Leia, em exclusivo no ECO, o capítulo sobre a economia mundial desde a última crise até à atualidade de "A Grande História da Economia", a mais recente obra do jornalista Philip Coggan.
Nos primeiros meses da crise, os dados económicos deterioraram-se tão rapidamente quanto o ocorrido na Grande Depressão dos anos 1930. No seu ponto mais baixo, a produção industrial tinha caído 13% face ao seu pico e o volume do comércio mundial descera 20%. Mas, em termos globais, os governos e bancos centrais intervieram com programas de apoio maciço.
Em novembro de 2008, a China anunciou um pacote de estímulos financeiros à sua economia no valor de 586 mil milhões de dólares, o maior da sua história. O Congresso aprovou o Decreto para a Recuperação e Investimento nos EUA (American Recovery and Reinvestement Act) em fevereiro de 2009, uma das primeiras proezas da Presidência de Barack Obama, que consistia numa combinação de cortes fiscais e aumentos da despesa no valor de 787 mil milhões de dólares. Coletivamente, os líderes das nações do G20 concordaram, numa cimeira realizada em Londres, em injetar 1,1 biliões de dólares na economia global, ao ampliarem a capacidade de concessão de empréstimos do FMI e do Banco Mundial.
A acrescer a isto, os bancos continuavam a reduzir as taxas de juro para estimular a concessão de empréstimos. Por volta de finais de 2008, a principal taxa de juro da Fed era de 0,25 por cento; apenas 15 meses antes, estava em 5,25%. A flexibilização quantitativa (QE, na sigla inglesa) também começou nesse ano. Isto envolveu, por parte dos bancos centrais, a emissão de dinheiro e a sua utilização para comprar obrigações do Tesouro. O objetivo era duplo. Primeiro, a medida evitava o tipo de contração da massa monetária que ocorrera nos anos 1930. Quando os bancos centrais compravam obrigações, os respetivos vendedores acabavam com mais dinheiro nas suas contas. O segundo objetivo era reduzir a rendibilidade das obrigações de longo prazo, bem como as taxas de juro dos empréstimos a curto prazo. Isto fez baixar os custos do crédito para as empresas e compradores de imóveis e aliviou a pressão financeira sobre a economia.
Estas medidas drásticas foram pensadas para resolverem questões práticas. Um dos problemas foi apelidado «limite inferior zero» – o que fazer quando as taxas de juro caem para zero. Já foi demonstrado ser possível impor taxas negativas em alguns setores do sistema – por exemplo, aos bancos comerciais, que são obrigados a manter reservas no banco central.
Mas cobrar aos vulgares depositantes dos bancos uma taxa de juro negativa parece demais. O público em geral ficaria indignado se os depósitos começassem a perder valor. Muitos levantariam o dinheiro e mantê-lo-iam debaixo do colchão, gerando outra corrida aos bancos.
Tudo isto produziu, de facto, efeitos. O mercado bolsista atingiu o nível mais baixo na primavera de 2009 e iniciou-se uma prolongada fase altista.
Estas medidas drásticas foram pensadas para resolverem questões práticas. Um dos problemas foi apelidado «limite inferior zero» – o que fazer quando as taxas de juro caem para zero. Já foi demonstrado ser possível impor taxas negativas em alguns setores do sistema – por exemplo, aos bancos comerciais, que são obrigados a manter reservas no banco central.
O declínio da produção americana, do pico até ao valor mínimo, foi de 4,8 por cento, menor do que o declínio mediano de anteriores recessões. Ainda assim, a recuperação global foi penosamente lenta. Oito anos depois da crise, apenas cinco dos 11 países que haviam sofrido um colapso do setor bancário tinham assistido a uma recuperação completa do seu PIB per capita.
Estas medidas de resgate foram controversas. Nos EUA, o movimento tea party emergiu como reação ao resgate dos bancos – ajudou a alimentar as vitórias republicanas no Congresso em 2010 e contribuiu para a ascensão de Donald Trump. Alguns sentiram que a QE era o equivalente a imprimir dinheiro para financiar a despesa do Estado – a mesma medida que conduzira à hiperinflação na Alemanha. Outros defendiam que a QE, ao incrementar o preço dos ativos financeiros, fazia aumentar a riqueza dos ricos e, deste modo, agravava a desigualdade.
