Ana Jacinto, presidente da AHRESP, alerta para os "pouquíssimos" apoios que existem para estas empresas e para a "dificílima" situação que estão a viver. "Precisamos de dinheiro a fundo perdido", diz.
As empresas de restauração e alojamento têm vivido meses de altos e baixos. O desconfinamento trouxe esperança de uma recuperação, mas o setor diz que a retoma “não está a ser rápida” e afirma até ter dúvidas quanto à existência de uma retoma. Em entrevista ao ECO, a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) alerta para a “situação dificílima” dos restaurantes e estabelecimentos de alojamento e para os “pouquíssimos” apoios que estão a ser dados pelo Governo.
Ana Jacinto vê com apreensão a evolução dos números da pandemia, especialmente na região de Lisboa e Vale do Tejo. O recuo de Lisboa no desconfinamento, com a redução do horário de funcionamento da restauração ao fim de semana, terá um forte impacto nas empresas do setor. Haverá falências? “Claro”, diz, lembrando que os restaurantes “não são só para fazer almoços”.
Alerta o Governo para a necessidade de mais apoios, mas também mais rápidos e menos complexos, que não excluam tantas empresas como, diz, tem sido habitual.
Nesta entrevista, não deixa de chamar a atenção para as discotecas e bares, que estão encerrados há mais de um ano. Na opinião da AHRESP, estes podiam funcionar com as mesmas regras que foram aplicadas à restauração: lugares sentados, distanciamento entre pessoas, música, mas sem pista de dança. “Se não nos deixarem trabalhar e se não conseguirmos faturar, chegamos ao inverno e será uma catástrofe”, alerta.
Como está a correr o desconfinamento? A retoma está a ser rápida?
A retoma, infelizmente, não está a ser rápida, nem sabemos muito bem se podemos falar de retoma. Estamos com imensos constrangimentos. Desde logo as empresas estão numa situação dificílima, muito débil, porque foram muitos meses sem faturar ou com faturação quase zero e alguns subsetores ainda completamente encerrados. Portanto, obviamente que para estes não há retoma absolutamente nenhuma, muito pelo contrário.
Com a agravante de que os apoios que neste momento estão disponíveis são pouquíssimos. Reduzem-se ao apoio à retoma progressiva e pouco mais. Esperávamos que à data de hoje já pudéssemos contar mais com o turismo internacional, mas nem aí conseguimos notícias muito positivas. Está a ser muito difícil. Ora estamos no corredor “verde” do Reino Unido, ora deixamos de estar, e isso tem um impacto tremendo, especialmente para os territórios mais dependentes deste mercado, como é o caso do Algarve e da Madeira.
Portanto, não sei se podemos falar de retoma. Está a ser tudo muito lento, muito complicado. Tudo isto tem um impacto muito negativo nas nossas atividades. É evidente que com o mercado interno esperamos que haja algum oxigénio, mas não é suficiente para a oferta que temos. Portanto, respondendo à questão, não sei se é retoma. Estávamos a desconfinar gradualmente, mas agora nem isso, há recuos. Esperemos que estes meses que se avizinham possam trazer, pelo menos, o mercado interno, já que em teoria deveríamos ter também já mais turistas internacionais.
E como está a evoluir a faturação das empresas?
Não temos dados concretos de maio, porque estávamos à espera que a circulação fosse normalizada e o desconfinamento fosse mais veloz para tirar conclusões mais interessantes, mas isso não aconteceu. Contudo, o que nos vai sendo dito pelos empresários é que, de facto, está tudo muito lento. Não é possível, sequer, fazer grandes previsões. Numa semana contamos com reservas e na semana seguinte com os cancelamentos. Por exemplo, o que aconteceu no fim de semana na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Só o facto de ter sido impossível sair e entrar, obviamente teve um impacto tremendo nas reservas. Até mesmo serviços como eventos tiveram um impacto tremendo e a faturação está difícil e muito lenta.
Para que [os negócios] faturem mais seria importantíssimo que não houvesse restrições à circulação. E nós continuamos com restrições. De um momento para o outro tudo se altera.
O que é preciso para que os negócios faturem mais?
