Continental Mabor: “No total já foram investidos 750 milhões de euros”

A multinacional alemã já investiu um total de 750 milhões desde que se instalou em Portugal. Grupo fatura 830 milhões e tem como objetivo atingir os mil milhões antes de 2025.

 

A multinacional alemã, cujo volume de faturação ultrapassa os 830 milhões, tem planos para continuar a crescer em Portugal. Pedro Carreira, presidente da Continental Mabor, que emprega 2001 pessoas diz que “a empresa paga muito acima da média nacional” e descarta a possibilidade de um conflito laboral, a exemplo do que sucede na Autoeuropa. Em entrevista ao ECO, Carreira explica que o sucesso da Continenta Mabor se deve às pessoas, e que é esse sucesso que tornou possível que a empresa seja considerada pelo quinto ano consecutivo a melhor empresa em termos de qualidade dentro do grupo e a mais eficiente.

Como está a correr o ano?

Estamos a crescer. Até ao momento não me posso queixar, estamos com algumas reticências, mas são reticências habituais nesta época do ano, porque somos uma industria que funciona como a indústria de roupa, com alguma sazonalidade, daí termos mais incerteza no final do ano. Temos uma grande vocação exportadora, mais de 98% do que produzimos é para exportação, 65 a 70% vai para a Europa. O inverno é por isso muito importante para nós, e não estou a falar do inverno em Portugal, com chuva, estou a falar de neve que obriga a mudança de pneus de verão para inverno. Como a nossa grande fatia de mercado é a Europa, estamos sempre dependentes de como é que está a correr o inverno, quando estamos a produzir os pneus de verão. Neste momento estamos a entrar no inverno e estamos a começar a reduzir a produção de inverno porque em março do próximo ano teremos que começar a produzir a coleção de verão porque entretanto os de inverno já saíram do armazém.

Portanto quanto mais rigoroso o inverno melhor?

Quando começa a nevar, nós ficamos felizes, evidentemente que sabemos que há ouras contingências mas é uma boa época para nós, quando começa a nevar sabemos que os nossos pneus de inverno começam a sair.

Em 2016 faturaram 830 milhões e este ano?

Não falamos desses dados até março do próximo ano, mas estaremos nessa ordem de grandezas, a crescer um bocadinho porque entretanto também estamos com o arranque da produção de pneus agrícolas que o ano passado não tínhamos. Se tudo correr bem, se as expectativas que temos relativamente aos diferentes mercados ocorrerem, se não houver nenhuma catástrofe mundial, acreditamos que vamos fazer melhores resultados. A Continental casa mãe já publicou as suas previsões, está a crescer ligeiramente em alta, o que quer dizer que devemos estar iguais.

Quais são os principais mercados para que exportam?

Alemanha, Áustria, Suíça, Bélgica, são os quatro países Benelux, segue-se Espanha, França e a partir daqui estão todos os mercados muito parecidos, e estamos a falar da Alemanha que leva logo 17% a 20%. Fora da Europa é os tais 30% que estamos a produzir para mercados como a Coreia, os Estados Unidos, a China. Temos uma fábrica na China que não é suficiente para o mercado chinês, que está a crescer a um ritmo brutal. Quando se visita uma fábrica numa das cidades mais pequenas da China e eles têm uma fábrica de automóveis que só produz para aquela cidade e não consegue abastecer a cidade toda, temos um bocadinho a noção da dimensão.

Claramente que sim, estamos a contar com mais uma dezena de milhões de euros em 2020 e 2021. Quando a fábrica [de pneus agrícolas] estiver no auge são umas dezenas largas de milhões.

Pedro Carreira

Presidente da Continental Mabor

A fábrica de pneus agrícolas, cuja inauguração ocorreu este mês, já está a laboral a 100%?

Estamos bem longe da capacidade máxima da fábrica, mas está a laborar dentro do que era suposto nesta fase de arranque. Temos previsto 18 meses para a fábrica subir para o seu nível máximo, portanto está a produzir devagarinho, o mercado está a perceber que estamos de volta com a nossa própria produção de pneus agrícolas e portanto isto é algo que vai levar algum tempo até as grandes carteiras de encomendas começarem a aparecer.

Essa fábrica pode catapultar os resultados da Continental Mabor para outros patamares?

Claramente que sim, estamos a contar com mais uma dezena de milhões de euros em 2020 e 2021. “uando a fábrica estiver no auge são umas dezenas largas de milhões.

Daí dizer que quer atingir os mil milhões de euros de faturação, em 2025.

Antes de 2025, é esse o nosso objetivo. O grupo Continental em Portugal fatura 1,2 mil milhões de euros, nós sozinhos realizamos 830 milhões de euros, estamos muito próximo desse número, falta-nos 170 milhões. Só aquele projeto em 2020 deve andar muito próximo dos 900 milhões. Entretanto estamos a fazer um projeto de expansão da fábrica de pneus ligeiros, é um investimento faseado, dependendo dos anos, estamos a realizar investimentos de 40, 50 ou 60 milhões de euros, continuando com este ritmo de investimentos claramente que vamos atingir esses montantes bem mais cedo.

Com o aumento de investimentos, a Continental Mabor tem também reforçado o número de colaboradores.

Sim, ultrapassamos a barreira dos 2.000 funcionários, mais concretamente 2.001.

Não tem tido dificuldade de encontrar mão-de-obra?

