Órgão de fiscalização da Ordem dos Advogados avalia legalidade da convocação de eleições antecipadas

Fernanda de Almeida Pinheiro convocou eleições antecipadas para os órgãos nacionais da Ordem dos Advogados. Mas o Conselho Superior está a avaliar a legalidade desta decisão.

“A convocação de eleições não é ilegal e muito menos inconstitucional”. As palavras são da líder dos mais de 37 mil advogados, Fernanda de Almeida Pinheiro que, no final de novembro, convocou eleições antecipadas para os órgãos nacionais da Ordem dos Advogados.

Mas o ECO/Advocatus sabe que, apesar desta tomada de posição da bastonária, o Conselho Superior da mesma Ordem dos Advogados, liderado pelo advogado penalista Paulo de Sá e Cunha, está a avaliar a legalidade desta convocação de eleições antecipadas. Este é o órgão jurisdicional supremo da Ordem dos Advogados que tem ainda competência para julgar os recursos das decisões dos Conselhos de Deontologia em matéria disciplinar e para dar parecer sobre os honorários a pedido dos tribunais, dos advogados ou dos seus clientes. Contactado pelo ECO/Advocatus, o advogado não quis confirmar as razões desta avaliação da decisão da líder dos bastonários.

A 27 de novembro, um comunicado de Fernanda de Almeida Pinheiro deixou a classe surpreendida, numa manobra política que poucos anteciparam. As razões? O novo Estatuto dos advogados, em vigor desde abril deste ano e que obriga a criação de dois novos órgãos na estrutura da Ordem dos Advogados. Ou a convocação de eleições antecipadas.

À data, Fernanda de Almeida Pinheiro decidiu dar posse ao dito Conselho de Supervisão. Mas, dois meses depois dessa tomada de posse, a líder dos advogados volta atrás e decide convocar eleições antes do previsto, alterando toda uma tradição relativamente aos atos eleitorais, previsivelmente marcados em novembro e com tomada de posse em janeiro seguinte.

“Este novo estatuto dos advogados impunha a criação de novos órgãos e naturalmente esses dois órgãos tinha um regime transitório da norma previa duas opções: podíamos designar o órgão ou convocar eleições antecipadas até 31 de março de 2025”, diz a bastonária. A OA optou, à data, designar e dar posse ao Conselho de Supervisão e ao Provedor do Beneficiário dos Serviços.

Tomada de posse da nova bastonária da Ordem dos Advogados, Fernanda de Almeida Pinheiro - 09JAN23
Fernanda de Almeida Pinheiro, bastonária da Ordem dos AdvogadosHugo Amaral/ECO

Num artigo de opinião, publicado no jornal Público, o reconhecido constitucionalista, ex- presidente do Conselho Superior da Ordem dos Advogados, Bacelar Gouveia, defendeu que a bastonária anunciou “antes das férias de Natal eleições para os órgãos nacionais que apanharam todos os seus possíveis e legítimos adversários desprevenidos; menos ela própria, claro”.

Indo mais além, o jurista considerou que “esta decisão consubstanciou uma aplicação inconstitucional e inadmissível de uma oportunidade legislativa que, sendo acionada, põe em crise princípios do Estado Constitucional, como o democrático e o da tutela da confiança”.

Em primeiro lugar, diz Bacelar Gouveia, “a cessação antecipada dos mandatos iniciados em janeiro de 2023 é uma violação da capacidade eleitoral para cargo público, protegida pelo art. 50.º da Constituição: o seu titular, eleito para três anos, de repente, por uma lei ordinária o permitir, é lançado “borda fora”, para se ajustar mandatos que nasceram depois. Em segundo lugar, a cessação antecipada dos mandatos é a aceitação acrítica de uma norma inconstitucional, porque retrospetiva, ao reduzir em cerca de 1/3 o tempo de vigência de cargos eletivos, hipótese que prejudica a duração de cargos que se iniciaram no passado. Em terceiro lugar, a cessação antecipada dos mandatos, perante as duas normas oferecidas pelo legislador, é um resultado sem dúvida inconstitucional na medida em que tal deve ser feito com medida menos gravosa possível, que é a de o novo órgão e membros não cumprirem os três anos, e não a de, à socapa, decepar os mandatos daqueles que antes foram eleitos sem que tal perspetiva restritiva estivesse no horizonte”.

Jorge Bacelar Gouveia. ANTÓNIO COTRIM/LUSAANTÓNIO COTRIM/LUSA

Segundo António Jaime Martins, advogado e ex-líder do Conselho Regional de Lisboa da OA e que foi candidato a bastonário nas últimas eleições, “não existe qualquer justificação legal para o Conselho Geral ter convocado eleições para março de 2025, a não ser, na minha leitura, a existência de alguma vantagem eleitoral conjuntural que a Senhora Bastonária e o Conselho Geral possam ter identificado na antecipação em oito meses do sufrágio. Nada o exige ou justifica. Foi um mero juízo de oportunidade eleitoral”.

Em entrevista ao ECO/Advocatus, António Jaime Martins defende que “tal dificulta ou mesmo impede o aparecimento de candidatos que não estejam já no exercício de cargos na Ordem, que dificilmente conseguirão reunir as condições necessárias como recolher assinaturas suficientes e compor as listas”.

Acrescentando que “entendo que a Bastonária não tem competência estatutária para marcar eleições fora do período eleitoral ordinário fixado no Estatuto, o qual prevê no seu artigo 13.º, n.º 1 que a eleição para os diversos órgãos da Ordem dos Advogados realiza-se entre os dias 15 e 30 de novembro, em data a designar pelo bastonário. A fixação de data para a realização de eleições fora daquele período é, nos termos da al. f) do n.º 1 do art.º 44.º do EOA, uma competência do Conselho Superior (“al. f) Fixar a data das eleições para os diversos órgãos da Ordem dos Advogados, quando tal não seja da competência do bastonário;”). Pelo que, é provável que a realização do ato eleitoral possa ser posta em causa.

A líder dos cerca de 37 mil advogados anunciou que se vai recandidatar nessas mesmas eleições, marcadas para dia 18 e 19 de março para a primeira volta e, caso aconteça, 31 de março para a segunda volta. As propostas de candidatura deverão ser apresentadas à Comissão Eleitoral até às 18h00 do dia 17 de janeiro de 2025.

