Marcelo, o hipocondríaco
Somos únicos, o único país do mundo com um Chefe de Estado numa Quarentena decretada pelo próprio.
Vivemos num país que mistura, sem reparar, o Carnaval com acontecimentos que deviam ser sérios. Um canalizador que esteve retido num cruzeiro no Japão por suspeita de coronavírus regressou agora à Pátria. Adriano Maranhão, esse novo herói nacional que chegou de t-shirt e uma espécie de gorro ao aeroporto, cometeu o feito hercúleo de fintar o vírus que ameaça parar o mundo com dois comprimidos de paracetamol. Para reforçar esta narrativa, o autarca da sua terra e mais uma série de mediocridades brilhantes que se fazem intitular de “autoridades” receberam-no com pompa e circunstância e se estivéssemos no Brasil por certo seria samba enredo de uma Mangueira ou Portela. É ridículo mas esta gente nem compreende a farsa que trazem vestida com a sua melhor roupa.
Portugal é assim, cria personalidades saídas do vácuo, protagonistas de vão de escada, grandes figuras que nem constarão no dia de amanhã. E temos um Presidente da República que ajuda à festa. A sua popularidade poupa-o a uma condenação pelo ridículo que era mais do que merecida também nesta semana. Somos únicos, o único país do mundo com um Chefe de Estado numa Quarentena decretada pelo próprio numa altura em que os alarmismos e a falta de bom senso não são os melhores aliados para combater o pânico que a qualquer momento se pode instalar.
Marcelo anda há meses a congelar uma decisão que todos sabem que já tomou. A sua recandidatura é um facto, ele, como menino traquinas que sempre foi, só está a criar este tabu para gozar com outros do passado. Pode elaborar o mais belo canto de sereia de que se lembrar, dizer que só a divulgará lá para Novembro, contudo, toda a sua agenda está estruturada para continuar a alimentar a barriga da popularidade evitando azias, como se saberia mesmo da questão de Tancos através da Polícia Judiciária Militar, o embate de uma saída de Mário Centeno do Governo ou a tomada de decisão sobre a eutanásia.
Há algo, no entanto, que já sabíamos: Marcelo Rebelo de Sousa, nas palavras do próprio, é «um hipocondríaco militante». É sabida a história do dia em que em Estocolmo se convenceu de que tinha hepatite, voou rápido de regresso ao burgo, consultou médico de confiança que lhe disse que a urgência era apenas da sua fértil imaginação. Em entrevista antiga à revista da Associação Nacional de Farmácias confirmou que é «viciado» nesse tipo de estabelecimentos e tinha um leque amplo de farmácias «onde vou, com gosto, com frequência».
O inquilino de Belém, pelas pesquisas que efectuei, anda sempre com caixinhas de comprimidos, toalhitas, soro fisiológico, mede a tensão arterial e a temperatura com uma regularidade fora do comum. Logo, ao mais pequeno sinal de um coronavírus qualquer, o petiz Marcelo fugiu para baixo das saias da empregada na sua memória e o grande Marcelo blindou-se no “bunker” da sua casa de Cascais onde faz as lides da casa e «prepara as refeições”, como disse para gozo de Miguel Sousa Tavares na TVI.
Isto era divertido se não fosse trágico. Marcelo até pode pensar que vivemos num manicómio ou no pior dos “reality shows” com ele no papel de estrela maior, mas é o mais alto magistrado da Nação. Portugal não pode ser a chacota diária, muito menos alimentada por quem devia beber um trago de “gravitas” nos momentos mais complicados. Um dia a História também o julgará e talvez no rodapé onde irá estar não terá o cognome de «O afectivo», «O selfie», ou «O abraço». Nessa Crónica Geral do Reino será apenas imortalizado como «Marcelo, o hipocondríaco». Para um Presidente da República é muito pouco.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
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