Ainda não tive. Acredito que com a recuperação da economia que se começa a fazer sentir, sim. Em Braga, já me começam a aparecer folhetos na caixa do correio à procura de operadores de produção, que é algo que não acontecia há anos. A taxa de desemprego está a descer o que é bom para a economia, mas para as empresas a falta de operadores não é bom, mas para já ainda não temos problemas.

As pessoas na Continental Mabor são bem pagas?

Há sempre dois pontos de vista quem é licenciado e está a trabalhar como operador de produção, esses talvez não fiquem satisfeitos, por outro lado quando olhamos para a média nacional de salários…

Considera que os seus trabalhadores são bem pagos?

Muito acima da média nacional.

Por isso é que a empresa tem tido paz laboral?

Se queremos pessoas felizes e eficientes com os resultados que temos ao longo destes anos é porque temos feito, ao longo do tempo, aumentos salariais acima da média nacional e garantido que as pessoas estão satisfeitas por trabalharem aqui.

Como é que olha para a questão da Autoeuropa?

A Autoeuropa é um cliente nosso e terá as suas questões internas por resolver, as quais não comento.

Mas a casa mãe nunca lhe falou no facto de haver uma greve na Autoeuropa, uma empresa alemã…

Teremos falado e tirado as nossas conclusões porque como é evidente as empresas alemãs não gostam muito de algumas questões…

Na Alemanha também há greves.

Pois essa é que é a questão. A casa mãe perguntou-nos se corríamos algum risco, se havia aqui as confusões que estariam a existir na Autouropa. A resposta é: não. Na Autoeuropa existem um conjunto de factos que ocorreram, como o do líder histórico que saiu, há eleições…

A minha questão era a de perceber se tinham discutido internamente na empresa se havia algum risco na Continental Mabor?

Como cidadão português orgulho-me de ter cá empresas como a Autoeuropa porque são uns produtores de emprego brutais, com um potencial ainda maior tal como existe a Mitsubishi, tal como existe a PSA em Mangualde, aliás a PSA passa quase despercebida mas tem uma dimensão brutal, e portanto são empresas que atraem também eles outros fornecedores e ajudam a economia. Espero para bem de todos que rapidamente resolvam as questões todas para vermos então os milhares de carros a sair. Do nosso ponto de vista há uma questão, há uma empresa alemã e perguntam o que é que se passa, explicamos, mas não há alertas vermelhos.

As pessoas aqui trabalham aos sábados?

Trabalhamos 24 horas por dia, sete dias por semana, 331 dias por ano. Isto é assim há muitos anos, pelo menos desde que entrei, em 1988. Temos uma paragem em agosto, em que as equipas se vão alternando, e depois há uma semana em que a fábrica para toda, durante a qual é feita a manutenção pesada. Trabalhamos todos os dias, às vezes trabalhamos alguns feriados. Na Páscoa, como somos um país católico, por tradição, não se trabalha. E depois no Natal temos uma semana de paragem entre o Natal e a passagem de ano, e arrancamos dia 2 de janeiro.

Como é que se explica o sucesso da Continental Mabor?

Os portugueses tiveram uma forma de encarar o processo que fez com que esta fábrica fosse desde o início um sucesso. Esta era uma fábrica que era para ser low tech, com pneus muito pequeninos, mas isso acabou por não acontecer. O sucesso passa pelas pessoas, sem qualquer discussão. Não digo isto por ser bonito dizer, digo porque basta olhar. Não se consegue ter uma fábrica, dizendo que se paga bem e as pessoas sentirem-se mal. No fim de tudo o que somos hoje são as pessoas. Há um completo envolvimento das pessoas desde o primeiro dia, e só isso justifica que esta fábrica que seja cinco anos a melhor unidade, em termos de qualidade, do grupo. Num grupo que tem um total de 20 fábricas e produz 160 milhões de pneus no mundo inteiro.

A impressão que os alemães tinham dos portugueses não era muito boa, hoje somos recebidos de tapete vermelho, somos tidos no grupo inteiro Continental como uma equipa de referencia

Pedro Carreira

Presidente da Continental Mabor

Para além de serem a melhor fábrica em termos qualidade são também a mais eficiente.

Temos a fábrica mais eficiente do grupo e a impressão que os alemães tinham dos portugueses não era muito boa, hoje somos recebidos de tapete vermelho, somos tidos no grupo inteiro Continental como uma equipa de referencia, mandamos pessoas para toda a parte para dar formação às outras fábricas, para dar apoio.

Isso justifica os montantes de investimento realizado em Lousado?

Esta fábrica tem tido o privilégio de estar sempre a crescer, no total já foram investidos cerca de 750 milhões de euros.

A aposta em investigação e desenvolvimento é também elevada?

Gastamos uns milhões de euros por ano em formação e desenvolvimento. Até julho tinha tido uma pessoa todo os dias fora da fábrica a dar formação, a implementar um projeto, a explicar os nossos processos. É algo que nos orgulha e temos que manter uma boa relação e é por isso que a Continental continua a apostar em Portugal por causa das pessoas que cá estão. Não tem nada a ver comigo — estive dez anos fora da fábrica — mas sim com quem cá está, desde o operador ao porteiro há todo o empenho no seu dia a dia e estas visitas são o expoente máximo.

Como é que perspetiva a empresa daqui a uns anos?

Nessa altura terei finalmente um acesso à fábrica condigno onde possamos fazer a separação entre carros, camiões e pessoas. Teremos os parques de estacionamento todos para os nossos funcionários e teremos uma fábrica bem melhor do que aquela que é hoje, acima dos mil milhões de euros. É aquilo que perspetivo para 2025.

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