“Crise política pode atrasar investimentos em meses, mas não os vai cancelar”

Diogo Malato Moura é o novo responsável de Corporate & Institutional Banking do BNP Paribas em Portugal. Em entrevista, diz que a instabilidade política não significa um "desvio grande" nos negócios.

O novo responsável pela área de Corporate & Institutional Banking (CIB) do BNP Paribas em Portugal garante que o banco de investimento não verifica “um desvio grande” nas estratégias das empresas devido à instabilidade política, o que se prova pelo contínuo interesse de grupos estrangeiros como a Air France-KLM na TAP. “Em termos de negócio, não mudará muito o que tem sido a trajetória da economia portuguesa”, afirma Diogo Malato Moura, admitindo atrasos de “alguns meses”.

Diogo Malato Moura passou a liderar as equipas de Global Banking, Global Markets e Financial Institutions Coverage — as três categorias de Corporate –– no BNP Paribas em Portugal. Na primeira entrevista desde que assumiu esta pasta, diz ainda, sobre o Novobanco, que ter mais um “banco cotado é excelente”.

Neste novo cargo, pretende fazer uma abordagem mais integrada da área de Corporate Institutional Banking (CIB). Como?

Maior interligação na banca de investimento como um todo. Além disso, num período de mais volatilidade como este, áreas como os mercados financeiros terão um maior volume de negócios e, se calhar, a área corporate pode retrair-se durante alguma paragem que as empresas façam ou ponderem nos investimentos ou financiamentos. Não acredito que aconteça, mas é isto que quer dizer uma abordagem integrada. Há uma diversificação das fontes de rendimento na banca de investimento em que uma pode compensar outra. Antigamente, havia muita separação e não se olhava bem para o impacto de uma oferta pública inicial nos mercados, por exemplos. Hoje, com esta abordagem integrada, consegue-se ajudar melhor uma empresa que está a decidir um financiamento a proteger alguns riscos de curto prazo usando os mercados financeiros. Colocam-se mais serviços à disposição.

O mercado transacional português ainda está em queda, apesar da descida dos juros. No conjunto de janeiro e fevereiro, houve menos 40% de operações de M&A. Quais são as suas expectativas?

Acho importante dar um contexto como introdução. A economia portuguesa, vista de fora, está muito bem: a crescer acima da média europeia (1,9%) e está previsto para 2025 e 2026 que cresça acima de 2%. As principais bolsas europeias e a portuguesa têm tido uma consistente subida nestes últimos tempos. Se olhar para a dívida pública – que também é importante para a imagem das empresas lá fora – o S&P acabou de subir o rating, e o custo de financiamento das obrigações, que estão a ser transacionadas pelas empresas portuguesas, está ligeiramente abaixo da média das maiores empresas europeias. Portugal subiu, mas menos do que a Alemanha. O que é que isto quer dizer? Os mercados estão a dar um risco baixo às empresas portuguesas de terem problemas de default. Portanto, os indicadores a nível de mercados de capitais estão bons e os resultados das empresas, na sua maioria, também. Os resultados dos bancos em Portugal ainda melhores.

Há aqui um conjunto de fatores positivos para as empresas olharem para as oportunidades de usar o mercado de capitais. Qualquer empresa que esteja a fazer planos de investimento pode pensar no mercado de capitais para se financiar ou até reestruturar se tiver outro tipo de objetivos estratégicos. Já há muito tempo que não se uniam tantos fatores positivos. A descida dos juros, este novo boost que a União Europeia quer dar à indústria da defesa, o PRR – Plano de Recuperação e Resiliência… Penso que haverá mais transações (M&A, colocações em bolsa, aumentos de capital…) e que as empresas estarão a pensar mais nisto do que há um ano.

Por outro lado, Portugal enfrenta uma nova crise política. Acha que esta situação está a afetar as decisões de investimento das empresas ou o sentimento dos investidores estrangeiros?

Já houve declarações de interessados em fazer aquisições em Portugal que disseram “se tivermos de esperar pelo poder político, esperaremos”. Potenciais compradores da TAP vieram dizer à imprensa que se calhar têm de esperar que o Governo mude ou se define, mas estão aqui à espera. Não estamos a ver um desvio grande. Eu acho que esta instabilidade política é relativa. Existe, mas em termos de negócio não mudará muito o que tem sido a trajetória da economia portuguesa. No máximo, poderá atrasar alguns meses algumas decisões, mas não as cancelar. É como os problemas geopolíticos.

Como a suspensão do IPO da Luz Saúde devido às “condições de mercado adversas” causadas pela tensão no Médio Oriente…

Está a tocar em dois pontos importantes. O bom nisto é que ninguém diz exatamente “vamos parar”. Na minha opinião, uma empresa não se gere a três ou quatro meses. Tem sempre de se definir o que é o curto prazo, o médio prazo ou o longo prazo. Tem havido imensa flutuação do euro/dólar. Se eu estiver preocupado com isto, não vou alterar a minha atividade por causa de flutuações cambiais. Se calhar, vou procurar proteger a curto prazo o risco da minha atividade ao risco cambial, mas não vou estar a mudar a minha atividade.