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Projetos de baterias na Europa sob ameaça, mas cadeia ainda pode singrar

Analistas e consultores apontam várias ameaças a investimentos na cadeia de valor de baterias na Europa. Porém, ainda é possível que o Velho Continente se consiga destacar nesta frente.

O desenvolvimento de uma cadeia de valor das baterias na Europa, apesar dos recentes reveses – desde a quebra de empresas e projetos até uma procura diminuída – tem ainda pernas para andar, acreditam a maioria dos especialistas consultados pelo ECO/Capital Verde, e Portugal pode ser um “contribuidor-chave”.

Já era conhecido o contexto de abrandamento nas vendas de carros elétricos na Europa há vários meses, com os preços, a falta de carregadores e a concorrência por parte da China a travarem o crescimento europeu nesta fileira. “As empresas produtoras de veículos elétricos têm sido gravemente penalizadas, vendo os seus inventários a aumentar, receitas a diminuir e lucros a caírem a pique”, sumariza o analista da XTB Vítor Madeira.

A consequência foi o adiamento ou a redução da escala dos planos de produção de carros elétricos, explica a Fitch, uma vez que a produção de baterias é um negócio muito intensivo em capital e, neste sentido, “não se consegue adaptar rapidamente para responder a mudanças na procura”. “Infelizmente para a cadeia de valor das baterias na Europa, vários projetos estavam a começar o seu desenvolvimento quando a procura mudou”, no sentido descendente, pontua a Shroders.

O ruído em torno do setor já estava em crescendo; o estrondo chegou com o pedido de proteção contra credores da fabricante de baterias Northvolt, a grande promessa desta fileira no Velho Continente. “Esta conjuntura macroeconómica e tecnológica foi a gota de água para a Northvolt, colocando os seus projetos em risco, os seus financiamentos cancelados e por último uma situação de insolvência iminente”, avalia Vítor Madeira.

Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, identifica como fatores chave para a queda desta empresa a gestão financeira, desafios operacionais, concorrência intensa e condições de mercado desfavoráveis. “O futuro da empresa dependerá da implementação bem-sucedida deste plano [de reestruturação] e da sua capacidade em se adaptar às condições de mercado”, vaticina o economista.

O que podemos esperar é que este desinvestimento em soluções sustentáveis continue, com mais empresas deste género a ter dificuldades.

Vítor Madeira

XTB

E quanto ao futuro do setor? “O que podemos esperar é que este desinvestimento em soluções sustentáveis continue, com mais empresas deste género a ter dificuldades, enquanto esperamos por novos avanços tecnológicos nesta área, tal como já tinha acontecido com o hidrogénio há uns anos”, acredita o analista da XTB. Os desafios existentes, como os custos elevados, a dependência de cadeias de abastecimento, as barreiras regulatórias e os riscos financeiros,” tornam provável que alguns projetos enfrentem atrasos ou mesmo cancelamentos”, considera também Paulo Rosa.

Ainda assim, o economista sénior do Banco Carregosa considera que a ideia de criar uma potência europeia em baterias continua “relativamente convincente” e a Europa mantém-se uma “forte concorrente” no mercado global de baterias. Os restantes partilham também de uma visão mais animadora. “Apesar de os recentes cancelamentos de projetos reconhecidos serem desapontantes, continuamos a ver razões para sermos otimistas acerca da cadeia de valor nas baterias da Europa”, indica Alex Monk, gestor de portefólio na Shroders, que vê a procura por baterias a recuperar apoiada em avanços tecnológicos e numa contínua redução de custos. Caso os países europeus consigam criar o ambiente de investimento adequado, e as empresas europeias consigam retomar a liderança tecnológica, “não há razão para que a cadeia europeia de baterias não seja um sucesso”, balança.

Consideramos que as perspetivas para a cadeia de valor das baterias na Europa são globalmente positivas.

Alexandre Silva

Consultor na PwC

Consideramos que as perspetivas para a cadeia de valor das baterias na Europa são globalmente positivas”, reforça Alexandre Silva, consultor na PwC, baseando-se num maior foco que deteta na implementação dos planos europeus nesta área, em vez de a ação se limitar à emissão de regulação. Uma “evidência” disto mesmo é o anúncio recente, por parte da Comissão Europeia e do Banco de Investimento Europeu, da parceria de apoio a investimentos na indústria de produção de baterias, mobilizando 200 milhões de euros para este efeito, destaca a consultora.

Para a Europa ser bem sucedida neste esforço, na ótica de Monk, é importante liderar o desenvolvimento tecnológico, sendo que as empresas europeias não conseguiram, recentemente, acompanhar a mudança nos métodos de fabrico, perdendo para a China nesta corrida. “No final do dia, é a competitividade do produto, em termos de acessibilidade e qualidade, que mais importarão”, defende a Shroders. Ao mesmo tempo, destaca que “construir uma cadeia de fornecimento de baterias vai levar tempo e um apoio claro de longo prazo é crítico para assegurar que as decisões de investimento possam avançar”. Este apoio consiste não só em facilitar o licenciamento e criar a regulação adequada, como em envolver as comunidades locais assegurando cobenefícios e, finalmente, a atribuição de subsídios que permitam ganhos de escala.

A consultora PwC sublinha que a criação de incentivos financeiros é “essencial”, sobretudo num contexto de tomada de posse de Donald Trump, que poderá levar à realocação de investimentos para a Europa. Entretanto, o “reforço do diálogo político e influência económica com as geografias de extração e processamento dos recursos/ materiais usados nas baterias terão (ainda) que ser concretizados”, acrescenta a PwC. Paulo Rosa reforça: deve haver “um aumento” do financiamento e incentivos.

No final do dia, é a competitividade do produto, em termos de acessibilidade e qualidade, que mais importarão.

Alex Monk

Gestor de portefólio na Shroders

O economista sénior destaca ainda a necessidade de diversificação de fontes de fornecimento e investimento na extração de recursos nacionais e a importância de trabalhar na formação de trabalhadores nesta área.

Seja qual for o desfecho, o certo é que o desenvolvimento desta indústria trará benefícios para o bloco comunitário. A Shroders afirma que a consolidação de uma cadeia europeia é “crucial” para garantir a segurança de abastecimento, proteger empregos em indústrias críticas, apoiar o crescimento do Produto Interno Bruto e reduzir as emissões poluentes, sobretudo nos transportes. E o economista sénior do Banco Carregosa acrescenta que a cadeia deve ser impulsionada não só pela procura por veículos elétricos, mas sobretudo tendo em vista o desenvolvimento de soluções para o armazenamento de energia renovável.

