Economia aguenta novo confinamento? Aguenta, aguenta
O país volta esta semana a fechar portas para um novo confinamento, parecido ao de março. As empresas aguentam mais um mês de portas fechadas?
Estávamos em outubro de 2012, a discutir o Orçamento do Estado do “enorme aumento de impostos” de Vítor Gaspar quando Fernando Ulrich, numa conferência, usou uma expressão que ficou para a história e que entrou para o léxico económico nacional.
O banqueiro perguntou retoricamente se o país aguentava mais austeridade e a resposta, dada pelo próprio, foi “Ai aguenta, aguenta!”. O que Ulrich queria dizer, na altura, é que basicamente não havia alternativa à austeridade ou o país iria entrar numa situação de colapso.
Quase 10 anos volvidos, a economia voltou a enfrentar no ano passado uma recessão com proporções épicas, muito por culpa da quebra de 16,4% do PIB no segundo trimestre, provocada por 45 dias de confinamento total, entre 18 de março e 2 de maio.
Quase 10 meses volvidos, a economia prepara-se para mais um mês de confinamento. As empresas, cada vez mais endividadas e com menos fundo de maneio, aguentam estar mais um mês de portas fechadas ou apenas em takeaway ou delivery no caso dos restaurantes? Aguentam, aguentam, porque, tal como dizia Fernando Ulrich, não há alternativa.
Durante os 45 dias de confinamento de março de 2020, Portugal registou uma média diária de 538 casos de Covid-19, com um pico de 1.516 infeções no dia 10 de abril. Nos últimos sete dias, a média diária de casos é de 8.568, com um pico diário de 10.176 atingido na passada sexta-feira. A economia vai ter de confinar para salvar vidas.
Só que agora, ao contrário do que aconteceu no tempo da troika, em que o ministro Teixeira dos Santos ficou sem dinheiro sequer para pagar salários à Função Pública, o país tem dinheiro para acudir à economia.
Desde o início da pandemia, segundo dados da execução orçamental de novembro, as medidas tomadas pelo Governo no âmbito da Covid-19 (para a Saúde e para ajudar a economia) já custaram aos cofres públicos 4,296 mil milhões de euros (menos 1.574,4 milhões de receitas e mais 2.721,6 milhões em despesa).
Deste bolo, e olhando apenas para as medidas adotadas para ajudar as empresas e os empresários a pagar salários (Isenção da TSU, Lay-off, Apoio extra ao trabalhador independente, Incentivo extraordinário à normalização, Apoio à retoma progressiva e o Complemento de estabilização), as Finanças já gastaram 2 mil milhões de euros.
Mas o Governo conseguiu um empréstimo junto de Bruxelas, no âmbito do programa SURE, de 5,9 mil milhões de euros, precisamente para financiar este tipo de gastos para salvar empregos. Mesmo usando esse cheque para pagar os 2 mil milhões de euros que já se gastaram, ainda sobram quase 4 mil milhões.
Não será por falta de dinheiro que o Governo deixará de ajudar as empresas. É, no entanto, necessário acelerar o passo porque muitas empresas já estão com a corda na garganta. Mais do que anunciar novas medidas (que serão sempre bem-vindas), o Governo tem de acelerar o pagamento das medidas que já estão no terreno.
Ainda esta semana, aqui no ECO, um dos proprietários do restaurante “O Edmundo”, em Benfica, queixava-se de ainda não ter recebido o dinheiro do programa de apoio à restauração que pediu em novembro. E o chef Vítor Sobral dizia ainda estar à espera do pagamento dos últimos dois meses do lay-off.
No caso da ajuda extraordinária aos trabalhadores sem proteção social, conta a Provedora de Justiça, ainda há quem esteja à espera dos apoios relativos aos meses de julho e agosto de 2020.
“Mais do que encontrar novas medidas, a aplicação das existentes deve ser rápida”, defendeu António Saraiva da CIP, apelando à celeridade sobretudo no que diz respeito aos apoios a fundo perdido. Caso contrário, a economia não aguenta. “Ai não aguenta, não aguenta!”.
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