“É enorme a imoralidade bancos receberem mais do BCE do que pagam nos depósitos”

Miguel Costa Matos critica resistência dos bancos em subir juros dos depósitos. Deputado do PS diz que Parlamento está atento, mas que Banco de Portugal podia forçar setor a dar mais pelas poupanças.

O deputado do Partido Socialista (PS) Miguel Costa Matos condena a atuação dos bancos de não aumentarem os juros dos depósitos no atual contexto, considerando ser uma “enorme imoralidade” o facto de estarem a receber mais pelos fundos em excesso que deixam nos cofres do Banco Central Europeu (BCE) do que aquilo que pagam pelas poupanças das famílias.

Em entrevista ao ECO, o deputado entende que o Banco de Portugal devia fazer uma “recomendação macroprudencial” no sentido de forçar o setor a remunerar melhor os depósitos e adianta ainda que o Parlamento estará atento “ao evoluir da situação”.

Recentemente, o governador do Banco de Portugal disse que os bancos têm de melhorar a remuneração das poupanças, mas pediu paciência. Concorda com esta observação?

O governador do Banco de Portugal foi claro em duas coisas: que espera que, com a subida das taxas de juro, as comissões baixem e que espera que os juros dos depósitos aumentem. Espero que os bancos sejam sensíveis àquilo que o governador disse e espero que o governador seja consequente com aquilo que afirmou, porque os portugueses têm toda a expectativa de que o Banco de Portugal possa exercer o seu papel de regulador perante a banca.

Se adotou regras macroprudenciais em que limitou a duração dos empréstimos e, consequentemente, aumentou o valor das prestações para as pessoas, também pode fazer recomendações macroprudenciais para que as pessoas possam ter os seus depósitos com uma remuneração justa e que essa remuneração justa seja também um incentivo à poupança, permitindo que os bancos tenham mais recursos para financiarem a economia.

Há alguma forma de o Parlamento intervir neste processo? Admitem intervir se não houver uma atuação da parte dos bancos em remunerar melhor os depósitos?

O Parlamento tem de analisar o que é a reação dos bancos a esta nova situação e procurar perceber por que é que em Portugal as taxas de juro dos depósitos são das mais baixas da Zona Euro e são significativamente mais baixas do que as taxas de juro que são cobradas às pessoas [nos empréstimos]. Essa margem financeira pode haver, mas há limites do bom senso. O Parlamento certamente irá acompanhar nos próximos meses esse evoluir de situação.

Se adotou regras macroprudenciais em que limitou a duração dos empréstimos e, consequentemente, aumentou o valor das prestações para as pessoas, o Banco de Portugal também pode fazer recomendações macroprudenciais para que as pessoas possam ter os seus depósitos com uma remuneração justa.

Como vê o comportamento dos bancos portugueses em relação a uma resistência de subir os juros dos depósitos?

É um bocadinho incompreensível. Tanto se fala de mercados livres e de concorrência e, neste caso, a concorrência não parece estar a funcionar no sentido de assegurar que as pessoas possam ter uma remuneração justa dos seus depósitos. Faria todo o sentido que assim fosse, pois em muitas circunstâncias os bancos estão a ser mais bem remunerados pelo BCE para terem as suas reservas depositadas em Frankfurt do que estão a pagar aos portugueses que têm os seus depósitos em Portugal. Isso é uma situação de enorme imoralidade de estarem a receber do BCE mais do que estão a pagar às pessoas [nos depósitos].

Não sei o que os bancos ganham com isso. Há um claro problema reputacional nos últimos anos. Os bancos prestam um enorme serviço à nossa economia. São importantíssimos a financiar as nossas empresas e as famílias e poderiam agora ser justos com as pessoas e, no fundo, oferecer uma remuneração dos depósitos adequada. Não sei porque não o querem fazer, mas deveriam refletir sobre isso.

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