Habitantes de Aveiro são os que mais beneficiam do PRR

Na região de Aveiro cada habitante beneficia de 2.092 euros do PRR, muito acima da média nacional de 1.179 euros. Seguem-se as regiões de Coimbra (1.570 euros), Douro (1.427 euros) e Alentejo Litoral.

É na região de Aveiro que cada português beneficia de mais verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), seguida de Coimbra e Douro, e acima da média nacional. De acordo com uma análise da Comissão Nacional de Acompanhamento da “bazuca”, com cerca de 90% do PRR aprovado, a CNA concluiu que as Áreas Metropolitanas de Lisboa, do Porto e da Comunidade Intermunicipal de Aveiro são as CIM com o maior número de verbas aprovadas.

“Analisando os montantes aprovados em cada uma das CIM, verificamos valores bastante mais elevados nas Áreas Metropolitanas de Lisboa (cerca de 3,5 mil milhões de euros) e do Porto (cerca de 2,2 mil milhões), seguidas das CIM da Região de Aveiro (768 milhões), da Região de Coimbra (685 milhões), da CIM do Cávado (479 milhões) e da CIM do Ave (468 milhões)”, lê-se na análise. “Estas seis regiões representam 70% do montante total aprovado, para uma população com um peso de cerca de 65%”, acrescenta a CNA.

Recorde-se que no PRR não existe uma exclusão de apoios de acordo com a região ou com a dimensão das empresas, tal como acontece no Portugal 2020 e no Portugal 20230, o que permitiu que muitas entidades tenham projetos aprovados na AML e que as grandes empresas também tenham sido elegíveis.

Já se a análise for feita per capita, então o destaque vai a Região de Aveiro, com 2.092 euros por habitante, muito acima da média nacional de 1.179 euros. Mas, também nas regiões de Coimbra (1.570 euros), Douro (1.427 euros), Alentejo Litoral (1.358 euros), Leiria (1.330 euros) e Alto Alentejo (1.298 euros) os valores superam a média nacional.

Aveiro surge ainda num outro top – o dos concelhos de média dimensão, que têm entre 20 mil e 100 mil habitantes. São 90 no total e representam cerca de um terço do total. O município de Aveiro tem cerca de 240 milhões de euros da bazuca comprometidos no final do terceiro trimestre. No extremo oposto está Almeirim com apenas 4,2 milhões de euros.

No segundo lugar do pódio surge Vila Real com 152 milhões de euros comprometidos até setembro deste ano e em terceiro Águeda com 148 milhões. Entre os lugares de topo destaque ainda para Estarreja (136 milhões), Faro (121 milhões), Viana do Castelo (117 milhões) e Figueira da Foz (117 milhões).

“À semelhança dos municípios de pequena dimensão, também nos de média dimensão a capitalização empresarial e a descarbonização empresarial representam um peso significativo”, escreve a CNA. “Destacam-se também a habitação, as qualificações e competências bem como o SNS, que é líder em Faro”, precisa a entidade liderada por Pedro Dominguinhos.

Mas é o facto de nestes concelhos existirem grandes empresas, instituições de ensino superior e ULS que potenciam de forma significativa a capacidade de absorção de investimentos. A que se soma um outro fator — as autarquias terem projetos em carteira.

As universidades “são instituições que revelam uma grande experiência e maturidade em candidaturas a programas competitivos, revelando um elevado grau de eficiência na absorção dos mesmos e que deveriam ser um exemplo para quem prossegue políticas públicas”, sublinhou Pedro Dominguinhos, ao ECO.

O presidente da CNA sinalizou ainda o “papel muito relevante dos municípios” no PRR. Inicialmente manifestaram o seu desagrado dizendo que o PRR tinha poucos projetos dirigidos aos municípios, mas isso mudou com a reforma da bazuca, que “descentralizou” para as câmaras a execução dos projetos das escolas e dos centros de saúde.

A isto somam-se os avultados investimentos em habitação acessível. “Resultado da reforma do próprio PRR deu-se maior centralidade aos centros de saúde e creches municipais, escolas e os municípios ganharam peso”, frisou.

O objetivo desta análise, segundo a CNA, é “estimular uma análise crítica junto dos vários atores, quer os que gerem o território, quer os responsáveis pela arquitetura, definição e implementação de políticas públicas, para além de contribuir para a transparência do PRR”.

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Jornal Correio da Feira suspende publicação após 127 anos de atividade

  • Lusa
  • 11 Novembro 2024

Segundo os administradores do jornal, o número de assinantes "é insuficiente para manter um jornal em atividade", fazendo menção a desistências diárias.

O jornal Correio da Feira anunciou esta segunda-feira a sua “suspensão por tempo indeterminado” após 127 anos de atividade na cobertura da atualidade do concelho de Santa Maria da Feira, justificando a medida com a insustentabilidade financeira da publicação.

A decisão foi comunicada a assinantes, leitores e anunciantes em carta pública assinada por Jorge Andrade e Paulo Fonseca, que há 13 anos eram os administradores desse órgão de comunicação social do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto, editado em papel com periodicidade quinzenal e disponível também em versão online.

Referindo que a sua “primeira prioridade” é para com a defesa dos direitos dos funcionários da casa, os administradores da publicação explicam: “Obrigámo-nos a analisar, com os trabalhadores, as possibilidades que surgiram para manter em banca o Correio da Feira. Não tendo sido viável, resta-nos manter a decisão que há muito havíamos deixado claramente esclarecida junto da equipa, na certeza de que seria insustentável que o jornal voltasse a subsistir de um mensal patrocínio dos seus administradores”.

Jorge Andrade e Paulo Fonseca atribuem as dificuldades financeiras do quinzenário aos mesmos problemas que afetam a generalidade da imprensa local e regional, no país e no estrangeiro. “O número de assinantes é insuficiente para manter um jornal em atividade. Diariamente há desistências. Cada vez há menos e menos leitores interessados em assinarem ou manterem a sua assinatura na imprensa profissional”, explicam.

Considerando que “há um contínuo desrespeito pela profissão de jornalista”, acrescentam que poucos leitores – “e, por isso, insuficientes – estão interessados em pagar para se fazer informação profissional e isenta”.

