M&A e o sector tecnológico – um investimento só concentrado em start-ups?

  • João de Travassos
  • 27 Maio 2022

Globalmente, de 2020 para 2021, o mercado de fusões e aquisições sofreu um aumento de 64% em número de transações, 71% desse aumento motivado pelo sector da tecnologia. Portugal não foi exceção.

As fusões e aquisições, as primeiras também elas como fenómeno aquisitivo, representam, em qualquer setor, uma especial forma de crescimento e investimento. Não é por isso de estranhar que consequencial ao contínuo crescimento e importância do sector tecnológico, se assista a um considerável (e contínuo) aumento do número de transações tendo por base empresas deste sector.

Globalmente, de 2020 para 2021, o mercado de fusões e aquisições sofreu um aumento de 64% em número de transações, 71% desse aumento motivado pelo sector da tecnologia. Portugal não foi naturalmente exceção. Assistindo-se a um aumento de 31% em número de operações no geral, a especial nota vai para o aumento de 165% nas aquisições por entidade não nacionais no setor da tecnologia (e internet) comparativamente ao ano 2020. De realçar não estar em causa, longe disso, um investimento concentrado em start-ups, que pelo seu inerente conceito tecnológico potencialmente disruptivo, lhes confere uma natural, diríamos essencial, propensão aquisitiva – cuja tendência atual tem feito transparecer muitas vezes também a sua propensão especulativa – antes sim, e essencialmente, assiste-se a uma tendência mais alargada, um indiferenciado número de empresas de TIC (tecnologias da informação e comunicação) sejam elas de produtos ou serviços. Relevando que uma empresa tecnológica consolidada no mercado é invariavelmente lucrativa, tendo por isso a necessária liquidez e poder de investimento, temos lido que a pandemia e o consequente aumento do investimento alocado às tecnologias de informação e comunicação por partes das empresas no geral, é apontado como elemento fundamental para este fenómeno.

Ora, se a pandemia abriu a porta a novas necessidades do tecido empresarial, seja pelo teletrabalho, reuniões virtuais, ou pela obrigatoriedade de manter e criar ferramentas interativas e apelativas para os clientes, parece-nos, contudo, que, contribuindo, não foi elemento determinante. Será preciso uma análise endógena do sector para concluir que são múltiplos os fatores que contribuem para esta tendência. Se, na base, temos uma cada vez maior dependência tecnológica (quase tecnofilia), onde a necessidade aumenta com o aumento da evolução da tecnologia – esta por defeito interminável – encontramos em Portugal fatores específicos para o sucesso.

Pegando na referida dicotomia de produtos e serviços, e começando por aqueles, assistimos a um contínuo incentivo à produção intelectual de novas soluções tecnológicas, que o favorece, e que caracteriza também o fenómeno start-up. Mas tanto por aqui, como nos serviços, o denominador comum, não deixará de ser a existência de recursos altamente especializados. Se temos assistido a aquisições cujo interesse se funda no produto intelectual, seja pelo seu valor atual ou mesmo potencial, Portugal encontra também no capital humano um elemento diferenciador. A capacitação técnica dos recursos neste sector, aliado ao seu baixo custo comparativo, acrescendo à nossa localização geográfica, ressalvada a carga fiscal, torna as empresas portuguesas altamente apetecíveis ao investimento estrangeiro, mas não só. Por outro lado, temos também uma maior permeabilidade a esse investimento que encontra justificação na figura do empresário típico deste sector, seja o jovem que quer enriquecer e levar a sua tecnologia ao mundo, seja quem encontre por aqui a forma mais fácil e eficaz de aumentar a sua capacidade competitiva neste mercado cada vez mais global. Parece-nos assim que a importância crescente do sector tecnológico no mercado de fusões e aquisições mais do que uma tendência é necessariamente uma certeza.

(Dados estatísticos: Refinitiv e TTR)

  • João de Travassos
  • Sócio da Travassos, Albuquerque & Associados

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