“Há uma probabilidade de aceleração do ciclo político”

O presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, afirma em entrevista ao ECO que poderá haver mesmo eleições legislativas antecipadas. O apoio ao PSD exigirá um compromisso escrito.

Rui Rocha é presidente da Iniciativa Liberal há exatamente 100 dias e admite que, “face à incompetência gritante do primeiro-ministro e do Governo, diria que há uma probabilidade, alguma probabilidade, de uma aceleração do ciclo político”. O presidente dos liberais aponta a gravidade do último caso que está a afetar a governação, particularmente a intervenção do SIS no caso TAP, e revela que poderá requerer uma comissão parlamentar de inquérito. “Antes de mais, é fundamental que o primeiro-ministro venha esclarecer o que se está a passar. Não é aceitável que António Costa continue a esconder-se dos portugueses. A partir daí, é o tempo do Presidente da República“.

Ao PSD, Rui Rocha deixa avisos. A Iniciativa Liberal não faz depender o apoio político ao PSD na sequência das legislativas de integrar o Governo, mas quer um compromisso escrito com Luís Montenegro e áreas claramente identificadas de transformação do país.

Um partido de oposição deve insistir na estratégia de pedir demissões de ministros, como tem feito a Iniciativa Liberal? Essa é uma competência do primeiro-ministro, que tem de escolher a sua equipa e ser responsabilizado pelos resultados da governação.

Pois é verdade. Mas seria verdade se pudéssemos reconhecer ao primeiro-ministro, ao longo desse tempo, a capacidade de tomar essas decisões políticas nos momentos certos. O que é que nós temos? Mesmo neste mês deste romance, desta novela com episódios que passam de manhã, à tarde e à noite, temos um primeiro-ministro que aparece de acordo com a sua agenda agenda política, aparece para lançar um pacote, uma medida, normalmente acompanhado de um PowerPoint porque hoje em dia essa é a recomendação, mas depois desaparece. Ou seja, o primeiro-ministro, no último mês e meio, dois meses, fez sucessivas tentativas de entrar na dinâmica mediática, de marcar a agenda, e sucessivamente essas tentativas são abafadas por tudo aquilo que se vai conhecendo, e não é só o caso TAP…

O caso TAP está a tapar tudo?

Temos evidência de que há várias situações e não vou usar ‘casos e casinhos’ porque isso é uma desvalorização daquilo a que estamos a assistir, isso é o que o primeiro-ministro gostaria que pensássemos sobre estas situações, mas elas são graves em si mesmo, muitas delas, ou pela acumulação ou pelo seu valor intrínseco, são de facto casos graves. E temos um primeiro-ministro que aparece só quando há alguma boa notícia, um pacote, uma medida, mas depois está completamente ausente. Eu recordo que, no caso da TAP, o primeiro-ministro aparece para demitir um demitido, Hugo Mendes, e eu pergunto: Se o primeiro-ministro tem uma opinião sobre Hugo Mendes e vem dizer agora que o demitiria, apesar de ele já estar demitido, o que faria a outro demitido, Pedro Nuno Santos?

António Costa afirmou que Pedro Nuno Santos é um excelente quadro do PS…

Pois é, onde é que está a coerência? E o que é que se passa relativamente aos outros três ou quatro ministros que, entretanto, já estão completamente desautorizados em toda esta matéria? Os do parecer que não existia e que não existia, os do parecer que existia, mas punha em causa o interesse do Estado. O que é que se passa relativamente a Fernando Medina, que diz ter uma operação juridicamente blindada e que, depois, se descobre que andou a correr no dia seguinte à procura de argumentos jurídicos?

Nas últimas intervenções, tenho focado mais a necessidade do primeiro-ministro vir falar aos portugueses, esclarecer e, portanto, se há uma necessidade pontual de dizer que um ministro já não está em condições de estar em funções, é porque a grande ausência e a grande irresponsabilidade política vem do primeiro-ministro, que já devia ter vindo dar uma explicação do que está a acontecer e de quais são as suas decisões. Se o primeiro-ministro é de facto quem gere a sua equipa, mas se não a está a gerir e se não está a tomar, pelo menos do ponto de vista da transparência e da comunicação portugueses, medidas adequadas, então só resta um caminho: Face ao que conhecemos, isto não pode ser, há ministros estão politicamente condicionados, e já não é a questão dos ministros, mas da própria dinâmica da vida do Governo.

É tudo demasiado grave. Em janeiro, foi discutida uma moção de censura apresentada pela Iniciativa Liberal. Passaram três meses e o que se constata é que todos os fundamentos da moção de censura continuam válidos, mas as coisas são ainda piores do que imaginávamos. António Costa já não tem capacidade de renovação do governo. Cada dia com António Costa no governo é um dia pior para os portugueses.