Os administradores do Correio da Feira orgulham-se, ainda assim, do trabalho desenvolvido nos últimos 13 anos: “Pegámos num jornal moribundo e prostituído, e fizemos dele um jornal profissional, isento e livre. (…) Contudo, há que confessar que o que mais nos satisfez, e a única razão que nos empurrou para a continuação quando a lógica empresarial nos ordenava o encerramento da empresa, foi sempre o gosto de, ao entrar diariamente nos escritórios, observarmos a jovem equipa entusiasmada com os afazeres da sua arte”.

Nelson Costa, o jornalista que vinha dirigindo o quinzenário, admite no seu editorial que a decisão vinha sendo “ponderada há muito”, mas prefere realçar o orgulho no desempenho da sua equipa. “Somos, há alguns anos, o único jornal [de Santa Maria da Feira] que cumpre a missão de divulgar o que melhor (e muito) por cá se faz e também a de escrutínio, pois a democracia local não se esgota nos periódicos atos eleitorais”, argumenta.

Citando o jornalista e escritor colombiano Gabriel García Márquez, que defendia que “a ética deve acompanhar o jornalismo como o zumbido acompanha o besouro”, Nelson Costa lamenta depois a pouca valorização da carreira que escolheu, antecipando dificuldades.

“Numa profissão que vive num longo e permanente estado de emergência — maltratada por quem não faz a menor ideia do que ela representa (…) e por vezes também por quem dela vive —, não sei se terei a oportunidade de voltar a exercer a profissão que tanto me apaixona, mas certamente continuarei a escrever e a seguir este caminho que é a vida com o ‘zumbido do besouro’ no meu ouvido”, promete.

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Turismo deverá crescer 9% em 2025

  • Lusa
  • 11 Novembro 2024

Secretário de Estado do Turismo afirma que "Portugal não tem turistas a mais" e que a perspetiva é de continuar a crescer.

Portugal deverá fechar o ano de 2024 com 27 mil milhões de euros de receitas turísticas e a perspetiva é de um crescimento de 9% em 2025, disse esta segunda-feira o secretário de Estado do Turismo.

“À data de hoje sabemos que o país estima que vai atingir até ao final deste ano de 2024 qualquer coisa como 27 mil milhões de receitas [no turismo] e a perspetiva para 2025 é de crescer na ordem dos 9%”, referiu Pedro Machado.

O governante falava em Aveiro no painel de abertura de uma conferência dedicada à Estratégia de Turismo 2035, onde declarou que “Portugal não tem turistas a mais” e que a perspetiva é de continuar a crescer.

Esse crescimento, defendeu, comporta desafios e riscos que é preciso acautelar, ao nível da mão-de-obra, que é preciso qualificar, da transição digital das empresas e também da formação de imigrantes.

O envelhecimento, ou a pressão sobre os recursos, nomeadamente da água, são outras preocupações que apontou.

“Queremos ouvir também parceiros externos, nomeadamente os mais importantes players”, disse Pedro Machado, aludindo ao processo de construção da Estratégia de Turismo 2035, que está a ser desenvolvida com entidades públicas e privadas do “ecossistema” turístico.

Isabel Damasceno, que preside à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, ao intervir no painel, assumiu que o turismo “é um trunfo fundamental para o desenvolvimento e coesão territorial”.

No que toca aos fundos que vão estar disponíveis para apoiar o setor, Isabel Damasceno esclareceu que uma parte será alocada às comunidades intermunicipais, com apoios diferenciados cujo elemento agregador será a Entidade Regional de Turismo.

Coube ao presidente dessa Entidade a intervenção mais reivindicativa, ao reclamar uma distribuição mais equitativa dos fluxos turísticos gerados a partir dos aeroportos de Lisboa e do Porto.

“Somos a única região sem aeroporto e é preciso distribuir esses fluxos por todo o território“, reclamou Raul Almeida, referindo que a maior parte da centena de municípios do Centro se situa no interior.

Para o presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro, para contrariar “a grande litoralização” do turismo, deve ser feita a aposta na melhoria das acessibilidades, quer ferroviárias, quer mesmo rodoviárias, dando como exemplo não existir ainda uma autoestrada a ligar as cidades de Viseu e Coimbra.

Ribau Esteves, presidente da Câmara de Aveiro, anfitrião da conferência referiu-se à evolução turística no seu município, “um destino único pela cultura e condições territoriais”.

A esse propósito, referiu que a aposta como Capital Portuguesa da Cultura “é também uma operação de marketing territorial bem-sucedida”, defendendo a importância da identidade, dos valores democráticos, da sustentabilidade e da tecnologia, como fatores de atração.

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Empresas portuguesas vão pagar mais 10% pelos seguros de saúde em 2025, antecipa Aon

A subida dos prémios em Portugal é superior à média europeia (8,9%) e face ao aumento da despesa, as empresas apostam em medidas de mitigação ligadas à prevenção e a planos de benefícios flexíveis.

As empresas portuguesas vão pagar em média mais 10% pelos seguros de saúde dos colaboradores em 2025 face ao ano anterior, mantendo a tendência de crescimento registada nos últimos anos, antecipa a Aon.

Deste modo, o estudo “2025 Global Medical Trend Rates Report” da Aon sugere que os custos com seguros de saúde para as empresas vão crescer acima da taxa de inflação. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC), indicador que mede a inflação, desacelere para 2,1% em 2025.

Ainda que a evolução dos prémios em Portugal se alinhe com o crescimento médio global (10%); registam um valor superior à média europeia (8,9%).

Envelhecimento e doenças oncológicas pressionam preços

O relatório indica que as doenças de foro oncológico lideram a principal causa para o aumento dos custos com seguros de saúde em todo o mundo e Portugal não é exceção. Seguem-se as patologias musculoesquelético, cardiovasculares, do foro da saúde mental e a diabetes.

Quanto aos fatores de risco, aqueles que mais contribuem para aumento dos preços em Portugal são o envelhecimento populacional, a ausência de rastreios clínicos antecipados, a genética, o aumento das doenças crónicas, como a hipertensão e o stress e a ausência da prática de atividade física.

