Governo invoca “falta de quórum” para justificar legalidade na nomeação de Baleiras para o regulador dos seguros

Um Executivo em gestão está limitado nos poderes, mas Miranda Sarmento argumenta que se não fossem designados os cargos em falta a "Autoridade de Seguros ficaria sem quórum".

O ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, garante, em entrevista ao ECO, que o Governo, mesmo em gestão, atuou dentro da legalidade quando nomeou Rui Nuno Baleiras, coordenador da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), e Paula Vaz Freire para os cargos de vice-presidente e administrador da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), respetivamente. Caso contrário, “a Autoridade de Seguros ficaria sem quórum”, argumenta.

As dúvidas foram suscitadas pelo grupo parlamentar do PS, num requerimento enviado à tutela, que considera não estar reunido o único motivo que permite a um Executivo demissionário indicar nomes para as administrações dos reguladores: “vacatura do cargo e urgência”.

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A lei-quadro das entidades administrativas independentes com funções de regulação da atividade económica dos setores privado, público e cooperativo determina que: “Não pode ocorrer a designação ou proposta de designação entre a convocação de eleições para a Assembleia da República ou a demissão do Governo e a investidura parlamentar do Governo recém-designado, salvo se se verificar a vacatura dos cargos em causa e a urgência da designação, caso em que as referidas designação ou proposta de designação de que não tenha ainda resultado designação dependem de confirmação pelo Governo recém-designado”.

Mas o ministro das Finanças invocou efetivamente esse requisito, uma vez que a ASF corria o risco de ficar sem quórum. “A Autoridade dos Seguros tem um total de cinco membros no conselho de administração. Antes desta nomeação, estavam três e um deles terminou o mandato em dezembro”, começou por referir.

Ou seja, havia “o sério risco da Autoridade dos Seguros ficar sem quórum, porque se a pessoa que terminou o mandato em dezembro decidir ir embora, e tem essa legitimidade, a Autoridade de Seguros ficaria sem quórum”, frisou. Em causa está o ainda administrador Manuel Caldeira Cabral, antigo ministro da Economia do primeiro Governo de António Costa, que está de saída do regulador.

O ponto aqui é se não fizéssemos a nomeação, corríamos o sério risco da Autoridade de Seguros ficar, durante algum tempo, sem quórum.

Joaquim Miranda Sarmento

Ministro das Finanças

No entanto, esse cargo será ocupado por Paula Vaz Freire e não por Rui Nuno Baleiras, que vai exercer as funções de vice-presidente, um lugar que está por preencher há mais de dois anos. Por isso, o PS considera que a qualificação jurídica de vacatura de lugar “para efeito de designação de um vice-presidente da ASF, no atual contexto desta entidade, não é líquida”.

O ministro das Finanças acabou por esclarecer então que “o professor Rui Baleiras só será vice-presidente se a ASF tiver os cinco membros”.

“O ponto aqui é se não fizéssemos a nomeação, corríamos o sério risco da Autoridade de Seguros ficar, durante algum tempo, sem quórum. Não estou a ver como é que o regulador, ainda por ser uma área tão sensível, pode funcionar sem quórum”, justificou.

Independentemente desta decisão, e uma vez que o atual Executivo se encontra em gestão, o futuro Governo, que sair das eleições legislativas antecipadas, de 18 de maio, terá de confirmar a nomeação de Rui Nuno Baleiras e Paula Vaz Freire.

Antes da designação, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, reconheceu que o Governo teria de avaliar se estaria dentro da legalidade para indicar os nomes. “Estamos apenas a fazer as verificações para assegurar que há um cabimento inequívoco, dentro dos poderes do Governo de gestão, o que poderá ser o caso”, afirmou a 27 de março. O Governo acabou por concluir que poderia avançar e aprovou uma resolução de Conselho de Ministros, a 10 de abril, com a indigitação de Baleiras e Vaz Freire.

Um dia depois da entrevista do ministro das Finanças ao ECO, o diploma foi publicado em Diário da República, a 17 de abril. E o risco de falta de quórum é o argumento invocado para a nomeação, tal como Joaquim Miranda Sarmento tinha explicado ao ECO.

“Cessou, em dezembro de 2024, o mandato de Manuel de Herédia Caldeira Cabral. […] Por conseguinte, torna-se indispensável e urgente proceder à designação de, pelo menos, um vice-presidente e um vogal, sob pena de aquele órgão poder vir a ficar, em breve, sem quórum para assegurar a gestão da entidade”, de acordo com a resolução do Governo.

Assim, “a despeito da dissolução da Assembleia da República e, bem assim, da fixação do dia 18 de maio de 2025 para a eleição dos deputados àquela Assembleia […] dada a vacatura dos cargos em causa e a urgência da designação, torna-se imperioso proceder desde já à designação de novos membros para aqueles cargos, naturalmente sujeita à confirmação pelo Governo que vier a ser empossado na sequência e em resultado daquele ato eleitoral”, lê-se no mesmo diploma.

Rui Nuno Baleiras e Paula Vaz Freire começam a exercer funções como vice-presidente e vogal, respetivamente, do conselho de administração da ASF a 21 de abril.

Neste momento, Rui Nuno Baleiras é coordenador da UTAO, entidade que presta assessoria económica e orçamental à Assembleia da República, desde julho de 2018. É professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e foi secretário de Estado do Desenvolvimento Regional do Governo de José Sócrates entre 2005 e 2009.

Paula Vaz Freire foi diretora da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, entre 2020 e 2023, e conta com diversos livros e artigos científicos em Portugal e no estrangeiro, designadamente, nas áreas da concorrência e regulação económica.

(Notícia atualizada a 17 de abril com a publicação em Diário da República da resolução do Conselho de Ministros que nomeia Rui Nuno Baleiras e Paula Vaz Freire para vice-presidente e vogal do conselho de administração da ASF)

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Empréstimos para a defesa podem ser usados para parcerias de produção com outros países, defende Miranda Sarmento

Governo ainda avalia se Portugal irá usar empréstimos disponibilizados por Bruxelas para investimento em defesa, mas ministro das Finanças destaca como vantagem a taxa de juro fixa a longo prazo.

O ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, defende em entrevista ao ECO que os empréstimos a taxas mais favoráveis, disponibilizados por Bruxelas para investimento em defesa, poderão ser usados por Portugal para, em cooperação com outros países, comprar equipamentos que não tem capacidade de produzir, vendendo em troca a esses Estados bens que produza. O governante destaca que o mecanismo tem a vantagem de permitir uma taxa de juro fixa a 45 anos e retirar pressão do IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública.

“O mecanismo de empréstimos que está a ser discutido a nível europeu, designado por SAFE, prevê que esses empréstimos sejam sobretudo para iniciativas conjuntas dos países. E o que é que nos parece que faz sentido. Portugal tem algumas valências, mas precisará de alguns equipamentos para os quais não tem capacidade de produção e não terá nos próximos anos“, aponta o ministro das Finanças.

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Para Miranda Sarmento, “o que faz sentido é que [Portugal] faça parcerias com outros países e que possa vender alguns dos equipamentos que produz, nomeadamente dois modelos de aviões militares de uma empresa que está sedeada em Portugal há muitos anos, drones, fardamento, eventualmente munições, se for possível, na metal ou mecânica, para esses países e que compre a esses países outro tipo de equipamentos que não seja possível produzir em Portugal no curto e médio prazo”.

O que faz sentido é que [Portugal] faça parcerias com outros países e que possa vender alguns dos equipamentos que produz e que compre a esses países outro tipo de equipamentos que não seja possível produzir em Portugal no curto e médio prazo.

Joaquim Miranda Sarmento

Ministro das Finanças

O governante explica que o Governo ainda está a analisar se o país irá utilizar os empréstimos disponíveis, até porque a própria definição do mecanismo ainda está a ser construída a nível europeu. A Comissão Europeia propôs financiar-se nos mercados de capitais em 150 mil milhões de euros, arrecadando fundos que serão depois desembolsados ​para os Estados-Membros interessados ​​mediante pedido, sob a forma de empréstimos de longo prazo, com base em planos de ação de investimentos para 2025 e 2030.

“Creio que já será o próximo governo a ter que tomar essa decisão. A linha de empréstimo tem algumas vantagens“, assinala Miranda Sarmento.

Entre estas elenca “um período de carência de dez anos, uma maturidade de 45 anos – nenhuma Obrigação do Tesouro emitida tem uma maturidade tão longa”, “retirar alguma pressão de financiamento sobre o IGCP” e permitir “um código de contratação pública muito mais simples”.

“Não estando ainda fechado, o custo de financiamento neste momento, tendo em conta que a República se financia a taxas muito baixas, não é um custo de financiamento muito abaixo daquilo que a República se financia. Em todo caso, tem a vantagem de que a taxa de juros é fixa, no sentido em que este programa será válido entre 2025 e 2030. A entrega dos equipamentos até pode ser posterior a 2030. A despesa em defesa é contabilizada quando o equipamento é entregue”, afirma.

Joaquim Miranda Sarmento, ministro das Finanças, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

Miranda Sarmento reitera que Portugal acompanha a necessidade da Europa aumentar a sua capacidade de defesa, mas que o fará “na medida de que não coloque em causa o equilíbrio orçamental dos próximos anos”, até porque, diz, “gastar por gastar também não é uma boa política”.

“O que temos dito, volto a repetir, é que o esforço de aumento da despesa com defesa não pode pôr em causa o equilíbrio orçamental do país e a redução da dívida pública. É esse compromisso que temos. Agora, é também muito importante que haja um esforço coordenado a nível europeu de aumento de capacidade da defesa, incluindo o Reino Unido e a Noruega, e que cada país tenha definido que perfil de investimentos vai fazer e que esses investimentos sirvam também para reindustrializar a Europa“, argumenta.

O ministro reitera que o Governo ainda está a analisar se irá ativar a cláusula de escape nacional, decisão que terá de ser tomada até ao fim do mês. “Teremos de tomar uma decisão agora, a seguir à Páscoa, até ao final do mês. Quando tomarmos a decisão, os portugueses saberão em primeira mão. A cláusula de salvaguarda, já agora para que isso fique claro, é algo que se for pedido, dá maior margem de execução de despesa em defesa, mas não tem necessariamente que ser usada. Ou seja, pode ou não ocorrer, mas, tomaremos uma decisão nos próximos dias”, indica.

Para o também membro da comissão nacional do PSD, Portugal deve apostar no investimento na Marinha e na Força Aérea, justificando com o facto de Portugal defender parte da fronteira ocidental e da fronteira marítima europeia. “Investimentos na área dos drones, onde temos já uma indústria significativa, na área da tecnologia e da cibersegurança, na área dos fardamentos, dado o peso da indústria têxtil. Estes efeitos do investimento na defesa, se bem orientados, podem ter um efeito económico muito significativo”, identifica.

Recusa-se ainda a esclarecer para quando o país irá antecipar a meta de investimento da NATO de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). “Esperamos ser o governo da AD a tomar essa decisão no final de junho, mas é uma decisão que será tomada no âmbito da NATO“, aponta, em alusão à reunião que decorrerá em Haia, nos Países Baixos, e na qual a meta poderá ser revista em alta.

Adianta ainda que a AD tem “tido algumas conversas com o PS” sobre a área da defesa, “porque naturalmente é uma matéria de interesse nacional”.

“Mesmo que não tivéssemos eleições, tradicionalmente a defesa, os Negócios Estrangeiros são matérias em que os dois partidos tiveram sempre um alinhamento muito próximo e, portanto, temos tido algumas conversas”, refere, acrescentando que “os dois partidos, historicamente, têm visões mais próximas nessas áreas do que terão noutras áreas, nomeadamente económicas e sociais“.

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Mulheres nos seguros: Crescem em número, mas liderança está por igualar

Em algumas empresas do setor segurador há tantas mulheres como homens a trabalhar, noutras até as mulheres são a maior parte, as disparidades surgem quando se analisam os cargos ocupados.

[Da esquerda para a direita] Ana Rita Gomes, administradora da Multicare, Luiza Fragoso Teodoro, CEO da Verlingue Portugal, Isabel Castelo-Branco, CEO da BPI Vida e Pensões e Francisca Pinto Gonçalves, jornalista do ECO Seguros.Hugo Amaral
Num setor historicamente marcado pela presença masculina, a representatividade feminina nas empresas de seguros está a ganhar espaço — ainda que o caminho para a paridade não esteja concluído. Num dos debates da rubrica Mulheres com ECO, três líderes do setor segurador partilham experiências, desafios e conquistas da igualdade de género nas suas organizações e no mercado. Entre avanços, persistem obstáculos; entre convicções, destaca-se um ponto comum: o aumento da representatividade das mulheres nos seguros está e assenta no mérito e por ele será alavancado, ainda que haja medidas que possam ser tomadas para igualar as oportunidades.

