardiões da Saúde 2030, destinado a estudantes do ensino primário e secundário em toda a Espanha, combinou atividades práticas e workshops interativos com conteúdos inovadores, integrando os princípios da aprendizagem baseada em projetos (PBL) e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A edição de 2024 do projeto teve impacto em mais de 10 000 alunos, que participaram ativamente em desafios concebidos para incentivar o seu envolvimento nos cuidados de saúde, tanto a nível pessoal como comunitário. O sucesso do projeto foi reconhecido com o prémio de Melhor Iniciativa de Educação para a Saúde, destacando a sua abordagem inclusiva e inovadora e o seu contributo para a educação holística.

PROFESSORES

Em 2024, o IGNITE lançou o projeto de inovação IGNITE Copilot, uma aplicação de Inteligência Artificial concebida para auxiliar professores e centros educativos na criação de conteúdos didáticos. Esta ferramenta permite gerar projetos, situações de aprendizagem e avaliações personalizadas, otimizando o tempo de preparação e adaptando-se às necessidades específicas de cada sala de aula.

O IGNITE Copilot foi desenvolvido por uma equipa multidisciplinar que inclui doutores em didática, engenharia e filosofia, garantindo uma aplicação transversal e detalhada, criada por e para professores. Desde o seu lançamento, foi adotada por mais de 13.000 professores em Espanha e no México, que destacam a sua capacidade de reduzir o tempo gasto em tarefas administrativas e de se concentrar na aprendizagem baseada em competências.

Ignacio Aso, CEO da IGNITE, destacou o papel da empresa como referência na transformação educativa e afirmou que “a IGNITE continua o seu compromisso com a inovação educativa, integrando tecnologias emergentes e metodologias pedagógicas avançadas para enriquecer a experiência de ensino e aprendizagem no ambiente escolar”.

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“Relacionamento económico entre Portugal e EUA tem sido mais ou menos imune às mudanças de administração”

  • ECO
  • 23 Janeiro 2025

A relação económica entre os Estados Unidos e Portugal foi o mote da conversa com os responsáveis da AmCham. Chegada de Trump ao poder traz ameaças mas também oportunidades.

As relações entre Portugal e os Estados Unidos têm vindo a consolidar-se ao longo dos anos, mantendo-se sólidas apesar das mudanças na Casa Branca. O regresso de Donald Trump ao poder não deverá alterar essa dinâmica.

Esta foi a principal ideia deixada na conversa com António Martins da Costa, Presidente da AmCham – Câmara de Comércio Americana em Portugal, Paulo Teixeira, CEO da Pfizer Portugal e presidente da Comissão Especializada de Saúde da Amcham, e João Bugalho, CEO do Arrow Global Group Portugal e presidente da Comissão Especializada de Imobiliário da AmCham.

Assista aqui à entrevista na íntegra:

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“Se olharmos para o histórico do relacionamento económico entre Portugal e EUA, ele tem sido mais ou menos imune às mudanças de administração americana”, referiu António Martins da Costa, sublinhando que, mesmo em cenários de mudança política, como a transição entre as administrações Obama, Trump e Biden, o crescimento do investimento e comércio com Portugal manteve-se sólido.

O presidente da AmCham antecipa uma alteração de políticas, mas considera que os gestores devem ser “de alguma forma imunes” e adaptar-se. “Nós temos que ser agnósticos relativamente à política. O que não significa que sejamos agnósticos relativamente às políticas”, diz.

António Martins da Costa, Presidente da AmCham

"Se olharmos para o histórico do relacionamento económico entre Portugal e EUA, ele tem sido mais ou menos imune às mudanças de administração americana.”

António Martins da Costa, Presidente da AmCham

Donald Trump escolheu Robert F. Kennedy Junior, um ativista antivacinas e crítico da indústria farmacêutica, para liderar o Departamento de Saúde. Paulo Teixeira não antecipa, ainda assim, mudanças substanciais. “Nós não acreditamos, independentemente daquelas que são as suas posições pessoais e aquilo que foi de alguma forma também veiculado na comunicação social durante a campanha eleitoral, que as coisas mudem naquilo que diz respeito às políticas que são implementadas“, considera.

O CEO da Pfizer Portugal salientou ainda o papel central dos Estados Unidos como motor da economia global no setor farmacêutico, enfatizando a crescente distância entre a competitividade europeia e americana. “O setor da saúde e o setor farmacêutico são dos principais motores da economia americana. O peso destes setores no mercado global aumentou nos últimos anos, muito devido à perda de competitividade da Europa”, destacou.

Os componentes para medicamentos são a categoria de produto que Portugal mais exporta para os EUA. Apesar da perspetiva de aumento das taxas aduaneiras, Paulo Teixeira acredita que os medicamentos e matérias-primas farmacêuticas não serão significativamente afetados, dado o impacto negativo que isso poderia ter nas próprias empresas americanas: “Portugal continua a aumentar as exportações neste segmento e acreditamos que esta dinâmica se manterá nos próximos anos”.