Para que faturem mais seria importantíssimo que não houvesse restrições à circulação. E nós continuamos com restrições. Estivemos no corredor do Reino Unido — que foi muito importante durante aqueles dias –, mas tudo acabou passados dois ou três dias, tendo, obviamente, consequências dramáticas. Precisávamos, desde logo, que as barreiras à circulação fossem cada vez menores, isso era o fator mais importante para podermos receber os nossos turistas como sempre fizemos e, obviamente, para as empresas faturarem mais. Este é o primeiro entrave que temos. Esperamos que com o certificado sanitário isso melhore, mas ainda temos muitas restrições e estamos sujeitos a muitas alterações. De um momento para o outro tudo se altera, recuamos no desconfinamento. Tudo isso são entraves para as empresas faturarem.
As famílias têm uma poupança extra de 17,5 mil milhões. É a “bazuca” que o setor precisa?
Nós precisamos é que o Governo, efetivamente, consiga colocar dinheiro na tesouraria das empresas e que resolva os problemas que estão a cair sobre estas empresas. O caso, por exemplo, das moratórias. Foi aprovado um diploma que prorroga as moratórias até ao final de dezembro, o que, não sendo exatamente aquilo que desejaríamos, pelo menos já é uma ajuda. Mas, obviamente que precisamos de dinheiro a fundo perdido, que a tesouraria das empresas continue a ser reforçada.
Dissemos variadíssimas vezes que os apoios eram insuficientes, que não eram robustos o suficiente, que chegavam tarde às empresas e que chegavam de forma complicada. E isto, obviamente, dificultou a entrada de apoios nas empresas. Há muitas empresas com dificuldades em serem apoiadas. E precisamos de continuar a ser apoiados, porque não vislumbramos que estes meses possam ser suficientes para aguentar. E depois do verão vem o inverno, que será muito difícil. E este inverno não temos almofada nenhuma para aguentar.
Portanto, se não continuarmos a ser apoiados, não chegam as poupanças das famílias. Esperamos que o mercado interno seja algum oxigénio para as empresas continuarem a sobreviver, mas, obviamente, é muito insuficiente e muito curto porque a nossa oferta não está dimensionada apenas para o mercado interno e esses valores não serão certamente suficientes. Os gastos que vão ser feitos no setor não vão ser suficientes.
Nós também temos vindo a sinalizar a necessidade de se fazerem campanhas de dinamização do consumo. É verdade que o Governo criou uma ferramenta com esse objetivo — IVAucher —, mas é muito curto. Estamos a falar de um programa que vai durar três meses, que não é imediato e que não vai abranger todas as empresas. É melhor do que não existir, sem dúvida, e é bem-vindo. Mas não vai ser suficiente para alavancar o consumo no nosso setor e criar a tal dinamização que precisamos.
A pandemia não está a dar tréguas na capital. Lisboa é uma preocupação?
Claro que é uma preocupação. Como disse há pouco, bastou o anúncio de que iríamos ficar com a impossibilidade de sair e entrar na AML que os cancelamentos choveram. Nem todas as pessoas que consomem e vêm aos serviços de restauração e alojamento são da AML, portanto, houve logo um impacto grande. Agora, nós não temos informação suficiente, nem somos epidemiologistas, por isso — e face ao maior número de incidências na AML — acreditamos que o Governo não teria tomado estas decisões se tivesse outras alternativas.
Agora, a não haver alternativas e a termos estas medidas que impactam muito negativamente as nossas empresas, temos de ser compensados sob pena de não aguentarmos. E é aqui que não estamos a fazer bem, porque não estamos a saber equilibrar as decisões de saúde pública com as decisões ao nível da economia. Porque as empresas estão completamente fragilizadas, não têm tesouraria, estão descapitalizadas, estão a ter inúmeras dificuldades para aquilo que tem sido o volume de apoios — que ao longo deste ano foram difíceis, mas que agora já não são praticamente nada.
Embora se compreenda que provavelmente não existem outras soluções para podermos conter a pandemia, a verdade é que tem impacto nas empresas. E tendo impacto nas empresas precisamos de ser apoiados. E é aqui que estamos a falhar.
Portanto, embora se compreenda que provavelmente não existem outras soluções para podermos conter esta pandemia, a verdade é que tem impacto nas empresas. E tendo impacto nas empresas precisamos de ser apoiados. E é aqui que estamos a falhar. Sob pena de quando tivermos a tal procura — que vamos ter, certamente –, podermos não ter empresas e oferta para essa procura.
Faz sentido encerrar os restaurantes ao fim de semana às 15h30?