Portugal sente o abalo mas ainda pode ser “chave”

Em Portugal nota-se a turbulência que cresce ao nível do continente. Por cá, também houve uma desistência sonante: o projeto Aurora, para a construção de uma refinaria de lítio em Setúbal, foi abandonado pelos respetivos promotores, Galp e Northvolt. Outra refinaria que está na calha, promovido pela Bondalti e grupo José de Mello, unidos na Lifthium, encontra-se de momento pendente de decisão.

A próxima década será crítica para estabelecer uma indústria europeia de baterias resiliente e competitiva, com Portugal a ter uma palavra e a ser um contribuidor-chave.

Paulo Rosa

Economista Sénior do Banco Carregosa

Num registo mais positivo, a Lusorecursos, empresa que detém a concessão para a exploração da mina de Montalegre e um projeto de refinação de lítio nessa área, afirma que não só está firme nas suas decisões como também se mostrou disponível para alargar o projeto. Por seu lado, a concorrente Savannah, responsável pela concessão do lítio em Boticas, reitera igualmente que pretende manter os planos e até estará à procura de novas refinarias para abastecer com o produto que pretende extrair.

O Governo veio, entretanto, apresentar iniciativas no sentido de promover a exploração de matérias-primas críticas no país, com o lançamento de um plano nacional que prevê o levantamento do potencial nesta área e leilões. Além disso, o ministro da Economia, Pedro Reis, assegurou que deteta ainda interesse no desenvolvimento de projetos em Portugal e está ativamente à procura de um substituto para o projeto da Galp.

No final de contas, “a próxima década será crítica para estabelecer uma indústria europeia de baterias resiliente e competitiva, com Portugal a ter uma palavra e a ser um contribuidor-chave”, considera Paulo Rosa. A PwC entende que Portugal pode ter ainda “um papel mais relevante” pela ligação “especial” a África, onde estão muitas das matérias-primas críticas, e pelas reconhecidas capacidades de cooperação e diálogo internacional.

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Da aposta falhada no Canadá, ao regresso a casa. Conheça a centenária sueca que vai mandar na maior mina em Portugal

Com a aquisição da mina de Neves-Corvo em Portugal, a empresa sueca, que até agora estava quase exclusivamente concentrada na Escandinávia, vai duplicar a produção de zinco.

Fundada em 1924 na região, após a descoberta de um depósito de ouro em Fågelmyran, no Norte da Suécia, a Boliden prepara-se para assumir o comando da maior mina portuguesa, depois de ter acordado com a Lundin Mining a compra da mina de Neves-Corvo em Portugal e outra mina na Suécia por 1,3 mil milhões de dólares (cerca de 1,23 mil milhões de euros), acrescidos de 150 milhões de dólares variáveis. Um negócio que vai permitir à empresa sueca duplicar a produção de zinco e impulsionar a produção além do Norte da Europa.

Com 6.000 colaboradores, um volume de negócios anual em torno de 85 mil milhões de coroas suecas (7,4 mil milhões de euros) e uma capitalização bolsista próxima de oito mil milhões de euros, a Boliden conta com cinco minas – quatro na Escandinávia e uma no Reino Unido – e unidades de fundição no Norte da Europa, onde extrai e produz vários metais.

Fonte: Site da empresa

Focada no desenvolvimento de competências e tecnologia de ponta para se tornar “o fornecedor de metal mais respeitado e amigo do ambiente do mundo”, conforme advoga no seu site, a Boliden produz cobre, zinco, níquel e chumbo, “todos necessários para a transição climática e que podem ser encontrados em diversas áreas críticas de inovação, como a produção de carros elétricos ou baterias de automóveis“, explica.

Apesar do grupo ter hoje a sua atividade concentrada nos países nórdicos, tendo ainda escritórios no Reino Unido e na Alemanha, a empresa nascida na cidade que lhe dá o nome ainda tentou o salto para o Canadá, para onde chegou a transferir a sua sede, numa tentativa de se tornar um grande grupo mineiro a nível global. Uma estratégia que se revelou falhada e que terminou com vários planos de reestruturação, o desinvestimento no Canadá e o regresso ao país de origem.

Foi na década de 90, após a entrada no capital da multinacional de engenharia Trelleborg, que os novos acionistas decidiram transferir a sede da empresa para Toronto, em 1997. Foi o início de um movimento que levou à maior crise da história da empresa. A Boliden entrava no novo milénio em plena crise, provocada pela mudança para Toronto, pelos baixos preços dos metais e uma desconfiança geral em torno da indústria mineira.

A recuperação deste período negro começaria com o regresso da sede para Estocolmo e as ações da empresa são listadas na bolsa sueca, com a empresa a iniciar assim um novo ciclo, liderado pelo então administrador Carl Bennet.

Nos anos seguintes, a centenária, que se prepara para entrar em Portugal e cujo capital é dominado por gestoras de ativos e investidores suecos, conclui um grande negócio com a Outokumpu da Finlândia, acordando a aquisição das fábricas de fundição de Harjavalta, Kokkola e Odda e a mina de zinco Tara. Nos anos seguintes, a empresa completa outras aquisições que lhe permitiriam aumentar produção e iniciar uma estratégia de crescimento.

Maior produção in house e fora

A aquisição da mina de Neves-Corvo e da outra mina na Suécia vai ajudar a empresa sueca a reforçar a produção. De acordo com as estimativas da própria empresa, a Boliden estima um aumento significativo na produção de metais concentrados na área de negócios de minas, em 95% para o zinco e 43% para o cobre, com base nos números de produção de 2023.

De acordo com a Boliden, as minas de Neves-Corvo e de Zinkgruvan irão contribuir com cerca de 300 milhões a 350 milhões de dólares de resultados operacionais (EBITDA) por ano nos próximos cinco anos.

A mina portuguesa tem cinco grandes jazigos em produção: Neves, Corvo, Graça, Zambujal e Lombador. Em 2023, a faturação da Somincor apresentou uma queda face ao ano anterior, para 393 milhões de euros, um resultado operacional (EBITDA) de 83 milhões e lucros, em queda, de cerca de 1,5 milhões de euros (13 milhões em 2022).