Paulo Teixeira, CEO da Pfizer Portugal

"O setor da saúde e o setor farmacêutico são dos principais motores da economia americana. O peso destes setores no mercado global aumentou nos últimos anos, muito devido à perda de competitividade da Europa.”

Paulo Teixeira, CEO da Pfizer Portugal

Muitos economistas temem que a política económica do novo Presidente dos EUA acelere a inflação e interrompa o ciclo de descida dos juros. João Bugalho, não antecipa um impacto negativo no mercado imobiliário, em particular o português. Para o CEO do Arrow Global Group Portugal, “há uma sustentação dos preços“, que resulta de um volume de procura internacional onde se destaca o mercado americano, “neste momento talvez o maior”.

“O mercado imobiliário português está top of the mind do cliente americano, muito por causa das características únicas do país, como o clima e a qualidade de vida”, afirmou João Bugalho. Apesar das limitações de escala do mercado português, sublinhou que os americanos valorizam serviços de qualidade e estão dispostos a pagar por eles, o que representa uma oportunidade transformadora para o setor imobiliário em Portugal. “Há um claro interesse por parte dos operadores locais para conseguir endereçar esse mercado e há muitos esforços a serem feitos nesse sentido”, sublinhou.

João Bugalho, CEO da Arrow Global Group Portugal

"Se alguma coisa mudar até pode ser positiva, estritamente do ponto de vista de mais americanos a virem visitar, mais americanos a comprarem a seguir à visita e mais americanos a olharem para Portugal como um país onde podem viver na reforma e ter uma qualidade de vida muito interessante.”

João Bugalho

CEO do Arrow Global Group Portugal

Como deve Portugal posicionar-se face ao novo contexto da política americana e um eventual aumento das taxas aduaneiras? António Martins da Costa destaca que para os EUA é uma mais-valia ter Portugal como parceiro transatlântico: “Portugal tem uma zona económica marítima exclusiva enorme, é um dos maiores países do mundo nesse aspeto, e os Açores representam uma ligação estratégica crucial entre os continentes americano e europeu”. O presidente da Amcham Portugal referiu também a relevância de infraestruturas como o porto de Sines, que está posicionado como uma porta de entrada na Europa para mercadorias provenientes do Pacífico, reforçando a posição de Portugal no comércio global.

António Martins da Costa destacou ainda o papel da diáspora portuguesa nos EUA. “A comunidade portuguesa é uma comunidade de grande capacidade de trabalho, de criação de riqueza. E neste momento temos uma segunda onda, que é a onda já de gestores, de académicos, de investigadores, que neste momento estão a reforçar os laços entre Portugal e os Estados Unidos”.

"A comunidade portuguesa é uma comunidade de grande capacidade de trabalho, de criação de riqueza. E neste momento temos uma segunda onda, que é a onda já de gestores, de académicos, de investigadores, que neste momento estão a reforçar os laços entre Portugal e os Estados Unidos.”

António Martins da Costa

Presidente da Amcham Portugal

Paulo Teixeira defendeu que Portugal deve fazer mais para reforçar o setor empresarial da saúde, apostando na inovação. “Falamos há anos sobre o potencial de Portugal para criar um verdadeiro ecossistema de saúde, que não só fomente a criação de empresas portuguesas, mas também atraia investimento estrangeiro”, apontou o CEO da Pfizer Portugal, lamentando a perda de tecido industrial ao longo dos anos e reiterando a importância de estratégias que recuperem e ampliem este setor.

O gestor considera que Portugal tem de reduzir os custos de contexto que o tornam menos competitivo. “Sentimos que é difícil nós conseguirmos atrair investimento e colocar Portugal no mapa, para que uma empresa americana possa olhar para Portugal”, desabafou. Paulo Teixeira apontou ainda que “Portugal demora muito tempo a conseguir aprovar a inovação terapêutica“, o que também penaliza a atração de investimento.

 

João Bugalho lamenta também os custos de contexto na habitação, mas está otimista para o mercado imobiliário. “É difícil explicar a um cliente americano porque é que uma casa demora quatro anos a fazer, mas mesmo assim há um interesse que continua a existir e uma procura sobre o produto português”.

Apesar dos desafios, todos os oradores concordaram que as relações entre Portugal e os Estados Unidos continuam robustas e prometem novas oportunidades de crescimento. Seja na saúde, no imobiliário, na tecnologia ou no comércio transatlântico, Portugal demonstra potencial para consolidar a sua posição como parceiro estratégico de um dos maiores players económicos mundiais.

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Grupo de Sintra controlado por fundos compra concorrente audiovisual Pixel Light

Controlada pelas capitais de risco Crest e HCapital, AVK consolida no setor do audiovisual com a vilafranquense Pixel Light, que fatura 12 milhões e deu som e vídeo ao Papa na Jornada da Juventude.

O ano de 2025 arranca com uma operação de consolidação relevante no setor do audiovisual. O grupo AVK, que reclama a liderança do mercado nacional na prestação de serviços para congressos e eventos corporativos, e que é controlado (76%) desde novembro de 2023 por dois fundos de capital de risco das sociedades Crest Capital Partners e HCapital, avançou para a compra da concorrente Pixel Light.

