Fazer contas à sustentabilidade nas PME: uma questão de estratégia

  • Natália Alencar e Vera Morgado
  • 27 Setembro 2024

É preciso fazer contas à sustentabilidade nas PME. Já tem o seu porquinho mealheiro?

Se ensinar às crianças o valor do dinheiro e o conceito de poupança as prepara para serem financeiramente responsáveis no futuro, como podemos aplicar a mesma estratégia à integração da sustentabilidade nas Pequenas e Médias Empresas?

Alterações climáticas. Escassez de água. Fome. Poluição. Consumo insustentável de recursos. Guerras. A sustentabilidade coloca-nos muitos desafios, mas também traz muitas oportunidades.

As empresas que entendem os riscos aos quais estão expostas conseguem se preparar melhor para cenários de crise. Tomando por exemplo uma empresa do setor industrial que utilize matérias-primas virgens, na eventualidade de escassez de materiais pode ver o seu negócio afetado. Já uma empresa que utiliza materiais reciclados, para além de ter um menor impacto ambiental associado à extração de matérias-primas virgens, estará mais preparada para enfrentar crises de abastecimento. Poderá ainda beneficiar de condições de financiamento mais favoráveis, uma vez que já existe oferta nacional de produtos financeiros específicos para projetos sustentáveis, com custo de capital mais reduzido.

As empresas desempenham um papel muito importante na vida das pessoas. A sustentabilidade é a nova norma e forma de assegurar que é um bom papel, sendo necessário assumir a sua integração na estratégia de negócio como um fator competitivo. Neste contexto, o “business case” da sustentabilidade emerge como uma oportunidade de criação de ganhos operacionais, financeiros e reputacionais que as empresas devem saber reconhecer.

É certo que a atual “avalanche” regulatória acarreta inúmeras novas exigências relativas às práticas de sustentabilidade na União Europeia, as quais serão necessariamente transferidas para as empresas na cadeia de valor, seja porque as grandes empresas solicitam novas informações aos seus fornecedores, ou porque o próprio setor financeiro passa a exigir o cumprimento de critérios “ESG”.

Onde podemos então obter recursos e receitas para assegurar um futuro responsável? Destacamos 5 formas de encher o porquinho mealheiro:

  • Poupar para ganhar: Analise a cadeia de valor e descubra novas formas de reutilizar recursos ou reduzir desperdícios, reintegrando-os no próprio processo produtivo ou cedendo-os a outros setores e indústrias.
  • Tomar a iniciativa: Em vez de aguardar pelas imposições regulatórias ou de stakeholders, determine o que é mais importante para a empresa. O primeiro passo é identificar os temas relevantes: como a atividade da empresa impacta a sociedade e o ambiente, e como o balanço financeiro da empresa pode ser impactado por fatores externos. Isto traduz-se numa avaliação de “dupla materialidade”, apurando a materialidade de impacto e a materialidade financeira, e identificando os impactos, riscos e oportunidades associados.
  • Captar recursos: Este é o momento de as empresas serem e fazerem melhor, aplicando a sua criatividade e processos de inovação à resolução de desafios do desenvolvimento sustentável, gerando ou reestruturando negócios que se concentram em resolver os problemas do mundo, em vez de os criar.
  • Ganhar escala: Aqui, a academia e as associações empresariais podem ter um papel preponderante, designadamente através da partilha de conhecimento e boas práticas, acesso a normas e certificações, e da criação de sinergias, inspirando os associados a participarem em projetos colaborativos.
  • A equipa é o banco: Onde deposita e confia o seu dinheiro, e a quem envia o relatório de gestão para assegurar linhas de crédito. Trate-a como tal, criando por exemplo uma assembleia de prestação de contas aos trabalhadores, na qual partilha os principais dados sobre o desempenho e os envolve. Inclua formação em sustentabilidade no plano de formação. Verifique o score ESG da sua empresa junto de empresas de rating. E aos bancos, pergunte como pode reduzir o custo de capital, em função do seu desempenho em matéria de sustentabilidade.

É preciso fazer contas à sustentabilidade nas PME. Já tem o seu porquinho mealheiro?

  • Natália Alencar
  • Especialista em Gestão da Sustentabilidade
  • Vera Morgado
  • Especialista em Finanças Sustentáveis e diretora de Finanças na Agovi Metalomecânica

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