Há um antes e um depois nas Finanças: Centeno era "arrogante" enquanto Leão tem uma atitude "muito mais construtiva". A avaliação é do deputado do PSD, Duarte Pacheco.
Há quase 30 anos no Parlamento, Duarte Pacheco já lidou com vários ministros das Finanças e diferentes líderes do seu partido. Sobre Centeno diz que se achava o “supra sumo da barbatana” e admite que a relação com João Leão é melhor. Relativamente a Rui Rio, o deputado do PSD diz perceber a estratégia, a qual reforça a “credibilidade” do líder. Em entrevista ao ECO, o social-democrata não foge à polémica do apoio à recandidatura de Luís Filipe Vieira: assume diferenças com Rio nesta matéria e separa o projeto para o clube dos negócios e processos judiciais do atual presidente do Benfica.
Na relação do PSD com o Governo, o diálogo é melhor com João Leão do que era com o Mário Centeno?
Vamos ter agora o primeiro Orçamento para fazer essa avaliação. A relação melhorou por uma razão muito simples: podemos defender aquilo em que acreditámos sem arrogância na lógica de acharmos que somos o supra sumo da barbatana e os outros são todos uns ignorantes. Sentimos que esse era muitas vezes o pensamento do doutor Mário Centeno. Isso provocava atrito porque nenhum de nós é o supra sumo da barbatana e todos temos de ter a humildade de pensar sempre que há argumentos tão válidos como os nossos que devem ser analisados, ponderados. Porventura têm é um enquadramento ideológico teórico que é completamente diferente do meu.
Dei muitas vezes aulas e um aluno podia dizer-me que isto era branco e outro dizer que isto era preto e tinham ambos a nota máxima porque o que contava é se estava bem justificado o porquê de terem chegado aquela conclusão. Muitas vezes o doutor Mário Centeno, nos debates, entrava como se entrasse para um campo de boxe na lógica de vir aqui para sair como um vencedor, dizendo coisas que ele sabia que muitas vezes não eram verdade, acabando por fazer uma afirmação qualquer que sabia que não era verdade e piscava o olho para a bancada socialista como quem diz “eu já preguei mais uma”. Isso não é aceitável em democracia. O atual ministro das Finanças — já nestes meses, mas vamos ver agora no debate — mostrou uma postura muito mais construtiva ao nível do Parlamento.
Considera que Rui Rio faz uma oposição mais branda face ao estilo de Passos Coelho?
São dois estilos completamente diferentes. Compreendo os dois e compreendo a posição do presidente do partido. Se falar todos os dias, as pessoas deixam de dar atenção ao que estou a dizer. Portanto, vale mais falar quando entendo que há algo realmente importante. Em segundo lugar, algo que não sei se magoa mais até o PS do que propriamente a pessoa gritar mais alto que é o seguinte: se esta proposta é boa, independentemente de onde vier, estou lá a apoiá-la. Isso reforça a sua credibilidade. Vimos isso recentemente com a comissão de inquérito ao Novo Banco. Rui Rio tem uma perspetiva diferente. Se nos dividirmos todos, se os laranjas só votaram no que é laranja, se o outro que é verde só votar no que é verde, etc, o PS vai passando entre os pingos da chuva. António Costa pensa que eles nunca se vão conseguir entender. Não, não. Tem aqui um sinal inequívoco: estamos aqui para defender o que é melhor para o país. Se é melhor para o país fazer entendimentos com quem quer que seja para aprovar uma determinada medida, aprovámos essa medida.
Numas futuras eleições, caso o PSD não tenha maioria, admite que possa haver um diálogo com o PAN?
Os entendimentos têm de ser feitos depois dos atos eleitorais pela direção do partido. O que está em cima da mesa atualmente são as eleições autárquicas. Aí a posição do último Conselho Nacional é que pode haver entendimentos com todos os partidos da nossa área política e mesmo não sendo alguns da nossa área política, com a exclusão do partido Chega se mantiver as mesmas posições radicais em muitas áreas completamente fundamentais. As conversações podem ser sempre possíveis.
Mas posso presumir que o PSD nunca governará com qualquer acordo com o BE/PCP. No entanto, há exemplos por toda a Europa de partidos verdes em coligações com partidos de centro esquerda e direita. Essa é uma possibilidade em Portugal?
Há muitas matérias em que convergimos e outras em que divergimos. Tudo é possível quando as pessoas querem realmente entender-se. Ainda recentemente sobre o governador do Banco de Portugal, ambos, PAN e PSD, estivemos no mesmo lado dizendo que devia haver um período de nojo para quem saia de cargos governativos das Finanças e que quer ir diretamente para o BdP. Não vamos é meter a carroça à frente dos bois.
O PSD está mais próximo do PAN do que do Chega?
Há áreas em que o Chega está muito mais longe do PSD, é verdade.
Duarte Pacheco assume discordância com Rio no apoio a Luís Filipe Vieira
Rui Rio não comentou o facto de o senhor deputado ter estado na comissão de honra de Luís Filipe Vieira. Não concorda com o seu líder quando este diz que “não faz sentido” haver esta ligação próxima entre políticos e o futebol profissional?
É uma opinião do presidente do partido. Se tivesse a mesma opinião que ele, não tinha aceite o convite que me foi feito. É verdade, não vale a pena estar a dizer aqui outra coisa. Percebo que é difícil, mas muitas vezes nós próprios queremos ir atrás do que é politicamente correto… Isso [o apoio] não interfere minimamente. Deixem-nos ser nós próprios. Se a pessoa gosta de futebol, gosta de futebol. Se gosta de tauromaquia, gosta de tauromaquia. Conheço agentes políticos que antes de assumirem as suas funções iam assistir a touradas. Assumiram funções e deixaram de ir. Qual o motivo para se tirar uma parte do que gostam só porque assumiram determinada função? Não fiquei a apreciar mais a gestão do António Costa ou do Mário Centeno na pasta das Finanças por serem benfiquistas.
O senhor deputado está, aliás, a par de forma profunda na polémica do Novo Banco e nos créditos do presidente do Benfica que provocaram uma perda de 225 milhões de euros. Não sente que poderá interferir com as suas funções na AR?
Se for assim, automaticamente afasto-me imediatamente do debate. Não me sinto porque acredito no projeto dele para o Benfica. Ponto final. Se ele deve ao Novo Banco tem de pagar. Gosto do Pedro Abrunhosa. Há quem pergunte no PSD e no CDS face ao que ele dizia do professor Cavaco Silva, de quem sou fã, se eu gosto dele. Sim, gosto, porque gosto das músicas e das letras do Pedro Abrunhosa. Vou ao concerto. Temos de separar as coisas. Aqui [Benfica] é a mesma coisa. Acredito no projeto que ele tem para o Benfica. Se ali ao lado fez uma gestão incorreta de património que levou a perdas e que tenha de ser responsabilizado por isso, então que a justiça atue. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
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Duarte Pacheco diz que relação com Leão é melhor. Centeno achava-se o “supra sumo da barbatana”
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