Fundada há 14 anos e especializada no comércio, aluguer e montagem de equipamentos audiovisuais, na gravação de som, vídeo e edição de música, e na produção e apoio a eventos, a Pixel Light tem sede em Vialonga, no concelho de Vila Franca de Xira, emprega mais de 30 pessoas e estava até agora nas mãos dos sócios-gerentes Tiago Correia (através da Last Planet) e Francisco Carvalho.

Após a queda a pique no primeiro ano da pandemia (2020), as vendas desta empresa que tem no currículo trabalhos com o Rock in Rio ou a produção do festival da Eurovisão em Lisboa (2018) recuperaram até 11,5 milhões de euros em 2023. Nesse ano em que lucrou 878 mil euros, destaque para o concurso público de 5,9 milhões para a Jornada Mundial da Juventude, com a adjudicação dos sistemas de áudio e vídeo, a iluminação ambiente e o respetivo abastecimento de energia para o Parque Tejo.

Caso a operação de concentração venha a ser aprovada pela Autoridade da Concorrência, que já foi notificada esta semana, a Pixel Light passa a integrar o grupo de soluções audiovisuais AVK.

Sediado em Rio de Moura (Sintra), além da empresa homónima e adquirente nesta operação, que registou lucros de quase três milhões de euros em 2023, integra também as participações na também portuguesa Euroservice e na espanhola Global Setup (Pontevedra, região da Galiza), que em setembro passou a deter a 100%.

De acordo com os dados oficiais mais recentes consultados pelo ECO, relativos a 2023, as sociedades de direito português geraram um volume de negócios conjunto próximo dos 20 milhões de euros e têm quase 200 funcionários .O negócio foi criado em 2010 por Inês Aguiar (atual presidente do conselho de administração), Jaime Alonso e Paulo Rodam.

Em 2024, a dupla de empresas registou uma faturação superior a 30 milhões de euros e fez mais de 5000 eventos.

Os fundadores continuaram com uma quota minoritária e na equipa de gestão depois da venda aos fundos (a Crest, que no verão passado comprou a bilheteira online BOL com a SIC, controla dois terços do capital), com o mandato expresso de “aprofundar a expansão geográfica” no mercado interno e “aumentar a penetração em Espanha”.

No portefólio da AVK — conta com 8.000 metros quadrados de capacidade para armazenamento, manutenção, controlo e operações logísticas — estão eventos como as últimas duas edições da Web Summit e o congresso do Partido Socialista em 2024, e empresas como Altice, Benfica, Deloitte, McDonald’s, Janssen ou Amazon, prestando atualmente assistência técnica em infraestruturas de “clientes especiais”, como o Banco de Portugal e a Federação Portuguesa de Futebol.

Contactada pelo ECO, a administradora da AVK, Inês Aguiar, escusou-se a adiantar mais pormenores sobre esta operação ou a explicar os planos para a nova empresa do grupo.

A Associação de Imagem Portuguesa (AIP) já avisou que o fim da publicidade na RTP, uma das 30 medidas do Plano de Ação para a Comunicação Social apresentado pela tutela em outubro, vai reduzir o investimento em produções nacionais e levar a perda de empregos nas produtoras, sejam elas associadas à emissora ou independentes.

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CTT enviaram plano de investimentos ao Governo para compensar utilizadores pelas falhas no correio

Obrigados a investir em melhorias por terem falhado todas as metas de desempenho em 2022, os CTT submeteram no início de dezembro uma proposta de investimentos que está a ser analisada pela tutela.

Os CTT propuseram ao Governo um plano de investimentos no início de dezembro para compensar os utilizadores do serviço postal universal por terem falhado, em 2022, todos os parâmetros de qualidade do correio. A informação foi confirmada ao ECO por fonte oficial do Ministério das Infraestruturas e ainda não há decisão final.

No âmbito do contrato de concessão, os CTT são obrigados a cumprir metas de desempenho que, até recentemente, eram as que tinham sido definidas pela Anacom em abril de 2021. Ora, em 2022, a empresa falhou o cumprimento de todos os indicadores com desvios que, num do parâmetros, foi superior a 20 pontos percentuais.

A lei prevê que o Estado pode acionar um mecanismo de compensação caso se confirme o incumprimento dos CTT num determinado ano. Essa compensação, até à renegociação da concessão, traduzia-se sempre em cortes nos preços do correio. Mas o anterior Governo socialista decidiu permitir a compensação dos utilizadores por via de investimentos.

Assim foi. O mecanismo foi acionado pelo Estado, mas, mais de dois anos depois, os utilizadores dos Correios continuam, por um lado, sem conhecer que investimentos irão ser feitos, e, por outro, sem qualquer garantia de que tais investimentos não estariam já previstos serem executados.

O ECO questionou o Ministério das Infraestruturas sobre o tema, que adiantou que os CTT “apresentaram a respetiva proposta de Plano de Investimento a 4 de dezembro de 2024”. “Este plano está em análise, tendo sido solicitada alguma informação complementar para decisão final”, acrescentou fonte oficial da tutela.