A Zona Euro dividida
A acrescentar aos problemas do mundo, pouco depois seguia-se a crise europeia. Muitos bancos ficaram expostos ao mercado imobiliário dos EUA e alguns dos mais agressivos, como o Deutsche e o UBS, tinham balanços cujo risco era de mais do dobro do dos concorrentes norte-americanos. Em 2007, os três maiores bancos do mundo eram europeus. Quando a crise ocorreu, os bancos centrais e os governos europeus acorreram a resgatar os seus setores bancários nacionais com empréstimos baratos, compras de ações, e coisas do género. O efeito foi que os balanços nacionais assumiram dívidas antes suportadas pelo setor privado. Entre 2007 e 2013, o rácio entre a dívida pública e o PIB da Zona Euro aumentou de 66 por cento para 93 por cento.
Em alguns casos, o fardo foi demasiado pesado. A Irlanda fora apelidada «Tigre Celta» nos anos 1990 e gozou de um boom imobiliário, financiado pelos seus bancos nacionais, nos anos 2000. Quando os bancos entraram em colapso, em 2008 e 2009, a conta atingiu dois quintos do PIB do país. A seguir, uma recessão custou à Irlanda mais de 11 por cento da sua produção nacional. À medida que as receitas fiscais caíam, a dívida do Estado disparava, atingindo o pico de 120 por cento do PIB. Foi necessário um resgate por parte do FMI e da UE em 2011.
As coisas foram piores na Grécia. O país adotara o euro em 2001, apesar de haver dúvidas generalizadas quanto à conveniência (o seu rácio dívida pública/PIB, no ano 2000, foi de 104 por cento). A Grécia martelou os números do défice de modo a cumprir os critérios de adesão. Tal como a Itália, Espanha e Portugal, a Grécia beneficiou dos baixos custos do crédito, à medida que as taxas de juro na Zona Euro convergiam. Mas as coisas correram mal no rescaldo da crise de 2007. Em 2009, George Papandreo, o primeiro-ministro grego, anunciou que o défice orçamental daquele ano não seria de 3,7 por cento do PIB, como fora divulgado, mas de 12,5 por cento. Ao mesmo tempo, o chefe do Governo revelou que o défice de 2008 tinha sido de 7,7 por cento, em vez de cinco por cento, como fora anunciado.
A Grécia martelou os números do défice de modo a cumprir os critérios de adesão. Tal como a Itália, Espanha e Portugal, a Grécia beneficiou dos baixos custos do crédito, à medida que as taxas de juro na Zona Euro convergiam. Mas as coisas correram mal no rescaldo da crise de 2007.
A notação de crédito do país foi rapidamente rebaixada, e o Governo aprovou uma série de medidas de austeridade para tentar controlar o défice. Mas isso não foi suficiente para serenar os investidores e, em abril, o Executivo grego pagava mais dez pontos percentuais para obter empréstimos do que o congénere alemão. A Grécia teve de se virar para o FMI e para os parceiros da UE em busca de um resgate, que só foi concedido em troca da imposição de mais austeridade. Isto levou a uma ronda de greves e violentos protestos, incluindo um ataque com bombas incendiárias a um banco que matou três pessoas.
O povo grego estava preso numa armadilha. Os credores internacionais insistiam em reformas económicas, mas os pacotes de austeridade faziam a economia mergulhar ainda mais em parafuso. A produção económica caiu quase um quarto. Estava claro que a Grécia teria de entrar em incumprimento quanto a parte das suas dívidas, mas essa perspetiva alarmou os investidores e fez disparar para níveis ainda mais elevados o rendimento das obrigações – a emissão destes títulos a dez anos rendeu 44 por cento na primavera de 2012.