Não temos informação absolutamente nenhuma que leve ao fecho dos restaurantes a essa hora, seja às 15h30, seja às 22h. Qual é a relação e a necessidade que existem? Portanto, se há argumentos técnicos que desconhecemos, o que posso dizer é que não aguentamos sem ser apoiados. Quando abrimos uma empresa de restauração não é só para fazer almoços, à partida. Portanto, tudo isto tem um impacto enorme nas empresas que se reflete no final do mês com a insuficiência de recursos para fazer face às despesas que têm. Se é assim, se de facto não temos alternativa e se isso é absolutamente crucial, então temos de olhar para as empresas de outra forma, e é isso que estamos a ter dificuldades em fazer.
Haverá empresas a encerrar se a AML der um passo atrás no desconfinamento?
Claro. Fizemos um balanço médio de um ano de inquéritos, ou seja, desde março de 2020. Em março de 2021, em termos médios, o que as empresas de restauração nos diziam era que cerca de 36% iam necessariamente recorrer a processos de insolvência, ou seja, não iam conseguir sobreviver. No caso do alojamento, o valor é um bocadinho menor, são 17%, mas não deixa de ser preocupante.
Se voltarmos a recuar e a ter mais restrições, sobretudo num momento crucial como este [verão], é evidente que as empresas vão ficando cada vez mais estranguladas, até porque continuam a não ser apoiadas, muito pelo contrário. Por exemplo as moratórias foram prorrogadas até dezembro, mas mesmo até dezembro não vamos ter capacidade para fazer os pagamentos. Isto é tudo uma bola de neve. E os meses de julho, agosto e setembro são determinantes para irmos alimentando as nossas tesourarias. Se não tivermos público para isso, chegamos ao inverno numa situação muito difícil.
Alertaram para “inúmeros despejos” devido ao fim do regime excecional de proteção de arrendatários, a 30 de junho. É precisa uma extensão desse prazo?
Exatamente, porque a situação das empresas não permite outra coisa. As empresas estão numa situação tão débil que a acabar esta proteção, obviamente vamos ficar numa situação muito difícil. E não esqueçamos que este setor tem a grande maioria dos estabelecimentos em arrendamento. Se acaba esse caráter excecional, corremos o risco de os senhorios acionarem os despejos. O Apoiar Rendas foi anunciado em dezembro de 2020, o regulamento saiu dois meses depois e os pagamentos começaram a ser feitos cerca de três meses depois. Algumas empresas ainda nem sequer receberam esse valor e não têm acesso a mais apoios dessa ordem.
Por isso, alguma coisa tem de ser feita, uma vez que agora está tudo a cair. Avisamos desde março de 2020 que era um erro usar como apoios apenas diferimentos no tempo e moratórias, porque tudo isto acaba. E vai ser uma dívida que vai acumular com as dívidas que os empresários já têm na data presente. É sempre a acumular e estas empresas não fizeram o suficiente, muito pelo contrário. É evidente que o Governo deveria ter optado desde o início — e fê-lo muito mais tarde e com muitas dificuldades — pelo apoio a fundo perdido. Não há alternativa, perante a dimensão desta crise. Não há outra alternativa se não pensarmos em apoio a fundo perdido. À medida que o tempo vai passando, muitas empresas vão morrendo. Porque muitas delas, para não dizer a maioria, estão doentes. Se a medicação não entrar rapidamente, não vamos conseguir salvar estes doentes.
A maioria dos negócios reabriu, mas bares e discotecas estão encerrados há um ano. Faz sentido?
Nós temos sistematicamente solicitado ao Governo que sejam definidas regras específicas para a reabertura destes estabelecimentos. Não nos podemos esquecer que o setor da animação turística é fundamental do nosso destino turístico. Muitas das vezes é determinante para a escolha do país, porque as pessoas também procuram animação e lazer. Ninguém vem para um país — ou são poucos os que vão — para ir à praia e ir dormir às 20h porque já não há mais nada para fazer. As pessoas procuram e este produto é essencial.
Os apoios a estas empresas [discotecas e bares] precisam de ser muito mais majorados. Porque estão fechadas, mas continuam com encargos todos os meses. O Governo precisa de olhar para este setor de uma forma muito mais cuidada.
