“Estamos atentos a aquisições no Douro. Há alguma oferta, mas os preços ainda estão altos”

Apesar de “focada” no Douro, a Sogevinus admite "avaliar oportunidade de negócio" para entrar noutras regiões de vinhos. “A exportação está mais difícil, mas continuamos na luta”, refere Pedro Braga.

Com quatro propriedades no Douro – Quinta de S. Luiz, Quinta do Arnozelo, Quinta do Bairro e Quinta da Boavista –, num total de 250 hectares de vinhas, a Sogevinus diz estar “atenta” a possíveis aquisições nesta região demarcada, onde “existe alguma oferta, mas ainda bastante valorizada”.

Prestes a inaugurar um hotel na zona ribeirinha de Vila Nova de Gaia, que representou um investimento de 50 milhões de euros, Pedro Braga, diretor-geral do grupo que detém as marcas Calém, Kopke, Burmester, Barros ou Velhotes promete “avaliar” a entrada noutras regiões “se surgir uma oportunidade de negócio” e reconhece que “a exportação está mais difícil”.

A Sogevinus faturou 46,7 milhões de euros em 2023, 4,4% acima do ano anterior, com lucros de 6,3 milhões de euros. Foi o melhor ano de sempre para o grupo. Como vai fechar este ano?

Alinhado com o ano passado no volume de negócios, cerca de 47 milhões de euros de vendas. Em termos de lucros, estaremos um bocadinho abaixo, mas isso mais por algum impacto dos custos financeiros pelos investimentos que fizemos no passado e que ainda estamos a pagar, como na Quinta de São Luz com a abertura do Vine House e, recentemente, nas caves da Cálem.

O novo hotel [Tivoli Kopke Porto Gaia Hotel], apesar de ser um projeto do grupo, é completamente à parte, vai ser gerido completamente à parte do negócio dos vinhos e do [resto da atividade do] turismo.

Porque foi conservadora a meta de crescimento?

Porque já tínhamos essa expectativa de que, essencialmente na exportação, alguns mercados poderiam não corresponder àquilo que foram as vendas do ano passado. É o caso dos Países Baixos e também do Canadá, que tem muito a ver com as reorganizações que o próprio mercado está a fazer: funciona com monopólios e está a haver reestruturações na forma como compram e como fazem stocks e isso está a ter algum impacto no nosso negócio.

No Reino Unido, depois das alterações fiscais que obrigaram a uma antecipação de vendas, este ano estamos todos a sofrer com isso. Alguns mercados compensaram, nomeadamente um a que estamos bastante expostos, que é a Dinamarca. Ajudou um bocadinho a minimizar esta descida nos outros, embora não tenha sido totalmente compensadora.

Holanda, Dinamarca e França são os nossos três principais mercados externos. A exportação está mais difícil, mas continuamos na luta. Tem também a ver com a diminuição do consumo de vinho a nível mundial. Julho e agosto foram terríveis relativamente às nossas expectativas.

Não temos uma justificação certa, mas foram meses muito difíceis. Houve alguma recuperação a partir de setembro, mas não foi total e achamos que não vamos chegar àquilo que era o nosso objetivo na exportação, que vale 36% do total.

Por outro lado, quer o mercado nacional [peso de 39%], quer o turismo [vale 25% das receitas] – já começa a ser uma parte importante do nosso negócio – estão dentro daquilo que eram as nossas expectativas relativamente aos objetivos que tínhamos no plano de negócios de 2024.

Mantêm a operação própria nos EUA?

Sim. É uma importadora, que depois trabalha com distribuidores. Há 10 anos achámos que fazia sentido este modelo. Tínhamos mais dois sócios connosco e agora há alguns anos que estamos sozinhos. Representamos também alguns vinhos portugueses lá. É uma estrutura pequena porque faz a importação e depois trabalha com cada um de distribuidores.

Pedro Braga, diretor-geral da Sogevinus, em entrevista ao ECORicardo Castelo/ECO

O mercado nacional vale 39%, o que, para uma empresa em que o vinho do Porto vale nove em cada dez euros vendidos, é bem acima da média.

Vem do histórico da Sogevinus, muito por causa das marcas Cálem e Velhotes. Está a comportar-se bem. Tivemos também aqui alguns altos e baixos, nomeadamente julho e agosto, tal como na exportação.

Claro que o turismo ajuda no crescimento do mercado nacional, mas temos um peso muito grande não de turistas puros, mas de emigrantes por causa da nossa principal marca, Velhotes, que é a marca de Porto mais vendida em Portugal, em euros e em volume. E foi aí que se sentiu mais a queda: na venda de Velhotes no canal off-trade e no mês de agosto, por emigrantes.

Gostavam de reforçar o peso das exportações?

Sim, a exportação ainda tem potencial de crescimento e o crescimento de volume de negócios que estamos a perspetivar para 2025, cerca de 5%, virá essencialmente da exportação. Assenta numa aposta nos nossos mercados de destino habituais, nomeadamente nos Países Baixos e na Dinamarca. A nossa principal marca na exportação é Kopke [faz 75% das vendas no exterior].

A Sogevinus só está presente no Douro. Nunca pensaram ir para outras regiões?

Achamos que ainda temos muito para fazer e muito potencial no Douro. Este tem sido o nosso foco. Fazemos planos estratégicos a cinco anos, estamos no ciclo 2023 – 2027, ainda no início, e não incluímos esse assunto. Fazemos sempre revisões intercalares, mas…

O acionista Abanca nunca vos pediu para olharem para outras regiões?