O plano será vinculativo, explica o Governo: “Todas as ações inseridas no plano de investimento, apresentado pelos CTT, e que venham a ser aprovadas, terão de ser executadas”, acrescenta o gabinete do ministro Miguel Pinto Luz.

Acontece que, em 2023, os CTT voltaram a falhar os indicadores de qualidade do serviço postal, exceto um. Abordada sobre essa questão, a mesma fonte avançou que, “quanto ao procedimento de aplicação do mecanismo de compensação relativo a 2023, este encontra-se em fase de audiência prévia”.

Por outras palavras, o Estado encontra-se no processo de acionar o mecanismo de compensação junto dos CTT pelas falhas ocorridas em 2023. Como nesse ano ainda estavam em vigor os indicadores de qualidade de 2021, a compensação terá de ocorrer por via de obrigações de investimento.

Dentro de alguns meses deverá ser apurado o desempenho dos CTT em 2024, ainda ao abrigo dos critérios antigos. Mas neste ano de 2025 já será diferente: a empresa está agora sujeita a novos indicadores de qualidade, propostos pela Anacom no final do mandato do anterior presidente João Cadete de Matos, e ligeiramente aliviados pelo atual Governo.

Com novos indicadores, volta também a estar em cima da mesa a possibilidade de compensar os utilizadores com cortes nos preços do correio caso se registem falhas após o fim do exercício, além das obrigações de investimento.

Contactada, fonte oficial dos CTT não quis fazer comentários.

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Euronext tenta atrair 18 empresas portuguesas para a bolsa

A Euronext lança mais uma edição do IPOready com número recorde de empresas nacionais de diversos setores de atividade, que agregam em média cerca de 200 milhões de euros em receitas anuais.

A Euronext anunciou esta quinta-feira o lançamento da 10.ª edição do programa IPOready, uma iniciativa que visa preparar empresas para uma potencial entrada em bolsa.

Este ano, o programa conta com um número recorde de 18 empresas portuguesas participantes que operam em setores como energia, saúde, fintech ou entretenimento e que, em média, geram receitas anuais superiores a 220 milhões de euros “e nove delas já levantaram, em média, 49 milhões de euros em financiamento de capital desde a sua criação”, refere a Euronext em comunicado.

Entre as participantes deste ano estão nomes como Agris, Cork Supply Portugal, CPO – Clínica Privada de Oftalmologia, Future Healthcare, Iberomoldes, Incentea, Joyn, Loop Future, Magycal, MCA Group, Meivcore, Stab Vida, TLG Global (Lahkani Group), TMG, Transportes Paulo Duarte, e Zagope, além de duas empresas que preferiram manter o anonimato.

O programa, que se estenderá por seis meses, oferecerá às empresas participantes um acompanhamento personalizado pela Euronext e por parceiros especialistas em Portugal, incluindo o CaixaBank BPI na área bancária, o Grupo Albion em comunicação, a EY em consultoria, e a Morais Leitão em serviços jurídicos.

A edição deste ano tem a particularidade de incluir cinco empresas (CPO-Clínica Privada de Oftalmologia, MCA, Meivcore, TLG Global e Transportes Paulo Duarte) que já integram o programa ELITE da Euronext, o que demonstra um compromisso contínuo destas empresas com o seu crescimento e preparação para o mercado de capitais.

Globalmente, a edição do IPOready de 2025 reúne um total de 160 empresas de 11 países europeus, incluindo Bélgica, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Noruega, Polónia, Portugal, Espanha e Reino Unido.

O IPOready tem-se revelado numa plataforma relevante para as empresas que consideram abrir o seu capital em bolsa por via de uma Oferta Pública Inicial (OPI) nos próximos anos. Desde a sua criação, o programa já apoiou mais de mil participantes, resultando em 33 listagens nos mercados da Euronext. Estas empresas captaram, em conjunto, mais de 1,6 mil milhões de euros em IPO, alcançando uma capitalização de mercado combinada de quase 5,7 mil milhões de euros, segundo dados da Euronext.

No entanto, em Portugal, tanto o IPOready como outros programas desenvolvidos pela Euronext para captarem novas empresas para bolsa tem sido pouco “produtivo”. Com mais de 75 empresas participantes nas nove edições anteriores dos programas pré-IPO da Euronext, apenas foi realizado uma OPI, que remonta a 2018, por parte da Raize.

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Pelo menos uma empresa dos está EUA obrigada ao IRC mínimo de 15% e é de um bilionário

Multinacional de jatos privados, detida por Warren Buffett, garante que já paga taxa superior. Haverá muitas mais entidades sujeitas ao imposto, mas não há dados estatísticos disponíveis.

Em Portugal, pelo menos uma multinacional dos EUA está obrigada ao IRC mínimo global de 15%: a Netjets, de gestão e aluguer de jatos privados, detida pelo multimilionário norte-americano Warren Buffett. Dados compilados pela Informa D&B indicam que apenas esta empresa norte-americana, com operação no território português, tem uma faturação igual ou superior a 750 milhões de euros, condição para ser tributada à taxa global. A aplicação da taxa mínima, em Portugal, arranca em 2026, mas já com referência aos rendimentos de 2024, de acordo com o diploma do Governo que transpõe a diretiva comunitária. A Netjets garante ao ECO que já paga uma taxa superior a 15% no nosso país.

