O Arco-íris do céu noturno

  • Maggie João
  • 9 Agosto 2021

Ainda existe um grande número de profissionais que nem percebe o porquê da existência ou o significado de conceitos obscuros como “reconhecimento” e “apreciação”.

“Olha! Parece-me que ainda estou a vê-lo!” Diz-me com saltinhos de entusiasmo. “Como pode ser?” Digo com condescendência e divertida pelo inusitado. “O céu já está escuro… Sabes que não há arco-íris no céu da noite.” Esta minha reação deixou-me inquieta… só porque algo nos parece disparatado quererá mesmo dizer que não seja real? Afinal há tanto que uns conseguem ver e outros não. Todos vemos coisas tão díspares, a perceção do que nos rodeia e que o nosso cérebro nos proporciona é tão única e particular, que a mera pretensão de conhecer a realidade ou sequer parte dela, de modo inequívoco é ridícula, tal como a de ver um arco-íris num céu enegrecido.

Faço o paralelo com o nosso quotidiano empresarial onde existe ainda tanto que me assombra… os pressupostos de que partimos, o que dizemos instintivamente sem refletir na sua validade, o modo como continuamos a ver o mundo do trabalho e quem o executa. Principalmente quando contactamos com a tradicional e recorrente postura: “Fez bem o seu trabalho, não fez mais do que a sua obrigação!” Ou então “Este colaborador fez um trabalho excecional, e por isso eu até lhe disse: Obrigado! e até amanhã!”. Para alguns, isto está bom e chega!

Ainda existe um grande número de profissionais que nem percebe o porquê da existência ou o significado de conceitos obscuros como “reconhecimento” e “apreciação”. O ato de “elogiar” é visto como algo que pode ser nocivo se administrado em demasia. O elogio tem que ser suado, sofrido e cuidadosamente medido em balança de laboratório, correndo-se o risco de criar algum “ser” demasiado sensível, dependente e pouco resiliente. Mas essa “dosagem” não é evidente, não vem prescrita em nenhuma bula, nem sequer lá estão descritas as contraindicações em que alguns centram a sua preocupação. Assim, tal como “corpos estranhos” que tentamos expulsar, anti natura ao nosso estilo de liderança, rechaçamos o mais possível estes atos que não fazem parte da nossa descrição de funções.

Neste tipo de maleitas, o tempo e a insistência, normalmente operam milagres. O avanço é lento até conseguir que o tal “algo de diferente” se vá entranhando aos poucos em alguns e a mudança de mentalidade se vá de facto sentindo. Quando estas acontecem, só devemos ficar gratos por termos o privilégio de assistirmos na primeira fila e saber, que contribuímos de algum modo, para que algo se alterasse na mecânica das relações humanas.

Refletindo bem concluo, que provavelmente, no nosso papel de “Pessoa de Pessoas” é suposto sentirmo-nos exatamente assim, sempre a apontarmos um arco-íris num céu escuro, com alguém ao nosso lado, com uma necessidade visceral de negar algo incompreensível para ela. Algo que será talvez para esta “evidente e óbvio”?

Mas será isso que nos distingue dos demais, que nos identifica e que nos apaixona. Não nos levarmos pelo “óbvio” e colocarmos em causa as realidades que nos rodeiam. Quanto a mim… não mais cometerei o mesmo erro. Da próxima vez, vou dizer: “Tens toda a razão minha filha, está mesmo ali o arco-íris”.

  • Maggie João

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