O Novobanco é um bom inquilino para a bolsa de Lisboa?

Eu acho que, com os resultados que apresentou, com a saúde financeira que tem, ter mais um banco de novo cotado é excelente.

Diogo Malato Moura, head Corporate & Institutional Banking Front Office do BNP Paribas, em entrevista ao ECO.Hugo Amaral/ECO

Conhece bem a área de mercados de capitais, dado que foi o que ditou o seu percurso até aqui, correto?

Fui nomeado no início de janeiro, provavelmente, em parte devido ao sucesso da parte de mercados de capitais. Sou um produto português, porque fiz a licenciatura e o mestrado em Portugal e comecei na banca de investimento em Portugal, no Banco Santander de Negócios [BSN, que foi integrado no Banco Santander Totta]. Estou no BNP há praticamente 20 anos. Em 2004, fui para França por aventura pessoal para aprender francês e, em 2017, surgiu esta oportunidade de voltar a Portugal para prolongar o pequeno projeto da sala de mercados (Global Markets) e estendê-la. Foi o que aconteceu: passámos de 60 para 400 pessoas. Tornámo-nos na maior sala de mercados do país.

Trabalham para quantas geografias?

Estamos a servir clientes portugueses em Portugal, portugueses lá fora e clientes europeus a partir de Portugal. Basicamente, todos os países da Europa continental e Reino Unido.

E agora, de que forma estão estruturadas as equipas que lidera?

Esta extensão compreende o meu perímetro específico anterior, a sala de mercados, e a banca de investimento para grandes empresas (fusões e aquisições, advisory, ofertas públicas de colocação em bolsa, emissão de obrigações…). São mais praticamente 350 colaboradores nesta área, cujo contexto é o mesmo: servir clientes portugueses e na Europa, sobretudo grandes institucionais (instituições financeiras, fundos de pensões, seguradoras, banca…).

Primeiro: é preciso capacidade de gerir muitas pessoas. Segundo: após a aposta que o banco fez em Portugal — como se pode ver pelos mais de nove mil colaboradores aqui e ter adquirido uma sede — quer tentar aumentar o negócio da banca de investimento do BNP Paribas e servir grandes empresas institucionais com alguém mais local. Já é um negócio bastante relevante em Portugal, mas a ideia é torná-lo ainda maior e, provavelmente, fazer também com que estas grandes empresas e institucionais beneficiem de outras entidades locais (empresas) que o banco também tem. Aí podem-se coordenar muito melhor quando são bem servidas.

Banca de investimento para grandes empresas já é um negócio bastante relevante em Portugal, mas a ideia é torná-lo ainda maior

Em que sentido?

Imagine que temos empresas que estão a trabalhar connosco numa emissão em bolsa. Mais tarde, podem surgir oportunidades para outras entidades que temos que fazem serviços de factoringaí não estamos a falar de banca de investimento, mas de uma banca de investimento mais próxima e que conhece mais intimamente as necessidades desse cliente.

Fica tudo dentro do ‘ecossistema corporate’, porque em fases diferentes precisarão umas das outras.

Exatamente. Nem tudo é banca de investimento, mas é um diálogo de banca de investimento que se discute sempre a outros níveis altas esferas da gestão das empresas e que permite conhecer melhor o cliente. Ou seja, além do M&A, emissão de dívida, aumentos de capitais ou colocações em bolsa e grandes empréstimos, há muitas outras necessidades destas grandes empresas. Por exemplo, uma empresa pode precisar de ajuda na tesouraria. Há muitas entidades do grupo que podem ajudar nestas componentes, como a seguradora Cardif.

Diogo Malato Moura, head Corporate & Institutional Banking Front Office do BNP Paribas, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

Já começaram o recrutamento de mais 80 pessoas para este departamento? Qual é o seu peso na faturação global do banco?

Já. Aos 750 [400 de mercados e 350 de banca de investimento] iremos acrescentar 80 talentos qualificados. O BNP está cá há quase quatro décadas. Estivemos na primeira emissão de obrigações verdes [green bonds] em Portugal e na oferta pública que a Greenvolt fez para ser colocada em bolsa. Em 2023, atingimos o objetivo de ser o número um em banca de investimento em Portugal e posso-lhe dizer que é a área com mais receitas dentro do BNP Paribas.

Fez referência à próxima sede em Lisboa. Quando será a mudança para o edifício no Parque das Nações?

Partiremos bem cedo. Vai começar a partir do segundo semestre. Vai ter um calendário [para uma transição faseada]. Foi um investimento imobiliário do banco, após o lançamento das marcas da Nickel e da FLOA, duas marcas inovadoras do BNP, que decidiu estendê-las ao negócio local.

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