De acordo com informação oficial da empresa, o processamento do minério em Neves-Corvo é feito através de duas lavarias. A Lavaria do Cobre processa aproximadamente por ano 2,6 milhões de toneladas de minério de cobre. A Lavaria do Zinco, que processa minério de zinco ou chumbo, tem capacidade de tratar anualmente cerca de 2,5 milhões de toneladas por ano.

Estes investimentos surgem paralelos à expansão de capacidade de produção nas fábricas do grupo. Segundo a informação divulgada no site, a companhia está num processo de aumentar a capacidade anual na sua fundição de Odda na Noruega para 350 mil toneladas de zinco, um reforço de 75%. Por outro lado, a Boliden deverá concluir as intervenções na mina de Tara, a maior mina de zinco da Europa, que tem estado temporariamente suspensa devido aos elevados custos.

“Estou satisfeito com o início do segundo semestre de 2024. Muitas de nossas unidades estão a produzir bem e demos passos em frente em vários projetos de investimento”, numa altura em que os preços dos metais valorizaram, adianta Mikael Staffas, CEO da empresa, numa mensagem nos resultados do terceiro trimestre do ano.

Após um 2022 muito forte, os resultados baixaram em 2023. No entanto, 2024 está a ser um ano de recuperação, com as receitas a subirem de 57,8 para 63,4 mil milhões de coroas suecas, no acumulado dos nove meses.

“Os volumes melhoraram em ambas as áreas de negócio devido ao aumento da produção de metais concentrados em todas as minas produtoras, bem como forte produção nas fundições finlandesas”, escreve a empresa no seu relatório de resultados dos primeiros nove meses do ano.

A empresa refere que os “preços e prazos também melhoraram. Preços mais elevados do cobre e do zinco, juntamente com os preços do ouro e da prata tiveram um impacto positivo”.

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Italianos da Mastrotto pagaram antecipadamente os 3,9 milhões que o Banco de Fomento investiu na Coindu

No mesmo dia em que comprou a Coindu, o Grupo italiano Mastrotto amortizou voluntária, antecipada e integralmente a exposição financeira de 3,91 milhões que o Banco de Fomento tinha.

A unidade fabril da Coindu em Arcos de Valdevez vai encerrar no final deste mês de dezembro e deixar sem emprego cerca de 350 trabalhadores. Mas o encerramento da fábrica de componentes para o setor automóvel não significa a perda dos 3,91 milhões de euros que o Banco de Fomento investiu na empresa em novembro de 2022, confirmou o ECO.

O encerramento da fábrica, no distrito de Viana do Castelo, acontece cerca de um mês depois da empresa ter sido comprada pelo grupo italiano Mastrotto. O grupo, fundado em 1958 na Itália, é líder da indústria de couro e ao comprar a Coindu, a 15 de outubro, pretendia relançar o negócio e “avançar na integração vertical, aumentando a capacidade da empresa de oferecer soluções de ponta a ponta para os interiores dos automóveis e, fortalecendo sua posição competitiva no mercado global”, lê-se no comunicado feito ao mercado.

Mas a história não acabou bem para a unidade fabril de Arcos de Valdevez, uma das duas que a Coindu tem em Portugal. Há uma segunda em Joane, concelho de Vila Nova de Famalicão, no distrito de Braga.

No mesmo dia em que compraram a Coindu, o grupo que estava comprometido em expandir a presença em segmentos de mercado de luxo, pagou a integralidade do montante em dívida. “No dia 15 de outubro de 2024, a Coindu, com a entrada do Gruppo Mastrotto S.p.A. como novo acionista, procedeu à amortização voluntária, antecipada e integral da exposição financeira do Fundo de Capitalização e Resiliência (FdCR)”, avançou ao ECO fonte oficial da instituição liderada por Ana Carvalho.

“Desta forma, o investimento do FdCR foi totalmente recuperado, sem qualquer perda para o Fundo”, concluiu a mesma fonte.

No dia 15 de outubro de 2024, a Coindu, com a entrada do Gruppo Mastrotto S.p.A. como novo acionista, procedeu à amortização voluntária, antecipada e integral da exposição financeira do Fundo de Capitalização e Resiliência.

Fonte oficial do Banco de Fomento

Os 3.912 milhões de euros que o Banco de Fomento investiu na Coindu foram no âmbito do Quadro Temporário de Auxílio Estatal, uma medida extraordinária aprovada pela Comissão Europeia para mitigar os impactos económicos da pandemia, a chamada janela B do programa de recapitalização estratégica. Assim, o Fundo de Capitalização e Resiliência “podia financiar diretamente os beneficiários finais” sem ser obrigatória a participação de coinvestidores privados, “desde que todas as condições, incluindo as financeiras, previstas na ficha técnica aprovada pela Comissão Europeia, fossem integralmente cumpridas”, recordou a mesma fonte. Por isso, os italianos da Mastrotto não tiveram de saldar contas com mais nenhum investidor.

À semelhança do financiamento à Coindu, também os investimentos feitos na ERT, Lunainvest, MD Group, Têxtil António Falcão e Viagens Abreu foram enquadrados na Janela B do programa e, portanto, também não existe um coinvestidor privado a acompanhar a operação com 30% do valor.

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Quebra de preços deixa cortiça nas árvores. Exportações estão a cair 7%

Cerca de 10% da cortiça ficou por extrair na campanha de 2024 na sequência da descida de 15% no preço médio pago à produção. Industriais alegam que “não foi suficiente para recuperar rentabilidade".

A campanha de extração da cortiça em 2024 resultou numa produção estimada na ordem de 4,5 milhões de arrobas em Portugal e de 3 milhões de arrobas em Espanha – como quase toda a cortiça do país vizinho é laborada em Portugal, entra também nas contas do aprovisionamento à indústria nacional. Este volume total próximo de 112.500 toneladas ficou em linha com a quantidade que tinha sido obtida no ano passado. No entanto, “por motivos de conjuntura de mercado”, adverte a Filcork, “algumas cortiças tiveram a extração adiada para 2025”.

O presidente da associação interprofissional desta fileira, adianta ao ECO que este ano ficou por extrair cerca de 10% da cortiça que estava disponível na árvore (só gera rendimento de nove em nove anos, a idade mínima para extração) devido à redução de 15% no preço médio pago à produção face ao ano anterior, em que tinha subido à volta de 20%. “Havendo um preço em quebra, algumas extrações foram adiadas na expectativa dos produtores de que para o ano as condições de mercado serão mais interessantes”, refere António Gonçalves Ferreira. Lembra que a cortiça na árvore não é perecível e, deixada mais um ano, até valoriza em termos de qualidade.