João Dias, health solutions manager da Aon Portugal, assinala que as dificuldades de acesso ao SNS têm transferido custos para o setor privado da saúde.

O Health Solutions Manager da Aon Portugal, João Dias, faz uma análise geral das conclusões do estudo, apontando que também têm pesado nos preços dos seguros de saúde o aumento dos preços dos prestadores privados de cuidados de saúde e a transferência dos custos dos cuidados de saúde para o setor privado devido a constrangimentos no acesso aos Sistema Nacional de Saúde (SNS)

A própria evolução tecnológica na medicina com exames e tratamentos, que traz maior eficiências mas também mais custos, contribui para que “que os custos médicos cresçam acima da taxa de inflação geral das economias”, assinala.

João Dias refere ainda que “os impactos de longo prazo da pandemia de Covid-19 continuam a fazer-se sentir com a menor imunidade da população e novas infeções respiratórias e doenças a serem tratadas em estágios mais avançados”. Uma consequência “da falta de prevenção e diagnósticos, verificadas durante a pandemia”.

Estratégias para mitigar aumento da despesa

Em resposta à subida dos prémios, as empresas têm adotado estratégias para mitigar os impactos do aumento dos custos no seu balanço financeiro: apostam na prevenção e em planos de benefícios flexíveis.

“As iniciativas de prevenção e bem-estar estão a ganhar cada vez mais espaço no desenvolvimento de programas de assistência ao colaborador, nomeadamente check-ups regulares, programas de nutrição e gestão do stress, entre outras”, esclarece João Dias. Os “planos de benefícios flexíveis que as organizações estão a implementar são vistos como uma solução eficaz para controlar os custos e, ao mesmo tempo, oferecer pacotes de benefícios personalizados e mais adequados às necessidades específicas de cada colaborador”, acrescenta.

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Eleições antecipadas podem mudar poder na Alemanha. Como fica a Europa?

Democratas-cristãos lideram sondagens em conjunto com o "irmão gémeo mais conservador" da Baviera. Mesa do Conselho Europeu em risco de ficar com um socialista a menos.

Quando a Alemanha espirra, a Europa constipa-se, diz a velha máxima. Ainda não existem sinais de que a nível económico isso possa vir a acontecer – o primeiro-ministro afasta, para já, esse risco para Portugal – mas a instabilidade política naquela república federal pode afetar o futuro da União Europeia (UE), sobretudo em matérias mais fraturantes, como a imigração e o apoio à Ucrânia. A par de Pedro Sanchéz, Olaf Scholz é um socialista de peso entre os 27 Estados-membros, mas a partir de 2025 a presença do alemão no Conselho Europeu, já presidido por António Costa, pode deixar de ser uma realidade.

Esta crise na Alemanha não contribui em nada para a estabilidade do projeto europeu“, conclui ao ECO o politólogo e professor catedrático de Relações Internacionais pela Universidade Lusófona, José Filipe Pinto, apontando para o risco de o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) poder sair beneficiado das próximas eleições, depois de uma vitória nas eleições regionais, no estado da Turíngia, e de um segundo lugar nas europeias, em junho. “Sempre que o populismo cultural e identitário cresce, o projeto europeu retrocede“, diz.

Enquanto não houver eleições, a União Europeia fica nas boxes, aponta ao ECO Henrique Burnay, especialista em assuntos europeus, recordando que além da Alemanha também a governação em França “está fragilizada”. “A falta de clarificação sobre estas duas peças não são boas para a Europa”, diz. Mas afinal, o que é que aconteceu?

Chanceler alemão, Olaf ScholzEPA/FILIP SINGER

Na semana em que Donald Trump foi eleito 47º presidente dos Estados Unidos, do outro lado do Atlântico, na Alemanha, a coligação liderada por Olaf Scholz colapsava. O ministro das Finanças, Christian Lindner, líder do Partido Democrático Liberal (FDP) foi demitido, depois de Scholz o ter acusado de quebra de confiança por ter defendido publicamente uma política económica diferente. Scholz quer aumentar a despesa através do aumento da dívida, citando o impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia. Lindner opôs-se a isso, insistindo numa série de cortes nos impostos e nas despesas, nomeadamente, nas pensões.

Momentos mais tarde, o chanceler alemão (SPD) anunciava uma moção de confiança para 15 de janeiro, no Bundestag – um instrumento parlamentar usado para demonstrar apoio a um governo ou a um líder político.

A probabilidade de ser retirada a confiança a Scholz é elevada. A popularidade do chanceler está em mínimos e a chamada ‘coligação semáforo’ (por causa das cores dos partidos) – SPD, FDP e os Verdes – tem mostrado, desde início, dificuldades em manter-se à tona. Caso o chumbo concretize, o presidente Frank-Walter Steinmeier poderá dissolver o Bundestag no prazo de 21 dias, antecipando em seis meses as eleições do próximo outono, para março de 2025. Ou até mais cedo. Friedrich Merz, o líder da União Democrata-Cristã (CDU), partido conservador da oposição e favorito para assumir a chancelaria, pede que a moção seja votada ainda este mês.

No Twitter, Scholz não se compromete com uma data mas deixou um apelo: “Gostaria de realizar novas eleições o mais rápido possível. Deveríamos discutir a data com calma“.

O cenário traz memórias da década de 1960 aos dois politólogos ouvidos pelo ECO. Se, por um lado, é a primeira vez, desde essa altura, que é formada uma coligação governativa com três partidos, por outro, é apenas a quarta vez na história da Alemanha que o mandato de um Governo é interrompido.

Toda a situação é muito pouco alemã“, diz Burnay, embora José Filipe Pinto considere o desfecho como “altamente previsível” dado os tumultos entre “três partidos, cujas ideologias nunca eram as mesmas”.

CDU procura maioria com “irmão gémeo conservador”

Neste momento, as primeiras sondagens, apesar de darem a vitória à CDU, não garantem uma maioria absoluta“, considera o politólogo da Universidade Lusófona, salientando o risco de o cordão sanitário ao partido de extrema-direita poder cair por terra se se concretizarem eleições, em março. Ou no limite, que ocorra, à semelhança do que se verifica em muitos países europeus, um voto de protesto no partido de extrema-direita.

