Trump vai rasgar restrições aos ‘chips’ que afetam Portugal
Departamento do Comércio confirmou esta quarta-feira que a Administração Trump irá refazer por completo os limites às exportações de 'chips' para IA, medida fortemente penalizadora para Portugal.
A Administração Trump planeia rasgar as restrições às exportações de chips para inteligência artificial (IA) que foram criadas em janeiro pelo anterior presidente, Joe Biden. Entre as regras que serão revogadas está uma limitação à compra destes processadores avançados por diversos países, incluindo por Portugal.
A notícia foi dada esta quarta-feira pela Bloomberg, citando fonte oficial do Departamento do Comércio dos EUA, e deverá ser recebida com grande alívio em Lisboa: “A regra de IA de Biden é demasiado complexa, demasiado burocrática, e prejudicaria a inovação. Iremos substituí-la por uma regra muito mais simples que fomentará a inovação americana e assegurará o domínio americano na IA”, confirmou a Agência da Indústria e Segurança (BIS, na sigla em inglês).
Estas restrições às exportações de chips avançados para IA — abrangendo as placas gráficas Nvidia H100, um dos modelos topo de gama da marca –, tinham sido introduzidas por Biden nos últimos dias do seu mandato presidencial. Originalmente, as regras visavam impedir que este tipo de tecnologias caísse nas mãos de países como a Rússia e a China.
O plano, oficialmente designado de Enquadramento para a Difusão da Inteligência Artificial, tem estado em consulta pública, num processo que está previsto terminar no próximo dia 15 de maio. No entanto, avança agora a Bloomberg, o Governo não irá aplicar essa medida após aquela data, ao contrário do que estava previsto até aqui.
Quando foi anunciada em janeiro, a política de Biden apanhou de surpresa o Governo português, na medida em que o país foi discriminado em relação aos seus pares mais próximos: enquanto nações como Espanha, França e Itália foram poupadas das restrições, surgindo numa lista de países considerados “aliados e parceiros chave dos EUA”, Portugal ficou isolado no mapa e sujeito a um limite de aquisições de até 50 mil processadores no espaço de dois anos, equiparado a nações como Israel.
Portugal isolado nas restrições dos EUA:
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Fonte: Bureau of Industry and Security, Department of Commerce | Infografia: Lídia Leão/ECO -
Fonte: Bureau of Industry and Security, Department of Commerce | Infografia: Lídia Leão/ECO
Ora, no final de abril, o ECO noticiou que o presidente Donald Trump iria rever a decisão de Biden de aplicar restrições a Portugal. Agora, segundo a Bloomberg, o caminho escolhido por Trump, que ainda não está totalmente fechado será o de rasgar a política do seu antecessor e refazer por completo as restrições ao comércio internacional de semicondutores.
Apesar de ainda não ter entrado em vigor, a medida já fez estragos em Portugal. Na semana passada, a Merlin Properties anunciou que decidiu reduzir o seu investimento num data center que está a construir na região de Lisboa, pelo que a infraestrutura irá começar a operar com apenas um terço da capacidade. Pior para Portugal, a empresa de origem espanhola salientou que esse investimento irá ser redirecionado para Madrid, um mercado concorrente.
Mas a política dos EUA também ameaçava colocar Portugal em forte desvantagem face a outros países europeus na corrida que se avizinha à captação das Gigafábricas de IA, que são grandes centros de dados com mais de 100.000 processadores cada um que a Comissão Europeia irá financiar em regime de parcerias público-privadas no ano que vem.
A medida de Biden mereceu, igualmente, forte repúdio das fabricantes de semicondutores. Empresas como a própria Nvidia consideraram que a limitação imposta pelo Governo norte-americano é demasiado apertada e, ao contrário do que pretendia o Governo, prejudica o domínio dos EUA sobre uma tecnologia vista como essencial para a competitividade, e com aplicações civis e militares.
A agência noticiosa escreve também que a intenção de Trump é impor novas restrições a países que, alegadamente, têm desviado estes equipamentos para China, incluindo Malásia e Tailândia. Isto porque, apesar de a venda destes chips a entidades chinesas estar fortemente limitada, ou totalmente proibida na maioria dos casos, Pequim tem conseguido ter acesso aos componentes por vias alternativas, segundo tem noticiado a imprensa internacional.
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