O admirável mundo do ESG – dare to feed the white wolf
Não seria realista pensar que, nas poucas décadas que temos para tentar reverter os impactos de um modelo social e económico que tem tanto de milenar como de errático, poluente e discriminatório.
Reza a lenda que, certo dia, o velho cacique da tribo cherokee decidiu orientar o seu jovem neto sobre a vida. Explicou-lhe que todos nós travamos uma contínua batalha interior, entre o nosso lado virtuoso, ponderado, sensato e gentil, representado por um amigável lobo branco, e o nosso lado negro, conflituoso e pouco nobre, representado, ao invés, por um agressivo lobo negro.
Enquanto advogados estamos habituados a que nos sejam apostas e impostas vestes de lobos negros, conflituosos e movidos por valores pouco nobres. Somos – muitas vezes legitimamente -, acusados de estar demasiado focados na nossa própria rentabilidade, e de sermos pouco ou nada guiados pelo benemérito valor acrescentado que, querendo, conseguimos aportar às atividades dos nossos clientes, mas também à sociedade e à forma como ela evolui e, desejavelmente, muda.
No último par de anos – com um significativo atraso face à realidade de outras economias mais desenvolvidas – tem vindo a ocupar muitos dos nossos dias a ideia de que a sustentabilidade do planeta, das nossas vivências individuais e coletivas e, até, das nossas organizações, será proporcional à nossa habilidade para, rapidamente, passarmos a reger as nossas decisões por critérios ESG (Environmental, Social & Governance).
O lobo negro que existe dentro de cada um de nós diz-nos que o ESG já é um (nada) novo nicho de mercado onde, inegavelmente, todos vamos querer estar de forma combativa, daí retirando os inerentes proveitos reputacionais e financeiros. Por sua vez, o audaz lobo branco grita-nos em surdina que o maior desafio que enfrentamos reside em sermos capazes de canalizar os nossos recursos (que, muitas vezes, apenas o lobo negro nos conseguirá proporcionar) e, a partir deles, fazermos o que realmente importa: mudarmos. Mudarmo-nos a nós próprios e mudarmos cada um dos nossos diversos micro-climas profissionais e pessoais, implementando medidas que tornem a nossa sociedade, as nossas organizações e as nossas vidas efetivamente menos poluentes, centradas no life-work balance dos seus membros – e não no já démodé e tão pouco verídico work-life balance – e em que é a meritocracia (e não qualquer outro critério arcaico como a prevalência de género, a idade, a orientação sexual ou a proveniência familiar) a determinar o sucesso ou o infortúnio dos nossos intentos.
Não seria realista pensar que, nas poucas décadas que (ainda) temos para tentar reverter os impactos de um modelo social e económico que tem tanto de milenar como de errático, poluente e discriminatório, conseguiremos eliminar os alicerces ancestrais da nossa economia e da nossa vida social, colocando, no seu lugar, novos pilares desenhados exclusivamente de acordo com os melhores critérios e práticas ambientais, sociais e de governação. Mas seria ainda menos aceitável exigirmos de cada um de nós e das organizações que integramos – muitas delas tradicionalmente orientadas para o lucro – menos do que um compromisso firme e altamente disruptivo na alocação significativa dos seus melhores recursos humanos e financeiros para este urgente desafio, individual e coletivo, que será mudar esses pilares ancestrais e passarmos a orientar-nos, e às nossas organizações, por valores ambiental e socialmente sustentáveis – direcionados à tão almejada economia verde, salarialmente justa e onde a igualdade de oportunidades e o mérito sejam a pedra de toque.
Como concluiu o velho cacique, nunca conseguiremos – individual e/ou coletivamente – atingir um equilíbrio sadio e sustentável, se não mantivermos alimentados os dois lobos que vivem dentro de nós e das nossas organizações. Esse é “o” desafio: alimentar e fazer crescer o lobo branco, sem esquecer que ele vive lado a lado com o lobo negro!
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