Haverá muitas mais entidades norte-americanas que estarão sujeitas ao imposto, um vez que a faturação a ter em conta pelo regime de imposto mínimo é apurada ao nível de grupo e não de empresa individual. Porém, nem o Ministério da Finanças consegue, para já, determinar quantos grupos dos EUA poderão ser tributados em Portugal, nem as estatísticas disponíveis têm essa informação.

Em Portugal, apenas 41 empresas faturaram mais de 750 milhões de euros em 2023. Deste universo, só uma é de capital norte-americano: a Netjets Aviation, que faturou cerca de 849 milhões de euros e empregou 258 colaboradores em 2023″, de acordo com a informação avançada pela Informa D&B ao ECO.

O Instituto Nacional de Estatística (INE), que não disponibiliza a lista das empresas, confirmou ao ECO que, efetivamente, só uma filial norte-americana com faturação dos 750 milhões de euros tem atividade em Portugal. Já com origem em Estados-membros da União Europeia (UE), e com o mesmo escalão de rendimentos, há “20 multinacionais” e que também poderão vir a ser tributadas pelo imposto global mínimo de 15%.

Os dados de volume de negócios ao nível de empresa são os que se encontram disponíveis em Portugal pelo INE e Informa D&B. Contudo, o Pilar 2, relativo ao IRC mínimo global de 15%, aplica-se à faturação de um grupo que junta várias empresas, o que significa que poderá incidir sobre cerca de três mil entidades estrangeiras a operar em Portugal, de acordo com estimativas do Ministério da Finanças.

Em relação à Netjets, a empresa multinacional norte-americana que pode vir a pagar o imposto global mínimo à Autoridade Tributária, encontra-se sediada em Columbus, no estado norte-americano do Ohio. E o centro de operações europeu está localizado em Oeiras.

Depois de Donald Trump ter rasgado o acordo para a tributação global mínima das suas multinacionais e ter ameaçado retaliar com os países que apliquem o imposto, o Parlamento Europeu já admite deixar de fora do imposto as grandes empresas norte-americanas. Por isso, ainda não é certo que a taxa avance efetivamente sobre as entidades com sede nos EUA, até porque só a partir do próximo ano é que começará a ser cobrada esta taxa, em Portugal, de acordo com a legislação em vigor. O ECO questionou o Ministério das Finanças do Governo português para saber que decisão irá tomar, mas não obteve resposta até ao fecho deste artigo.

O ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, já manifestou, contudo, uma postura otimista e dialogante, preferindo ver o “copo meio cheio”.

“Veremos o que vai suceder nos próximos anos e nos próximos meses”, indicou esta terça-feira, no final de uma reunião do Ecofin. Mas não adiantou mais sobre a retirada dos EUA do acordo para a taxa global mínima sobre as multinacionais.

Mais pessimistas estão os economistas consultados pelo ECO. O economista e antigo ministro da Economia, Carlos Tavares, considera que a decisão dos EUA “aumenta substancialmente o risco de uma redução drástica da tributação das multinacionais e, por arrastamento das restantes empresas, com uma competição fiscal que poderá fazê-la tender para zero”.

Pedro Braz Teixeira, diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, também critica a decisão norte-americana, classificando-a de “infeliz”, porque “prolonga o regime de exceção das multinacionais, sobretudo dos EUA”. Neste sentido, o economista considera que “não é de esperar que a UE avance sem os EUA”.

“A alternativa seria aplicar esta taxa mínima às multinacionais que não sejam americanas. Trump vai fazer muitas ameaças e a Europa deverá ser forçada a fazer algumas cedências e este deverá ser um dos temas que irá cair”, conclui. Aliás, o próprio Parlamento Europeu já admite isentar as multinacionais norte-americanas, como o ECO avançou.

Assim, e face à posição da Administração Trump, Carlos Tavares aconselha prudência: “Num cenário como o que se está a admitir, essa tributação só seria viável até aos níveis que fossem praticados nos Estados Unidos e em outros países europeus, sob pena de se assistir à reafetação dos lucros entre países ou, pior ainda, à própria deslocalização dos investimentos”. Na mesma senda, Braz Teixeira defende que “Portugal deve aplicar a decisão que a União Europeia tomar”.

As grandes multinacionais, com uma faturação anual superior a 750 milhões de euros, estão, desde janeiro de 2024, e pela primeira vez, sujeitas a uma taxa mínima de IRC de 15%, à medida que entram em vigor as reformas fiscais de quase 140 países, incluindo as dos Estados-membros da UE.

Portugal falhou o prazo para transpor a diretiva europeia, até 21 de dezembro de 2013, e só aprovou a respetiva proposta de lei em julho do ano passado, tendo o diploma entrado em vigor em novembro. 2026 será o primeiro ano de aplicação da nova taxa e haverá uma isenção do imposto durante os primeiros cinco anos para as multinacionais em início de atividade.