Rui Rocha

Agora, surgiu um novo caso, ainda por esclarecer, com João Galamba, um adjunto exonerado e o envolvimento do SIS. O ministro das Infraestruturas tem de ser substituído ou o Governo chegou ao fim da linha?

Antes de mais, é fundamental que o primeiro-ministro venha esclarecer o que se está a passar. Não é aceitável que António Costa continue a esconder-se dos portugueses. A partir daí, é o tempo do Presidente da República. Mas as coisas manifestamente não podem continuar como estão. O caso do envolvimento do SIS é demasiado grave e, em função do que se conhecer nos próximos dias, poderemos vir a requerer uma comissão parlamentar de inquérito para esclarecer o que realmente se passou. Ainda assim, já não se trata de pedir uma ou outra demissão. É tudo demasiado grave. Em janeiro, foi discutida uma moção de censura apresentada pela Iniciativa Liberal. Passaram três meses e o que se constata é que todos os fundamentos da moção de censura continuam válidos, mas as coisas são ainda piores do que imaginávamos. António Costa já não tem capacidade de renovação do governo. Cada dia com António Costa no governo é um dia pior para os portugueses.

Está convencido que o ciclo eleitoral das legislativas vai ser antecipado?

Um dos problemas que temos neste momento no sistema político, e creio que isso é sobretudo responsabilidade do Governo, que é quem tem uma maioria absoluta, é que vivemos numa realidade que vai acelerando e travando à medida que o Governo vai mostrando mais ou menos incompetência. Portanto, olharmos para a existência de uma maioria absoluta, diria que vai ser sempre muito complicado haver um momento em que esta maioria absoluta não é usada, pelo menos para que António Costa fique agarrado ao poder. Se não servir para mais nada, servirá para uma resistência. Tivemos sinais disso, e temos tido, no discurso do primeiro-ministro. no discurso do Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, que estão de facto a utilizar a maioria absoluta para manter o PS no poder e não para resolver algum problema concreto do país…

Agora, face a isso…

…face à incompetência gritante do primeiro-ministro e do Governo, diria que há uma probabilidade, alguma probabilidade, de uma aceleração do ciclo político. Não diria que seja neste momento a probabilidade mais séria, mas há alguma probabilidade.

Portanto, a Iniciativa Liberal está a preparar-se para essa aceleração do ciclo político?

Sim, A Iniciativa Liberal tem feito o seu caminho de consolidação, digamos assim, das suas propostas políticas. Há uma coisa de que também falei muito quando me apresentei à liderança da Iniciativa Liberal, é que temos, de facto, um património reconhecido de propostas nas áreas da fiscalidade, da simplificação, das liberdades de escolha, na saúde e na educação, na descentralização… Temos uma visão clara para essas questões que são nossas e que são reconhecidas pelo eleitorado como nossas, mas temos que somar a isso, sem perder essa matriz, outras propostas que vão muito diretamente falar com problemas concretos.

Quais?

Na habitação, nas questões dos transportes… nestes três meses propusemos a concessão de serviços de transporte público, propusemos medidas como a devolução do passe social quando o serviço não existe. Esse é o nosso caminho. Eu definiria este mandato em três pontos até à data: Alargamento das propostas políticas, proximidade, isto é, estar com as pessoas, estar nas estações de comboio, estar nos terminais da Transtejo, estar no interior, estar com o partido e com os núcleos do partido de forma sistemática. E, por outro lado, a abertura do partido, e nos próximos dias também serão apresentadas novidades no que diz respeito a essa abertura, a trazer pessoas da sociedade…

Vai apresentar nomes?

Contributos. Estou a pensar em trazer contributos e, portanto, estamos a falar de pessoas que são independentes, mas estão estarão disponíveis para contribuir para o pensamento político da Iniciativa Liberal. Por outro lado, quero que a Iniciativa Liberal, no final do mandato, seja reconhecida pelos bons resultados eleitorais que teve, mas também pelo lançamento de novas caras e novas figuras. E posso dar um exemplo que é muito concreto, que é de Bernardo Blanco na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP.

Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal, em entrevista ao ECO - 28ABR23
Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal, em entrevista ao ECO Hugo Amaral/ECO

Já definiu quem vai ser o candidato da Iniciativa Liberal às eleições europeias?

Não, não, ainda é prematuro para discutir isso, não está decidido…

Se não eleger nenhum eurodeputado, é uma derrota sua e põe o lugar à disposição?

Considerarei seguramente uma derrota minha…

E vai retirar ilações desse resultado?

Sim, sim, será uma derrota minha. Sim, condicionará a minha visão sobre este mandato, mas, depois, não há muita divergência entre o momento das eleições europeias e, depois, calendário político interno.

