O próximo Governo deve ter a capacidade de escolher pessoas de qualidade, com poder de decisão e preparadas. Os próximos tempos vão ser intensos.

Quatro meses passaram desde que António Costa se demitiu. E como o mundo mudou desde aí. Foram quatro longos meses de uma campanha eleitoral. Muito ruído e muita confusão. Onde o espetáculo é mais valorizado que o cabal esclarecimento. Basta olhar para o exemplo dos debates entre candidatos. 25 minutos num duelo de espadas. São qualquer coisa como 12 minutos e meio para cada candidato. Peço desculpa, mas não serve para esclarecer, dar a conhecer as propostas para a saúde, educação, impostos, economia, habitação, ambiente, defesa, Europa, justiça, cultura, segurança social. E não estão aqui elencados todos os temas. É só um exemplo.

Mas o povo escolheu. E, mais uma vez, foi sábio. À luz dos dados que dispunha escolheu mudar de vida. Para choque de muitos, que ainda não entenderam certos fenómenos, é notório que o voto no Chega é um grito bem alto numa forma de arrastar o país. Justa ou injustamente, muitos são os portugueses que estão cansados. Do de sempre e dos de sempre.

Mas e agora? Chegados aqui, o que fazer?

Não é tarefa fácil para a Aliança Democrática. Leu bem o que significa AD? Uns 100 mil eleitores, ao que parece, não fixaram. Mas agora, contados os votos (escrevo quando ainda não sabemos os votos dos círculos da emigração) e muitas análises e justificações depois, importa reflectir sobre o que é essencial fazer.

Agora é tempo de arrepiar caminho. O tempo não será muito. Uma Assembleia da República com esta constituição não permite muito tempo de espera. Quem o Senhor Presidente da República convidar a formar Governo, ao dia de hoje, será Luís Montenegro, importa não perder tempo em processo de aprendizagem de governação. O país esteve quatro meses parados, quer dizer, esteve quatro meses em propaganda, pois o ainda Primeiro-ministro António Costa apareceu a lançar pedras, concursos e a projectar TGVs, mas nada de estratégico. E o país precisa de um rumo. Claro. O país tem um conjunto de prioridades para resolver. Para ontem.

Já entrou na narrativa, mais ou menos mediática, que os cofres estão cheios e é possível gastar. Isto é, sem dúvida, algo que o PSD não tem estado habituado quando chegou ao Governo nas últimas duas ocasiões com Durão Barroso e Pedro Passos Coelho. No entanto, a governação das contas certas foi uma das novidades político-partidárias que mudaram o paradigma do país. E talvez ajudem a explicar os resultados das Legislativas de 2024. Desta vez não foi a economia a resolver o voto. Ou pelo menos, não directamente. As pessoas quiseram mudança, deram a vitória à AD, mas a versão oficial de que a Direita corta pensões e reformas é um papão consolidado e que não desapareceu. Injustamente, é certo, mas é o que uma larga maioria de pessoas pensa e, também por isso, Luís Montenegro tem aqui a necessidade de fazer uma governação diferente. Não digo que seja gastar por gastar, mas deve olhar para todos os instrumentos do Estado, sobretudo o PRR e começar a executar com a rapidez possível numa máquina pesada.

Mas vamos então às prioridades. Nestes primeiros seis meses há temas claros que merecem resposta já e sem grandes considerações. São temas consensuais na sociedade portuguesa e sobretudo, consensuais olhando os resultados saídos das eleições:

  • Saúde: enfrentar o problema com gestão e rigor. O SNS em Portugal não funciona. Existe uma Direcção Executiva e é preciso tomar medidas. Continua? Acaba? É funcional? Pelos resultados ainda não percebemos se tem um grande efeito;
  • Educação: tratar com o respeito e dignidade que os Professores merecem. Sim, é preciso chegar a acordo para a devolução do tempo de carreira do Professor;
  • Polícias: acabar com a injustiça entre as diferentes Polícias. É uma vergonha o que foi feito neste sector;
  • Aeroporto: Encontrar uma solução, lançar as bases para a construção. 50 anos de debates e estudos já chega;
  • Impostos e Pensões: Aqui sim, exige muita negociação, mas se há algo que AD + IL + Chega falaram na campanha foi a necessidade de reduzir o IRS e mexer nas Pensões. A actualização das pensões é mesmo uma prioridade. É importante dar um sinal aos portugueses e baixar a asfixia fiscal em que vivem tantas pessoas. E deixo a sugestão, porque não voltar a olhar para a medida que a CIP lançou sobre o 15º mês aos trabalhadores?;
  • Transparência: O povo está cansado e desconfiado dos políticos. É uma evidência. Como tal, a Comissão Europeia tem um mecanismo de Registo de Transparência, onde é público cada reunião que um Comissário tem, quem foi, o que foi debatido e quem procura influenciar as políticas públicas. É um passo.

Isto não é um programa de Governo. Faltam muitos temas. Faltam muitas prioridades, mas são linhas para os primeiros 100 dias. E para tal é preciso vontade, conhecimento e muita sensibilidade política.

E, por fim, a escolha dos decisores políticos. As pessoas importam. Sempre me fez confusão este cheque em branco que o povo dá a um líder partidário sem saber antes de votar quem serão os rostos das políticas públicas. Bem sei que a nossa Democracia é representativa e que elegemos Deputados, mas as pessoas contam e saber antes de votar quem pode vir a ser um ministro das Finanças, da Economia e da Segurança Social também seria um sinal de maturidade e confiança. Por isso, o próximo Governo deve ter a capacidade de escolher pessoas de qualidade, com poder de decisão e preparadas. Os próximos tempos vão ser intensos.

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