Miguel Pina Martins diz que "é uma oportunidade bastante interessante o facto de o IPO realizar-se nesta altura do ano". "É quando o mindset das pessoas está mais direcionado para os brinquedos".
Miguel Pina Martins começou a empresa na faculdade. Foi a partir de um projeto académico que surgiram os brinquedos educativos que há uma década procuram levar as crianças a interessarem-se pelas ciências experimentais. De uma ideia criou uma empresa. Cresceu e, agora, vai dar o salto para a bolsa. O prospeto já está na CMVM.
Em entrevista por escrito ao ECO, o fundador da Science4you conta como foram os primeiros passos da empresa que hoje em dia conta com mais de 400 colaboradores. Fala sobre o livro que acaba de lançar, onde relata a sua experiência, mas também do desejo de continuar a levar os brinquedos aos quatro cantos do mundo.
A entrada em bolsa, que vai deixar alguns colaboradores com um extra nos bolsos, é o passo seguinte da empresa. A operação, anunciada durante o Web Summit, está a andar. Pina Martins revela ao ECO que o “prospeto já está na CMVM”. E o arranque da oferta está “para muito breve”, sendo que o Natal não assusta. Acredita que a altura do ano até pode ajudar à venda das ações.
Como é que surgiu a ideia de criar brinquedos educativos?
A Science4you nasce do meu projeto académico de final de curso (Licenciatura em Finanças, pelo ISCTE). A empresa foi financiada por capital de risco e business angels, e criada no âmbito do Programa FINICIA. O objetivo foi criar uma empresa inovadora que aliasse diversão e aprendizagem no mesmo brinquedo e que incentivasse as crianças a interessarem-se pelas ciências experimentais, neste caso através dos kits educativos que permitem a realização de várias experiências.
Até que ponto a formação académica foi fulcral para o desafiar a criar algo diferente?
A formação académica foi bastante importante sobretudo para a parte empresarial e de gestão do negócio, pois a nível de conhecimentos de ciência contámos na altura com o apoio da Faculdade de Ciências e hoje temos especialistas de várias áreas científicas na empresa que fazem toda a pesquisa e desenvolvimento dos brinquedos.
Foi fácil encontrar investidores para um negócio de crianças?
Ao inicio tive de ‘convencer’ algumas pessoas a apostarem na Science4you… como se tratava de um projeto escolar, tanto os professores do ISCTE como da Faculdade de Ciências foram fundamentais para o arranque inicial, e deram todo o suporte necessário. Hoje em dia, com a atual dimensão da Science4you, é muito mais fácil ter pessoas interessadas em investir na empresa.
Tendo em conta que o arranque da empresa coincidiu com o pico da crise, nunca pensou desistir?
Não, pelo contrário. Acredito muito que as crises trazem momentos de oportunidade para novos projetos que se possam destacar pelo fator novidade, e creio que foi isso que aconteceu com a Science4you. Não existia nenhum tipo de oferta semelhante à venda em Portugal no retalho (muito menos made in Portugal) com uma relação qualidade-preço que conseguimos apresentar logo desde o início e que ao longo dos anos fomos aprimorando.
"Mais de 70% das vendas da Science4you são provenientes dos mercados internacionais. Mas no global, Portugal continua a ser o país com uma maior representatividade.”
Qual foi o momento em que disse para si mesmo: “isto vai correr bem”?
Apesar de não ter gostado da ideia dos Kits de Física durante o trabalho de Faculdade, quando a Science4you começou, já enquanto empresa, acreditei que seria um projeto bastante viável, sobretudo porque cedo surgiu a oportunidade de exportação para o primeiro país – Espanha. E aí vimos logo que tinha muito potencial para exportação.
Que ensinamentos é que partilha com outros empreendedores neste livro?
Tento inspirar futuros empreendedores e mostrar que do nada é possível fazer uma empresa com alguma dimensão, pois no meu caso tudo começou com 1.125 euros, um projeto final de curso do qual ninguém gostava muito e praticamente nenhuma experiência profissional. Não obstante, com a equipa certa, esforço e dedicação, conseguimos chegar a bom porto. Espero que este livro leve uma mensagem de otimismo e de confiança a todos os que sonham criar um negócio próprio.
Qual foi o primeiro país estrangeiro em que entraram?
Espanha foi o primeiro país para onde a Science4you exportou os brinquedos, através de um retalhista com quem fomos reforçando laços ao longo dos anos.
Atualmente estão em quantos países?
