Para o presidente da Aicep "nenhum setor deve ser ignorado", tradicional ou inovador, o importante é a qualidade e ter capacidade exportadora. E lembra que a seleção de mercados cabe às empresas.
As empresas nacionais estão a ganhar quota de mercado, mas a meta é conseguir que as exportações cheguem a pesar 50% do PIB em 2025. A meta é reafirmada por Luís Castro Henriques. O presidente da Aicep defende que “as empresas já perceberam que a internacionalização é um fator de crescimento” e o facto de as startups já nascerem, na sua maioria, “com vocação internacional” é um sinal dessa consciência.
Na véspera do Portugal Exportador que arranca esta quarta-feira no Centro de Congressos da Junqueira, o responsável defende, em entrevista por escrito ao ECO, que “nenhum setor deve ser ignorado” e aconselha as empresas a ponderar bem a “abordagem aos mercados internacionais”, “com uma efetiva análise e estudo dos riscos e vantagens e do investimento necessário por forma a tomar uma decisão consistente e estratégica, o que naturalmente leva a uma seleção dos mercados mais adequados a cada situação”.
Portugal poderá continuar a ganhar quota de mercado mundial em termos de exportações?
Acreditamos que Portugal tem capacidade para isso e o que verificamos é que estamos a ganhar quota de mercado. Queremos manter as exportações numa rota de crescimento e estamos a trabalhar no sentido de alcançar os 50% do PIB até 2025. É um objetivo ambicioso, mas consideramos que é possível. É uma meta com a qual devemos coletivamente estar comprometidos – sociedade civil, empresas, associações, instituições públicas – para nivelarmos com os países europeus que comparam com Portugal.
O que é preciso fazer para potenciar esse aumento?
A Aicep trabalha em duas frentes para potenciar o aumento das exportações. Por um lado, na atração de mais e melhor investimento e com orientação exportadora. Por outro, no apoio às empresas, com especial enfoque nas PME, no seu esforço de internacionalização. O que notamos é que as empresas já perceberam que a internacionalização é um fator de crescimento e, portanto, estão cada vez mais orientadas para o mercado internacional. Verificamos também que existem cada vez mais empresas em fase jovem viradas para fora e que vêm o seu mercado geográfico de forma mais ampla, o que significa que estamos no bom caminho.
Quais os setores que apresentam maior potencial e quais deveriam ser deixados de lado, porque não têm potencial?
Nenhum setor deve ser ignorado, desde que haja uma empresa com um produto de qualidade, competitivo, com potencial exportador. Não obstante, há um conjunto de clusters nos quais Portugal tem vindo a apostar mais devido às vantagens competitivas que oferecemos, seja a localização estratégica, seja o talento — que tem sido um dos requisitos fundamentais procurados pelos investidores. E na Aicep estamos alinhados com a estratégia de crescimento e fortalecimento destes clusters. Um fenómeno muito interessante a que assistimos é a reinvenção dos setores tradicionais, como é o caso do calçado e do têxtil, apenas para dar dois exemplos. Apostaram na inovação e competem hoje com os melhores do mundo. De facto, existem vários setores em que os produtos portugueses são cada vez mais reconhecidos internacionalmente, acrescentam valor e são vendidos num crescente número de mercados. Além disso, é de destacar a criação e fortalecimento de clusters tecnologicamente avançados como é o caso dos setores automóvel, aeronáutico e metalomecânico.
Existem vários setores em que os produtos portugueses são cada vez mais reconhecidos internacionalmente, acrescentam valor e são vendidos num crescente número de mercados.
De que formas as startups podem ajudar a potenciar as exportações?
As startups, normalmente de base tecnológica, trouxeram um novo espírito, mais arrojado, e uma constante busca por modelos de negócio inovadores, com novas ferramentas e um novo olhar sobre o mundo. A maioria nasce já com vocação internacional e isso é muito positivo, não só pelo contributo que dão ao aumento das exportações, mas também por ter um efeito de contágio sobre outras empresas e empresários, que procuram novas dinâmicas para os seus negócios, melhores práticas e novas apostas.