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Isabel Castelo-Branco dá o pontapé de partida para a conversa com o exemplo da empresa que lidera. “Na BPI Vida e Pensões dois terços são mulheres, é um exemplo provavelmente ao contrário do que as pessoas estão à espera.” A CEO da BPI Vida e Pensões revela que a sua principal dificuldade tem sido como alcançar equilíbrio de género para o sexo masculino, o que “não tem sido fácil”, confessa.

Mas à medida que subimos nos níveis hierárquicos, “vamos tendo uma percentagem inferior de mulheres”, afirma Luiza Fragoso Teodoro, CEO da Verlingue Portugal. A líder da corretora também aponta que, em empresas mais antigas e consolidadas, “tendencialmente, há mais homens nos cargos de liderança do que mulheres”. No entanto, essa realidade está a mudar, especialmente nas empresas mais jovens, que têm investido em oportunidades para as mulheres. Também “em empresas mais pequenas mais facilmente” tem mais mulheres em cargos de chefia, em contrapartida nas empresas de maior dimensão há mais disparidade, aponta.

Ana Rita Gomes, administradora da Multicare, destaca que, em cargos C-level, a presença feminina é muito inferior, com o setor segurador a ter apenas 13% nessas funções, comparado com 27% no tecido empresarial português. “Mas tem havido uma transformação muito grande e isso vê-se, mais aos níveis da direção.” Aí “a representatividade feminina é bem maior”. A administradora reconhece que ainda “não há paridade mas já há equilíbrio”. Contudo, observa que tal “ainda não chegou aos cargos de administração de topo”.

A meritocracia é um ponto comum entre as intervenções. Luiza Fragoso Teodoro destaca que privilegia a “meritocracia” e sublinha que não se pode transferir a responsabilidade para outros. No trabalho em Portugal, acredita que já se resolveram muitas questões quanto à igualdade de género no setor dos serviços. Mas a mudança passa também pela “vontade da mulher ir mais além e não ter medo de arriscar”.

Ana Rita Gomes partilha da mesma opinião: as mulheres precisam de “arriscar um pouco mais”, mesmo quando não sabem tudo. “Estão a surgir cada vez mais cursos de liderança para mulheres, para que se sintam mais confiantes.” Quanto às responsabilidades domésticas refere que têm deixado de ser um fator inibidor para as mulheres. “Estão mais preparadas, há mais apoios e mais partilha das responsabilidades”, diz. “As condições estão a ser criadas”, embora acredite que ainda há espaço para melhorias.

Isabel Castelo-Branco observa que “as mulheres e homens trabalham de maneira diferente”. Para a CEO da BPI Vida e Pensões, enquanto os homens tendem a ser mais diretos “as mulheres são muito mais multitasking”. Acredita que, por muitas vezes, as mulheres acabam por trabalhar mais, mas talvez não de forma tão eficaz. “Por isso, valorizo tanto a combinação dos dois estilos de trabalho”, afirma.

Apesar das diferentes perspetivas e experiências, todas as intervenientes convergem num ponto essencial: há um movimento claro no setor segurador rumo a um futuro mais inclusivo, ainda que com desafios por superar. A mudança está em curso, alimentada pela consciência coletiva, pelo compromisso das lideranças e pela coragem de cada mulher que ousa ir mais além. O caminho é feito de conquistas graduais, de equilíbrio crescente e da construção de uma cultura empresarial onde o mérito, a confiança e a partilha ganham cada vez mais espaço.

Assista aqui a este episódio de Mulheres com ECO, uma verdadeira aula de liderança onde Ana Rita Gomes, Isabel Castelo-Branco e Luiza Fragoso Teodoro partilham as suas experiências e fazem um diagnóstico ao setor em questões de igualdade de género.

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François Hollande quer criar um estatuto de “refugiado científico” em França

  • Lusa
  • 16 Abril 2025

A ideia do agora deputados francês é “dar a imagem de um país que acolhe estes cientistas”, nomeadamente nos domínios mais afetados pelas “medidas” tomadas por Donald Trump, “o clima e a saúde”.

O antigo Presidente François Hollande, agora deputado, apresentou um projeto de lei para criar um estatuto específico para os “refugiados científicos” para atrair para França investigadores americanos ameaçados pela administração Trump.

Perante o número crescente de investigadores americanos que pensam deixar o seu país devido às políticas do Presidente Donald Trump, “é necessário abrir muito rapidamente um quadro jurídico sustentável e simples” para os acolher, explica o antigo chefe de Estado. O objetivo do projeto de lei, apresentado na segunda-feira, é “facilitar os procedimentos para estes cientistas”, “concedendo-lhes um estatuto que seria um estatuto de refugiado”, da mesma forma que “existem refugiados climáticos”, explica.

Segundo Hollande, “para além do gesto”, a ideia é “dar a imagem de um país que acolhe estes cientistas”, nomeadamente nos domínios mais afetados pelas “medidas” tomadas por Donald Trump, “o clima e a saúde”. Desde o regresso de Trump à Casa Branca, os investigadores e as universidades estão na sua mira e temem pelo seu futuro, com a liberdade académica e a investigação minadas e o financiamento cortado.

Por conseguinte, cada vez mais investigadores e aspirantes a investigadores pensam em abandonar o país, até agora considerado um paraíso da investigação em muitos domínios. De acordo com um inquérito publicado no final de março pela revista especializada Nature, mais de 75% dos investigadores estão agora a pensar abandonar o país.

A França também precisa de se posicionar para atrair os melhores talentos. “Não somos os únicos a querer atraí-los”, explica François Hollande, citando a China ‘que está a fazer esforços consideráveis para trazer de volta’ muitos investigadores sino-americanos, bem como o Reino Unido e a Alemanha. Em França, o asilo assume duas formas sob o estatuto de refugiado e a proteção subsidiária.

A proteção subsidiária é concedida aos requerentes de asilo que não reúnem as condições para o estatuto de refugiado, mas que podem provar que enfrentam um dos seguintes riscos no seu país: pena de morte, tortura, tratamento desumano ou degradante, ou uma ameaça grave e individual à sua vida ou pessoa.