Durante algum tempo, levantou-se a possibilidade de a Grécia ter de abandonar a Zona Euro e voltar a adotar o dracma. Mas esta não era uma perspetiva muito apelativa. Mudar para o dracma envolveria uma desvalorização substancial – de 30 por cento ou mais. Por isso, os depositantes dos bancos veriam cair abruptamente o valor das suas poupanças. Muitos tentariam transferir o dinheiro para bancos estrangeiros: controlos da circulação de capitais seriam, deste modo, necessários para evitar uma corrida ao sistema bancário. Enquanto isso, a dívida da Grécia para com os agentes internacionais continuaria a ser denominada em euros e o seu pagamento seria ainda mais dispendioso. O incumprimento das suas dívidas tornar-se-ia inevitável.
No rescaldo imediato do incumprimento, seria muito caro para o Governo grego contrair empréstimos. Por isso, ou o Executivo teria, de qualquer modo, de impor austeridade ou ver-se-ia forçado a emitir dinheiro para se financiar, fazendo subir a inflação. Uma vez que a desvalorização faria aumentar os preços das importações, a inflação já estaria a subir. Dificilmente constituirá surpresa, dadas todas estas desvantagens, que governos gregos de convicções políticas muito diferentes optassem sempre pelos resgates da UE, apesar das condições onerosas. Por volta de 2016, o país suportava o seu 13.º pacote de austeridade e o seu rácio dívida pública/PIB ainda era de 180 por cento. A Zona Euro foi apelidada «Hotel Califórnia» económico – os países podiam fazer as contas para saírem sempre que quisessem, mas nunca podiam ir-se embora.
O que for preciso
O colapso completo da Zona Euro foi evitado com a ajuda do Banco Central Europeu (BCE). Em julho de 2012, Mario Draghi, presidente do BCE, comprometeu-se a fazer «o que fosse preciso» para salvar o euro. Cortou as taxas de juro para zero, e menos que isso, e lançou um programa de compra de obrigações que fez descer o custo dos empréstimos para os governos da Zona Euro. O seu êxito foi tal que, em 2016, tanto a Irlanda como a Espanha conseguiram obter empréstimos a dez anos a menos de um por cento.
Ainda assim, a crise teve alguns momentos desagradáveis e criou a sensação de um continente em crise. Por sua vez, isto influenciou a votação do referendo no Reino Unido, em junho de 2016, na decisão de abandonar a UE. Noutros países, a mesma sensação contribuiu para a emergência de partidos populistas anti-UE (e anti-imigrantes). A saga foi vista como o acicatar das nações credoras «do Norte», por exemplo, a Alemanha e a Holanda, contra as devedoras «do Sul», que eram (maioritariamente) Estados mediterrânicos. Os devedores ganharam a sua própria sigla indesejável, «PIIGS» [porcos], abrangendo Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha [Spain, em inglês]. As nações do Norte sentiam que as do Sul não tinham evidenciado disciplina suficiente e que andavam «à boleia» do trabalho árduo da Alemanha e restantes. No início da crise, a idade da reforma grega era aos 61 anos, ao passo que a Alemanha acabara de anunciar planos para a passar para os 67 anos. A Grécia era também famigeradamente célebre pela sua economia paralela, ou não oficial, que permitia aos cidadãos evitarem pagar impostos.
A UE criou uma zona monetária sem uma autoridade fiscal comum ou uma garantia de depósito regional. Num país com a sua própria moeda, como o Reino Unido ou os EUA, o Governo nacional pode transferir fundos das regiões fortes para as mais fracas. Isso acontece, até certo ponto, na UE, mas em nada que se pareça com uma escala suficiente para lidar com uma recessão.
Para os sulistas e para muitos economistas, o problema era que a Alemanha aplicara uma política bastante restritiva, visando registar excedentes tanto comerciais como orçamentais. Na verdade, estava a poupar demasiado e a gastar pouco, exportando assim uma deflação para o resto da Zona Euro. (Para competirem com a Alemanha, os outros países tinham de reduzir os encargos com os salários). Por definição, nem todos os países conseguem ter excedentes comerciais – a Alemanha estava a forçá-los a entrarem em défice e depois a culpá-los pelos resultados.
A crise também confirmou as dúvidas dos que consideraram que a criação da moeda única fora malconduzida. Permitira-se a adesão de demasiados países. Embora os europeus tivessem ficado aborrecidos com as repetidas crises monetárias dos anos 1970, 1980 e 1990, esses episódios haviam permitido aos países ajustarem as políticas económicas com o simples expediente da desvalorização. Quando as exportações gregas ou italianas se tornavam pouco competitivas face às da Alemanha, os países podiam desvalorizar a sua moeda e começar de novo. No seio de uma zona de moeda única, essa opção desaparecia.