Segundo o agregador de sondagens sobre a Alemanha do site Politico, a CDU está perto de recuperar o eleitorado que tinha aquando da última vitória de Angela Merkel, com as intenções de voto a apontarem para uma média de 32%. Por seu turno, AfD, que ganhou as últimas eleições regionais na Turíngia, e antes, assegurou o segundo lugar nas eleições europeias (à frente dos partidos do Governo), surge em segundo com cerca dos 17% votos.

Já o SPD, de Scholz, aparece em terceiro lugar, com 16% – a sua pior votação desde a Segunda Guerra Mundial. Mais dramática é a situação da Esquerda e do FDP que só reúnem 3% e 4% dos votos, respetivamente. Segundo as regras do parlamento alemão, os partidos precisam de, pelo menos, 5% dos votos para ter assento no hemiciclo. Quem fica acima desse limiar são os Verdes (10%) e o partido de extrema-esquerda, a Aliança Sahra Wagenknecht (7%).

Aos olhos de Filipe Pinto, perante a linha vermelha que a CDU impôs à AfD, o mais provável, e considerando o avanço que tem nas sondagens, será que os democratas-cristãos procurem apoio ao “irmão gémeo” da Baviera, o CSU, “que é muito mais conservador”,.

Mas o politólogo não faz, para já, apostas. “Tenho muitas dificuldades em prever que coligação pode sair do próximo processo eleitoral”, refere ao ECO, embora saliente que: “o eleitorado alemão coloca o interesse nacional acima de tudo”, não estando condicionado por ideologias políticas.

O chanceler alemão Olaf Scholz (à direita), o ministro alemão da Economia e do Clima, Robert Habeck (ao centro), e o ministro alemão das Finanças, Christian Lindner (à esquerda).EPA/CLEMENS BILAN

E como fica a Europa?

As eleições europeias permitiram perceber em que direção aponta a bússola política. O aumento do custo de vida, a crise na habitação, a guerra na Ucrânia e um aumento dos fluxos migratórios deverão marcar a campanha eleitoral na Alemanha, à semelhança do que tem acontecido um pouco por toda a Europa.

Em junho, os sociais-democratas (PPE) e os socialistas (S&D) mantiveram os papéis de partidos mais votados para o Parlamento Europeu, mas para surpresa de alguns, houve um crescimento da direita – sobretudo daquela mais extremada. Existem agora três partidos que se sentam mais à direita do PPE, uma realidade nunca antes vista em Estrasburgo, mas que reflete o cenário nos Países Baixos, Hungria, Polónia, Itália e Áustria.

Na mesa redonda do Conselho Europeu, instituição que reúne os chefes de Estado e de Governo dos 27 Estados-membros e que será liderada por António Costa, a maioria dos lugares é ocupado pelos líderes do PPE. Os lugares socialistas de peso são ocupados por Olaf Sholz e Pedro Sanchéz (Espanha).

“Com a eventual saída do chanceler, os socialistas ficam com menos um no Conselho Europeu. A figura mais importante passará a ser o líder espanhol, que, ao contrário de Scholz, não é um socialista moderado“, alerta Henrique Burnay, salientando que, em sentido contrário, o PPE pode passar a estar representado por um grande país. E isso será um desafio para António Costa.

O ex-primeiro-ministro, que se prepara para assumir a presidência da chefia dos 27, em Bruxelas, em dezembro, é conhecido entre os seus pares, em Portugal e na Europa, como uma figura que sabe criar consensos políticos. Mas para José Filipe Pinto, essa aptidão é mais visível e útil em cenários nos quais existe um equilíbrio entre a esquerda e direita.

“António Costa é um político hábil, mas que tem mais facilidade em criar consensos à esquerda e o que acontece é que vai ser obrigado a negociar com mais governos de direita, e até de extrema-direita. Nessa perspetiva, poderá ser difícil e tumultuoso o mandato de António Costa“, prevê o politólogo.

Quem poderá ficar numa posição reforçada será a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que os olhos de Henrique Burnay beneficia da instabilidade governativa dos Estados-membros para fazer valer a sua presidência. “Governos fracos têm ajudado a produzir uma Comissão forte“, diz o especialista em assuntos europeus.

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Governo quer candidaturas ao Porta 65 Jovem no Gov.pt

  • Lusa
  • 11 Novembro 2024

Ministra da Juventude recordou que todos os novos serviços devem ser disponibilizados no Gov.pt. Administração Pública tem dois meses para identificar os serviços que podem passar a ser digitais.

O Governo quer que as candidaturas ao Porta 65 Jovem transitem para o portal Gov.pt e que a Administração Pública identifique no prazo de dois meses quais os serviços que podem passar a ser digitalizados.

Durante audição no Parlamento, no âmbito da discussão na especialidade do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), a ministra da Juventude e Modernização explicou, que, quando o Gov.pt – que uniformiza canais de atendimento dos serviços públicos – foi lançado o objetivo era que não tivesse logo todos os serviços integrados, mas que se fosse “fazendo essa integração”.

Deste modo, ficou estabelecido que todos os “novos serviços que sejam disponibilizados têm que vir por defeito no Gov.pt”, detalhou Margarida Balseiro Lopes, dando, como exemplo, os “cheques-psicólogo ou os cheques-nutricionista“. “Outro dos serviços que queremos transitar para o Gov.pt são as candidaturas ao Porta 65 Jovem”, anunciou a governante, indicando que esta transição “é um esforço brutal”.

Por outro lado, “até ao final do mês de janeiro”, a Administração Pública terá que “identificar os serviços que atualmente só estão disponíveis de forma presencial” e que podem passar a estar disponíveis de forma digital, à luz da “estratégia omnicanal”, acrescentou.

Segundo a ministra, no que diz respeito à Estratégia Digital Nacional, que “traçará o caminho da transformação digital para Portugal até 2030”, esta vai ser apresentada “nas próximas semanas” e além de ser assente em quatro dimensões fundamentais – Pessoas, Empresas, Estado e Infraestruturas -, “o tema do talento, da capacitação e formação das pessoas” vai ser um dos focos principais.

“É essencial”, indicou, sublinhando que há “44% da população sem competências digitais”, pelo que é necessária uma “aposta forte”.

