Como funciona e para que vai servir a Libra, a criptomoeda do Facebook?
- Filipe Paiva Cardoso
- 23 Junho 2019
O Facebook lança nova criptomoeda já em 2020, que também tem dedo português. Qual a diferença para bitcoin? Quem participa? Para que serve? Como será usada? Como está garantida? Conheça o que aí vem.
Ver DescodificadorComo funciona e para que vai servir a Libra, a criptomoeda do Facebook?
- Filipe Paiva Cardoso
- 23 Junho 2019
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O que é a Libra?
A Libra vai ser uma nova criptomoeda, a lançar no primeiro semestre de 2020, assente em tecnologia blockchain e que ao contrário de outras criptomoedas procurará ter a volatilidade controlada, como acontece com os câmbios das moedas reais mais fortes. Esta divisa digital está a ser desenvolvida pelo Facebook em parceria com outras 27 empresas dos setores financeiro, telecomunicações ou retalho.
De acordo com a descrição avançada no registo oficial da empresa, a Libra terá como propósito a “prestação de serviços para as áreas de finanças e tecnologia, assim como o desenvolvimento e produção de infraestruturas e software relacionado, particularmente para atividades de investimento, operações de pagamento, financiamento, gestão de identidades, análise de dados, big data, blockchain e outras tecnologias”.
No post de introdução ao novo caminho a ser trilhado pelo Facebook, Mark Zuckerberg definiu a missão desta criptomoeda como a de criar “uma infraestrutura financeira simples e global para capacitar milhares de milhões de pessoas em todo o mundo”.
Proxima Pergunta: Como vai funcionar e para que vai servir?
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Como vai funcionar e para que vai servir?
Ao contrário de outras criptomoedas, o objetivo da Libra é conseguir uma cotação de volatilidade controlada, razão pela qual estará assente num cabaz de divisas e títulos de dívida soberana [ver em baixo], sendo desejo dos fundadores que a Libra possa ser trocada por divisas reais com base em taxas de câmbio.
Segundo os criadores, todas as transações feitas com a Libra serão privadas, e o Facebook vai criar igualmente uma outra empresa, a Calibra, uma carteira digital, para comprar Libras e gerir todos os pagamentos baseados nesta moeda, assegurando que não haverá partilha de dados entre a Calibra e o próprio Facebook.
Além de funcionar como aplicação isolada, a Calibra será também integrada, por exemplo, no WhatsApp ou no Messenger. Mas a criptomoeda irá funcionar igualmente com outras carteiras digitais. Tal como acontece com o PayPal ou mesmo com o MB Way, o objetivo é que também a carteira digital da Libra possa gerar códigos de pagamento para utilizar em lojas.
Em termos de utilização propriamente dita, os criadores desta criptomoeda querem que seja possível transferir Libras livremente de um smartphone para outro, mesmo que cada um deles esteja em continentes distintos, admitindo a aplicação de taxas muito reduzidas para algumas transações — cuja receita servirá para financiar apenas a estrutura da empresa de pagamentos.
Mas com o passar do tempo os objetivos são muito mais alargados: pagar contas, comprar um café através de código de barras ou servir de meio de pagamento para transportes públicos ou quaisquer outras aplicações que o Facebook e restantes cofundadores considerarem úteis e justificadas [ver ‘Quem participa?’ mais em baixo].
Proxima Pergunta: Como vai ser gerida?
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Como vai ser gerida?
A gestão da criptomoeda caberá às 28 empresas que estão na sua origem, através de um consórcio cuja sede ficou em Genebra, Suíça. O Facebook não terá uma posição dominante neste consórcio — terá direitos de voto idênticos aos restantes participantes –, mas controlará a carteira digital Calibra e deverá continuar a ter o papel de liderança do projeto pelo menos até ao seu lançamento oficial.
Proxima Pergunta: Quem participa?
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Quem participa?
Cada uma das 28 empresas presentes no consórcio, como a Farfetch por exemplo, precisou de investir 10 milhões de dólares no projeto, dinheiro que serviu para criar as reservas que sustentarão a cotação da criptomoeda.
A expectativa dos fundadores é que até ao lançamento oficial da Libra o consórcio já reúna um total de 100 empresas, mas, e apenas com os 28 membros iniciais, já encontramos neste consórcio várias grandes empresas e serviços, pelo que é esperado que a Libra arranque logo com um amplo mercado de aplicações e serviços onde poderá potencialmente ser utilizada.
Além do Facebook, no consórcio participam empresas como a Lyft, Uber, Spotify, Mastercard, Visa, PayPal, Coinbase, eBay ou Vodafone, mas também algumas sociedades de capital de risco. Com todos estes pesos pesados na sua origem, a Libra é de longe o esforço mais concertado para a criação de uma criptomoeda que revolucione de vez os serviços de pagamentos e transferências tradicionais, abrindo largamente a porta para o nascimento de uma moeda verdadeiramente global para todo o mundo.
Se já é certo que a Libra vai ser integrada no WhatsApp e no Messenger do Facebook, permitindo que os utilizadores destas aplicações enviem Libras uns aos outros, a Vodafone já deu conta que pretende usar a nova criptomoeda para alargar a oferta de serviços financeiros móveis, muito utilizados no continente africano. Já a Uber, Spotify ou PayPal ainda não divulgaram quaisquer planos imediatos para a nova criptomoeda em que participam. Mas Zuckerberg abriu um pouco o leque das possibilidades:
"Além dos nossos esforços, muitas outras empresas vão construir os seus próprios serviços usando o PayPal, PayU, Stripe ou Visa para serviços como o Booking, eBay, Farfetch, Lyft, Spotify e Uber, para organizações sem fins lucrativos que se dedicam à inclusão financeira, como a Kiva, Mercy Corps e Women’s World Banking (…). Esperamos ter mais de 100 membros cofundadores na Associação Libra quando a rede for lançada no próximo ano.”