Além do mais, embora os europeus tivessem eliminado o risco monetário, não podiam livrar-se dele por completo. Os investidores simplesmente transferiram as preocupações para o mercado das obrigações. Rendimentos obrigacionistas mais elevados, ao aumentarem o custo do crédito por toda a economia, tinham efeitos mais prejudiciais do que o teriam pequenas desvalorizações.
Em sentido mais amplo, a UE criou uma zona monetária sem uma autoridade fiscal comum ou uma garantia de depósito regional. Num país com a sua própria moeda, como o Reino Unido ou os EUA, o Governo nacional pode transferir fundos das regiões fortes para as mais fracas. Isso acontece, até certo ponto, na UE, mas em nada que se pareça com uma escala suficiente para lidar com uma recessão. Os bancos eram garantidos pelos governos nacionais, em vez de o serem por Bruxelas. Isto era compreensível por motivos políticos: os alemães e holandeses sentiam desconfiança quanto a serem os abonadores de toda a Europa. Mas isto tornou o sistema mais frágil no rescaldo de 2008.
Outra crítica é que a UE, tal como os governos ocidentais em geral, ficou demasiado obcecada com a austeridade. Os críticos da ala esquerda defenderam que os políticos estavam assustados com os enormes défices orçamentais em 2009. O défice orçamental médio das 11 principais economias, em 2007, era de 0,3%; dois anos mais tarde, atingira os 5,4%.
Tanto a Grã-Bretanha como a América tinham défices de mais de 10% do PIB. Na altura, os políticos preocupavam-se com a hipótese de tais défices colossais conduzirem ao risco de alienar os investidores obrigacionistas, fazendo aumentar os custos do crédito e, deste modo, criando uma crise ao estilo grego.
Nos últimos 300 anos, o mundo tem usufruído de longos períodos de crescimento, pontuados por crises ocasionais. A próxima crise poderá muito bem advir de uma interrupção daqueles padrões comerciais que levam os navios até Singapura e a Felixstowe.
Mas os críticos argumentavam que esses temores não faziam sentido. Um país que emitisse dívida na sua moeda e tivesse um banco central complacente (que pudesse comprar obrigações através de uma QE) não precisava de temer os mercados – na verdade, a rendibilidade das obrigações estava em mínimos históricos, apesar dos avultados défices.
Em vez disso, disseram os críticos, a austeridade foi conduzida pelo desejo ideológico, que grassava entre os políticos conservadores de ambos os lados do Atlântico, de uma menor presença do Governo.
A austeridade tornou as coisas piores. A melhor forma de reduzir o défice seria deixar a economia crescer mais rapidamente, de modo a que as receitas fiscais pudessem aumentar. Este argumento ganhou um aliado improvável em 2016 sob a forma do FMI, que avisou que «os custos dos aumentos fiscais ou os cortes de despesa exigidos para fazer descer a dívida [poderiam] ser muito maiores do que o reduzido risco de crise gerado por uma dívida mais baixa». A instituição acrescentou: «Episódios de consolidação fiscal são seguidos, regra geral, por quedas, em vez de por expansões, da produção. Em média, a consolidação de um por cento do PIB aumenta a taxa de desemprego a longo prazo em 0,6 pontos percentuais.»
Contudo, vale a pena sublinhar o que os economistas querem dizer quando falam em “austeridade”. Referem-se ao défice tendencial, em vez de aos seus níveis absolutos. Por outras palavras, o Governo do Reino Unido ainda estava a ser «austero» quando contraiu empréstimos no valor de 7,5% do PIB em 2011, apesar de este ser um dos maiores défices da sua história. Isto deu-se porque o Governo tinha aumentado os impostos e cortado a despesa pública de modo a baixar o défice dos 10,1% registados em 2009, tirando, assim, dinheiro do bolso das pessoas. Mesmo após um prolongado período de austeridade em 2015, 22 países (de entre 32) da OCDE ainda gastavam mais de 40 por cento do PIB.