Tem dito que está disponível para fazer uma aliança com com o PSD e a Iniciativa Liberal já sinalizou que poderá haver até uma coligação minoritária de Governo. Qual seria a estabilidade política do governo que juntasse o PSD e a Iniciativa Liberal sem a maioria dos deputados?

Pois, estaríamos sempre a falar de um cenário mais instável. Aquilo que seria desejável é que no próximo ciclo político, aconteça quando acontecer, haja uma solução que permita estabilidade política ao país. E creio que os sinais que estão a ser dados neste momento, nomeadamente também o senhor Presidente da República, apontam para uma situação em que começa a ficar muito claro. Como eu disse, fomos muito claros sobre com quem nos entenderíamos e com quem nunca nos entenderíamos, mas começa a haver uma clarificação…

…o PSD demorou a dizer que não aceitará entendimentos com partidos e políticos populistas e xenófobos…

…mas há um caminho de clarificação. Sim, esse caminho de clarificação, que fomos os primeiros a definir e afirmar, torna cada vez mais claro quem é que pode ser parte da solução e quem é que não contribui para a solução. Quem é que acelera a saída do Partido Socialista no poder e quem é que atrasa a saída do Partido Socialista do poder? E, portanto, aquilo que eu desejo é que os eleitores façam esta avaliação e, por muitos motivos, mas também por estes, que façam as suas escolhas, tendo em conta o desejo de que o país possa ter uma solução política diferente, não uma mera alternância mas uma solução política que marque uma diferença.

A Iniciativa Liberal faz depender o apoio ao PSD de integrar o Governo?

Não. Temos duas outras coisas muito claras: Iremos a eleições com listas próprias, portanto, faremos nenhuma coligação pré eleitoral, estaremos disponíveis para soluções que transformem o país, porque é disso que se precisa, e também não passaremos cheques em branco a ninguém. Finalmente, não fazemos ponto de que isso corresponda a cargos da Iniciativa Liberal,… não estamos aqui nem por cargos…

Não definiu áreas políticas em que a Iniciativa Liberal quer ter uma intervenção direta, um ministério?

Não. O que queremos é que o contributo da Iniciativa Liberal seja muito relevante para que não seja uma mera alternância, mas que seja, de facto, uma alternativa à transformação do país.

Creio que faz sentido que haja compromissos escritos e os temas da Iniciativa Liberal quer que estejam assegurado numa solução alternativa de Governo (…)
Sim, eu diria que temos, obviamente, questões do ponto de vista da fiscalidade, da baixa de impostos, nomeadamente sobre sobre o trabalho, a questão da desburocratização é fundamental, a questão das liberdades de escolha na saúde e na educação são fundamentais. A descentralização é fundamental, a concorrência é fundamental, a reforma do Estado é fundamental… estamos a caminhar para um mundo de digitalização e de inteligência artificial e o Estado parece estar a viver fora disso.

Rui Rocha

O acordo nos Açores com o PSD não tem corrido particularmente bem, Se não estiver no Governo, também vai exigir um papel assinado à Luis Montenegro, como sucedeu com a geringonça?

Sim, creio que faz sentido que haja compromissos escritos e os temas da Iniciativa Liberal quer que estejam assegurado numa solução alternativa de Governo…

…tem de haver um caderno de encargos que comprometa o PSD e a Iniciativa Liberal?

Sim, eu diria que temos, obviamente, questões do ponto de vista da fiscalidade, da baixa de impostos, nomeadamente sobre sobre o trabalho, a questão da desburocratização é fundamental, a questão das liberdades de escolha na saúde e na educação são fundamentais. A descentralização é fundamental, a concorrência é fundamental, a reforma do Estado é fundamental… estamos a caminhar para um mundo de digitalização e de inteligência artificial e o Estado parece estar a viver fora disso.

A execução dessa agenda, especialmente no Estado, é muito difícil.

Mas, aí está, é uma das bandeiras e um dos sistemas que queremos incluir nesse caderno de encargos. As questões do sistema eleitoral são muito importantes, também, porque temos centenas de milhares de votos que, em todas as eleições, são desperdiçadas. Temos que olhar para a justiça porque quando um investidor olha para Portugal, olha para recursos humanos, a sua disponibilidade, olha para as questões burocráticas, as questões de fiscalidade, mas olha para a Justiça mesmo.

As sondagens não apontam um crescimento relevante das intenções de voto na Iniciativa Liberal, ao contrário do que se vê no Chega, por exemplo, E o PSD também apresenta um crescimento limitado, enquanto se verifica uma queda significativa do PS.

Nós olhamos para as sondagens com interesse. Já temos tido algumas muito interessantes, sendo que, genericamente, nos colocam sempre acima daquilo que tivemos nestas eleições legislativas. Está a haver, de facto, uma degradação do sentido de voto no PS, mas há uma parte dessa desfiliação eleitoral no PS que está a passar para a abstenção. É essa uma das nossas prioridades.

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