Deveria haver maior concertação entre organismos do Estado dedicados a estas empresas?
Naturalmente, quanto maior o grau de cooperação e colaboração melhor, pois estamos todos a trabalhar para o mesmo objetivo de apoiar o crescimento sustentável do país. Entendo que os vários organismos têm colaborado bem e que cada um tem um papel claro e uma missão bem definida neste âmbito.
Quais os mercados que apresentam melhores perspetivas para as empresas nacionais?
A seleção dos mercados é algo que cabe a cada empresa. A abordagem aos mercados internacionais deve ser muito ponderada, com uma efetiva análise e estudo dos riscos e vantagens e do investimento necessário por forma a tomar uma decisão consistente e estratégica, o que naturalmente leva a uma seleção dos mercados mais adequados a cada situação. Cada caso deve ser ponderado em função de um conjunto de fatores
como o contexto do país de destino, a adequação do produto ao mercado, os players concorrentes, entre uma série de outros detalhes em que a Aicep, com a sua Rede Externa presente em mais de 60 pontos no mundo e com uma vasta experiência técnica neste domínio, poderá ser sem dúvida um apoio fundamental.
A abordagem aos mercados internacionais deve ser muito ponderada, com uma efetiva análise e estudo dos riscos e vantagens e do investimento necessário por forma a tomar uma decisão consistente e estratégica, o que naturalmente leva a uma seleção dos mercados mais adequados a cada situação.
Crescer em mercados tradicionais ou apostar em novas praças? Qual a melhor opção?
Ambos. Para desenhar o Plano Estratégico 2017-2019, a Aicep fez um estudo sobre o conjunto de geografias onde temos Delegações e a outros mercados e a conclusão foi de que estamos bem nos locais onde nos encontramos. No entanto, teremos de ponderar quais são os mercados onde vamos necessitar de maior capacidade de resposta. E por isso identificámos 17 mercados core e 33 de diversificação. Temos de priorizar os nossos recursos à medida que o tempo vai evoluindo. Se tivermos de colocar recursos numa geografia que represente milhares de milhões de euros de exportações e outra que represente dezenas de milhões de euros, teremos de seguir um caminho orientado para o que tem maior impacto. Dou-lhe um exemplo: 5% do aumento de exportações em França representa um aumento de 300 milhões de euros na balança comercial, mas 5% de aumento de exportações na Indonésia, outro mercado de dimensão relevante, representa apenas dois milhões de euros. Por outro lado, a nossa ação tem de ser, em parte, balizada pela própria necessidade das empresas e vamos ter de trabalhar com esse equilíbrio.
O reforço da presença da Aicep na Irlanda e na China já tem data marcada?
Ainda não podemos avançar uma data definitiva.
As cativações em torno de dois milhões de euros de que a Aicep foi alvo em 2017 já foram descativadas?
Tal como pude referir a si e aos seus colegas jornalistas durante a apresentação do Plano Estratégico, ainda não. Sabemos que é algo absolutamente transversal ao setor público e não nos colocamos fora desse esforço coletivo.
Já foi efetivado o reforço das equipas de gestores de clientes?
Vai ser feito à medida que haja disponibilidade orçamental no cumprimento do Plano Estratégico 2017-2019.
Para promover mais as exportações e captar investimento a Aicep deveria ter um reforço de pessoal?
Hoje em dia somos 450, considero que devemos estabilizar entre os 450 e 500 colaboradores. Temos um número idealmente previsto de mais 30 recursos para cumprir o Plano Estratégico como um todo, tal como também já tive oportunidade de referir.
Para quando a plataforma de promoção das exportações?
Não será apenas uma plataforma de promoção das exportações. A nossa plataforma digital será a ferramenta primordial para desenvolvermos uma nova abordagem no relacionamento com as empresas que nos vai permitir dar uma resposta mais rápida e eficaz a um leque mais alargado de empresas. Esta plataforma digital irá igualmente permitir personalizar muitos serviços e oferecer cada vez mais produtos de valor acrescentado às empresas nossas clientes. O seu lançamento está previsto para o final do próximo ano.
