
O Evangelho segundo José Sócrates
Sócrates, o arguido com mais soberba, arrogância, falta de educação e sem qualquer noção que o tribunal não é um palco da sua tragédia grega mas sim um pilar da democracia.
Achava o país que o julgamento da Operação Marquês – que teve início dez anos e meio após a detenção de José Sócrates – iria encher páginas de jornais e aberturas de telejornais pelos crimes económicos em causa e, obviamente, pelo simples facto do principal arguido ter sido primeiro-ministro de Portugal, eleito com maioria absoluta no início deste século.
Mas não. A controvérsia deste julgamento tem um nome: Sócrates. Sócrates, o arguido com mais soberba, arrogância, falta de educação e sem qualquer noção que o tribunal não é um palco da sua tragédia grega mas sim um pilar da democracia e onde estão titulares de órgãos de soberania e onde o ex-líder socialista estaria ali apenas para demonstrar a sua alegada inocência.
Há quem diga que, desde o início do julgamento, José Sócrates adotou uma postura combativa, marcada por ironias, interrupções e confrontos diretos com a juíza Susana Seca e os procuradores.
Mas é muito mais do que combatividade, assertividade ou frontalidade. Em apenas três sessões de julgamento (à data que escrevo esta prosa), já se perdeu a conta aos raspanetes que a juíza Susana Seca deu ao ex-líder socialista. Idas à casa de banho sem autorização do coletivo de juízes, um tom de voz próximo do grito, apelidar as questões do Ministério Público como ‘idiotas’, teses da acusação que chamou de “amalucadas”, obrigar o procurador a tratá-lo por ‘senhor’, dizer constantemente que a juíza tem uma profunda hostilidade perante o arguido, interromper a juíza várias vezes falando mais alto são apenas alguns exemplos.
Lá fora, perante as inúmeras questões dos jornalistas, não deixa de nos relembrar o ódio que tem aos meios de comunicação social. Ridículos, perguntas que só têm o objetivo de audiências, episódios em que alertou por diversas vezes algumas jornalistas ‘para não gritarem’. No fundo, José Sócrates só quer um microfone. Microfone que esperou durante dez anos que lho dessem, protagonizando um verdadeiro circo e olhando apenas para o seu umbigo, comportando-se como um mártir.
O arguido, no fundo, acha que todos são seus inimigos, não quer ser julgado, quer é ser ouvido, quer questionar, quer apontar as suas ‘smoking guns’ às juízas, Ministério Público, jornalistas e… toda a gente no geral. O arguido insistiu que se trata de uma acusação “fantasiosa, delirante” e que segue “a lógica de que: há uma fortuna escondida porque há corrupção, há corrupção porque há uma fortuna escondida, uma justifica-se à outra, a premissa justifica a conclusão, e a conclusão justifica a premissa”. É como a Bíblia “que diz sempre a verdade porque foi escrita por Deus. É desta forma que o MP faz a acusação”. José Sócrates, o animal feroz que atualmente vai muito para além da sua ferocidade, no fundo, quer é convencer que a sua Bíblia é a doutrina certa e que, ele, é Deus em forma humana.
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