Está a ser o Cabo das Tormentas ir para a bolsa
Entraram duas novas empresas na bolsa nacional. Outras duas não resistiram às águas revoltas dos mercados. Mas será que o número de vítimas fica por aqui?
Há muitos anos que o mercado português não estava tão agitado. Em vez de saídas, é ver empresas atrás de empresas rumar para a bolsa de Lisboa. Só este ano já foram duas. E podem, ou não, ser ainda mais as que largam os bancos para obterem capital juntos dos investidores, grandes e pequenos.
A Farminveste não tinha qualquer desafio, já que apenas colocou as ações no mercado. Foi o que fez. A Raize, não. A plataforma de investimento colaborativo queria levantar algum dinheiro no mercado de capitais. E conseguiu fazê-lo. Mas o mesmo não aconteceu com a Sonae MC.
Aquela que prometia ser a grande estreia na bolsa portuguesa acabou por escorregar no sobe e desce dos mercados. Os investidores não ficaram convencidos com a história que lhes foi vendida. Não se espantaram com o sucesso do negócio retalhista. Pelo menos não o suficiente para arriscarem no mar revolto das bolsas.
Na altura era a Itália. O desafio de Silvani a Bruxelas fez estremecer as bolsas, agitando demasiado as águas para o gosto de investidores que estão sempre alerta para o risco se verem o seu dinheiro afogar-se.
As águas continuaram agitadas, mas, pasme-se, o espírito explorador dos portugueses falou mais alto. E quase em simultâneo, outras duas empresas largaram âncoras para se atirarem ao mar. A Vista Alegre já está habituada as marés, até porque há muito que está no mercado, ainda que de forma muito tímida. Quis dar mais vela aos títulos, mas faltou o vento.
Queria ir para o PSI-20… Queria… Mas afundou. Andou até à última a gritar aos sete ventos que estava tudo a correr bem. Que era fácil convencer os investidores a comprarem uma parte de um negócio com muitos anos de história. Era tudo fácil. Mas não é. Os mercados são tramados. E no final do ano ainda mais. São implacáveis.
Depois de Itália, as atenções viram-se para o Reino Unido. Acordo fechado com os parceiros europeus para o divórcio, mas as separações nunca são fáceis. E bastou o acordo tremer dentro de portas para a bandeira verde passar a vermelha. E nenhum investidor que se preze mergulha de cabeça em águas revoltas. Nenhum investidor quis correr o risco de se ver enrolado numa onda mais forte. E a Vista Alegre ficou sem pé.
Duas não resistiram. Mas será que o número de vítimas fica por aqui? É que praticamente ao mesmo tempo que a fabricante de porcelanas se lançou, também a Science4you o fez. Ao contrário da primeira, esta é bem mais pequena. É raia miúda. E focada nos miúdos. Miguel Pina Martins desafiou tudo e todos a entrarem na brincadeira que criou há dez anos.
As águas agitadas da Vista Alegre também a Science4you as enfrenta. E tem a agravante de ser um negócio de pequena dimensão, que sonha ainda ser um gigante no negócio, mas também nos mercados. Será que há investidores que querem participar neste sonho? E que serão capazes de levar a empresa a passar o Cabo das Tormentas?
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