Para as PME a solução para exportar mais passa pelo comércio eletrónico?
Pode passar para algumas PME. O que verificamos é que o digital, e em particular o e-commerce, pode impactar as empresas exportadoras em duas fases: para iniciar o processo de internacionalização e para aprofundar e acelerar o crescimento internacional ou aceder a novos mercados. O e-commerce não é uma solução única mas é um canal que vemos com dinâmica de crescimento nos próximos tempos e, por isso, as empresas devem estar atentas. Antecipando esta necessidade, a Aicep inscreveu, no seu Plano Estratégico, algumas medidas com o objetivo de potenciar o impacto do e-commerce nas empresas exportadoras. Por exemplo, através de programas de capacitação para a dinamização das exportações online de produtos portugueses em mercados internacionais, do reforço da oferta de ações de formação especializada e personalizada a setores específicos e da criação de um programa de apoio a PME em fase de internacionalização.
Como planeiam fazer a angariação de PME que estejam identificadas como prioritárias para serem clientes da agência?
Através da nossa rede de atendimento e Lojas de Exportação. Existe um conjunto alargado de empresas com capacidade exportadora que ainda não estão “encarteiradas” pela Aicep e que queremos acompanhar com um objetivo muito claro, alargar a base exportadora do país. Para isso temos de ter ferramentas e mecanismos de apoio às empresas eficazes e é neste âmbito que surge a criação da plataforma digital que já mencionei. No que toca ao desenvolvimento da nossa atividade comercial, existe outro aspeto que tem a ver com as necessidades das empresas e a sua segmentação. As empresas que necessitam de um acompanhamento próximo e regular vão continuar a ter um interlocutor dentro da Agência que tenha uma visão global sobre a sua operação até para, por vezes, conseguir antecipar o apoio que possam precisar. Ou seja, vamos trabalhar em duas vertentes complementares: por um lado, através da plataforma digital que nos vai permitir apoiar mais clientes e, por outro, haverá um acompanhamento comercial mais customizado por segmento. Queremos com isto dar uma resposta mais rápida e eficaz a um leque mais alargado de empresas o qual, esperamos, seja cada vez maior.
Existe um conjunto alargado de empresas com capacidade exportadora que ainda não estão “encarteiradas” pela Aicep e que queremos acompanhar com um objetivo muito claro, alargar a base exportadora do país.
A potencial diminuição dos apoios comunitários vai ser um golpe para as empresas portuguesas? Estão preparadas para continuar a exportar sem esse apoio?
Ainda é prematuro falar sobre esse tema do qual se desconhece, para já, o enquadramento.
Além dos fundos comunitários e linhas de tesouraria de que outros apoios precisam as empresas?
A Aicep tem identificado a necessidade de prestar serviços diferentes às empresas, nomeadamente na área da formação e capacitação. Consideramos que é importante termos uma base alargada de formação geral às empresas para ganharem as competências de gestão necessárias ao desafio que representa um processo de internacionalização. Neste domínio, a Agência irá celebrar parcerias com Universidades para garantir que há programas de formação adaptados às necessidades das nossas empresas. Iremos funcionar como unidade agregadora que, em conjunto com as universidades, oferece às empresas mais uma ferramenta para o processo de internacionalização, nomeadamente formação com foco setorial, segmentada, para ser o mais eficaz possível e de maior valor acrescentado para as empresas. Com o objetivo de aumentar a oferta de produtos customizados e de elevado valor acrescentado, vamos também criar um programa de apoio a PME em fase de internacionalização, por exemplo inspirado nos programas de incubação e/ou aceleração. Esperamos assim reforçar a qualidade do serviço prestado às empresas, fomentando a sua internacionalização.
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Castro Henriques: “As empresas já perceberam que a internacionalização é um fator de crescimento”
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