O acordo estabelece que se o lucro de uma multinacional for tributado abaixo de 15% num país, outros países poderão cobrar uma taxa complementar até atingir aquele patamar mínimo. A OCDE, que promoveu esta reforma, estima que este imposto aumentará a receita fiscal anual em até 9%, ou seja, em 220 mil milhões de dólares ou 199 mil milhões de euros em todo o mundo.

Reino Unido, Noruega, Austrália, Coreia do Sul, Japão e Canadá foram os primeiros países a implementar o imposto global mínimo. Outros Estados, vistos como paraísos fiscais pelas multinacionais, por terem uma taxa inferior, de 5,5%, como Irlanda, Luxemburgo, Países Baixos, Suíça e Barbados, também vão participar.

EUA e China apoiaram o acordo em 2021, mas não introduziram a taxa mínima na legislação. Com a Administração Trump a liderar a Casa Branca, o mais certo é que o imposto global não seja adotado pelos Estados Unidos.

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Efeito Trump. Parlamento Europeu admite deixar empresas dos EUA fora do IRC mínimo de 15%

Depois das ameaças de retaliação, o Parlamento Europeu admite agora isentar as grandes empresas norte-americanas. Em contrapartida, pondera avançar com um imposto global sobre serviços digitais.

Depois das ameaças de retaliação da Administração Trump contra os países que tributarem as suas multinacionais à taxa mínima global de IRC de 15%, o Parlamento Europeu já admite isentar as empresas norte-americanas com atividade nos Estados-membros da União Europeia (UE), segundo fonte oficial do gabinete de comunicação da subcomissão parlamentar dos assuntos fiscais, numa resposta enviada ao ECO. Em contrapartida, os eurodeputados ponderam avançar com um imposto global sobre os serviços digitais.

“A reforma do Pilar 2”, que diz respeito à tributação mínima global de multinacionais com faturação igual ou superior a 750 milhões de euros, “foi concebida de forma a poder ser implementada unilateralmente”, começa por apontar a mesma fonte oficial do subcomité, liderado pelo eurodeputado Pasquale Tridico. “Contudo, os Estados-membros da UE podem decidir fazer cumprir a lei, mesmo sem a participação dos EUA. A fim de evitar retaliações por parte dos EUA, teriam de considerar a possibilidade de alterar a lei de uma forma a isentar as empresas norte-americanas sem prejudicar o objetivo da reforma no que diz respeito a outros países terceiros”, sugere o Parlamento Europeu.

É um claro recuo da instância europeia sediada em Estrasburgo, depois de o presidente Donald Trump ter rasgado o acordo histórico de 2021, assinado pelos EUA de Joe Biden e mais cerca de 140 países, para a aplicação de um imposto global mínimo sobre multinacionais com uma faturação igual ou superior a 750 milhões de euros. Durante a cerimónia da tomada de posse, na segunda-feira, Trump foi taxativo, ao declarar que esse pacto já “não tem força ou efeito”.

Num memorando presidencial, emitido horas depois de ter assumido o cargo, Donald Trump pediu ao Tesouro dos EUA que preparasse “medidas de proteção” contra os países que implementaram ou que irão implementar “regras fiscais que visem desproporcionalmente as empresas americanas”.

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, terá agora 60 dias para apresentar as conclusões e recomendações sobre os países terceiros que não cumpram os tratados fiscais com os EUA ou que planeiam aplicar a taxa global mínima de 15%. De lembrar que, na semana passada, o mesmo governante considerou “um erro grave” a implementação da reforma do Pilar 2.

A Comissão Europeia lamenta a posição de Trump, “mas acredita que é possível discutir estas questões com a nova Administração dos EUA para compreender melhor as suas preocupações”, indicou ao ECO fonte oficial de Bruxelas.

A instituição, presidida por Ursula Von der Leyen, salienta que “tanto a UE como os EUA partilham os mesmos interesses em desencorajar a transferência de lucros para países com impostos baixos”. Por isso, considera que ainda há margem de manobra para debater esta matéria de forma a chegar a um entendimento, até porque está em curso “uma reforma fiscal interna nos EUA”, que deverá estar concluída no final deste ano. Será nesse palco que a Comissão poderá tentar alguma forma de negociação com o Tesouro norte-americano.

Tanto a UE como os EUA partilham os mesmos interesses em desencorajar a transferência de lucros para países com impostos baixos.

Comissão Europeia

Num tom mais crítico, o presidente da subcomissão do Parlamento Europeu para os assuntos fiscais, Pasquale Tridico, já reconheceu que a saída dos EUA do acordo global sobre a tributação das multinacionais representa “um revés significativo”. “A decisão de Trump beneficia multinacionais e ultrabilionários que apoiaram a sua campanha. O fardo recairá sobre os cidadãos e as pequenas e médias empresas, que continuarão a enfrentar impostos desproporcionalmente mais elevados em comparação com as grandes empresas”, criticou o eurodeputado do grupo da Esquerda Unitária.

