O status quo é um mau partido
A poucos meses das eleições, ainda há muitos “indecisos”. A aversão ao risco cria um "viés do status quo”, mas se os indecisos votassem numa mudança, ficariam mais satisfeitos com o resultado final.
A Economia é sobre a tomada de decisões. É importante tomar a decisão mais correta possível porque os nossos recursos são escassos. Ao escolher uma opção, inevitavelmente renunciamos a outra. Frequentemente, estas escolhas são complexas e nem sempre temos a certeza sobre qual é a melhor opção, especialmente quando as alternativas desafiam o status quo. Será que vale a pena investir neste projeto? Implementar este programa de política pública? Votar neste candidato ou partido? São questões frequentes que nos levam a perceber a importância das nossas decisões.
Uma forma comum de decidir é comparar o custo esperado com o benefício esperado, a chamada análise custo-benefício. Se o benefício supera o custo, então avançamos. Isso implica considerar várias dimensões de benefícios e custos, elaborando uma lista de prós e contras mais ou menos estruturada. Este exercício é complexo e, às vezes, é mais fácil ter uma noção geral do que medir exatamente todos os custos e todos os benefícios. É por isso essencial fazer também um estudo depois da decisão, para aprender sobre os efeitos das decisões, e melhorar as análises e custo-benefício. Por exemplo, o trabalho da Comissão Técnica Independente para o novo aeroporto de Lisboa é um exemplo muito positivo deste tipo de exercícios.
Seja através de uma análise detalhada ou não, antes de tomar uma decisão normalmente formamos uma expectativa sobre os custos e os benefícios envolvidos. No entanto, é também crucial reconhecer os vieses que influenciam as nossas escolhas. Um exemplo é a aversão ao risco. A mudança é normalmente associada a incerteza e risco. E se somos avessos ao risco, só implementamos uma mudança se os benefícios esperados forem suficientemente grandes para compensar a incerteza. Já se os benefícios forem relativamente pequenos, tendemos a manter o que já conhecemos (apesar de por vezes isso também ser arriscado).
Este viés é um dos muitos motivos pelos quais o status quo é tão persistente: conhecemos o presente melhor do que o futuro, para o bem ou para o mal. No entanto, e este é o ponto crucial, se mudássemos o status quo sempre que estivéssemos mais ou menos indiferentes entre duas opções, em média ficaríamos numa situação melhor. Por vezes a escolha corria mal. Mas a maior parte das vezes a escolha correria bem e estes pequenos benefícios iriam acumular-se. A nossa aversão ao risco impede-nos de melhorar a nossa situação. Há, claro, mais causas para este “viés do status quo”. Este fenómeno, onde a decisão de cada agente económico é influenciada pelo seu ponto de referência inicial resulta numa preferência pela opção vigente.
A poucos meses das eleições, ainda há muitos “indecisos” nas sondagens. Muitos destes eleitores vão acabar por votar no status quo, seja ele o partido no governo, a oposição que menos se distingue do partido no governo, ou simplesmente a abstenção. Partidos mais pequenos vão ser vistos com muita aversão ao risco, especialmente os partidos mais novos, e receberão poucos votos dos indecisos. Claro que há mais razões para evitar votar nos partidos mais pequenos além da aversão ao risco, por exemplo, o facto de pelo menos um deles ser péssimo, ou a existência de círculos eleitorais que fazem com que muitos votos acabem desperdiçados. No entanto, se estes eleitores estão realmente indecisos depois de fazerem uma análise custo-benefício séria, é provável que ficariam mais satisfeitos com uma mudança, e apenas a aversão ao risco os impede de tomar essa decisão.
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