Questionada sobre o ataque informático à Agência para a Modernização Administrativa (AMA), Margarida Balseiro Lopes indicou que não podia divulgar as “vulnerabilidades” que causou, mas reiterou que a situação está “corrigida”.

“Temos que fazer um grande investimento na Administração Pública”, admitiu, sublinhando que “infelizmente” estes “ataques vão ser cada vez mais frequentes”.

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Vila Velha de Ródão investe quatro milhões de euros em 26 casas a custos controlados

Município constrói 26 casas a custos controlados, além de zonas verdes e de estacionamento, parques infantis e espaços para a realização de atividades desportivas.

Casas a custos controlados Vila Velha de Ródão

A Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão vai construir 26 casas a custos controlados, num investimento superior a quatro milhões de euros. “Esta obra representa o maior investimento feito à data pelo município com recurso a fundos próprios e pretende ampliar o parque habitacional da autarquia”, assinala o autarca Luís Pereira.

Com o objetivo de “promover a integração da população, a igualdade de oportunidades no acesso à habitação e o reforço do sentido de comunidade”, o presidente da câmara de Vila Velha de Ródão avança com a recuperação desta zona, que, “nos últimos anos, tem registado uma elevada procura para a construção de habitação própria”.

A intervenção, que vai ocupar uma área de oito mil metros quadrados, permitirá dar nova vida a uma zona anteriormente ocupada pelo estaleiro municipal, mediante a construção de 12 casas de tipologia T2 e 14 de tipologia T3. Acresce ainda a criação de zonas verdes e de estacionamento, além de parques infantis e espaços para a realização de atividades desportivas.

Esta obra representa o maior investimento feito à data pelo município com recurso a fundos próprios e pretende ampliar o parque habitacional da autarquia.

Luís Pereira

Presidente da Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão

De olhos postos na eficiência energética e na redução de custos, o município vai priorizar a inclusão de sistemas de isolamento térmico e acústico nas habitações.

O lançamento do concurso público para a operação de loteamento e obras de urbanização foi aprovado a 8 de novembro, na reunião ordinária do Executivo municipal. Este novo loteamento enquadra-se num projeto de financiamento através do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), no âmbito do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR).

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Portugueses e espanhóis posicionam gastronomia raiana

As regiões do Norte e Centro de Portugal, juntamente com as províncias espanholas de Salamanca e Zamora, querem posicionar-se como destino de excelência no turismo de experiências gastronómicas.

Conquistar cada vez mais turistas pelo paladar, através dos sabores dos pratos típicos das regiões do Norte e Centro de Portugal, e das províncias espanholas de Salamanca e Zamora, harmonizados com vinhos de diferentes denominações de origem destes territórios. É este um dos grandes propósitos da iniciativa “Cruzando a Raia: Sabores de Fronteira” que, até 9 de dezembro, reúne 40 restaurantes destas zonas fronteiriças.

“A realização das Jornadas Gastronómicas da Raia é de grande importância para atrair visitantes através de atividades culturais e gastronómicas, uma vez que permite posicionar estas regiões como um destino de excelência no turismo de experiências”, assinala a diretora do núcleo de estruturação, planeamento e promoção turística da Turismo Centro de Portugal. “Desta forma, promovemos um desenvolvimento sustentável do turismo na fronteira”, completou Sílvia Ribau, durante a apresentação da iniciativa.

A realização das Jornadas Gastronómicas da Raia é de grande importância para atrair visitantes através de atividades culturais e gastronómicas, uma vez que permite posicionar estas regiões como um destino de excelência no turismo de experiências.

Sílvia Ribau

Diretora do núcleo de estruturação, planeamento e promoção turística da Turismo Centro de Portugal

Para esta responsável da Turismo Centro de Portugal, “as parcerias transfronteiriças são essenciais no desenvolvimento do turismo no Centro de Portugal, uma região rica em património natural, cultural, histórico e gastronómico”.

Até 9 de dezembro, 40 restaurantes selecionados nos distritos da Guarda e de Bragança, assim como das províncias espanholas de Salamanca e Zamora, desafiam turistas a provar uma panóplia de menus confecionados com receitas antigas dos territórios da fronteira dos dois países. Não vão faltar também os vinhos de diferentes denominações de origem dos respetivos territórios — Arribes, Douro, Beira Interior e Trás-os-Montes — para harmonizar os pratos gastronómicos.

Citado num comunicado, o diretor-geral do Turismo de Castela e Leão, Ángel González, considerou que este território “é um lugar único para experiências turísticas gastronómicas“, dando conta que “as nove rotas do vinho da Ribera del Duero, em Castela e Leão, atraíram mais de 600.000 turistas no último ano”.

O diretor de Turismo de Castela e Leão realçou igualmente “a bacia do Douro hispano-lusa, onde se encontra a maior concentração de gravuras rupestres ao ar livre do mundo, tanto no vale de Siega Verde (Salamanca), como na zona portuguesa do Côa, ambas reconhecidas como Património Mundial pela Unesco”.

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Grupo DST constrói dois hotéis de 108 milhões na Marina de Lagos

Os dois hotéis Hilton vão criar cerca de 188 novos postos de trabalho para a região algarvia. A obra que deverá estar concluída em dois anos está ao encargo da construtora bracarense.

A construtora bracarense DST foi a empresa escolhida pela canadiana Mercan Properties para construir dois hotéis Hilton na Marina de Lagos no Algarve, num investimento que rondará os 108 milhões de euros e que criará cerca de 188 novos postos de trabalho. A obra deverá ficar concluída no prazo de dois anos.

“Este projeto é um desafio à imagem da DST. Esperam-nos dois anos de muito trabalho e dedicação de toda uma equipa, mas temos as ferramentas e a engenharia necessária dentro do nosso grupo para conseguir entregar este projeto com a qualidade que o nosso cliente espera”, afirma Bruno Martins, diretor de produção da empresa liderada por José Teixeira, em comunicado.

O Hotel Curio Collection by Hilton, de 5 estrelas, vai contemplar um conjunto de 180 quartos, distribuídos por quatro pisos, com uma área total de cerca 15 mil metros quadrados. O hotel dispõe também de um restaurante e dois bares, um deles situado no terraço com piscina infinita, contando com uma segunda piscina no rés-do-chão, spa e instalações de fitness.