O projeto de lei de François Hollande, consultado pela agência de notícias AFP, pretende acrescentar uma categoria aos beneficiários desta proteção, a de “cientistas e investigadores” que “correm o risco de sofrer um atentado grave e individual à sua liberdade académica devido a ameaças ou à privação arbitrária da liberdade”.

Este estatuto permitiria acelerar o processo de obtenção de vistos e garantir a permanência dos investigadores durante um período de tempo suficiente para concluírem o seu trabalho. “Temos de o fazer agora, porque é altura de despedimentos e de encerramento de laboratórios, com muitos investigadores afetados”, insiste François Hollande, esperando que o Governo francês acabe por aceitar a sua proposta num texto que possa apresentar rapidamente.

Mas este estatuto não será suficiente, segundo o antigo Presidente francês. “Se não forem atribuídos recursos às universidades e aos laboratórios para que estes investigadores possam desenvolver o seu trabalho com investigadores franceses, eles irão para outro lado”, adianta.

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Pedro Nuno Santos pede para ser ouvido pelo MP. “Ao contrário de Luís Montenegro, não tenho medo do escrutínio do MP”

Pedro Nuno Santos pediu para ser ouvido pelo Ministério Público já esta quinta-feira. O secretário-geral do PS diz não ter medo do escrutínio do MP, "ao contrário de Montenegro".

O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, pediu para ser ouvido pelo Ministério Público (MP) esta quinta-feira e garante: “Ao contrário de Luís Montenegro, não tenho medo do escrutínio do MP, nem do escrutínio dos portugueses”.

“Gostaria de ser ouvido pelo Ministério Público já a partir de amanhã. Quem não deve não teme, quem não teme não foge“, disse Pedro Nuno Santos em declarações aos jornalistas na sede do Partido Socialista, no largo do Rato, em Lisboa.

O secretário-geral do PS sublinha que os políticos têm de estar disponíveis para o escrutínio e garante que sempre teve disponível. “Quando um político evita a todo o custo o escrutínio, a desconfiança aumenta. Não é o meu caso”, acrescenta.

Pedro Nuno Santos revelou-se surpreso com a abertura da averiguação preventiva e “estranhou” a coincidência e o momento da divulgação da notícia. Uma coisa é certa, garante que este caso já “veio a público” durante a última campanha para as legislativas e já na altura respondeu a tudo o que foi necessário.

Não escondi nenhuma conta. Revelei contas conjuntas, contas próprias, valores de venda, valores de compra, valores de passivos, créditos à habitação, cálculos de IMI. Até as contas do meu próprio filho de oito anos e o seu saldo foram expostos na comunicação social”, disse.

O secretário-geral do PS relembra que tanto as suas declarações como as da sua mulher, que também exerce cargos públicos, foram escrutinadas à vírgula, tendo sido sempre “transparente” e “disponível para todos os esclarecimentos”.

Ao contrário de Luís Montenegro, não tenho medo do escrutínio nem do Ministério Público nem do escrutínio dos portugueses. Tenho toda a documentação relevante para disponibilizar aos jornalistas. As denúncias são anónimas, mas a verdade é pública. Não vou simular como Montenegro que entrego documentos para depois fazer o contrário”, assume, lançando o repto ao atual primeiro-ministro a prestar todas as declarações sobre caso Spinumviva.

Aos jornalistas explicou que a casa em Telheiras, que comprou com a sua mulher em 2018, custou 740 mil euros e foi paga com um sinal de 92.500 euros de duas contas suas, e 647.500 euros de uma conta conjunta, sendo este valor composto por 450 mil euros de um crédito à habitação que contraiu e 197.500 mil euros da conta da mulher.

sobre a casa de Montemor-o-Novo foi comprada em fevereiro de 2022 por 570 mil euros, tendo sido pago um sinal de 57 mil euros da conta da mulher e os restantes 513 mil euros foram pagos 5 mil de um conta da mulher, 508 mil de um conta conjunta.

Estas declarações surgem após ser alvo de uma averiguação preventiva por parte do DCIAP, “na sequência de receção de denúncias e tendo em vista a recolha de elementos”, disse fonte da PGR ao ECO.

Uma averiguação preventiva é um mecanismo usado pelo Ministério Público quando entende que não há indícios suficientes para abrir um inquérito criminal. Este mecanismo pode culminar em arquivamento ou abertura de um inquérito formal. De acordo com a legislação, a suspeita de crimes de crimes de corrupção, peculato, recebimento indevido de vantagem são alguns dos crimes que permitem instaurar uma averiguação preventiva.

Estão vedadas práticas de investigação para as quais é exigida autorização de juiz, como, por exemplo, escutas, mas os responsáveis pelo processo podem questionar quem entenderem e pedir informações às entidades em causa. Ou seja, é possível verificarem contas, contratos, clientes ou fluxos financeiros. Compete ao Ministério Público e à Polícia Judiciária, através da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) realizar estes atos.

Esta é a segunda vez que, no espaço de pouco mais de um mês, o DCIAP usa este mecanismo previsto na lei mas que raramente é usado pelo Ministério Público. A primeira foi a Luís Montenegro.

Em março, o Procurador-Geral da República, Amadeu Guerra, revelou que recebeu três denúncias anónimas relativas à empresa de Luís Montenegro, tendo decidido abrir uma averiguação preventiva na sequência das mesmas. O titular da investigação criminal não viu indícios suficientes para a abertura de um inquérito, mas o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) está a avaliar as queixas relacionadas com a Spinumviva.

(Notícia atualizada às 21h00)

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Marcelo explica que desde o início tem dúvidas sobre Mecanismo Anticorrupção ligado ao Governo

  • Lusa
  • 16 Abril 2025

O Presidente da República referiu que "havia uma entidade ligada ao Tribunal de Contas" – o Conselho de Prevenção da Corrupção – "que foi substituída por uma entidade ligada ao Governo".

O Presidente da República explicou esta quarta-feira que as dúvidas que manifestou ao promulgar alterações ao Mecanismo Nacional Anticorrupção remontam à sua criação, por ser uma entidade ligada ao Governo.

Marcelo Rebelo de Sousa falava no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, em resposta aos jornalistas, que o questionaram sobre a mensagem que divulgou a anunciar que promulgou o decreto-lei que altera a orgânica do Mecanismo Nacional Anticorrupção “apesar das dúvidas que ainda suscita”.