Temos um processo de planeamento estratégico muito rigoroso porque o nosso acionista é um banco. Apesar de sermos um negócio tradicional, a gestão é muito controlada, é muito gestão de banco. Não quer dizer que de ano para ano, como as coisas mudam muito, não possa haver um novo driver de crescimento com potencial e que, de repente, possamos avaliar.

Na análise estratégica curiosamente já esteve lá várias vezes [a entrada noutras regiões], mas nunca passamos dali [do papel]. A decisão foi focar no Douro. Mas se surgir uma oportunidade de negócio iremos avaliar.

Agora com a Quinta de São Luiz e com a Quinta da Boavista [uma propriedade de 80 hectares comprada em 2020 aos brasileiros da Lima Smith], temos marcas DOC Douro com uma força e uma notoriedade tão grande que vemos muito potencial e estamos muito focados em desenvolver o negócio a partir dessas marcas.

Temos um processo de planeamento estratégico muito rigoroso porque o nosso acionista é um banco. Apesar de sermos um negócio tradicional, a gestão é muito controlada, é muito gestão de banco.

Pedro Braga

Diretor-geral da Sogevinus

No vinho do Porto deixaram de fazer marcas de grande distribuição?

Temos ainda um contrato, residual. Antes tínhamos uma dependência grande, agora só fazemos uma marca para a Auchan. Estamos muito concentrados no desenvolvimento das nossas marcas.

Produz uma média anual superior a 9,5 milhões de garrafas (8,5 milhões de Porto e 1 milhão DOC Douro). Como vai evoluir a produção?

Com o nosso foco na premiumização até pode baixar o volume.

Detém quatro quintas – Quinta de S. Luiz, Quinta do Arnozelo, Quinta do Bairro e Quinta da Boavista – com um total de 250 hectares de vinhas na Região Demarcada do Douro? É suficiente ou querem comprar outras?

Temos feito uma aposta de ter algum equilíbrio de produção própria, que achamos que é importante. Mas temos também os nossos viticultores, cerca de 400 mil que temos em carteira e a quem compramos uvas [75% do total], e estamos a trabalhar muito na fidelização e na proximidade com eles. Estamos atentos [a possíveis aquisições].

Há esse potencial e essa possibilidade, mas depende de muitos fatores e é analisado em função das oportunidades que surgem. Mas não estamos fechados a isso, em crescer em produção própria. Existe alguma oferta (de quintas no Douro), mas ainda bastante valorizada, ou seja, os preços estão altos.

Pedro Braga, diretor-geral da SogevinusRicardo Castelo/ECO

No enoturismo, além das três caves (Calém, Kopke e Burmester), têm a Quinta de São Luiz aberta ao público e com uma pequena unidade hoteleira (The Vine House), três lojas e o restaurante em Gaia explorado pelo chef António Vieira. E vão inaugurar dentro de semanas um hotel, com gestão ao grupo Tivoli. Quais são as metas para este novo projeto?

A propriedade e o negócio são nossos. Em função do negócio eles terão direito a um fee de gestão. Temos a expectativa de faturar 10 milhões do primeiro ano do negócio – o que compara com os 12 milhões de euros que vale neste momento toda a nossa operação de enoturismo.

Estamos já com um plano de pré-abertura calendarizado, que está a acontecer e que inclui a contratação de pessoas. Vamos abrir durante o primeiro trimestre de 2025.

Chegará a tempo? Entretanto, multiplicaram-se os hotéis na cidade.

É verdade que o desafio e a concorrência são grandes. Mas também por isso é que nos juntámos ao Tivoli e a um grupo que tem uma capacidade de gestão, inclusive comercial, que nos garante estarmos preparados para essa concorrência. Depois, o que temos como números é que, apesar de tudo, o turismo tem crescido e será para se manter.

Ok, têm aberto cada vez mais hotéis, mas o turismo também tem crescido. O bolo é mais repartido, mas o projeto do hotel, o que o negócio entrega, é bastante diferenciador. É um hotel vínico, que fica no centro da cidade, mas que tem uma área exterior de jardins com 9.000 metros quadrados. E está numa zona onde está todo o fluxo turístico. Só podemos acreditar que vai correr bem, com o investimento de 50 milhões de euros que fizemos.

Vai concorrer com o The Yeatman, detido pela concorrente Fladgate?

Acreditamos que há espaço para todos. O Porto como destino turístico tem de ser capaz de corresponder para dar para todos.

Qual será o investimento seguinte no enoturismo?

No próximo ano, além do hotel em execução após este longo período, que começou em 2019, temos também um investimento de reabilitação das nossas caves Burmester, na entrada da ponte D. Luís. Tiveram uma remodelação em 2005 e achámos que está na altura de investirmos para as reabilitar. Primeiro, por questões estruturais, porque tem um uso intensivo e precisa de um investimento. E também vamos pensar numa nova experiência de visita muito ligada à marca Burmester.

Com esta reabilitação e uma nova experiência que promova os valores da nossa marca Burmester prevemos 1,5 milhões de euros de investimento. A obra vai começar já em janeiro. Por questões de negócio, vamos fasear a obra. Vamos começar por fazer primeiro as obras que não têm um impacto em termos de continuidade de negócio e depois, em determinado momento, que será mais para o final do ano, fechar para fazer então as outras áreas. E em 2026 reabrir com o mesmo modelo de negócio, mas com uma experiência diferente.

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