Por essa razão sinalizámos há muito a necessidade de o Governo definir regras específicas para a reabertura. Fizemos inclusive propostas de uma reabertura gradual, com muita cautela, com regras, e ainda não temos resposta. E nada sabemos. O que temos chamado à atenção sistematicamente são duas coisas: a primeira é que os apoios a estas empresas precisam de ser muito mais majorados do que aquilo que estão a ser. Porque estão fechadas, mas continuam com encargos todos os meses. Nem sei como é que isto é possível. A grande questão é: estas empresas alguma vez vão abrir? Porque isto é insustentável. O Governo precisa de olhar para este setor de uma forma muito mais cuidada, muito mais majorada, porque obviamente os apoios não estão a ser suficientes.
A segunda nota importante é que com este silêncio e esta falta de informação sobre quando e de que forma é que estas empresas podem abrir tem levado sistematicamente àquilo que já aconteceu no ano passado: as pessoas organizam-se em festas que não estão autorizadas. Fazem festas e reúnem-se em locais sem estarem autorizados e controlados. O que é que melhor? Trabalharmos com regras, termos os ambientes controlados, sabermos quem lá está, em que condições ou assistirmos a festas e aglomerados de pessoas a confraternizarem e a dançarem em locais não autorizados? Seria melhor que o Governo se decidisse, sob pena de isto continuar a acontecer. E toda a gente sabe que isto acontece.
Reabrir estes estabelecimentos não pode potenciar ainda mais os casos de Covid, tendo em conta a maior incidência da doença nos jovens?
Aquilo que deveria acontecer era fazermos o mesmo que fizemos com a restauração: começarmos com espaços ao ar livre e as pessoas podiam estar sentadas. Pode funcionar de uma forma muito idêntica. Pode haver música e pode não haver pista de dança aberta, mas as pessoas podem estar sentadas e ouvir música. Há muitas regras que podem começar a ser implementadas de forma gradual que permita a estes espaços irem funcionando. Agora, é preciso é decidir e dizer como, fazer alguma coisa. Nós não somos peritos, mas como é que reabrimos a restauração? Primeiro foram as esplanadas, com regras de distanciamento, depois passamos para o interior, com limitação entre pessoas, distanciamento, e isso pode ser aplicado a um estabelecimento de diversão noturna. É preciso é definir essas regras e dizer como e o que devem fazer. Ainda para mais agora, nesta fase em que a vacinação está a evoluir de forma positiva, é mais um argumento para termos outras condições para começarmos a abrir estes espaços.
A pista de dança, se calhar, será a última fase, a não ser que as pessoas já estejam todas com o certificado de vacinação ou já tenham todas sido testada. O certificado podia ser um documento a ser considerado para se reabrirem esses espaços como já foram no passado. Mas, antes de chegarmos lá, podemos fazer um caminho. E esse caminho podia ser feito já. Porque se não for feito já, o que nós assistimos são situações que não devem acontecer, que podem provocar ainda mais desastres neste caminho da maior incidência, e não estão a ser controlados ou impedidos.
Não há bares nem discotecas, mas podem realizar-se festivais. Concorda?
Os festivais têm regras para serem realizados. É o que eu digo: não temos informação suficiente para podermos dizer o que deve ser feito em termos sanitários. Podemos propor, que foi o que fizemos para a animação noturna. No caso da animação, propusemos o que se fez na restauração. Se é possível fazer na restauração, acreditamos que é possível ser feito na animação, porque as características são as mesmas, se tivermos regras definidas.
Aquilo que o Governo entende fazer para todos os outros setores de atividade compete ao Governo. Do nosso ponto de vista, queremos uma coisa, e eu tenho referido isto por diversas vezes: nós queremos trabalhar. Nós precisamos de trabalhar, precisamos de faturar. Isto é inevitável. Porque se não, com o nível de apoios que estamos a ter — que é quase zero –, quando se aproximar o inverno será uma catástrofe. Os nossos setores empregavam antes da pandemia mais de 400 mil postos de trabalho direto e segundo os dados do INE já perdemos mais de 100 mil. É verdade que estes setores estão com dificuldade em contratar, mas isso é outra questão. Mas, a verdade é que já se destruíram mais de 100 mil postos de trabalho nestes setores. Se não nos deixarem trabalhar e se não conseguirmos faturar, chegamos ao inverno e será uma catástrofe.
De um dia para o outro muda tudo e não se explica aos empresários nem aos consumidores o que podem ou não fazer. Precisamos que as regras sejam comunicadas atempadamente e com clareza.