“As dúvidas eu explico quais são: vêm desde que foi criado, não foi neste Governo [PSD/CDS-PP], foi no Governo anterior [do PS]”, começou por responder o chefe de Estado. O Presidente da República referiu que “havia uma entidade ligada ao Tribunal de Contas” – o Conselho de Prevenção da Corrupção – “que foi substituída por uma entidade ligada ao Governo”.

Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “desde o início” manifestou “dúvidas de que funcionasse muito bem um mecanismo de combate à corrupção que dependesse do poder executivo”.

“Tinha dúvidas, e o que é facto é que [o Mecanismo Nacional Anticorrupção] já foi criado há muito tempo, ainda demorou muito tempo a começar a produzir efeitos”, prosseguiu. Na sua opinião, “é um bocado difícil” este mecanismo funcionar, por “quem vai controlar, no fundo, nascer sob a alçada daquele ou daqueles que vão ser controlados”.

“Pode ser que dê certo, mas normalmente não é fácil”, acrescentou. Nestas declarações aos jornalistas, interrogado sobre a atual administração norte-americana de Donald Trump, o chefe de Estado reiterou que “não é surpresa” para quem, como é o seu caso, acompanhou “de perto” o seu primeiro mandato como Presidente.

Donald Trump “já era o que é, não tinha era maioria que tem” e “já era claro que havia uma ideia de pôr em causa a ordem internacional como ela existiu do ponto de vista político e do ponto de vista económico”, disse.

Marcelo Rebelo de Sousa descreveu o Presidente norte-americano como alguém com “uma visão de intervenção muito nacionalista, hipernacionalista, antimultilateralista” no plano político, “com um diálogo entre Estados Unidos da América e a Federação Russa”, e no plano económico “protecionista, unilateralista”, com um estilo “de jogador de paradas altas”, mas que “quando conhece dificuldades recua”.

“Isto pode ser muito bom para alguns ganharem muito, pode ser muito bom para em certo momento a economia americana ter vantagens, mas, tudo somado, tem riscos enormes para o mundo, para a estabilidade económica internacional e para os próprios Estados Unidos da América”, considerou.

No seu entender, Trump, “para já, ainda está na fase de só ver as vantagens”. O Presidente da República esteve no Centro Cultural de Belém a assistir à apresentação da série documental “Rumo à Liberdade”, que elogiou e pela qual deu os parabéns a António Barreto e à RTP.

 

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Pinto Luz aponta ao líder do PS falta de precisão na TAP, CP e habitação

  • Lusa
  • 16 Abril 2025

O ministro destacou que “Pedro Nuno Santos reclama a construção das 26 mil casas do PRR, mas esconde, omite, a suborçamentação em que o Governo do PS as deixou”.

O dirigente do PSD Miguel Pinto Luz considerou esta quarta-feira que as declarações do secretário-geral do PS, nos últimos tempos, suscitam preocupação quanto à sua precisão e quanto à sua fundamentação, aconselhando-o a ser assertivo.

“Nos últimos tempos temos assistido a um crescente número de declarações por parte de Pedro Nuno Santos, líder do PS, que suscitam preocupação quanto à sua precisão e quanto à sua fundamentação. É importante termos em mente que a assertividade da informação é absolutamente crucial para um diálogo político saudável”, sustentou.

Pinto Luz defendeu que “várias das afirmações proferidas [por Pedro Nuno Santos] têm sido questionadas por dados e factos que contradizem as narrativas apresentadas (…) umas vezes afirmando que é trabalho seu e noutras a dizer que não teve absolutamente nada a ver com os últimos oito anos. O mesmo se aplica, diga-se, aos resultados do atual Governo neste último ano”.

“Se são resultados positivos, são mérito, claro, de Pedro Nuno Santos. Se estes estão à aquém do que se pretende, então são apenas do atual Governo”, comentou o também ministro das Infraestruturas e Habitação sobre “algumas interpretações destorcidas da realidade” atribuídas ao líder do PS.

Passando para casos concretos, Pinto Luz elencou que “Pedro Nuno Santos reclama a construção das 26 mil casas do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência], mas esconde, omite, a suborçamentação em que o Governo do PS as deixou”, como também reclama “ter colocado a TAP a dar lucro, mas esquece, omite, que quem colocou de facto a TAP a dar lucro foram, em primeiro lugar, os seus trabalhadores e, em primeiríssimo lugar os contribuintes portugueses, com a injeção de mais de 3,2 mil milhões de euros no capital daquela companhia”.

“Pedro Nuno Santos reclama ter colocado a CP, também ela, a dar lucro. Mas esquece, omite, que esse lucro não se deve mais uma vez somente a ele. Deve-se aos trabalhadores da CP, em primeiro lugar, e aos milhares de milhões de euros que os portugueses foram obrigados a injetar na companhia para saldar a dívida legada daquela empresa”, continuou.

Deste modo, prosseguiu o dirigente social-democrata, “lança-se uma cortina de fumo sobre a realidade”, esperando que todos se esqueçam de “todos os episódios menos dignificantes dos últimos oito anos”.

“Não há ilusionismos, não há truques, não há meias verdades, não há inverdades. Repito, com a AD não há truques. Nós subimos mesmo o rendimento das famílias portuguesas, nós baixamos mesmo o IRS das famílias portuguesas”, frisou o governante, explicando que a AD que o facto de haver pessoas que “estão a receber menos no seu reembolso do IRS” deve-se “unicamente porque ao longo do último ano também o Estado lhes reteve menos dinheiro”.

E prosseguiu: “como se vê, não há qualquer carta na manga, nada escondido, não há qualquer truque. A AD promoveu uma real descida do IRS e quem disser o contrário, aqui sim, pura e simplesmente, falta a verdade, não diz a verdade”. Para o dirigente do PSD, Pedro Nuno Santos “muda de convicções e de postura conforme ditam os estudos de opinião e as sondagens”, ao contrário da AD, que “não embarca em realidades alternativas”.

“Em nome da AD (…) apelamos uma vez mais a uma campanha positiva, pela positiva, que possibilita a troca de argumentos, de ideias, de comparação dos programas, das equipas, das lideranças, para, de uma vez por todas, depois destas eleições, o país possa sair beneficiado, porque no final do dia estamos a beneficiar os portugueses e as portuguesas”, concluiu.