Já o Hotel Hilton Garden Inn, de 4 estrelas, terá espaço para 90 quartos, 27 deles suítes com kitchenette, numa área total de 7.500 metros quadrados, distribuídos igualmente por quatro andares. O mesmo dispõe ainda de um bar, restaurante, piscina exterior e ginásio.

O evento de lançamento da primeira pedra decorreu no passado dia 8 de outubro e contou com a presença do presidente da Câmara de Lagos, do presidente do Grupo Mercan Properties, de uma representante da Hilton, da administração do dstgroup e das várias entidades envolvidas neste projeto.

O grupo bracarense DST, que atua nas áreas de engenharia & construção, ambiente, energias renováveis, telecomunicações, real estate e ventures, fatura 587 milhões de euros e emprega 3.356 pessoas.

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Universidade do Minho traz diretor do projeto de satélites da Amazon ao EEG Business Day

  • ECO
  • 11 Novembro 2024

A EEG vai apresentar propostas de carreira de várias empresas a 1100 alunos na edição EEG Business Day, na próxima quarta-feira. A iniciativa contará também com debates e conferências.

A Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho (EEG) vai realizar na próxima quarta-feira o “EEG Business Day”, na qual pretende aproximar 1100 estudantes inscritos ao mercado de trabalho. A iniciativa inclui uma conferência com Andrew Keisner, diretor do Projeto Kuiper, unidade que gere os satélites da Amazon. O Kuiper pretende criar uma constelação de satélites a órbita baixa para dar acesso à banda larga a todas as zonas do mundo.

Neste dia, os estudantes terão acesso a oportunidades de carreira nas áreas de administração pública, ciência política, contabilidade, economia, gestão, marketing, negócios e relações internacionais.

O programa do “EEG Business Day” vai contar com conferências, sessões e debates sobre projetos, negócios e regulação do setor aeroespacial de 23 empresas e instituições. Os participantes vão poder conhecer também os desafios profissionais de elementos de empresas e entidades como a Accenture, Banco Carregosa, Bosch, dst group, Nestlé, Sabseg, StartUp Braga e Toogas. Juntam-se ainda a Deloitte, EY, Grupo Trofa Saúde, IKEA, Município de Braga, PwC, Salvador Caetano, Schneider Electric e Sonae, entre outras.

No programa inclui-se uma mesa redonda sobre o presente e futuro do setor aeroespacial em Portugal com Teresa Brandão, responsável pela equipa legal do projeto de satélites da Amazon, Rui Magalhães, diretor da Unidade de Espaço do CEiiA e Francisco Cunha, diretor-geral da Geosat.

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A tentar criar “emoções e ligação com as pessoas”, Sandra Loureiro, da Staples, na primeira pessoa

Há mais de quatro anos diretora de marketing da Staples, marca que usa o humor e a música para alcançar targets mais jovens, Sandra Loureiro gosta de fazer caminhadas em Arruda dos Vinhos, onde vive.

Neste momento não basta dizer que a marca tem notoriedade e ‘Tem tudo para o regresso às aulas’. Temos que fazer mais do que isso“, diz Sandra Loureiro, diretora de marketing da Staples, a propósito daquela que é a campanha mais importante do ano da marca de material de escritório, acrescentando que tem sido feito um caminho de “estar ao lado das crianças, dos pais e dos professores”.

“E como é que estamos ao seu lado? Falando sobre temas que estas pessoas vivem no seu dia-a-dia. Já falámos de bullying, de aceitar a diferença ou da necessidade de viver mais a vida fora do digital. Temos trabalhado alguns temas durante a campanha de regresso às aulas que tocam as pessoas, ou seja, identificamos sempre alguma coisa com que as pessoas se envolvem e identificam, o que nos tem trazido muito afeto“, acrescenta numa conversa com o +M.

Estamos cá todos para vender, mas cada vez mais também trabalhamos o marketing numa perspetiva de criar emoções e ligação com as pessoas“, sintetiza.

Na prossecução deste objetivo, a marca de material de escritório tem recorrido à música, que é também “uma ferramenta de amplificação de mensagem bastante eficiente“. Para a campanha de início de aulas deste ano, a Staples lançou uma música onde juntou os artistas Fernando Daniel, Sara Correia e Bispo para transmitir uma mensagem de incentivo aos jovens alunos.

A campanha de regresso às aulas – a mais importante e a maior ao nível de tráfego da Staples – é tão expressiva que, embora a marca trabalhe a maior parte do ano para clientes profissionais, a mesma pesa ainda assim anualmente cerca de um terço das vendas.

Durante a maior parte do ano, portanto, a Staples fala para um target profissional, para o qual “normalmente se tem de ter um discurso mais sério, mais cinzentão”, o que fez a equipa de marketing da marca pensar que isso “tinha de evoluir de alguma forma”, pelo que a marca optou por começar a usar o humor como forma de comunicação.

E neste momento a comunicação da Staples é muito ajudada por esta ferramenta que é o humor, também recorrendo a várias pessoas do mercado. Neste momento estamos com o César Mourão, mas também já estivemos com outras caras. Tentamos sempre transmitir os nossos valores, as nossas promoções, campanhas, o que temos de benefício para o cliente profissional de uma forma séria, mas leve e com algum humor, o que nos tem dado muita proximidade junto deste target“, explica a diretora de marketing.

Mas além da necessidade de continuar a impactar aquela que é uma “base de dados fidelizada” e que é composta por pessoas acima dos 35/40 anos, a marca quer também impactar “públicos mais novos que são os futuros clientes”.

E estes públicos mais novos não leem folhetos, não veem televisão, não ouvem rádio. Eventualmente vêm-nos nas redes sociais. Por isso temos aqui um desafio de como impactar targets jovens no sentido de os fazer ficar e acompanhar a marca, num caminho que temos vindo a desbravar no digital para atingir públicos mais jovens, sempre também com recurso ao humor”, refere a responsável da Staples, marca que trabalha o marketing internamente, sem agências – além da Triber para a gestão da comunidade digital. A equipa é composta por apenas outras duas pessoas, além de Sandra Loureiro.