Proxima Pergunta: Qual o papel da Farfetch?
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Qual o papel da Farfetch?
Segundo o próprio presidente explicou em comunicado, a Farfetch acredita que a tecnologia blockchain “vai beneficiar a indústria do luxo, melhorando a proteção do IP, a transparência no ciclo de vida do produto e, no caso da Libra, permitindo um e-commerce sem fricção”, justificando assim a adesão da empresa ao projeto. A Farfetch, além de investir 10 milhões de dólares no projeto, será também responsável por operar e desenvolver a Libra.
Proxima Pergunta: Qual o mercado alvo?
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Qual o mercado alvo?
O objetivo é criar uma criptomoeda para ser utilizada globalmente e não uma criptomoeda para ficar fechada em pequenos círculos de investidores e especuladores.
Porém, e para “início de conversa”, a Libra quer ser uma divisa acessível a qualquer pessoa com smartphone e internet, o que já é hoje mais comum do que ter acesso a um sistema bancário tradicional. A Libra diz querer “reduzir barreiras à entrada e melhorar o acesso a serviços financeiros”, procurando servir inicialmente todos aqueles que não têm acesso ao mercado bancário tradicional, sobretudo nos mercados emergentes.
Proxima Pergunta: Como será controlada a volatilidade da moeda?
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Como será controlada a volatilidade da moeda?
A criptomoeda será disponibilizada mundialmente e estará assente num cesto de depósitos bancários e títulos de dívida pública a curto prazo que corresponderão ao total de libras em circulação. O objetivo é “defender” a Libra da especulação de modo a não ficar sujeita a montanhas russas de valorizações e desvalorizações comuns a outras criptomoedas, isto porque só com uma cotação estável é que será possível tornar a Libra numa divisa potencialmente utilizada globalmente.
Os valores na reserva da Libra serão investidos em títulos de baixo risco, procurando privilegiar-se a segurança e ganhos constantes mesmo que limitados, ao longo do tempo. As receitas geradas pelos investimentos da reserva servirão para financiar as operações da Associação Libra — detida pelas 28 empresas cofundadoras da Libra.
Contudo, e como no cesto de títulos a servir de reserva estão produtos que também sofrem de flutuações, como o dólar e a libra real, por exemplo, duas das divisas que estarão presente nas reservas, o valor da Libra também acabará por sofrer oscilações.
Proxima Pergunta: Qual a diferença para outras criptomoedas?
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Qual a diferença para outras criptomoedas?
As criptomoedas mais conhecidas não têm qualquer reserva a servir de base, razão pela qual a sua taxa de câmbio sofre flutuações agressivas. Já a Libra, apoiada num conjunto de divisas, incluindo a “verdadeira” libra e o dólar norte-americano, estará menos sujeita a volatilidade. Esta maior segurança face à volatilidade é o que permite à Libra ambicionar tornar-se numa verdadeira opção global para pagamentos e transações online.
Também a estrutura blockchain em que a Libra assenta é diferente daquela que serve de base a outras criptomoedas. No caso da Libra, só os membros fundadores terão acesso aos nós de ligação da rede, ou seja, serão apenas eles que terão responsabilidades de gestão, como decidir sobre a entrada de novos players no sistema. Já no caso de outras redes blockchain e criptomoedas, o sistema não tem qualquer restrições, permitindo que cada computador se possa juntar à rede.
Proxima Pergunta: Quando é lançada?
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Quando é lançada?
O lançamento será gradual, primeiro através de aplicações controladas pelo Facebook, como o WhatsApp e o Messenger, e depois no próprio Facebook e Instagram, devendo posteriormente começar a ser utilizada pelas restantes 27 empresas do consórcio e suas várias ramificações. A moeda virtual acabará por sair do ciclo dos fundadores, podendo ser utilizada por mais empresas e serviços, desde que previamente aprovados pela Associação Libra.
Por agora, porém, o tempo é ainda de estudos e trabalhos preparatórios. “Ainda há muito para aprender e fazer antes de a Libra estar preparada para o lançamento oficial. Sabemos que é um enorme projeto e responsabilidade — mas estamos comprometidos em fazê-lo bem feito. Temos trabalhado com legisladores e especialistas das áreas da inclusão financeira, economia, segurança, privacidade e blockchain, e vamos continuar a ouvir o feedback enquanto procuramos a melhor forma de avançar”, disse Zuckerberg, aquando do anúncio da criação da Libra.
Apesar de todo o trabalho ainda necessário, espera-se que o lançamento da Libra ocorra no primeiro semestre do próximo ano.
Proxima Pergunta: Como vai ser tratada a privacidade?
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Como vai ser tratada a privacidade?
Sendo uma aposta pela qual o Facebook dá a cara, naturalmente que as garantias de privacidade da informação recolhida levantam bastantes dúvidas, tendo em conta as polémicas recentes. Segundo a Associação Libra, a carteira digital Calibra será alvo das mesmas regulamentações que qualquer outro serviço de pagamentos e as informações partilhados com a Calibra ficarão separadas do Facebook.
O consórcio assegura ainda, como não poderia deixar de o fazer, que a segurança e a privacidade são prioridades absolutas na criptomoeda, prometendo ter uma equipa de especialistas 100% dedicados à gestão do risco e à prevenção de fraude.