A CIN passou a entrar no ranking das 40 maiores empresas do mundo do setor das tintas, depois de comprar a italiana Boero. João Serrenho explica ao ECO as razões e os objetivos do negócio.
Em plena pandemia, a CIN fecha a aquisição de uma participação maioritária na italiana Boero e passa a fasquia dos 300 milhões de euros de faturação. Em entrevista ao ECO, João Serrenho explica a operação — “o Made in Italy vale dinheiro” –, a equipa, a razão do negócio e a estratégia de crescimento internacional. O ‘plano de batalha’ está definido, garante o presidente da CIN.
Porque é que a CIN decidiu avançar para o mercado italiano?
Se tínhamos uma participação, era porque considerávamos a empresa interessante, depois proporcionou-se a possibilidade de fazer um negócio e decidimos fazê-lo. Já tínhamos uma participação de 13% há vários anos, estava cotada em bolsa, não os conhecia, depois começámos a fazer trabalhos em conjunto, numas coisas mais, noutras menos, mas há muitos anos que nos seguimos mutuamente. Há uma boa relação e eles têm uma boa equipa…
Quais foram os valores do negócio para passarem a ser os maiores acionistas?
Esses valores não foram revelados.
E do ponto de operacional, o que acrescenta a Boero à CIN?
Do ponto de vista operacional, acrescenta uma coisa básica que é um bom bocado mais de compras de matérias primas, e esperamos ter algumas sinergias. Também vamos tentar desenvolver sinergias em matéria de investigação e desenvolvimento e desenvolvimento de bases de produtos, porque andamos a fazer as mesmas coisas, a replicar o mesmo trabalho de um lado e do outro. Depois, tem um ‘Made in Italy’ que, para certos negócios e produtos, vale dinheiro…
Também neste setor das tintas?
Também, sim. É uma marca italiana, tem um certo charme.
Quais são os mercados que ganham com esta aquisição?
Nós já estamos a trabalhar com a Boero na Croácia, na Turquia, mas abrir portas para negócios, a partir daquela base de distribuição, é mais fácil do que a partir da Península Ibérica. Para chegarmos a qualquer sítio que se veja temos de atravessar toda a Península Ibérica. Agora, a partir de Itália, podemos ir para países vizinhos, para a Suíça, Áustria, Eslovénia, Croácia, mercados onde a CIN não está.
No comunicado de anúncio do negócio, anunciam “objetivos de expansão muito concretos”…
Vai ser uma estratégia de continuidade. A Boero fez uma operação muito interessante em Cuba, por exemplo, para pintar a Malecon (zona que se estende por oito quilómetros em Havana) e com base na marca “Made in Italy”. Em termos de segmentos de mercado e setores, não há muitas diferenças, porque o ‘bê-á-bá’ do negócio é conhecido de todos, mas quando começamos a entrar nas especialidades, a CIN faz umas coisas e a Boero faz outras, e têm produtos de valor acrescentado. Eles desenvolveram soluções de sistema de isolamento térmico (conhecidos por cappotto) muito interessante e têm uma especialização na área dos iates. A Boero ganha dinheiro e tem uma boa equipa, para nós isso era muito importante.
Porquê?
Porque não vou mandar equipas de Lisboa para Itália, não conhecemos aqueles mercados como eles… A grande decisão nesta operação, nesta história, foi a equipa. Tivemos lá em novembro do ano passado, falamos com todas as pessoas e gostei muito do que vi. A gestão é para ficar a ser feita pelas equipas que já lá estão. Para já fica tudo rigorosamente na mesma, depois, com calma, poderemos colocar uma pessoa ou duas em áreas em que não têm competências e para assegurarem a comunicação de um lado para o outro. De resto, não nos vamos meter em Itália a querer saber mais do que eles. A equipa foi renovada há poucos anos.
Quando é que começaram a avaliar o negócio?
Andámos a falar disto há anos, fomos namorando… Já somos sócios deles há 20 anos, não foi com essa intenção, mas admitia-se esse cenário. E devo até dizer que, há data, acabámos por comprar mais de 2,5% em bolsa e nem nos tínhamos apercebido, porque tínhamos uma ordem de compra permanente. Entretanto, o senhor que liderava a empresa morreu, passou a ter outro líder executivo da família e, entretanto, contrataram um gestor que conhecemos bem. A senhora Andreina Boero decidiu vender-nos a maioria do capital, considerou que ficaria melhor nas nossas mãos.
A pandemia não pôs em causa o negócio?
Quando a pandemia apareceu, ninguém sabia o que isto era… e pelos vistos continua a não saber. Em janeiro de 2020, há um ano, fechámos uma primeira fase do negócio e a segunda fase estava programada para maio, mas em março, com a pandemia, fizemos um compasso de espera, para outubro. Nessa altura, concluímos que isto não iria melhorar, mas o ano da CIN e da Boero estava a correr muito bem. Com a pandemia, as pessoas viram-se para a casa, o negócio imobiliário não está mal, pelo contrário, e quando isso sucede, tudo que é para casa é muito procurado. Mobiliário, bricolage, tintas, são setores a andar bem ou muito bem. Houve uma mudança, porque se começou a vender quantidades mais pequenas, mas o retalho a correr muito bem, com melhores margens, e cá como lá sucedeu a mesma coisa.
O negócio “atira” a CIN para o ranking das maiores empresas do mundo do setor…
320 milhões já é número… e se não fossem as crises que andamos a viver de forma sistemática, já deveríamos ir nos 450 ou nos 500 milhões. Mal se levanta a cabeça… Mas já sabemos o que vamos fazer, o nosso ‘plano de batalha”. A única coisa que mudou agora foi o presidente do conselho de administração, que sou eu. Ser presidente de uma empresa em Itália, para onde não posso ir, é um pouco complicado, mas tem de ser. Viva o zoom.
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CIN compra a Boero. “O ‘Made in Italy’ vale dinheiro”
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