As estimativas dos analistas apontam para que os lucros das maiores cotadas portuguesas tenham aumentado 12,3% em 2023 para o valor histórico de mais de 5 mil milhões de euros.
No primeiro ano da pandemia, os lucros das empresas do PSI afundaram 27,5% para 2.357 milhões de euros, o valor mais baixo desde 2013 que culminou num período de três anos de variações negativas. Mas, entretanto, as coisas mudaram substancialmente.
A inversão de tendência foi forte e as maiores cotadas portuguesas terão fechado 2023 com o mais do dobro dos lucros registados em 2020, superando pela primeira vez a fasquia dos 5 mil milhões de euros.
A recuperação foi sentida de forma evidente logo em 2021, com os lucros a dispararem mais de 50% para um recorde de 3.551 milhões de euros. Prosseguiu a bom ritmo em 2022, com um incremento de 38%, que foi consolidado no ano passado, embora com um crescimento mais modesto.
Tendo em conta os cálculos do ECO com base nas estimativas dos analistas compiladas pela Reuters, as 16 cotadas do PSI terão consolidado lucros de 5.513 milhões de euros em 2023, o valor mais elevado de sempre e que representa assim o terceiro recorde anual consecutivo. Este aumento de 12,3% denota um progresso saudável na atividade operacional, com receitas e EBITDA também em níveis recorde.
O ciclo de três anos seguidos de subida nos lucros está alinhado com o desempenho do PSI, que também alcançou em 2023 o terceiro ano consecutivo de valorizações. O índice acionista português ganhou 13% em 2021, abrandou para 2,8% no ano seguinte e regressou às valorizações de dois dígitos no ano passado, evidenciando uma correlação lógica entre as contas das empresas e o seu desempenho bolsista.
Contudo, ao contrário dos lucros e do que acontece na generalidade das bolsas globais, a cotação do PSI está muito distante de máximos históricos. O índice português teria de duplicar para se aproximar do recorde fixado em março de 2000, o que demonstra a perda de valor registada na crise financeira de 2008 e durante o período de assistência externa, de que o PSI nunca conseguiu recuperar.
No que diz respeito à evolução dos resultados, as cotadas portuguesas já se destacam pela positiva, pelo menos na Europa. As estimativas dos analistas compiladas pela LSEG apontam para uma queda de 0,9% nos lucros das companhias Stoxx600 em 2023.
Na análise ao quarto trimestre, as previsões indicam uma queda de 8,8% nos lucros do índice pan-europeu, enquanto para as cotadas portuguesas deste índice as estimativas apontam para um crescimento de 13,1%. A confirmar-se, será o melhor desempenho entre todos os países representados no Stoxx600.
Receitas acima de 100 mil milhões e margens a recuar
As estimativas dos analistas apontam para receitas consolidadas acima dos 100.234 milhões de euros, com a cifra a atingir pela primeira vez um número com 12 dígitos. Comparando com 2020, o crescimento é de 62%, mas face a 2022 é de apenas 2%, evidenciando um impacto mais diminuto da inflação.
No EBITDA a tendência é muito semelhante. Os lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações terão atingido um recorde de 17.282 milhões de euros no ano passado, apenas 1,2% acima do registado em 2022, mas o terceiro ano de evolução positiva neste indicador, visto como o mais fiável para avaliar o desempenho operacional das empresas.
As taxas de crescimento mais modestas que estão a ser estimadas para as receitas, EBITDA e lucros em 2023 mostram que os fortes aumentos registados em 2021 e 2022 não eram sustentáveis. Os números também evidenciam uma degradação das margens, numa tendência notória nos últimos três em anos.
Se os lucros atingiram um fundo em 2020 e recuperaram fortemente nos anos seguintes, na margem EBITDA a tendência foi a oposta, sugerindo que o aumento de custos em resultado da inflação não foi transmitido na totalidade para os clientes. A margem que mede a relação entre o EBITDA e a receita atingiu um pico de 19% no primeiro ano da pandemia, com as empresas a privilegiarem a proteção das margens perante a retração da atividade.
As margens baixaram em 2021 e 2022 e terão voltado a encolher a menor ritmo no ano passado. Contudo, permanecem bem acima do nível pré-pandemia e da média da década passada (16,5%). Uma melhoria que pode ter explicações díspares, desde maior poder de fixação de preços a eficiência mais elevada nos custos, mas que tem um peso preponderante no marco de as cotadas do PSI chegarem a 2023 com o dobro dos lucros registados entre 2010 e 2019 (média anual de 2,7 mil milhões de euros).
Analisando apenas o quarto trimestre, a tendência de abrandamento nos resultados é mais evidente. As cotadas do PSI terão consolidado lucros de 1.268 milhões de euros entre outubro e dezembro de 2023, o que representa uma queda de 5,9% face ao período homólogo. Uma evolução negativa que perde relevância na globalidade do ano, uma vez que no terceiro trimestre os lucros atingiram um recorde de 1.835 milhões de euros (+45,7% face ao período homólogo).
EDP, Galp e BCP representam mais de metade dos lucros
A Galp Energia dá o pontapé de saída na época de apresentação de resultados da bolsa portuguesa na próxima segunda-feira (12 de fevereiro).
De acordo com as previsões dos analistas, será uma das sete cotadas do PSI a aumentar os lucros anuais. A petrolífera deverá ser a segunda empresa do índice com lucros mais elevados e contrariar a tendência do setor a nível global, que está a baixar os resultados face a 2022 devido à desvalorização dos preços do petróleo.
A liderar a tabela continua a EDP, sendo que os lucros conjuntos das duas empresas de energia representam perto de 40% do total estimado para o PSI. Se forem adicionados os números do BCP, os três lucros mais altos pesam mais de metade (54%) dos resultados líquidos do índice, que é constituído por 16 cotadas.
Além destas três empresas, apenas mais duas (Jerónimo Martins e EDP Renováveis) deverão ter terminado 2023 com lucros acima de 500 milhões de euros. A EDP obteve lucros de 946 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, impulsionados por mais-valias das duas transações de rotação de ativos em Espanha e na Polónia.
Estas estatísticas revelam a baixa profundidade da bolsa portuguesa, pelo que os números agregados do PSI são influenciados por um escasso número de companhias. A EDP representa 22% dos lucros e 29% no EBITDA total e a Jerónimo Martins pesa mais de 30% nas receitas agregadas. As seis cotadas com lucros anuais abaixo de 100 milhões representam menos de 5% dos lucros acumulados por todas as cotadas do PSI.
Para a subida de 12,3% dos lucros do PSI em 2023 contribui de forma decisiva a EDP (+77%) e o BCP, que deverá ter multiplicado os lucros por mais de quatro vezes. Além da evolução positiva das quatro empresas com valores mais elevados, também a REN, CTT e Mota-Engil terão aumentado os lucros em 2023. As outras nove cotadas do PSI terão reduzido os lucros no ano passado.
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PSI veste-se de gala para apresentar lucros recorde em 2023 pelo terceiro ano consecutivo
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