Havendo um preço em quebra, algumas extrações foram adiadas na expectativa dos produtores de que para o ano as condições de mercado serão mais interessantes.

António Gonçalves Ferreira

Presidente da Filcork

“Havia a expectativa de manter o nível de crescimento da retoma pós-Covid, mas que este ano não se verificou ao mesmo ritmo. Isso levou a que a indústria resfriasse de algum modo a sua pressão no mercado. Como houve menos procura do que era expectável, isso teve como consequência uma redução do preço”, resume o porta-voz da estrutura que junta seis organizações de agricultores e produtores florestais, e a associação da indústria transformadora (APCOR). Porém, salvaguarda que “houve a extração necessária para as necessidades da indústria”.

Sobre o impacto dessa decisão nos produtores de cortiça – há cerca de 15 a 16 mil em Portugal, embora muitos deles se dediquem também a outras atividades de exploração –, António Gonçalves Ferreira assegura que “não ficou nenhuma cortiça por extrair de um produtor que não quisesse extrair”. “Fê-lo por razões particulares, fê-lo por não haver um patamar de preço em que estivesse disponível para vender. Para quem quis ir, o mercado absorveu. Não temos indicação de que ficou cortiça por vender por não haver procura pela indústria. Não atingiu foi o patamar de preço para a perceção que tinham”, enquadra o líder da Filcork.

Indústria afasta descida do preço final dos produtos

Espalhado um pouco por todo o território nacional, mas com o volume principal concentrado no eixo Beira Interior, Ribatejo, Alentejo e até ao Algarve, onde há zonas com grande produção de cortiça, o montado de sobro ocupa uma área superior a 700 mil hectares, o que equivale a mais de 20% da floresta nacional. No que toca aos custos de extração em 2024, a campanha, que decorreu entre meados de maio e meados de agosto deste ano, manteve a tendência das anteriores, impactada pela inflação e pelo aumento dos salários médios.

Já a queda nos preços decorreu de uma “procura abaixo das expectativas do mercado a jusante, do mercado final das rolhas e dos vedantes, que é o destino final de uma parte muito substancial da cortiça e também de grande parte do valor acrescentado que a fileira consegue gerar”, pormenoriza António Gonçalves Ferreira, em entrevista ao ECO.

A pressão de margens continua a fazer-se sentir. O movimento de descida de preço da cortiça em 2024 não foi suficiente para recuperar a rentabilidade da indústria.

Paulo Américo Oliveira

Presidente da APCOR – Associação Portuguesa da Cortiça

Os preços médios caíram de 30 a 50 euros para uma amplitude de 25 a 40 euros por arroba, pressionados “essencialmente por uma menor procura pelas chamadas cortiças delgadas, que eram destinadas aos discos de champanhe e das rolhas técnicas, com um valor mais alto, [sendo] agora grande parte destinadas à granulação”. “Uma parte muito substancial da descida do preço tem a ver com esse fenómeno da aglomerização”, conclui.

Porém, esta descida não terá reflexos no bolso dos clientes das fábricas nacionais. Em declarações ao ECO, Paulo Américo Oliveira, presidente da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR), calcula que o preço médio tinha subido perto de 45% no acumulado das duas campanhas anteriores (2022 e 2023) e “na medida em que não foi possível aumentar os preços de venda dos produtos finais em igual dimensão, a pressão de margens na indústria continua a fazer-se sentir”. “O movimento de descida de preço da cortiça em 2024 não foi suficiente para recuperar a rentabilidade da indústria. Nesse sentido não antevemos redução do preço final dos produtos”, atesta o porta-voz da indústria.

“Encruzilhada” no vinho esvazia exportações

De acordo com os dados oficiais definitivos, este setor composto por mais de 800 empresas e que assegura cerca de 8.500 empregos diretos fechou o ano de 2023 com um valor de exportações de 1.211 milhões de euros, uma taxa de crescimento em valor quase nulo (0,1%). E este ano, até setembro, os números provisórios já libertados pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE) mostram um recuo de 7% nas vendas ao exterior face aos primeiros nove meses do ano passado, para 867 milhões de euros.

“Estes números são resultantes da atual conjuntura internacional complexa e de instabilidade política e económica, que impacta os consumos a nível global e as exportações de uma forma transversal a todos os setores. Para um setor que exporta mais de 90% da sua produção, os efeitos dessa instabilidade acabam por ser mais evidentes, ainda mais quando o mercado vinícola, nosso principal cliente, se encontra numa encruzilhada. (…) Menos vinho para engarrafar e comercializar equivale sempre a uma menor necessidade de rolhas, produto que representa mais de 70% das nossas exportações”, justifica Paulo Américo Oliveira.

Paulo Américo Oliveira, presidente da APCOR – Associação Portuguesa da Cortiça

E uma análise à tipologia de produto mostra precisamente que a quebra em valor está a ser mais significativa no segmento de rolhas, com valores próximos dos 9%, do que nas restantes aplicações da cortiça, em que as reduções de vendas rondam os 5%. Pela negativa, o também CEO da Amorim Florestal constata as perdas de “maior relevância” nos Estados Unidos e Espanha, ao passo que França e Itália deram “sinais de recuperação” no terceiro trimestre, ao caírem menos do que durante a primeira metade do ano (-4%) e a Alemanha a manter uma tendência de crescimento que se tem vindo a acentuar desde o primeiro trimestre do ano.

É neste cenário de perdas menos acentuadas face ao primeiro semestre que, a poucas semanas do fecho do exercício, assenta “alguma esperança” do sucessor do atual secretário de Estado da Economia, João Rui Ferreira, no cargo de presidente da APCOR. Espera que “a reta final do ano possa vir a abrir caminho para que 2025 marque a recuperação do ritmo de crescimento das exportações reportadas ao longo dos últimos anos”.

“Embora a situação menos auspiciosa no mundo dos vinhos continue claramente a afetar as nossas exportações, acreditamos que a cortiça continua a ser o vedante técnico por excelência e, simultaneamente, responde a todos os desafios que a sociedade e os consumidores dos nossos principais mercados valorizam cada vez mais, exigindo produtos verdadeiramente sustentáveis e ecologicamente eficientes”, confia Paulo Américo Oliveira.