Tridico sinalizou que, “há mais de um ano, a UE introduziu novas regras que determinam uma taxa de imposto efetiva mínima global de 15% para empresas multinacionais que operam nos seus Estados-membros”. “As ameaças de retaliação de Trump não devem deter-nos. O nosso dever é servir os cidadãos e as empresas europeias, que são fortemente penalizados pelas práticas de evasão fiscal das grandes multinacionais, especialmente dos gigantes tecnológicos”, defendeu.

Apesar desta posição de força, o Parlamento Europeu já veio admitir a possibilidade de isentar as multinacionais norte-americanas face às ameaças de retaliação de Donald Trump. “Existe o risco de tensões crescentes entre os EUA e a UE, se a UE avançar e decidir implementar” o imposto mínimo global “e impô-la às empresas dos EUA”, reconheceu fonte oficial em resposta às questões colocadas pelo ECO.

As ameaças de retaliação de Trump não devem deter-nos. O nosso dever é servir os cidadãos e as empresas europeias, que são fortemente penalizados pelas práticas de evasão fiscal das grandes multinacionais, especialmente dos gigantes tecnológicos.

Pasquale Tridico, presidente da subcomité dos assuntos fiscais do Parlamento Europeu

Por isso, a “UE terá de colaborar com a nova administração dos EUA e apelar a uma reforma do regime dos EUA para o tornar compatível com a reforma do Pilar 2”. Mas vai mais longe: “A fim de evitar retaliações por parte dos EUA, os Estados-membros teriam, no entanto, de considerar a possibilidade de alterar a lei de uma forma a isentar as empresas norte-americanas sem prejudicar o objetivo da reforma no que diz respeito a outros países terceiros”. Estrasburgo indica que esta isenção poderia se feita “a nível nacional”, mas o ideal seria um acordo “adotado a nível da UE”. Nesta fase, contudo, ainda “é demasiado prematuro prever o que os Estados-membros irão decidir”, acrescentou a mesma fonte.

O Parlamento Europeu chamou ainda a atenção para outra das consequências da retirada dos EUA do acordo para a tributação global mínima das multinacionais: “Os Estados-membros da UE já não se irão sentir vinculados ao compromisso com o Pilar 1, que determina a suspensão dos impostos sobre o digital e não introdução de novas taxas sobre estes serviços”.

Ou seja, os países europeus sentir-se-ão livres ou legitimados para criar novas taxas. “Para evitar que isto conduza a um aumento de múltiplos impostos nacionais, a Comissão Europeia poderia reconsiderar a sua anterior proposta de introdução de um imposto sobre serviços digitais à escala da UE”, sugere o Parlamento Europeu, recordando que já instou a Comissão “a reconsiderar um imposto digital alternativo da UE no caso de fracasso da reforma do Pilar 1, dado que uma parte das receitas geradas no âmbito desta reforma deveria ser atribuída ao orçamento da UE”.

A fim de evitar retaliações por parte dos EUA, os Estados-membros teriam, no entanto, de considerar a possibilidade de alterar a lei de uma forma a isentar as empresas norte-americanas sem prejudicar o objetivo da reforma no que diz respeito a outros países terceiros.

Parlamento Europeu

Todas estas matérias terão ainda de ser discutidas e definidas pela Comissão Europeia e pelo Conselho Europeu, uma vez que “o Parlamento Europeu desempenha apenas um papel consultivo em questões fiscais“, salientou a mesma fonte do gabinete parlamentar.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que promoveu o acordo multilateral para a criação de um IRC global mínimo de 15% sobre as multinacionais com faturação igual ou superior a 750 milhões de euros, também já reagiu à posição da Administração Trump.

A instituição mostrou-se igualmente preocupada com o recuo norte-americano, mas foi mais branda no tom, salientando que “os Governos dos países membros” da OCDE, incluindo os EUA, “representam os seus interesses como bem entendem”, referiu numa resposta ao ECO. “A OCDE continuará a trabalhar com os EUA e todos os países para apoiar a cooperação internacional de modo a promover a segurança, evitar a dupla tributação e proteger as bases tributárias”, indicou.

A OCDE continuará a trabalhar com os EUA e todos os países para apoiar a cooperação internacional de modo a promover a segurança, evitar a dupla tributação e proteger as bases tributárias.

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE)

As grandes multinacionais, com uma faturação anual superior a 750 milhões de euros, estão, desde janeiro de 2024, e pela primeira vez, sujeitas a uma taxa mínima de IRC de 15%, à medida que entram em vigor as reformas fiscais de quase 140 países, incluindo as dos Estados-membros da UE.

Portugal falhou o prazo para transpor a diretiva europeia, até 21 de dezembro de 2013, e só aprovou a respetiva proposta de lei em julho do ano passado, tendo o diploma entrado em vigor em novembro.

O acordo estabelece que se o lucro de uma multinacional for tributado abaixo de 15% num país, outros países poderão cobrar uma taxa complementar até atingir aquele patamar mínimo. A OCDE, que promoveu esta reforma, estima que este imposto aumentará a receita fiscal anual em até 9%, ou seja, em 220 mil milhões de dólares ou 199 mil milhões de euros em todo o mundo.