Neste momento os brinquedos da Science4you, produzidos em Portugal na fábrica do MARL, em Loures, já são comercializados em mais de 60 países em todo o mundo, com uma linha de mais de 500 brinquedos científicos e educativos.
Quanto pesa o negócio internacional nas receitas da Science4you?
Mais de 70% das vendas da Science4you são provenientes dos mercados internacionais. Mas no global, Portugal continua a ser o país com uma maior representatividade. Pesa 30%.
Quantos trabalhadores têm atualmente?
Atualmente contamos com cerca de 400 colaboradores.
Esses trabalhadores vão receber alguma coisa com a entrada em bolsa? Têm ações? Vão ter?
Temos um programa de stock options que foi exercido onde contamos com mais de uma dúzia de pessoas com acesso às mesmas. Esta caminhada foi feita com os trabalhadores e para nós é fundamental que eles possam participar também num momento desta importância da empresa.
Se tivesse de fazer um pitch aos pequenos investidores para lhes vender ações da Science4you, o que diria?
Diria que este é um projeto que conta com um caráter pedagógico muito relevante – não só para Portugal mas em todo o mundo – pois potencia o interesse dos mais novos pelas ciências experimentais, e acredito que é aí que reside parte do sucesso da Science4you. Apresentamos uma forma diferente de as crianças aprenderem novos conteúdos enquanto se divertem, e ao longo dos anos a ideia tem sido muito bem recebida em todos os países para onde exportámos o conceito.
Esta caminhada foi feita com os trabalhadores e para nós é fundamental que eles possam participar também num momento desta importância da empresa.
Está confiante no sucesso da oferta pública? Fracasso da Sonae Retalho não o assustou?
Não assusta de forma nenhuma, são negócios diferentes com dimensão de operações substancialmente diferentes. Acreditamos que os mercados vão manter-se estáveis e que o interesse dos investidores particulares será elevado, pois têm uma relação muito afetiva com a nossa marca. Todos os anos contactam com os nossos produtos no Natal e esta é uma forma de estarem ainda mais ligados ao sucesso da Science4you.
Porquê avançar agora com a entrada em bolsa? Para que servirão os fundos que arrecadar com a oferta?
O nosso objetivo é conseguir dotar a empresa de uma estrutura de financiamento mais diversificada, sobretudo ao nível do capital, adequada à continuação da sua expansão e criação de valor para os acionistas.
Já entregaram o prospeto à CMVM?
Já foi entregue na CMVM.
O arranque do IPO está previsto para quando?
Esperemos que esteja para muito breve.
Estarmos a chegar à época natalícia é uma ameaça ou oportunidade para a OPV o IPO? Acredita que ser uma empresa de brinquedos superará a ausência de investidores nesta altura do ano?
R: Acredito que é uma oportunidade bastante interessante o facto de o IPO realizar-se nesta altura do ano, pois é quando o mindset das pessoas está mais direcionado para o tema brinquedos.
Gostava que as ações entrassem em bolsa ainda antes do Natal? É possível?
É ambicioso, mas gostávamos muito que acontecesse ainda este ano.
"É uma oportunidade bastante interessante o facto de o IPO realizar-se nesta altura do ano [o Natal], pois é quando o mindset das pessoas está mais direcionado para o tema brinquedos.”
Chegar ao PSI-20 é um sonho ou uma possibilidade a prazo?
Para já a nossa intenção é a Science4you passar a estar cotada no Euronext Growth, que é um mercado alternativo ao mercado principal da Euronext. Se continuarmos a crescer como temos crescidos nos últimos dez anos conseguiremos ser uma referência na bolsa, o que é muito positivo para a Science4you e para os seus acionistas.
Como vê a crescente entrada em bolsa de empresas que começaram como startup? É uma tendência que vai continuar?
Sim, acredito que é uma tendência crescente pois existem cada vez mais empresas portuguesas que começaram como startups e que efetivamente têm um grande valor e potencial para a entrada na bolsa.
A entrada deste tipo de empresas de menor dimensão em bolsa reflete melhor o tecido empresarial português?
Acredito que sim. Portugal é neste momento um país marcadamente empreendedor e com a continuação do Web Summit em Portugal nos próximos dez anos teremos ainda mais empresas e novos projetos a serem criados, assim como a vinda de empresas internacionais para o país. É uma dinâmica muito interessante.
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Prospeto da Science4you já está na CMVM. IPO “arranca em breve”, diz Miguel Pina Martins
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