Em defesa das mulheres

Um mundo justo dá as mesmas possibilidades e deixa voar os sonhos e o talento. De todos. Homens e mulheres.

Tenho acompanhado com interesse o fascínio que a comunicação social devota a Alexandria Ocasio Cortez. Uma recém-eleita congressista norte-americana do Partido Democrata. Com 29 anos é telegénica, combativa, uma seguidora de Bernie Sanders, tal como ele profundamente de esquerda, que amedronta a direita conservadora que não para de a bombardear para tentar corroer a sua aura. A tudo isso ela responde: «é encorajador, porque estou há poucos dias no Congresso e eles atacam-me com esta artilharia toda. A sua ascensão passa pelas redes sociais, feudo de onde brotam outros tantos políticos da nova geração. Ao fim e ao cabo, é um fenómeno que ainda nada provou, é uma chama que ainda não lavrou a sua marca, é uma esperança à qual muito falta para ser uma estrela resplandecente.

Ao mesmo tempo, observo o frenesim do mesmo partido americano que já conta com nove candidatos a bater Donald Trump, algo atípico quando um presidente está no poder e tem o caminho mais aberto para a reeleição, mas a truculência e ziguezagues do empresário, que conhece pouco do mundo nas suas infinitas certezas, abre uma janela de oportunidade a diversos contendores. Desses, quatro são mulheres: Elizabeth Warren, Kamala Harris, Tulsi Gabbard e Kirsten Gillibrand. E em todo o mundo cresce a afirmação feminina na arena que gere as comunidades. Da contestação do #Metoo, passou-se a uma posição de força e determinação, não de quem se queixa e vitimiza mas de quem assume que é preciso valorizar o seu papel para mudar a maneira de como o globo ainda em muitos sectores e áreas vê as mulheres.

Que crescem em posições de destaque também na vertente financeira, apesar de, por exemplo, serem ainda poucas as que ocupam cargos de liderança nas principais empresas mundiais. Por cá, no PSI-20 contam-se pelos dedos das mãos as que administram as principais cotadas e na política portuguesa, mesmo com Assunção Cristas e Catarina Martins, as mulheres ainda estão em posições secundárias quando o seu mérito e talento devem ser encarados ao mesmo nível do sexo masculino. Ainda esta semana se viram demasiados comentários machistas sobre os membros do Governo que tomaram posse, como se a sua capacidade de trabalho fosse simbolizada pelas roupas que vestiam quando assinaram o compromisso de honra governamental perante Marcelo Rebelo de Sousa. Aliás, nem sabia que existiam tantos encartados “fashion advisers” que peroraram sobre o traje de ministras e secretárias de Estado no dia de posse, numa manifestação de possidonismo e deselegância que se misturou com chauvinismo do pior que pode aparecer nos dicionários.

Porém, o que me tem marcado bastante nestes últimos tempos são os constantes casos de violência sobre as mulheres em Portugal. Já são onze mortas em quadros bárbaros de violência doméstica, fora inúmeros casos de violações, raptos e assaltos que deviam levar a comunidade a parar para pensar. Na Europa, somos o quarto país com mais casos destes mas ainda não temos um caso de Estado como já é o espanhol que lidera este pobre ranking. Aqui ao lado emocionou uma nação o crime ocorrido em Saragoça onde uma advogada foi apunhalada inusitadas vezes pelo companheiro que defendeu, depois do mesmo monstro ter disparado 11 tiros na primeira mulher. A maldade mora nos cantos mais obscuros do interior da natureza humana, na maior parte não tem explicação. Está na altura das penas serem severas para prevenir tais tragédias, a Justiça não pode ser branda com criaturas hediondas. Eduardo Galeano recordava que «são femininos os símbolos da Revolução Francesa», a que promoveu a liberdade, igualdade, fraternidade. Não podemos criar muros e barreiras à ascensão das mulheres, bem como não as podemos continuar a destratar e maltratar, sobretudo quando não valorizamos todo o seu papel essencial na família, no trabalho, no mundo. Um mundo justo dá as mesmas possibilidades e deixa voar os sonhos e o talento. De todos. Homens e mulheres.

Nota: O autor escreve segundo a antiga ortografia

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