
O silêncio em torno do dinheiro
Falar de dinheiro continua a ser tabu em muitas famílias, mas é tempo de quebrar o silêncio e transformar poupança e investimento em escolhas conscientes.
O dinheiro continua a ser, para muitas famílias, um assunto desconfortável. Expressões como “nesta casa não se fala de dinheiro”, que tantos ouvimos ao crescer, transformaram o tema num tabu. O resultado é um vazio de conhecimento que, inevitavelmente, abre espaço a mitos, ansiedades e a decisões pouco fundamentadas.
É neste contexto que inicio hoje uma série de artigos dedicados à poupança e ao investimento com o objetivo de esclarecer dúvidas, clarificar conceitos e simplificar o processo de investimento.
Depois de mais de 30 anos a acompanhar os mercados financeiros, acredito que o silêncio em torno do dinheiro é um dos maiores entraves à literacia financeira — e, por consequência, à liberdade de escolha de cada pessoa e de cada família.
A ausência de referências sólidas dentro de casa leva muitas vezes a que as pessoas se guiem por aquilo que ouvem na televisão, nas redes sociais ou entre pares. O problema é que essas fontes nem sempre transmitem informação fidedigna. Assim, perpetuam-se equívocos, propagam-se crenças erradas e até receios que limitam a capacidade de planear e agir.
Porém, a falta de diálogo não se restringe ao espaço familiar. Entre amigos e colegas de trabalho, falar de finanças pessoais também não é habitual. O receio de se ser julgado ou comentado mantém a conversa escondida, e quando não há comunicação, aumenta a indiferença e, por sua vez, a iliteracia.
O dinheiro não é só números, não são só somas e cálculos. Há uma dimensão emocional enorme ligada ao dinheiro – o medo, a esperança, o orgulho, os sonhos.
O impacto deste silêncio faz-se sentir quando surgem decisões financeiras concretas como contrair um empréstimo, escolher um plano de reforma ou investir a poupança. O desconhecimento e a impreparação dão lugar à insegurança que pode levar à tomada de decisões precipitadas ou adiadas indefinidamente.
Inúmeros estudos confirmam que, independentemente do rendimento das famílias, a ansiedade financeira é um fenómeno real e crescente, apontado como uma das principais causas de conflito, tendo um impacto real no bem-estar pessoal, conjugal e familiar.
No entanto, esta ansiedade não atinge somente aqueles com poucos recursos financeiros e que têm dificuldade em fazer face às despesas do dia-a-dia. Este, é um tema transversal a toda a sociedade.
Também aqueles que conseguiram constituir uma poupança e que têm alguma disponibilidade financeira para investir têm dúvidas — o que faço com o meu dinheiro? Como invisto para que cresça? Posso perder tudo se investir o meu dinheiro em bolsa? Estas são dúvidas frequentes e também elas são reflexo de uma falta de conhecimento financeiro e da ausência de uma cultura de investimento.
A forma como a poupança é gerida tem um enorme impacto na vida presente e futura, mas na escola não nos ensinam formalmente a geri-la. Vivemos numa sociedade onde se aprende a resolver equações complexas, mas não se ensina a fazer um orçamento familiar. Decoramos a tabela periódica com as suas ligações químicas, mas não compreendemos o que é a inflação e quais os seus impactos no bem-estar financeiro das pessoas.
Além de que o dinheiro não é só números, não são só somas e cálculos. Há uma dimensão emocional enorme ligada ao dinheiro – o medo, a esperança, o orgulho, os sonhos. Por isso, falar de poupança e investimento é, na verdade, falar de escolhas, de autonomia e de futuro. É no limite, falar de liberdade.
Com esta coluna, procuro abrir um espaço de reflexão onde esses temas possam ser tratados com clareza e rigor. Porque quanto mais descomplicarmos a forma como olhamos para o dinheiro, para a poupança e o seu investimento, maior será a capacidade de cada um transformar as suas decisões financeiras em escolhas conscientes e acertadas.
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