E se o Twitter for pago?
O modelo de negócio do Twitter está em contraciclo com os seus objetivos. O recente choque com Donald Trump reforçou esta diferença e reforça a necessidade de repensar o modelo de negócio.
Enquanto jogar no tabuleiro das redes sociais abertas, está condenado a ser eternamente comparado com o Facebook. E na verdade não tem grandes possibilidades no jogo da publicidade online que está nas mãos do Google e do Facebook. E por isso não vai crescer em bolsa de forma relevante.
Até pode ser verdade que o Twitter não seja particularmente inovador, ou que o tenha sido cedo demais (o altamente bem-sucedido Tiktok não é mais que uma cópia do Vine…). Mas, por ter recusado entrar no jogo da viralidade absoluta e por tentar ter cuidado com os conteúdos que permite, o Twitter foi parcialmente poupado aos grandes escândalos que assolaram as redes sociais. No período pós-covid, em que muitos perceberam a importância da informação de qualidade e ainda querem a conexão que uma rede global permite, um serviço como o Twitter ganha relevância acrescida.
Um novo modelo de negócio por subscrição permite:
- Aumentar de forma exponencial os lucros da empresa;
- Rever as regras de funcionamento e excluir de forma mais determinada extremistas e disseminadores de desinformação; repensar o modelo de redes sociais para o século XXI;
- Proteger o jornalismo de qualidade;
- E criar um ecossistema valioso de utilizadores preocupados com a informação de referência.
No ano passado o Twitter tinha 330 milhões de utilizadores ativos, número que terá crescido bastante com a pandemia do Corona. Se um décimo desses utilizadores estiver disposto a investir meia-dúzia de dólares por mês, o potencial de receitas é altíssimo. Ao mesmo tempo, fechar o serviço a subscritores permite ser mais draconiano nos termos de serviço e mais eficiente na exclusão de trolls, a começar pelo Presidente Trump e seus acólitos.
Quando uma empresa deixa de depender da publicidade e passa a depender dos utilizadores, o serviço que presta passa a ter mais qualidade – deixando de depender da viralidade, que se baseia na estimulação primitiva das emoções que promovem o ódio, a raiva e a mentira. Uma opção por subscrição resolveria o problema de base do Twitter e daria novo fôlego a um excelente negócio.
O risco aqui é, obviamente, não gerar utilizadores suficientes para ser relevante. Mas se há uma coisa que o Netflix mostra é que um serviço de entretenimento global por subscrição pode ser bem sucedido. Não há razão para que isso não aconteça com o Twitter, uma marca consolidada com utilizadores fiéis no mundo inteiro. Jack Dorsey, que tem sido tão criticado, podia ter aqui uma chapelada de génio que pode ajudar a redefinir o modelo de negócio dominante da internet. Eu subscrevia já.
Ler mais: a ideia de fazer do Twitter um serviço de subscrição não é nova e já circula entre os analistas de Silicon Valley há alguns anos. O defensor mais conhecido desta ideia é Scott Galloway, um analista e professor de gestão digital que escreveu um livro fundamental sobre as quatro maiores empresas da internet (Google, Amazon, Facebook, Apple). O seu podcast Pivot é feito em parceria com Kara Swisher, que é a jornalista com mais experiência crítica na cobertura de temas tecnológicos (e atualmente colunista do New York Times), é imperdível para quem quer que se interesse pelo futuro do digital. Por isso, em vez de um “Ler mais”, na verdade, esta recomendação é um “Ouvir mais”.
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