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5 coisas que vão marcar o dia

  • ECO
  • 11 Dezembro 2024

Dia ficará pela divulgação de indicadores económicos relevantes por cá e lá fora e pelo primeiro debate quinzenal de Luís Montenegro depois da aprovação do OE 2025.

Dia ficará pela divulgação de indicadores económicos relevantes por cá e lá fora e pelo primeiro debate quinzenal de Luís Montenegro e do Governo depois da aprovação do Orçamento do Estado para 2025 (OE 2025).

Montenegro regressa ao Parlamento

Esta quarta-feira, o Governo regressa à Assembleia da República para mais uma sessão plenária. Será o primeiro debate quinzenal depois da aprovação do OE 2025, alcançada graças à abstenção do PS. O debate servirá também para preparar o próximo encontro do Conselho Europeu, em Bruxelas, o primeiro presidido por António Costa desde que assumiu funções como presidente, no início do mês.

Inflação, desemprego e petróleo

A manhã fica marcada pela divulgação de um conjunto de indicadores pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), nomeadamente, a evolução do índice de Preços no Consumidor (IPC), em novembro e a atividade dos transportes em outubro. Lá fora, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) dará conta dos dados mais recentes sobre a taxa de desemprego naqueles países, incluindo Portugal, já a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) divulgará o seu relatório mensal do mercado do petróleo.

Como evoluiu a inflação nos EUA?

Esta tarde, serão divulgados os dados sobre o índice de preço do consumidor (IPC), dos Estados Unidos, referente ao mês de novembro. Os dados vêm a público uma semana antes da última reunião do ano da Reserva Federal dos Estados Unidos, agendada para 17 e 18 de dezembro, e na qual deverá ser concretizado um novo corte de 25 pontos base nas taxas de juro.

Savannah Resources vai ao Parlamento

Antes do debate quinzenal, a Comissão de Ambiente e Energia vai discutir o projeto lítio do Barroso liderado pela britânica Savannah Resources, liderada pelo português Emanuel Proença. As audiências vão começar por ouvir a Associação Povo e Natureza do Barroso e a Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, sobre a questão da mineração, seguindo-se a própria empresa para prestar esclarecimentos.

Ministra da Saúde responde sobre o INEM

A crise no Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e as alegadas mortes que resultaram da falta de operacionais no terreno ainda carece de esclarecimentos e, por isso, Ana Paula Martins, vai ser ouvida esta quarta-feira na Comissão de Saúde, na Assembleia da República, a pedido do Bloco de Esquerda e da Iniciativa Liberal.

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Bancos portugueses são dos que mais cobram pelo crédito ao consumo e menos pelo crédito à habitação

Apesar dos juros altos e acima da média da Zona Euro, o apetite pelo crédito ao consumo em Portugal atinge níveis recorde, refletindo uma tendência crescente no endividamento das famílias.

O cenário do crédito bancário em Portugal apresenta um contraste marcante entre o crédito ao consumo e o crédito à habitação. Enquanto os bancos nacionais se destacam por cobrar das taxas de juro mais elevadas da Zona Euro no crédito ao consumo, oferecem simultaneamente das taxas mais competitivas no financiamento para a compra de casa. E esta situação ocorre num contexto de forte crescimento do crédito ao consumo, que atingiu níveis recordes nos últimos meses.

Segundo os dados mais recentes do Banco de Portugal, a taxa de juro das novas operações de crédito ao consumo realizadas em outubro situou-se nos 8,91%, mais 0,37 pontos percentuais face aos 8,54% praticados no mesmo período do ano anterior. Este valor é significativamente superior à média da Zona Euro, que se fixou em 7,67% no mesmo mês, colocando Portugal entre os países com as taxas mais elevadas nesta modalidade de crédito.

Na hierarquia dos países da Zona Euro com as taxas de juro mais altas no crédito ao consumo, Portugal é superado apenas pela Letónia (13,96%), Estónia (13,32%), Grécia (10,86%), Eslováquia (9,75%) e Lituânia (9,59%), de acordo com dados do Banco Central Europeu (BCE).

É importante notar que esta posição de Portugal no topo da tabela não é recente. Há cinco anos, antes da pandemia de Covid-19, os bancos nacionais já figuravam entre os que cobravam mais pelo crédito ao consumo, embora na altura estivessem atrás da oferta dos bancos de países como Espanha e Irlanda.

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Apesar das taxas elevadas, o apetite dos portugueses pelo crédito ao consumo não parece ter diminuído. Pelo contrário, tem-se verificado um crescimento significativo nesta modalidade de crédito.

Segundo os dados mais recentes do Banco de Portugal, o crédito ao consumo registou um aumento homólogo de 6,1% em outubro. Este crescimento marca o 12.º mês consecutivo de expansão nesta modalidade de crédito e representa “a maior taxa de variação anual desde novembro de 2018”, destaca a instituição liderada por Mário Centeno em comunicado.

Como resultado deste crescimento sustentado, o stock de empréstimos ao consumo e outros fins atingiu um valor histórico de 30,1 mil milhões de euros no final de outubro, o montante mais elevado desde o início da série estatística do Banco de Portugal em 1979. Este marco sublinha a tendência crescente do endividamento das famílias portuguesas para fins de consumo.

Bancos nacionais entre os mais competitivos no crédito à habitação

Em contraste com o cenário do crédito ao consumo, o panorama do crédito à habitação em Portugal apresenta-se muito mais favorável para os consumidores. Segundo dados do BCE, os bancos portugueses destacam-se por oferecerem das taxas de juro mais baixas da Zona Euro no financiamento para a compra de casa.

De acordo com os dados mais recentes do Banco de Portugal, a taxa de juro média das novas operações de crédito à habitação diminuiu de 3,48% em setembro para 3,39% em outubro. Este valor não só representa o nível mais baixo desde janeiro de 2023, como também se situa 0,11 pontos percentuais abaixo da média da Zona Euro, que se fixou em 3,5% no mesmo período.

No contexto dos 20 Estados-membros da área do euro, Portugal posiciona-se de forma muito competitiva na oferta de crédito à habitação. Apenas seis países oferecem taxas médias mais baixas que Portugal na contratualização do crédito à habitação: Eslovénia (3,34%), Bélgica (3,28%), França (3,27%), Itália (3,27%), Espanha (3,2%) e Malta (1,81%). Esta posição favorável de Portugal no ranking europeu do crédito à habitação não é, contudo, uma novidade. No passado até já foi mais competitiva.