Outra nota importante é que não contestamos as medidas de caráter sanitário. O Governo é que decide e tem a responsabilidade de se alicerçar nas informações técnicas e tomar as decisões mais acertadas. Tem é de comunicá-las de forma atempada e com clareza, coisa que nunca acontece. As regras são sempre de um dia para o outro, sem possibilidade de as empresas se adaptarem e perceberem o que está em causa. As empresas funcionam com planeamento e reservas antecipadas e isto é tudo uma catástrofe. De um dia para o outro muda tudo e não se explica aos empresários nem aos consumidores o que podem ou não fazer. Portanto, precisamos de trabalhar e não temos informação para contestar as medidas de caráter sanitário, mas precisamos que as regras sejam comunicadas atempadamente e com clareza.
Se se entende que o setor da animação noturna ainda não pode abrir e não responde à proposta que a AHRESP fez, o Governo tem de apoiar. Nós vamos perder este setor todo. Não é possível. Estamos há mais de um ano sem faturar absolutamente nada e todos os meses caem encargos avultados e o empresário já não tem mais fundo nenhum onde ir buscar. São empréstimos atrás de empréstimos, endividamentos que têm de ser pagos e não sabem como pagar. Provavelmente não abrem mais. É evidente que começa a ser difícil explicar aos empresários determinadas regras, porque há muitas incongruências e dificuldades de perceção, e mais difícil é as pessoas cumprirem.
Há mais de seis mil milhões de euros previstos para o “Plano para Reativar o Turismo”. Este montante é suficiente para ajudar as empresas do setor?
Se esse apoio chegar às empresas, seria perfeito. Nós precisamos de tesouraria nas empresas, precisamos que estas empresas sejam recapitalizadas e ajudadas. E se este dinheiro que está previsto chegar às empresas, será muito importante e determinante. Mas se o dinheiro ficar dependente dos regulamentos extraordinários e cheios de vírgulas como habitualmente fazemos, em que metade das empresas acaba por não ser elegível ou tem de preencher dez formulários, ou o regulamento sai e só passados dois ou três meses está disponível, isso digo já que não é suficiente e que não serve de nada. É um plano importante, com verbas interessantes, que são suficientes se forem destinadas a apoiar as empresas e se chegarem a elas. É só este o nosso receio, que voltemos outra vez a fazer aquilo que constantemente fazemos.
Nos últimos meses, foram imensas as vezes em que a AHRESP teve de intervir para que uma determinada empresa, empresário em nome individual ou empresário em nome individual sem trabalhadores a cargo pudesse ser elegível nas medidas. Mas isto foi sempre muito difícil e gradual. Isto não pode ser, porque no meio deste processo todo decorre tempo demais e as empresas não conseguem aguentar.
Respondendo à sua questão, é uma dotação interessante, até pode ser razoável, mas tem de se dar às empresas. E eu não sei de que forma diferente é que o Governo está a tentar fazer chegar este dinheiro às empresas, porque o habitual é dificultar, preencher não sei quantos requerimentos que muitas delas nem sequer sabem fazer. Ao longo deste ano demos entrada de dezenas e dezenas de candidaturas porque, obviamente, as empresas não conseguem fazê-lo sozinhas. Quanto mais ruído colocarmos no acesso a estes fundos, obviamente que vão parar a uma minoria, como sempre.
Pediram a “operacionalização célere” desse plano. O que já devia ter sido feito e ainda não foi?
O que nós gostaríamos era que este plano já estivesse disponível em março e que já soubéssemos todos de que forma é que este dinheiro vai chegar às empresas e de que forma é que estas empresas podem ser apoiadas. Mas continuamos ainda sem saber muito bem como é que isto vai acontecer e que condições vão estar previstas para as empresas, efetivamente, serem apoiadas. À data de hoje não sabemos quase nada e este plano já anda a ser falado há algum tempo, entretanto foi aprovado em Conselho de Ministros, vamos andando, andando, e não tarda muito estamos outra vez na época baixa, com mais dificuldades ainda do que aquelas que temos agora. Esperamos que não e esperemos que a vacinação evolua e a situação epidemiológica no país possa melhorar. Mas começa a ser difícil ter esse otimismo, porque são tantos entraves e tantos recuos.
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Se Lisboa recuar no desconfinamento, “claro” que haverá falências, diz secretária-geral da AHRESP
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