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Tarifas. Reserva Federal dos EUA quer esperar antes de decidir taxas de juro

  • Lusa
  • 16 Abril 2025

"Por enquanto, estamos bem posicionados para aguardar maior clareza" sobre o impacto das mudanças de política em áreas como imigração, tributação, regulamentação e tarifas, disse Powell,

A Reserva Federal (Fed) pode ser paciente e esperar para ver como as tarifas e outras políticas económicas do Governo Trump se desenrolam antes de fazer qualquer alteração nas taxas de juros, disse esta quarta-feira o presidente Jerome Powell.

“Por enquanto, estamos bem posicionados para aguardar maior clareza” sobre o impacto das mudanças de política em áreas como imigração, tributação, regulamentação e tarifas, disse Powell, em comentários por escrito a serem entregues ao Clube Económico de Chicago.

A forte volatilidade nos mercados financeiros desde que o Presidente Donald Trump anunciou tarifas abrangentes em 2 de abril, apenas para suspender a maioria delas uma semana depois, levou a especulações sobre se a Fed cortaria em breve sua taxa básica de juros ou tomaria outras medidas para acalmar os investidores, mas ainda é incerto.

Powell reiterou que as tarifas do Governo Trump são “significativamente maiores do que o previsto” e que “o mesmo provavelmente se aplicará aos efeitos económicos, que incluirão inflação mais alta e crescimento mais lento”.

Powell afirmou ainda que a inflação provavelmente será temporária, mas “também poderá ser mais persistente”, ecoando uma preocupação expressa pela maioria do comité de definição de taxas de juros da Fed, composto por 19 membros, na ata da reunião do mês passado.

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CNE diz que transmissão de debates em sinal fechado põe em causa igualdade de oportunidades

  • Lusa
  • 16 Abril 2025

A posição consta de uma deliberação, divulgada em ata, referente a uma queixa apresentada pelo Chega contra a RTP, SIC e TVI.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) considera que a transmissão televisiva de debates em sinal fechado pode pôr em causa a igualdade de oportunidades dos partidos candidatos.

“Pode, de facto, a escolha do meio de transmissão (em sinal aberto ou fechado) prejudicar a efetiva igualdade de oportunidades das candidaturas consagrada no artigo 56.º da LEAR (Lei Eleitoral da Assembleia da República), segundo a qual estas têm direito a igual tratamento a fim de efetuarem, livremente e nas melhores condições, a sua campanha eleitoral”, justifica a CNE.

A posição consta de uma deliberação, divulgada em ata, referente a uma queixa apresentada pelo Chega contra a RTP, SIC e TVI pelos “pressupostos do debate televisivo”, que o partido diz inquinarem os princípios democráticos do processo eleitoral.

Em concreto, o Chega alega uma desigualdade de tratamento, por um lado, devido à escolha dos candidatos que vão representar a AD nos debates, repartidos entre os líderes do PSD, Luís Montenegro, e do CDS-PP, Nuno Melo, mas também devido à programação dos debates.

No parecer que remete à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), a CNE reafirma que os órgãos de comunicação social não têm competência para intervir na escolha dos candidatos, mas admite que a escolha do meio de transmissão pode pôr em causa a igualdade de oportunidades.

A maioria dos debates será transmitida em sinal aberto, na RTP1, RTP3, SIC e TVI, mas estão também agendados debates na SIC Notícias e na CNN Portugal, em sinal fechado.

Na mesma reunião, em 8 de abril, a CNE deliberou também sobre uma queixa apresentada pelo PCP contra a RTP1 por uma entrevista ao secretário-geral comunista, Paulo Raimundo, no dia 24 de março no Telejornal.

Conduzida pelo jornalista José Rodrigues dos Santos e feita no âmbito das eleições legislativas antecipadas de maio, o único tema abordado durante a entrevista, que teve uma duração de 10 minutos, foi a posição do PCP sobre a guerra na Ucrânia.

A CNE remete a queixa para a ERC, com competências em relação ao tratamento jornalístico das candidaturas em período eleitoral, mas admite, no parecer enviado, que podem estar em causa a igualdade de oportunidades e os deveres de neutralidade e imparcialidade impostos ao serviço público.

“Tratando-se de entrevistas que visam a eleição da Assembleia da República, e existindo um critério desigual e aleatório na escolha dos temas e sua relação com o ato eleitoral em presença, poderá, pois, tal conduta ferir a efetiva igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas bem como a neutralidade e imparcialidade da RTP perante as diversas candidaturas”, lê-se na ata.

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Turismo de Portugal lança campanha internacional onde os ativos nacionais são “cabeças de cartaz”

A campanha do Turismo de Portugal, de âmbito internacional, tem como principal objetivo promover o país como destino de eleição para os amantes de música. A criatividade é da Dentsu Creative Iberia.

Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, e a apresentadora Filomena Cautela

O Turismo de Portugal lançou uma nova campanha para atrair amantes da música, promovendo o país como se fosse um festival e apresentando como “cabeças de cartaz” elementos bem portugueses, como o sol, a natureza ou a gastronomia. “O que se pretende é criar atrações para que se visite todo o Portugal, todo o território. E os festivais e os eventos ajudam a que isso aconteça“, explicou Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, na sessão de lançamento da campanha desta quarta-feira, que foi conduzida por Filomena Cautela.

Os festivais de música ajudam ao crescimento, assim como os eventos na sua globalidade, apresentando capacidade de mobilização da economia, como seja levar fluxos de turismo, quer internos quer internacionais, a todo o país, defendeu Carlos Abade, dando como exemplo o Boom Festival, que permite dinamizar a economia local no interior, em Idanha-a-Nova.

“Os festivais ocorrem em todo o país e são fatores de atração, de crescimento e de dinamização das economias locais. Percebemos a importância destes eventos e a importância que têm para o turismo e para a continuação do crescimento da economia nacional, mas percebemos também a ajuda que dão a que este crescimento seja cada vez mais equilibrado e faça da coesão algo que aconteça rapidamente para bem de Portugal e dos portugueses”, disse ainda o presidente do Turismo Portugal ao +M, à margem do evento.

De âmbito internacional, a campanha “Portugal Music Festivals Headliners” tem assim como principal objetivo a promoção do país como destino de eleição para os amantes de música. Com criatividade da Dentsu Creative Iberia e contando com um conceito visual e narrativo inspirado em cartazes de festivais, a campanha destaca aqueles que são os “verdadeiros cabeças de cartaz” do país: o sol, a natureza, o oceano, o património, a cultura, os sabores, a diversidade e o bem-estar.