Há três anos, em outubro de 2021, a taxa de juro média das novas operações de crédito à habitação praticada pela banca nacional era de apenas 0,83%, ficando apenas acima dos 0,75% cobrados pelos bancos finlandeses, e significativamente abaixo da taxa média de 1,31% praticada na Zona Euro. Um cenário semelhante em outubro de 2019, antes da pandemia de Covid-19, com a banca nacional também a cobrar apenas mais que os bancos finlandeses.

“Os bancos já antes da crise sempre fizeram muita concorrência entre si em quotas de mercado no crédito à habitação”, refere o economista António Nogueira Leite ao ECO, salientando que os bancos têm mais interesse em fazer crédito à habitação do que crédito ao consumo.

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O panorama do crédito bancário em Portugal revela assim uma dicotomia entre o crédito ao consumo e o crédito à habitação. Por um lado, os bancos nacionais praticam taxas de juro mais elevadas que os seus pares europeus no crédito ao consumo, mas por outro oferecem condições altamente competitivas no financiamento para a compra de casa, com taxas entre as mais baixas da área do euro.

António Nogueira Leite justifica estes dados por uma questão de “tradição comercial” da banca no cuidado de análise do crédito ao consumo, com os bancos a preferirem ganhar quota no crédito à habitação face ao crédito ao consumo. “É assim desde que me lembre”, refere o economista que foi vice-presidente do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos entre 2011 e 2013.

Esta realidade esbate na composição do crédito bancário a particulares. De acordo com o Relatório de Estabilidade Financeira de novembro do Banco de Portugal, em junho de 2024, os empréstimos à habitação representavam uma fatia esmagadora de 77,3% do total de empréstimos bancários a particulares. O crédito ao consumo e para outros fins, apesar do seu crescimento recente, correspondia a 21,4% do total, enquanto os empréstimos a empresários em nome individual representavam apenas 1,3%.

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Angela Merkel apresenta as suas memórias no Auditório da RBA em Barcelona e reflete sobre o seu legado

  • Servimedia
  • 11 Dezembro 2024

Mais de 450 convidados entre os quais uma ampla representação das instituições e da sociedade civil e cultural, assistiram à apresentação do livro que gerou grande expectativa até chegar às livrarias.

O Auditório da RBA acolheu a apresentação de “Liberdade”, o livro de memórias em que Angela Merkel retrata a sua vida e o seu percurso político, desde a infância até aos seus mandatos como chefe do Estado alemão, e em que, ao longo das suas 800 páginas, defende o seu legado, as suas decisões, os princípios que a nortearam e a sua ideia de Europa num contexto global.

Publicado em espanhol pela RBA, Barcelona foi o cenário escolhido para o livro, que se insere na digressão mundial que a antiga líder está atualmente a realizar em vários países.

Em “Liberdade”, Merkel procura retratar, de forma clara, perspicaz e humana, como aquela menina que cresceu na República Democrática Alemã (RDA) acabou por se tornar a mulher com o cargo mais poderoso da Alemanha reunificada durante dezasseis anos. Duas vidas que são, de facto, uma só e cuja segunda parte não seria compreendida sem a primeira.

Durante uma conversa com a correspondente do La Vanguardia na Alemanha, María-Paz López, Angela Merkel passou em revista alguns dos temas centrais da sua obra, que escolheu, como escreve no prólogo, para facilitar a compreensão do funcionamento da política e dos mecanismos que a orientam.

A antiga chanceler recordou o que marcou um ponto de viragem no seu tempo à frente do Estado alemão e o que a levou a escrever o livro para que não fossem outros a explicar e interpretar o que aconteceu na noite de 4 de setembro de 2015, quando decidiu não impedir a passagem de refugiados, na sua maioria sírios, que chegavam da Hungria à fronteira germano-austríaca. Para Merkel, esta decisão marcou um ponto de viragem, e ela quis contar em “Liberdade” as razões dessa decisão, a sua ideia de Europa e de globalização.

Ao longo do livro, a autora convida-nos a refletir sobre a importância do conceito de liberdade, que é o título do livro. Angela Merkel recorda-nos que a liberdade exige condições democráticas, o Estado de direito e a defesa dos direitos humanos, e exorta-nos a preservá-la daqueles que a ameaçam.

GRANDE EXPECTATIVA

A apresentação do livro contou com uma grande presença institucional, incluindo o presidente da Câmara de Barcelona, Jaume Collboni; os vereadores Jaume Duch, Albert Dalmau e Ramon Espadaler; os antigos presidentes José Montilla, Artur Mas e Jordi Pujol, e uma grande representação de deputados e personalidades do mundo empresarial catalão. O Presidente da Generalitat, Salvador Illa, saudou o antigo Chanceler num breve encontro antes do início da apresentação no auditório, onde o Presidente da RBA, Ricardo Rodrigo, atuou como anfitrião.

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Recapturado em Itália mais um dos evadidos de Vale de Judeus

  • Lusa
  • 10 Dezembro 2024

A operação policial contou com a colaboração das autoridades italianas para recapturar o cidadão georgiano Shergili Farjiani.

A Polícia Judiciária (PJ) recapturou esta terça-feira, em Itália, Shergili Farjiani, que tinha fugido do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, no início de setembro, adiantou esta força policial.

A operação decorreu em Pádua e permitiu a detenção de Shergili Farjiani, um dos cinco evadidos de Vale de Judeu e o terceiro a ser recapturado.

Em comunicado, a PJ adiantou que a captura de Shergili Farjiani, de 40 anos, resultou de “um persistente, complexo e ininterrupto trabalho de investigação e de recolha de informação”.

“A operação policial contou com a colaboração das autoridades italianas para recapturar este cidadão georgiano com extensa carreira criminal, como crimes de furto violento e falsificação de documentos”, pode ler-se.

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Rei Willem-Alexander aponta Portugal como “farol de esperança”

  • Lusa
  • 10 Dezembro 2024

"A história de Portugal é inspiradora para todos nós, uma história de como a liberdade, a tolerância e a cooperação podem florescer", disse o monarca neerlandês, ao lado do Presidente português.

O monarca neerlandês, Willem-Alexander, elogiou esta terça-feira o “desenvolvimento surpreendente” de Portugal nos últimos 50 anos e apontou o país como “farol de esperança” pela liberdade e tolerância, valores atualmente “ameaçados em muitos lugares do mundo”. Esta mensagem foi deixada durante um banquete no Palácio Real de Amesterdão oferecido pelos reis dos Países Baixos, Willem-Alexander e Máxima, ao chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, durante a sua visita de Estado a este país.

