As cotadas portuguesas continuam generosas na remuneração dos acionistas. A rendibilidade média do dividendo das empresas do PSI atinge 5%, com sete companhias acima desta fasquia.
Está à porta a época de pagamento de dividendos da bolsa portuguesa, com as cotadas do PSI a apresentarem remunerações atrativas para os investidores, apesar de terem destinado para os acionistas uma fatia mais reduzida dos lucros. Mais de metade dos dividendos das companhias do índice nacional incorporam uma rendibilidade de pelo menos 5%, o que representa um retorno atrativo mesmo num contexto de taxas de juro mais elevadas.
As 13 cotadas do PSI que vão pagar dividendos em dinheiro (Greenvolt não remunera, Ibersol ainda não revelou e EDP Renováveis paga em ações) vão entregar um total de 2.654 milhões de euros aos acionistas, o que representa um aumento de 5,2% face ao ano anterior. O crescimento é bem inferior aos lucros (32%), pelo que a fatia que é paga em dividendos (payout) baixou de forma substancial para 52% (65,4% no ano passado).
A rendibilidade média dos dividendos destas 13 companhias é precisamente de 5% (ilíquido de impostos), num ranking que é liderado pela Nos ao apresentar uma taxa próxima dos 10%. A operadora negoceia esta sexta-feira pela última vez com direito ao dividendo, sendo que só a EDP também já divulgou as datas de pagamentos. A maioria das cotadas ainda não realizou as assembleias gerais onde o pagamento será aprovado.
Dividendo “rima” melhor com longo prazo
É pouco eficiente a estratégia de comprar ações de cotadas com dividendos mais elevados apenas com o intuito de curto prazo de recolher a remuneração. A cotação ajusta em baixa o valor que é entregue aos acionistas, pelo que o encaixe em dinheiro é perdido no valor do investimento. A escolha de cotadas com dividendos atrativos encaixa bem melhor numa estratégia de longo prazo, em que o investidor garante um fluxo de retornos em “cash” na sua carteira, composta por ações com uma evolução habitualmente mais estável (risco mais baixo).
Na escolha dos dividendos mais atrativos, a rendibilidade da remuneração é um fator chave, mas longe de ser o único que deve ser tido em conta. A sustentabilidade do dividendo é crucial, pelo que deve ser analisada a evolução histórica, o peso da remuneração nos lucros (payout) e a alavancagem financeira das companhias. As cotadas que assumem uma política clara de remuneração aos acionistas também ganham trunfos, pois oferecem uma maior previsibilidade.
Apostar numa empresa com um dividendo de rendibilidade elevada pode não ser a melhor aposta se a empresa não mostrar capacidade de o manter nos exercícios seguintes. Mesmo os compromissos assumidos pelas empresas devem ser escrutinados, pois podem não ser sustentáveis. CTT e REN são exemplos de cotadas portuguesas que, no passado, foram obrigadas a rever a política de remuneração aos acionistas, alinhando-as com a evolução dos resultados.
Olhar para os indicadores só num ano também não é recomendável, pois pode refletir eventos extraordinários, ou um exercício mais desfavorável. A Altri é um bom exemplo, pois apresenta um pouco recomendável payout superior a 100%, mas porque os lucros desceram de forma acentuada devido à conjuntura desfavorável do setor em 2023. A companhia optou por manter estável o valor do dividendo, recorrendo a reservas que acumulou nos anos de forte subida dos lucros (o payout nos dois anos anteriores foi inferior a 50%).
A generalidade das cotadas portuguesas apresenta atualmente uma política de pagamento de dividendos clara e cada vez mais sustentável, sendo que o payout de três dígitos da Altri é agora caso único, quando nos exercícios anteriores a prática era recorrente por parte de várias companhias. Olhando para os valores agregados, fica validada a ideia de que as cotadas portuguesas pagam um dividendo atrativo e cada vez mais sustentável.
O valor global dos dividendos equivale a 52% dos lucros das 13 empresas. Seis aumentaram o valor por ação, três baixaram, outras três mantiveram e o BCP regressou ao pagamento. A rendibilidade (dividend yield, ou taxa do dividendo) atinge um valor médio de 5%, sendo que sete cotadas conseguem valores iguais ou acima desta fasquia. Entre as restantes seis, o retorno bruto é superior a 3%, o que já pode ser considerado interessante. Acresce que várias companhias, como a Galp Energia e os CTT, também remuneram os acionistas através da recompra de ações próprias.
Sendo o dividend yield calculado através da divisão do valor do dividendo por ação pela cotação, o desempenho negativo de algumas cotadas nos últimos meses também explica a melhoria deste indicador para níveis mais atrativos.
De seguida uma análise individual às companhias do PSI com uma taxa de dividendo bruto de pelo menos 5%.