Estes ativos turísticos são comunicados de forma invulgar, através de designações de bandas imaginadas, que reforçam a ideia da experiência turística e funcionam como cartaz de uma viagem a Portugal. Enquanto o oceano aparece no “cartaz” como se se tratasse da banda “Waves of Solitude”, a energia dos portugueses é materializada com “The Future Rainbows”, a autenticidade cultural com “The Art Attacks” e a gastronomia com “Full Table Nation”.

O nascimento desta ideia encontrou assim inspiração tanto nos cartazes e na linguagem dos festivais de música como na realidade portuguesa e nos seus ativos, sendo resultado de uma “sobreposição [destes dois elementos] que brinca não só de forma visual mas também com os nomes“, disse Patrick Stilwell, managing director da Dentsu Creative Iberia.

Muitos nomes de bandas têm significados “camuflados”, pelo que se pretendeu fazer o mesmo com o nome das “bandas” da campanha e os ativos a que estão ligados, acrescentou.

Temos de estar sempre a encontrar novas histórias e formas de falar com as pessoas. E esta foi uma forma diferente de falarmos com as pessoas. Foi olhar para os festivais e para a sua linguagem particular e adaptá-la à nossa comunicação“, explicou também Lídia Monteiro, vogal do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal.

Depois de o setor dos festivais de música em Portugal ter alcançado um recorde em 2024, com 358 festivais realizados em todo o país, segundo a APORFEST – Associação Portuguesa Festivais Música, Lídia Monteiro concordou também com a ideia de que os festivais contribuem para a coesão territorial e para um “melhor turismo”, na medida em que têm a capacidade de cativar públicos muito diferentes e diversos.

Além disso, estes eventos captam públicos que têm tendência a ficar durante mais tempo quando se deslocam a Portugal para vir a um festival, o que permite aumentar a estadia média — o que é por sua vez importante para a dinamização das economias locais –, assim como contribuir para a sustentabilidade. “Ao ficarem mais tempo, o impacto que os turistas têm em termos de pegada ecológica é menor”, disse no evento.

A campanha agora lançada surge também por via de ser percetível “que quem viaja procura ter experiências únicas e irrepetíveis”, algo que os festivais de música em Portugal permitem oferecer, explicou Lídia Monteiro.

Com foco no público internacional e com planeamento de meios da Dentsu, a campanha é promovida nos principais mercados estratégicos, como Reino Unido, Espanha, Alemanha e Países Baixos, ou seja, mercado que registam uma maior afinidade e interesse tanto com Portugal como com os seus festivais de música. A sua difusão acontece nos meios digitais, mas estão também previstas ativações em connected TV e em plataformas de música, como o Spotify.

É nesta plataforma que vai ser disponibilizada a playlist VisitPortugal, onde se vão poder ouvir os sons mais simbólicos dos ativos turísticos portugueses promovidos na campanha, assim como testemunhos de músicos e artistas que vivem em Portugal para reforçar e amplificar as histórias sobre o cartaz de experiências turísticas.

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Caso Ferry. Defesa de Mário Ferreira critica nova acusação. “Desafia o bom senso”

A defesa do empresário Mário Ferreira considera que a (única) acusação de fraude fiscal qualificada do Ministério Público constitui o "paradigma do que se vive algumas vezes na justiça em Portugal".

A defesa do empresário Mário Ferreira considera que a nova acusação de fraude fiscal qualificada do Ministério Público (MP) constitui o “paradigma do que se vive algumas vezes na justiça em Portugal” e garante: A Autoridade Tributária (AT) e o MP “entenderam andar à procura de desconformidades não existentes”. “A manifesta falta de coragem em reconhecer a total ausência de indícios e arquivar pura e simplesmente um processo mediático, insistindo-se, neste caso, numa última, única e irrelevante acusação sem fundamento, uma vez que, na pior das hipóteses, o que está em causa são divergências técnicas entre um contribuinte e a administração fiscal”, afirmam os advogados Rui Patrício, Tiago Félix da Costa e José Maria Montenegro em comunicado a que o ECO/Advocatus teve acesso.

Os mandatários assumem ainda que tanto a AT como o MP andaram à procura de “desconformidades não existentes”, a procurar “pretensos lapsos de categorização fiscal” e a reanalisar factos e declarações de IRS, revelando-se “despropositado e exagerado”. “Pois em causa estava um contribuinte que, por ser classificado há muitos anos como grande contribuinte, já havia sido inspecionado em detalhe e, como é reconhecido, se revelara reiteradamente rigoroso e cumpridor de todas as suas obrigações perante a AT”, acrescentam.

Segundo os advogados, a nova versão dos factos do Ministério Público e da AT tem “vários problemas”. “Desde logo, dava-se a circunstância de que, quando o inquérito decorria, já nem sequer se poder falar em imposto em falta — o contribuinte, na medida em que recebeu dividendos (e na exata medida em que os recebeu ao longo dos anos) foi sempre declarando e pagando o IRS aplicável e, como é óbvio, com a mesma taxa e no mesmo montante que qualquer dividendo de qualquer sociedade”, assume.

Por outro lado, sublinham ainda que a declaração dos dividendos recebidos e o IRS pago ocorreram sempre “sem que se pudesse imaginar a nova tese da AT e do Ministério Público sobre a obrigação de pagar IRS sobre resultados de uma empresa que não os distribuiu”. “Não se alcança como é possível sustentar que os resultados de uma normal sociedade, de um Estado da União Europeia, gerariam IRS na esfera do seu sócio, independentemente da distribuição desses resultados”, referem.

Os advogados alertam ainda que tanto o MP como a AT reconheceram em janeiro que a maior parte do alegado IRS já estava pago. “E para que não sobrasse qualquer alegação de imposto em falta, por mais inalcançável que fosse a tese da AT, Mário Ferreira fez questão de pagar o remanescente – no montante de 300.000 euros – mesmo que não tivesse acedido a qualquer distribuição de resultados que o justificasse”, explicam.