Reino Unido, Noruega, Austrália, Coreia do Sul, Japão e Canadá foram os primeiros países a implementar o imposto global mínimo. Outros Estados, vistos como paraísos fiscais pelas multinacionais, por terem uma taxa inferior, de 5,5%, como Irlanda, Luxemburgo, Países Baixos, Suíça e Barbados, também vão participar. EUA e China apoiaram o acordo em 2021, mas não introduziram a taxa mínima na legislação. Com a Administração Trump a liderar a Casa Branca, o mais certo é que o imposto global não seja adotado pelos Estados Unidos.

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Só 43% dos alunos mais pobres ativaram contingente que lhes facilita entrada no ensino superior

Contingente prioritário para alunos carenciados que ingressem no ensino superior está a ser uma "medida positiva", mas "não está a chegar a todos". Bolsas insuficientes desincentivam adesão.

Menos de metade dos estudantes que poderiam ter ativado o contingente desenhado pelo Governo anterior para facilitar o acesso dos alunos mais carenciados ao ensino superior usou essa via no ano letivo de 2023-2024. O balanço é feito pelo think tank EDULOG, que, num novo estudo, alerta que a insuficiência das bolsas de estudo e do apoio aos estudantes deslocados ajuda a explicar este nível de adesão.

Anunciado em 2023 como projeto-piloto de adesão voluntária por parte das instituições de ensino superior, este contingente implica a reserva de 2% das vagas para os estudantes beneficiários do escalão A de ação social escolar, ou seja, procura fomentar a inclusão dos alunos mais carenciados no ensino superior.

E tem-no feito, mas “não está a chegar a todos os estudantes“, alerta Alberto Amaral, membro do conselho consultivo do EDULOG. Os números confirmam essa dinâmica.

Segundo o novo estudo, sem o contingente, cerca de 41% dos estudantes do escalão A que utilizaram esta via não teriam sido admitidos nos cursos e instituições em que foram colocados. Mais, esta medida aumentou em dez pontos percentuais a probabilidade de admissão de alunos carenciados e em 2,8 pontos percentuais a probabilidade de acesso a programas seletivos.

“Estes resultados refletem o papel facilitador do contingente no acesso a áreas de estudo mais competitivas por parte de estudantes de baixos rendimentos”, realça o EDULOG.

Contudo, “apesar dos benefícios”, só cerca de 43% dos candidatos elegíveis para este contingente O ativaram no momento da candidatura. Há três fatores a explicar essa trajetória, identifica Alberto Amaral, em conversa com o ECO.

Primeiro, a falta de informação sobre esta medida. Nos Açores e na Madeira, já estava previsto um outro contingente — que reserva uma parte das vagas no ensino superior no continente para os alunos insulares — e nessas regiões a adesão à via prioritária para alunos carenciados foi “notavelmente mais elevada“, o que mostra que a maior familiaridade com medidas deste tipo tem impacto na adesão.

Por outro lado, há a apontar a insuficiência dos apoios para os alunos deslocados, argumenta Alberto Amaral. É que o contingente até pode facilitar o acesso ao curso desejado, mas não assegura qualquer apoio extra à deslocação, cenário que é agravado pelo “custo crescente do aluguer de um quarto“.

“O valor modesto das bolsas de estudo para estudantes deslocados cria uma situação insustentável para os estudantes carenciados, impedindo que usem a totalidade das vagas criadas pela medida”, declara o também ex-reitor da Universidade do Porto.

Pior, para os alunos que se deslocam, muitos ficam em quartos em Lisboa e no Porto sem contratos de arrendamento, o que impede o acesso aos apoios desenhados para o alojamento.

Já o terceiro fator a desmotivar a adesão ao contingente para alunos carenciados tem que ver, segundo Alberto Amaral, com a perceção do grau de dificuldade dos cursos considerados de elite. É que os alunos que precisam de apoio social escolar têm de manter aproveitamento escolar e veem esses cursos como um “maior risco”, porque temem que sejam mais difíceis.

Recomendações para aumentar inclusão

Perante este cenário, o EDULOG deixa uma série de recomendações, a começar pela “necessidade de aumentar a divulgação e a consciencialização sobre o contingente, nomeadamente através da criação de vídeos tutoriais para professores e estudantes, e da disponibilização de informações mais claras no website da Direção-Geral do Ensino Superior”.

Além disso, o think tank sugere a publicação das notas mínimas de entrada para todos os contingentes, “de forma a ajudar os estudantes a tomar decisões mais informadas“.

Outra recomendação é a criação de apoios financeiros adicionais para despesas de deslocação e de alojamento, “que continuam a ser entraves significativos no acesso ao ensino superior”.

O EDULOG sublinha também a importância de uma monitorização contínua dos impactos deste contingente. “É essencial acompanhar os estudantes admitidos através desta medida, não apenas no que diz respeito ao seu percurso académico, mas também ao seu sucesso profissional, de forma a avaliar o impacto, a longo prazo, na empregabilidade e no rendimento destes jovens“, acrescenta o think tank.

Este think tank enquadra-se na Fundação Belmiro de Azevedo. O objetivo é, nomeadamente, “contribuir para a construção de um sistema de educação de referência” e a informação das políticas públicas “para a inovação e mudança na Educação”.

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