“É sempre bem-vindo nos Países Baixos, mas uma visita de Estado este ano é uma ocasião especialmente festiva porque neste ano Portugal celebra o 50.º aniversário da Revolução dos Cravos, uma revolução que nos aproximou e que nós, nos Países Baixos, também vemos como um marco na história europeia moderna”, declarou o monarca.

Numa intervenção em inglês, Willem-Alexander comparou Portugal a uma flor que “durante demasiado tempo” ficou “ainda em botão” e que com o 25 de Abril de 1974 “revelou ao mundo as suas verdadeiras cores”, assumindo “a liberdade, os direitos humanos e a democracia como princípios orientadores” da sua nova Constituição.

“Depois de terem aderido à União Europeia em 1986, os nossos dois países tornaram-se ainda mais próximos. A história de Portugal é inspiradora para todos nós, uma história de como a liberdade, a tolerância e a cooperação podem florescer, e estamos-lhe gratos por isso. Numa altura em que valores como estes estão ameaçados em muitos lugares do mundo, o exemplo de Portugal oferece um farol de esperança”, afirmou.

“Nos últimos 50 anos, o seu país alcançou um ritmo de desenvolvimento surpreendente. O que me impressiona é o quanto se manteve fiel à sua herança cultural, mesmo enquanto progrediam”, elogiou o monarca.

A seguir, também em inglês, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que era um jovem no 25 de Abril e votou a Constituição de 1976 e realçou como Portugal conseguiu, uma década depois, juntar-se às comunidades europeias e mais tarde aderir à moeda única.

“Aprendemos com democracias antigas como a vossa, e aprendemos muito convosco, durante séculos. Claro que estaremos prestes a fazer 900 anos, muito em breve, mas a verdade é que já viviam um espírito de liberdade e de tolerância na altura da Inquisição, quando nós expulsámos do nosso território aqueles que vieram para o seu país”, acrescentou, recordando a expulsão dos judeus ordenada por D. Manuel em 1496.

Tanto Marcelo Rebelo de Sousa como Willem-Alexander lembraram o filósofo Espinosa, de origem portuguesa, que o monarca descreveu como “um pioneiro, abrindo caminho para a liberdade de pensamento e de expressão, um explorador, amante da paz, que se recusou a aceitar ideias enraizadas ou respostas fáceis”, comentando: “Às vezes penso que precisamos de um pouco mais de Espinosa”.

O chefe de Estado português, por sua vez, considerou que Espinosa “significa racionalismo, que é tão raro neste mundo de hoje de emoções e, por vezes, de irracionalidade”, assinalando como referência feita antes pelo seu homólogo demonstra “o significado que atribui a ser racional, ser livre, ser tolerante e dialogar com todos”.

Marcelo Rebelo de Sousa lembrou também “alguém que era aqui uma espécie de embaixador”, Damião de Góis, “conselheiro do rei, que explicava como era possível viver nos futuros Países Baixos de forma livre, de forma tolerante”. Ambos destacaram a “economia azul” como prioridade comum e propuseram aos presentes neste banquete de Estado que brindassem “à amizade” entre Portugal e os Países Baixos.

O monarca neerlandês qualificou os dois países como “aliados próximos” na NATO e União Europeia e “amigos de confiança na arena global”, de “mentalidade transatlântica e aberta”.

“Esta minha visita é uma forma de mostrar a força da nossa amizade, da nossa fraternidade, da nossa aliança, em todo o lado, sempre”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, realçando que há 35 anos não havia uma visita oficial de um chefe de Estado português aos Países Baixos.

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Biden adverte que políticas económicas de Trump serão um “desastre”

  • Lusa
  • 10 Dezembro 2024

“Rezo a Deus para que o Presidente eleito rejeite o ‘Projeto 2025’. Penso que é um desastre económico para nós e para a região”, disse o ainda Presidente dos EUA.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, criticou esta terça-feira a política económica planeada pelo Presidente eleito, Donald Trump, descrevendo-a como um “desastre”, num discurso de balanço do seu mandato.

“Penso que esta abordagem é um grande erro”, afirmou Biden, referindo-se ao aumento das tarifas aduaneiras que o seu sucessor pretende aplicar a todos os produtos importados do Canadá e do México, bem como aos produtos provenientes da China, os três maiores parceiros económicos dos Estados Unidos.

Biden defendeu o desempenho económico durante o seu mandato, apesar de a candidata do seu partido, a atual vice-Presidente Kamala Harris, ter sido derrotada nas eleições presidenciais de novembro, sobretudo devido à perceção da população relativamente ao elevado custo de vida nos últimos anos.

“Rezo a Deus para que o Presidente eleito rejeite o ‘Projeto 2025’. Penso que é um desastre económico para nós e para a região”, disse o Presidente, referindo-se ao programa ultraconservador que poderá vir a servir de guia para o segundo mandato do republicano. “Trump herda a economia mais forte da história moderna, uma economia que todos invejam”, acrescentou Biden.

O Presidente norte-americano condenou ainda uma “nova redução de impostos para os mais ricos” que teria “um custo real, conduzindo mais uma vez a défices maciços ou a grandes cortes nos programas básicos de saúde, educação e benefícios dos veteranos”.

Joe Biden retirou-se da corrida à Casa Branca em julho, sob pressão de destacadas personalidades do seu partido após perder o debate com o candidato republicano, Donald Trump, passando a vice-presidente Kamala Harris a encabeçar a batalha eleitoral e a perder para o republicano nas eleições de 5 de novembro.

Desde então, o Presidente democrata comprometeu-se em fazer uma transição tranquila para Trump.

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Esta é a chave do Euromilhões. Jackpot é de 50 milhões de euros

  • ECO
  • 10 Dezembro 2024

O jackpot desta terça-feira ronda os 50 milhões de euros, depois de não terem sido registados vencedores do primeiro prémio no sorteio anterior.

Com um primeiro prémio no valor de 50 milhões de euros, decorreu esta terça-feira mais um sorteio do Euromilhões. O valor do jackpot subiu depois de não ter havido vencedores do primeiro prémio no sorteio anterior.

Veja a chave vencedora do sorteio desta terça-feira, 10 de dezembro:

Números: 5, 24, 25, 29 e 47

Estrelas: 5 e 9

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