“Seja como for, confrontado com esta infundada narrativa sobrante da AT e do Ministério Público a respeito do seu IRS (afinal, apenas e só sobre o IRS), o nosso constituinte, mesmo contra todos os pareceres técnicos, e voluntariamente, liquidou já na íntegra o montante do imposto e juros em causa e agora reclamado pela AT”, revelam, considerando que esta acusação “desafia o bom senso e a lógica das coisas”.

Esta nova acusação surge depois de serem arquivados os processos contra Mário Ferreira sobre a alegada prática dos crimes de corrupção passiva e ativa, participação económica em negócio, administração danosa, branqueamento de capitais e fraude fiscal relacionados com a venda do Navio Atlântida.

Pois nem assim, depois de arquivar todas as suspeitas de corrupção passiva e ativa, participação económica em negócio, administração danosa e branqueamento de capitais, o Ministério Público se convenceu de que Mário Ferreira nunca teve, nem tem, qualquer intenção de se furtar ao pagamento de qualquer imposto e que a operação em causa foi fruto de vicissitudes várias em nada relacionadas com questões fiscais, mas sim de uma campanha persecutória executada e amplamente publicitada por parte, pelo menos, da comentadora Ana Gomes”, sublinham os advogados.

O Ministério Público acusou esta quarta-feira Mário Ferreira de um crime de fraude fiscal qualificada. Para além do dono da Media Capital, também foram acusadas duas sociedades comerciais neste processo denominado “Caso Ferry”. “Em causa está a venda, no ano de 2015, de um navio, através da interposição de uma estrutura societária constituída em Malta, que teve por objetivo ocultar os reais valores da venda e evitar a sua sujeição a tributação em Portugal”, lê-se no comunicado do Ministério Público.

Segundo a acusação, ficou indiciado que a “concreta” e “efetiva” transação comercial de compra e venda do navio operacionalizou-se entre uma sociedade portuguesa e uma sociedade norueguesa, “tendo a intervenção da estrutura societária constituída em Malta sido meramente instrumental e sem conteúdo comercial”.

Em comunicado, o Ministério Público avança que da operação de venda do navio resultou um ganho de 3.726.093 euros, “que configura um rendimento de capital, sujeito a retenção na fonte”. “Este montante, porém, não foi atempadamente declarado, o que possibilitou a obtenção de uma vantagem ilegítima, em sede de IRS, de 1.043.306,04 euros”, acrescenta, sublinhando que o ganho só foi posteriormente declarado e tributado.

Assim, o Ministério Público deduziu um pedido de indemnização civil, em representação do Estado, no valor correspondente ao dos juros compensatórios que se apurou estarem em falta, no montante total de 110.124,95 euros.

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Tribunal de Contas aponta falhas ao controlo de benefícios fiscais aos fundos imobiliários

Auditoria do Tribunal de Contas diz que o Fisco não contabiliza a perda fiscal com estes benefícios e apontou falhas ao nível do controlo das obrigações fiscais dos fundos imobiliários.

O Tribunal de Contas identificou falhas no controlo, por parte da Autoridade Tributária e Aduaneira, dos benefícios fiscais que têm os fundos de investimento imobiliário, revela um relatório de auditoria divulgado esta quarta-feira. O mesmo documento aponta ainda que o Fisco não quantifica a receita que deixa de ser cobrada devido a este regime fiscal e foram detetadas isenções indevidamente atribuídas, nomeadamente em IMI e em IMT, tendo já sido recuperado um milhão de euros em isenções indevidas.

Segundo o relatório de “Auditoria aos Benefícios Fiscais direcionados aos organismos de investimento imobiliário”, há várias falhas de acompanhamento por parte do Fisco no que diz respeito ao regime fiscal dos fundos imobiliários e aos benefícios que estes produtos beneficiam.

Desde logo, os fundos imobiliários estão excluídos da tributação em IRC os rendimentos típicos da atividade dos fundos imobiliários – rendimentos prediais, de capitais e mais-valias – e são tributados os rendimentos dos participantes que investem nesses fundos, quando há distribuição de rendimentos, venda ou resgate de participações. A chamada tributação “à saída” e que vigora desde 2015.

Estes fundos são tributados trimestralmente em imposto do selo, um valor que incide sobre o valor líquido global da sua carteira, e estão sujeitos aos restantes impostos, nos termos gerais.

O Tribunal de Contas aponta, no entanto, que a Autoridade Tributária e Aduaneira “não apura a receita que deixa de ser cobrada em resultado deste regime fiscal, o que compromete a sua avaliação”. Por outro lado, “a avaliação deste regime fiscal, levada a cabo pelo Governo em 2020 e que concluiu pela sua manutenção com recomendações, não incluiu uma quantificação completa do seu impacto na receita fiscal”.

“O controlo realizado pela Autoridade Tributária e Aduaneira não garante que este regime fiscal beneficie apenas os fundos que a ele têm direito e, apesar da sua situação ser acompanhada pela Unidade de Grandes Contribuintes, não foram definidos procedimentos específicos de controlo das obrigações fiscais dos fundos imobiliários”, aponta o relatório, que acrescenta que “também não foram definidos procedimentos para confirmar o valor sujeito a imposto do selo junto da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários”.

Há ainda isenções indevidas no âmbito dos impostos municipais sobre transações e imóveis (IMT e IMI). Diz o Tribunal que “foram identificadas falhas no controlo do prazo para revenda, bem como isenções concedidas ao abrigo de disposições legais que já não estavam em vigor”.

Os procedimentos de recuperação de valores em falta desencadeados pela Autoridade Tributária e Aduaneira, na sequência da auditoria, já permitiram recuperar cerca de um milhão de euros decorrente de isenções de imposto indevidamente concedidas.

Outro problema identificado na auditoria é o facto das isenções não beneficiarem todos os fundos, excluindo os organismos não residentes. Uma situação que o Tribunal de Contas pede que seja resolvida.

Em termos de receita, o relatório reporta uma receita fiscal de 27 milhões de euros, gerada por estes fundos entre 2020 e 2022, “um montante reduzido que resulta do regime fiscal em vigor”.

“Por outro lado, neste período, os rendimentos que foram excluídos da tributação mais do que quadruplicaram, evidenciando o impacto do regime de tributação mais favorável neste setor”, acrescenta.

Segundo o Tribunal, havia 265 fundos imobiliários em 2023 que tinham um valor sob gestão de 14.440 milhões de euros, o que representa cerca de 5% do PIB, um peso equivalente ao registado em outros países da União Europeia.

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