Nos tem o dividendo mais rentável
A Nos é a primeira a remunerar os acionistas este ano (ação desconta esta segunda-feira, 22 de abril), apresentando também o dividendo mais rentável (dividend yield próximo dos 10%). A operadora vai distribuir 35 cêntimos por ação, uma queda de 19% face ao ano anterior em que beneficiou com o encaixe extraordinário através da venda de ativos. Habituada a distribuir aos acionistas a totalidade dos lucros, a rendibilidade elevada do dividendo da Nos também espelha o desempenho negativo das ações, com uma desvalorização próxima dos 20% em 12 meses.
REN mantém dividendo atrativo apesar de payout mais baixo
A ação da REN é comparada a uma obrigação, devido à previsibilidade na geração de cash flows, que permite pagar um dividendo estável e reduzir a volatilidade da cotação. Com um payout habitualmente encostado a 100%, a companhia reviu a sua política de dividendos em 2021, baixando o valor por ação mínimo de 17,1 cêntimos para 15,4 cêntimos. É este o valor que será distribuído este ano, o que corresponde a uma taxa de 7%. A REN paga duas vezes por ano, pelo que nas próximas semanas os acionistas recebem os 9 cêntimos remanescentes.
Sonae é “mini aristocrata”
A Sonae vai remunerar os acionistas com um dividendo de 5,639 cêntimos por ação, o que equivale a um dividend yield de 6,4%. É o terceiro mais elevado do PSI, mas a companhia destaca-se sobretudo pelo ritmo constante de aumento da remuneração aos acionistas. 2024 será o décimo ano consecutivo de subida do dividendo por ação, o que representa a melhor série entre as cotadas portuguesas e deixa a Sonae a caminho de atingir um feito ao alcance de um escasso número de cotadas a nível mundial. As empresas que aumentam o dividendo sem interrupções ao longo de 25 anos são conhecias nos mercados por aristocratas. A Sonae consegue este dividendo atrativo entregando aos acionistas menos de um terço dos lucros.
BCP regressa em grande
A cautela com os impactos da crise pandémica no setor financeiro levou o BCP a optar por não remunerar os acionistas referente ao exercício de 2022, mas a evolução positiva dos resultados (lucros cresceram mais de quatro vezes em 2023) motivou o regresso com um valor atrativo. Ao dividendo de 1,7 cêntimos corresponde uma rendibilidade de 5,8%, o que representa o retorno mais elevado desde (pelo menos) o início do século. Acresce que as ações registam um bom desempenho (28% nos últimos 12 meses) e o banco está a distribuir “apenas” 30% dos lucros. Com a perspetiva de descida das taxas de juro, haverá uma maior pressão sobre os lucros futuros, mas o banco promete remunerar os acionistas “de uma forma consistente” e “de uma forma clara”. O CEO, Miguel Maya, promete distribuir pelo menos metade dos lucros nos próximos exercícios.
Queda das ações beneficia retorno da EDP
A EDP é a cotada do PSI que entrega aos acionistas o valor em dividendos mais elevado (acima de 800 milhões de euros), sendo também das que tem a política de remuneração aos acionistas mais estável e generosa. A elétrica assume o compromisso de pagar um dividendo mínimo de 19 cêntimos, com um payout entre 60% a 70% dos lucros recorrentes, tendo como objetivo chegar aos 20 cêntimos em 2026. Depois de sete anos no patamar dos 19 cêntimos, a EDP aumenta a remuneração em 3% para um valor que equivale a um retorno de 5,5%. A taxa do dividendo também reflete o mau desempenho das ações da elétrica, que registaram nos primeiros três meses o pior trimestre de sempre (-20%).
Queda de lucros penaliza Navigator
A queda nos lucros (-30% em 2023) devido à conjuntura no setor levou a Navigator a reduzir o dividendo em 25%, que se reflete na ausência da habitual remuneração extraordinária no final do ano através da distribuição de reservas. A fabricante de papel vai pagar um dividendo de 21,091 cêntimos, que equivale a um dividend yield de 5,3. É inferior à taxa dos anos anteriores, mas a Navigator entrega pouco mais de metade dos lucros aos acionistas e apresenta uma alavancagem financeira conservadora (dívida corresponde a um ano de EBITDA).
Altri sobe payout para manter dividendo
A Altri também foi penalizada pelo momento desfavorável do setor do papel (lucros caíram 72%), mas optou por não diminuir a remuneração dos acionistas. O dividendo ficou estável em 25 cêntimos, o que atirou o “payout” para mais de 100%, sendo a única cotada do PSI a entregar aos acionistas um montante superior aos lucros. O facto de ter adotado uma política mais conservadora nos anos de lucros elevados permitiu agora a estabilização da remuneração, com a taxa do dividendo nos 5%.
As restantes seis cotadas do PSI que pagam dividendos em dinheiro apresentam um dividend yield abaixo de 5%, mas ainda assim mostram tendências interessantes. Os CTT são a empresa do índice com o maior aumento de dividendo (36%); a Semapa tem uma taxa de dividendo acima de 4% apesar do corte de 72% na remuneração; a Jerónimo Martins tem uma política estável de distribuir metade dos lucros; a Galp Energia e a Mota-Engil têm payouts abaixo de 50% mas aumentaram o dividendo e a Corticeira Amorim estabilizou apesar da quebra nos resultados.
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