E agora, Europa?
Existem dois tabus nesta Europa. O cargo de Ministro das Finanças Europeu e o Exército Europeu. A Europa precisa de ser debatida. Com clareza e não com frases feitas que nos habituámos a ouvir.
O que é isto de Europa? O que é isto de sermos efectivamente europeus? Aqui, no nosso cantinho? Para muitos a Europa é lá. Em Bruxelas. Lá, eles na Europa. E cá? Cá é a bandeirinha com as estrelas nos projectos financiados. É um conjunto de imposições, sobretudo nos estabelecimentos. Regras e regras. E são os milhões que ouvimos falar. Mas é muito mais. É o sonho de andarmos todos, de país em país, sem fronteiras, sem amarras. Liberdade. Pessoas e mercadorias. O capital, o terrível capital, a circular. O sonho de ter um espaço onde as armas não existem, mas as trocas comerciais imperam. Onde a moeda é a mesma. Foi tudo vendido como um sonho.
Mas e hoje? Que balanço podemos fazer? Existe um sentimento europeu? Penso que não. Existe uma realidade económica mais favorável? Apesar de tudo, sim. Portugal estaria (ainda) mais pobre sem a Europa. É importante dizer isto. E é importante dizer também neste dia que celebramos (e bem) a Europa, que existem cá, em Portugal, Partidos que são contra a Europa. Que são contra este modelo que nos mantém como país de quase primeiro mundo. E que até, pasme-se, já influenciaram um Governo. Tudo normal.
Mas é bom que celebremos a Europa. Com análise crítica. Com espírito de intervenção. Não como meninos bem comportados que tudo aceitamos, mas também a realidade demonstra que a Europa precisa de uma nova dinâmica. Num processo que se achava imparável de união, já tivemos uma desistência. O Brexit foi um golpe. Podemos suavizar, mas foi um golpe. E agora, com a Ucrânia, com uma guerra às nossas portas, a Europa tem o seu maior desafio. Agrega? Desfaz-se? Assobia para o lado?
Existem dois tabus nesta Europa. O cargo de Ministro das Finanças Europeu e o Exército Europeu. São dois tabus que, por receio da opinião pública, não são objecto de debate. Já só nos resta, em parte, a gestão do Orçamento de Estado e a cobrança de impostos. Estamos prontos para abdicar disso?
E os fundos europeus? Não são a fundo perdido, como nos procuram vender. Alguém paga. Alguém tem sempre que pagar. Não são eternos. Como faremos a redistribuição? É dramático para um país como o nosso. Que vive de mão estendida na espectativa de fazer inaugurações via PRR.
E o exército europeu? Esta guerra veio demonstrar o que era evidente. Não temos capacidade de resposta. Porquê? Porque existem gerações que não têm na guerra a resposta para os problemas. E bem, acrescento eu. A minha geração não faz ideia o que seja uma guerra. Mas e a realidade hoje permite-nos ser assim? Era bom. Mas para isso contamos com os Estados Unidos da América, que são a NATO. Que são o nosso garante de defesa. Mais um tema onde, também em Portugal, existem irresponsáveis que são contra. Irresponsáveis que já assumiram responsabilidade na governação. E, se calhar, ainda assumem.
Por tudo isto, a Europa precisa de ser debatida. Com clareza e não com frases feitas que nos habituámos a ouvir.
Sim, sou europeu. Mas também sou português e quero da Europa um espaço de liberdade e que nos proteja.
Bem precisamos. Mas sobretudo, precisamos de aproveitar. É que entraram na Europa países em condições piores e hoje estão a ultrapassar-nos. E isto é culpa nossa. O ponto de partida desses países de leste era muito lá atrás e nós, de 2000 para cá vivemos a fingir que está tudo bem e alguém, lá na Europa resolve. Convém perceber o que vem aí.
Viva a Europa sim. E que Portugal aprenda a lidar neste contexto.
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