“O desafio é este: durante o ano estamos com o boné do cliente profissional, de termos de trabalhar a parte promocional e de branded content para públicos mais jovens e muito no digital. E depois temos a nossa campanha de regresso às aulas, que é preparada com cerca de um ano de antecedência – em todas as frentes, não só no marketing“, sintetiza a diretora de marketing.

Já não basta dizer que somos a marca que tem mais material escolar para vender ou que somos a marca que tem as mochilas mais baratas“, principalmente quando existem outros players como os grandes retalhistas, que primam pela conveniência, ou até plataformas como a Temu, que têm preços mais baixos, “embora a qualidade obviamente seja inferior”.

Mas o marketing, na verdade, acabou por cair no colo de Sandra Loureiro um pouco por acaso. Após tirar Gestão de Recursos Humanos no ISCSP, Sandra Loureiro “andava um pouco sem saber o que queria fazer”.

“Sabia que gostava da área de humanidades, sociologia e relações humanas, mas não tinha experiência profissional nenhuma. Mas, e como não queria ficar parada, tive depois a oportunidade de ser gerente de uma loja de telecomunicações, da Ensitel”, relata sobre aquele que foi o seu primeiro trabalho e onde esteve seis meses.

Acabou por ser convidada para integrar os quadros da empresa, mas como não havia lugar nos recursos humanos — que era a ideia inicial –, sugeriram-lhe que ocupasse uma vaga no marketing, enquanto o departamento de recursos humanos não fosse restruturado.

E nunca mais saí do marketing. Foi assim que encontrei o meu caminho, sem um planeamento traçado, mas foi a melhor coisa que me aconteceu, porque comecei a trabalhar o marketing no retalho, que é um bichinho que só quem trabalha em retalho consegue perceber“, diz, sobre uma fase que encara como ter sido sido um “boost” para iniciar a sua carreira.

Acabou por ficar na Ensitel quase 12 anos, desempenhando várias funções ao nível do marketing, incluindo a de marketing manager. A saída dá-se depois de o grupo ter sido adquirido pela francesa Avenir Telecom, que incutiu na empresa um tipo de gestão diferente e que começou a “limitar um bocadinho” o seu poder de autonomia.

Na altura, e embora não estive à procura, foi contactada para um projeto diferente. “E eu, que nesses anos não tinha olhado para o mercado, decidi experimentar, e foi assim que fui para a Staples”, diz, tendo integrado a estrutura enquanto enquanto braço direito da então diretora de marketing.

Após alguns anos e um processo de centralização europeia, em que a Staples deixou de reportar à casa-mãe nos EUA e em que Portugal ficou a gerir tudo o que era marketing de retalho para a Europa, a então diretora de marketing passou para diretora de marketing do retalho europeu, tendo Sandra Loureiro assumido a direção de marketing em Portugal.

No entanto, “as campanhas eram geridas de forma muito homóloga em toda a Europa, até que se percebeu que de facto os negócios e clientes eram muito diferentes e que cada país precisava de ter alguma autonomia e singularidade no sentido de conseguir trabalhar localmente no seu mercado”, recorda.

Começou-se então a vender o negócio Staples localmente em cada país. “Houve países que ficaram com a marca e continuaram o seu negócio e houve países que venderam e reformularam tudo e mudaram de marca e são neste momento outro negócio. Em Portugal ficámos com a marca, continuamos Staples, e fomos adquiridos pela Firmo em 2021, que é neste momento a acionista maioritária do grupo”, diz.

“Com este movimento houve aqui algumas reformulações a nível interno e fui convidada para assumir a direção de marketing em Portugal, em início de 2020, mesmo antes da pandemia. Tivemos de reestruturar tudo e, desde aí, temos muita autonomia, sem depender de guidelines de terceiros, e temos trabalhado a marca de uma perspetiva muito diferente do que tínhamos trabalhado até aqui“, com um foco no mercado, consumidor e concorrência portugueses, o que “tem trazido alguns ganhos e alguma notoriedade e proximidade que não tínhamos quando estávamos numa estrutura mais europeia“, conta.

Com 51 anos, Sandra Loureiro vive em Arruda dos Vinhos, para onde se mudou há cerca de 20 anos, numa opção que tomou por se querer “distanciar um pouco da balbúrdia que é a cidade“.

Oriunda da zona entre a Amadora e Benfica, em Lisboa, pensou que queria ter “alguma paz”, até porque os seus dias eram “um pouco mexidos”, pelo que decidiu então ir para o campo. “E foi a melhor coisa que eu fiz. Consigo ter uma proximidade a Lisboa incrível, os acessos são ótimos e consigo viver uma calma que se calhar não se vive nos subúrbios mais perto ou mesmo dentro da cidade. E consigo ter acesso a um ritmo e a pessoas que me acalmam e contrabalançam o dia-a-dia mais profissional”, explica.

Divorciada, Sandra Loureiro vive com a filha de 21 anos, que está neste momento a acabar o estágio e a começar a carreira profissional na área de produção audiovisual. Este é também um “desafio muito interessante” para a diretora de marketing, que está a começar a passar pela fase do “ninho vazio”, algo que é compensado por “toda a alegria de a ver a voar e a fazer o seu caminho”.

Embora tendo sempre vivido em Lisboa, as raízes mais profundas são de Viseu, de onde são oriundos os pais, tendo os mesmos regressado para lá após a reforma. “Lá vou eu passar os Natais a Viseu, que são de facto as minhas raízes. Mas sempre vivi em Lisboa”, diz Sandra Loureiro.

Dos tempos de infância, recorda que sempre foi uma “menina bem comportada”. “Não sendo muito competitiva, sempre tive aquele brio de ter de fazer bem e melhor“, refere a agora diretora de marketing da Staples, acrescentando que a sua infância foi “muito feliz”, com amigas e muita brincadeira na rua até à hora de jantar”, altura em que “quem nos chamava eram as mães à janela”.

Depois, a adolescência “foi pautada por outro tipo de liberdades”. “Começávamos a sair à noite mais cedo do que aconteceu por exemplo com a minha filha, que começou a sair bastante mais tarde do que eu. Noto a juventude atual bastante mais caseira e com uma pressão nos ombros maior do que eu tinha. Eu tinha muita liberdade e autonomia, também se calhar fruto de alguma maturidade que adquiríamos na altura e que agora não vejo tanto, porque há uma proteção muito grande às crianças e aos jovens”, diz.