Poucos sinais houve de algum declínio nos gastos sociais (subsídios de desemprego, assistência de saúde, pensões), em termos de proporção do PIB, nas nações desenvolvidas. À medida que a população ocidental envelhece, parece provável que este rácio continue a subir. Em 1960, a Alemanha Ocidental era a única a gastar mais de 15% do PIB em benefícios sociais; hoje, a maior parte das nações gasta muito mais do que isso. A despesa social francesa ultrapassa os 30% do PIB. Tendo em conta que os conservadores tentam reduzir a presença do Governo na economia desde os tempos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, muitas vezes só conseguiram ficar a marcar passo. Um estudo realizado pelo Instituto para os Estudos Fiscais, na Grã-Bretanha, revelou que, após anos de austeridade, a despesa pública em 2017-18 previa-se vir a rondar a mesma proporção do PIB que tivera em 2007-08.
(…)
O regresso do nativista
Em 2016, o mundo tomou um rumo mais nacionalista.
- Primeiro, a Grã-Bretanha votou a favor do abandono da UE num referendo. Em segundo lugar, Donald Trump tornou-se presidente dos EUA com base num programa protecionista (apesar de ter perdido o sufrágio popular com uma diferença de quase três milhões de votos). Na altura em que escrevia isto, ainda era demasiado cedo para dizer quão disruptivo viria a ser para o comércio europeu o escrutínio do Brexit. Mas Trump cumpriu o prometido impondo tarifas aduaneiras sobre certos produtos (aço e alumínio) e contra certos países, especialmente a China.
É difícil saber como se vai desenrolar a guerra comercial com a China. Nas negociações com o México e com o Canadá, Donald Trump pareceu seguir uma estratégia de fazer grandes ameaças e de se contentar com pequenas concessões. O mesmo pode acontecer com a China. Mais preocupante era a ideologia subjacente à sua abordagem. Primeiro, parecia encarar o défice comercial simultaneamente como uma perda para os EUA e um sinal de que o outro lado fazia batota. Isto mais não era do que o revivalismo do mercantilismo, uma filosofia que Adam Smith desacreditou em 1776. Na vida real, os défices comerciais refletem um desequilíbrio entre a poupança e o investimento internos. Se o último exceder o primeiro, então a economia tem de atrair capital do estrangeiro e isto só pode ser feito registando-se um défice nas contas-correntes. Visto de outra forma, os americanos poupam a menos e gastam demais em importações – nenhum destes fatores tem algo que ver com as outras nações.
- O segundo problema é que Trump labora sob a falsa convicção de que são as empresas estrangeiras que pagam as tarifas. Na verdade, são os que importam os produtos quem as suporta. Terão de comportar o custo extra sob a forma de lucros mais baixos (o que significa menores dividendos para os investidores), ou poderão ter de recuperar esse encargo sob a forma de salários mais baixos, ou de preços mais elevados para os consumidores.
Em muitos casos, as importações poderão ser de componentes necessários ao fabrico de produtos destinados à exportação – por isso, as tarifas tornam a empresa americana menos competitiva. É claro que é possível mudarem para fornecedores nacionais. Mas esses terão, de certeza, custos mais elevados. Se assim não fosse, não estariam, à partida, a importar o produto.
O efeito líquido desta medida é tornar a economia menos eficiente. As tarifas de Trump não são tão más, nem nada que se pareça, como as que predominaram antes da Segunda Guerra Mundial. Mas uma pesquisa feita pela Tax Foundation, um grupo de reflexão norte-americano, calculou que, se todas as tarifas que foram ameaçadas fossem postas em prática, o PIB dos EUA seria cerca de 0,6 por cento mais baixo, enquanto os salários teriam uma redução de 0,4 por cento e o emprego sofreria uma queda que rondaria os 460 000 postos de trabalho.55
Nos últimos 300 anos, o mundo tem usufruído de longos períodos de crescimento, pontuados por crises ocasionais. A próxima crise poderá muito bem advir de uma interrupção daqueles padrões comerciais que levam os navios até Singapura e a Felixstowe.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
A crise e depois dela, de 2007 até hoje
{{ noCommentsLabel }}