Luis Cervantes, presidente da Caravela, anuncia o seu interesse numa fusão com a Lusitania. Capitalizada, por entrada de dinheiro de acionistas e pelos lucros, a seguradora quer crescer depressa.
Luís Cervantes é uma das referências na indústria portuguesa de seguros. Licenciado em economia pela FEP, e pós-graduado pela Católica de Lisboa, esteve na banca até ingressar na Tranquilidade em 2004, de onde passou para a AXA. Foi administrador da corretora Sabseg e, desde 2017, preside à Caravela.
Em entrevista a ECOseguros fala do interesse da Caravela em fazer parte de uma solução para a Lusitania, da importância de ser uma companhia portuguesa, do acrescento que o novo acionista financeiro trouxe, da vontade e dos modos de crescer e, claro, sobre a crise pandémica.
O Covid-19 é incontornável enquanto tema do momento. De algum modo esta crise atrasou ou alterou os planos?
Claro que sim. O drama de saúde pública que estamos a viver vai transformar-se inevitavelmente num drama social e económico. A Caravela iniciou um forte investimento em 2019 para melhor servir o segmento de PME que já estava a dar resultados. Após um ano de 2019 onde crescemos 28%, no primeiro trimestre de 2020 vamos crescer 30%. Porém, a desaceleração nestas duas últimas semanas é muito significativa, o que nos obriga a mudar de tática sem perdermos o objetivo estratégico de afirmação da Caravela no setor segurador em Portugal.
Após um ano de 2019 onde crescemos 28%, no primeiro trimestre de 2020 vamos crescer 30%. Porém a desaceleração nestas duas últimas semanas é muito significativa, o que nos obriga a mudar de tática.
Quais foram as principais mudanças operadas?
Desde logo, colocando como prioridade absoluta a saúde dos colaboradores e seus familiares: temos 95% da empresa em Teletrabalho. E só não é 100% porque as regras do Estado de Emergência colocam o Atendimento do Setor dos Seguros como prioritário, pelo que temos as nossas delegações de Lisboa, Porto, Leiria e Faro abertas ao público.
Por outro lado, não sendo possível a presença física junto dos nossos mediadores, a estrutura comercial da Caravela teve que inovar para estar próxima, mesmo que à distância, tirando todo o partido das ferramentas digitais que fomos desenvolvendo nos últimos anos.
Também foi necessário desenvolver ações conjuntas com os nossos mediadores para a massificação da utilização pelos clientes das soluções digitais. O MyCaravela permite que os nossos clientes realizem as operações em Self-Service, num contexto em que são difíceis as deslocações.
Que soluções estão a preparar para responder a esta crise?
Não queremos deixar nenhum cliente para trás. Cada caso é um caso, mas estamos já a desenvolver ações para apoiar os clientes nesta fase difícil, de forma a surgirem mais fortes quando retomarmos em pleno a atividade económica. Também estamos a discutir com os nossos parceiros de negócio soluções que permitam manter os seus planos de expansão e crescimento, garantindo em pleno toda a capacidade para estar próximo do mercado.
Houve um aumento de capital em 2019, mas os acionistas nacionais ficaram com 52% da companhia. Ser uma Seguradora Portuguesa é importante?
É importante na medida em que os nossos clientes e parceiros de negócio nos vejam como uma seguradora cujo principal mercado é o português. Que pretende servir as famílias portuguesas e as empresas que operam no mercado nacional. Num contexto de crise, estes valores são muito importantes. No pós-crise de 2011 tivemos algumas Seguradoras Internacionais que decidiram sair do mercado português, como foi o caso da AXA e da Groupama.
Quando apareceu o ToscaFund como parceiro da Caravela?
Pode dizer-se que em 2019 concretizou-se um casamento que resultou de um profundo conhecimento que se estabeleceu entre a gestão da Caravela e a gestão do ToscaFund desde 2015, e que permitiu desenvolver um conjunto alargado de iniciativas. Relembro que em 2015 a Caravela esteve na corrida para a compra da AXA e em 2016, na disputa da Açoreana, sempre com o apoio dos gestores do ToscaFund.
Que contribuição trouxe o investidor ao negócio?
Desde logo a presença do ToscaFund no setor financeiro europeu permitiu à Caravela integrar uma network de empresas que estão a desenvolver modelos de negócio inovadores em Inglaterra, França, Itália, Grécia e Espanha.
Depois, o reforço de capital deixa-nos robustos para uma estratégia de crescimento. O resultado líquido em crescimento sustentado desde 2015, um nível de rácio combinado de 94,5% e um nível de solvência II de 202% permitem-nos, apesar da crise que em dezembro de 2019 ninguém imaginava, enfrentar os desafios do futuro próximo com grande confiança.
Os momentos de crise trazem sempre à tona os problemas que têm vindo a ser arrastados. Existirão sempre Multinacionais que equacionam se fará sentido ou não ficar no mercado português
Qual a estratégia de crescimento a seguir?
Para além de reforçar a relação com clientes e parceiros de negócio, estaremos sempre atentos a eventuais oportunidades de aquisição. Os momentos de crise trazem sempre à tona os problemas que têm vindo a ser arrastados. Existirão sempre multinacionais que equacionam se fará sentido ou não ficar no mercado português. Temos verificado alguns movimentos que ilustram o que acabei de referir.
Também no setor do mutualismo a crise vai fazer-se sentir. Nos últimos anos temos vindo a observar constantes reforços de capital na Lusitania. Considerando este facto, associado aos problemas públicos e conhecidos ao nível da Associação Mutualista Montepio Geral, uma hipotética fusão da Caravela com a Montepio Seguros reforçaria a portugalidade na Indústria Seguradora Nacional.
A Lusitania é concretamente um alvo de interesse?
Gostaríamos muito fazer parte da solução.
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Caravela quer uma fusão com a Lusitania do Montepio
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