Tendo frequentado a Escola Secundária da Amadora, foi aí que teve os “melhores momentos da sua vida”, fase da qual guarda “memórias muito felizes” e a sua melhor amiga, que mantém desde essa altura. “Foi uma juventude de descoberta, saídas, muito fora de casa, muito pouco ligada a ecrãs, até porque não haviam ecrãs“, diz.

Sandra Loureiro considera-se também uma “pessoa de pessoas”, que gosta de afetos e de conversar, sendo boa ouvinte. “Obviamente tenho também o meu feitio, sou muito frontal e às vezes há pessoas que nem sempre lidam bem com isso“, refere.

Tirando as saídas e jantaradas com amigos, gosta muito de fazer caminhadas na zona onde vive. “Nas traseiras da minha casa há muitas quintas com animais, e uma pessoa a fazer ali caminhadas vai-se perdendo no meio daquele mato e daquelas quintas todas, e é de facto uma terapia espetacular. É o silêncio, o cheiro, o barulho dos passarinhos, o verde… e portanto uma das coisas que gosto de fazer é ali umas caminhadas pela zona“, descreve.

No entanto, diz que é “muito preguiçosa” no que toca à prática desportiva. “Já tentei algumas coisas mas desisto sempre. Não gosto de fazer desporto. Posso dizer isto com toda a honestidade, e então opto por outras coisas“, como ler — “Um Animal Selvagem”, de Joël Dicker, e “Flores”, de Afonso Cruz, foram dois dos últimos livros dos quais gostou particularmente — ou ir ao teatro e ao cinema.

“Tenho a felicidade de conhecer algumas pessoas que me convidam e oferecem bilhetes para ir a alguns concertos”, diz Sandra Loureiro, que gosta também de ir a exposições e museus.

Sandra Loureiro em discurso direto

1 – Que campanhas gostava de ter feito/aprovado? Porquê?

A nível nacional, destaco as últimas campanhas que a McDonalds tem feito localmente, com lançamento de produtos direcionados para a Geração Z, com uma abordagem inovadora fazendo a ligação entre o fim publicitário puro e a atração de recrutamento para as suas lojas.

Internacionalmente, campanhas como a da Dove, da beleza real, ultrapassam a pretensão de se querer vender um produto – fala-se de autoestima, de bullying, de saúde mental, dos paradigmas atuais da sociedade – focando-se em dar confiança, qualquer que seja o parâmetro de beleza. É uma campanha que deu o mote para se valorizar o genuíno, sem medo de mostrar verdade.

2 – Qual é a decisão mais difícil para um marketeer?

Reinventar a mensagem, que ultrapasse as barreiras do dito normal, num contexto que valoriza a normalidade.

3 – No (seu) top of mind está sempre?

O consumidor.

4 – O briefing ideal deve…

Ser curto, rigoroso e claro. Enquadrar, definir objetivos, desenhar caminhos e dar liberdade criativa.

5 – E a agência ideal é aquela que…

É difícil de encontrar, daí trabalharmos sem agência criativa.

6 – Em publicidade é mais importante jogar pelo seguro ou arriscar?

Arriscar sempre, com os pés na terra e o coração no sítio certo.

7 – O que faria se tivesse um orçamento ilimitado?

Acordava e pensaria que tive um sonho incrível.

8 – A publicidade em Portugal, numa frase?

Atenta ao que a rodeia.

9 – Construção de marca é?

(Re)conhecer o consumidor, todos os dias. Trabalhar a cultura da empresa de dentro para fora.

10 – Que profissão teria, se não trabalhasse em marketing?

Astronauta, gosto de sítios sem multidões.

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CAP pede vacinação obrigatória de animais contra língua azul, que já vitimou 40 mil

  • Joana Abrantes Gomes
  • 11 Novembro 2024

Confederação dos Agricultores alerta que situação pode agravar-se se Governo não decretar a vacinação obrigatória contra o serotipo 3, pedindo que a medida não tenha encargos para os produtores.

A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) apelou esta segunda-feira ao Governo que decrete “de imediato” a vacinação obrigatória de bovinos e ovinos contra o serotipo 3 de língua azul, estimando que a doença já tenha vitimado “cerca de 40 mil animais” desde setembro em Portugal continental.

Em comunicado, a CAP pede também que a vacinação obrigatória seja incluída no Programa de Sanidade Animal (PSA) e disponibilizada “sem encargos para os produtores”, a par com “ações estratégicas de desinsetização” para “eliminar o maior número possível de mosquitos”.

Se não se verificarem temperaturas abaixo dos 10/11 graus celsius durante cerca de dez dias consecutivos — a única forma capaz de travar, de forma natural, a progressão ampla da língua azul — e não forem implementadas estas “medidas urgentes” contra uma doença que, segundo estima a associação, já provocou prejuízos de cerca de seis milhões de euros no setor, “é expectável que a situação se possa agravar substancialmente”, realça a associação.

Ao Governo, a CAP apela também à revisão do “encabeçamento mínimo para validar as medidas dos ecorregimes e medidas agroambientais para assegurar a continuidade das explorações e a sua sustentabilidade económica”, além da criação de “um regime de exceção quanto ao cumprimento do intervalo entre partos, previsto em algumas das medidas de apoio do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC)”.

A Confederação insta ainda os agricultores para que declarem os casos de doença da língua azul, de modo que “a real dimensão do surto seja verificada estatisticamente” e que “os mecanismos de apoio existentes possam ser devidamente acionados”.

A doença de língua azul é transmitida por picada de mosquito, mas não se transmite a humanos nem entre animais, tendo uma elevada taxa de mortalidade em ovinos. De acordo com a CAP, o Sistema de Recolha de Cadáveres de Animais Mortos na Exploração (SIRCA), coordenado pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária do Ministério da Agricultura, não tem tido a capacidade de processar o elevadíssimo número de animais mortos na sequência da epidemia que, neste momento, atinge todos os distritos de Portugal continental.

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