Ou temos todos calma, ou vai dar…
Nós cidadãos, não podemos tornar-nos caixas de ressonância das caixas de comentários dos jornais. A tolerância e o respeito pelo direito à livre opinião, deviam ser um bem maior.
Vamos lá acalmarmo-nos. Uma pessoa que é contra a interrupção voluntária da gravidez, não é uma besta machista. O empresário da Padaria Portuguesa que quer ter mais lucro e menos despesas (qual é o empresário que não quer?!), não é um porco explorador. Os aficionados das corridas de touros não são pessoas desprovidas de sentimentos. Os católicos que têm uma agenda política, não têm nada contra os ateus que têm uma outra agenda política. Os cidadãos que defendem os contratos de associação com colégios privados, não são psicopatas obcecados com a defesa da segregação social dos desfavorecidos. Em última instância, aqueles que não passam o dia obcecados a dizer mal de tudo o que Donald Trump faz, não são misóginos, racistas e sociopatas.
Por outro lado, aqueles que defendem a geringonça, não são necessariamente inimigos do mercado livre. Tal como os contribuintes que defendem o serviço nacional de saúde, não são obrigatoriamente pessoas que tenham algo contra o direito a optar pela saúde privada. Já agora, aqueles que optam pelo veganismo, não são pessoas intolerantes que querem impor a sua dieta ao resto do mundo. Tal comos os sindicalistas que lutam diariamente pelos direitos laborais, não são inimigos dos empresários.
Nós cidadãos, não podemos tornar-nos caixas de ressonância das caixas de comentários dos jornais. A tolerância e o respeito pelo direito à livre opinião, deviam ser um bem maior. Desde quando é que nos tornamos, à direita e à esquerda, seres irrascíveis e desprovidos de educação? Desde quando deixamos de conseguir jantar todos à mesma mesa?
A resposta fácil é culparmos as redes sociais. Em parte, talvez seja verdade, e as mesmas tenham dado palco mediático a um discurso que até aqui só ouvíamos nas tascas. Mas porque é que nos deixamos todos enrolar por este fanatismo verbal?
Não me lembro de nenhum período da história recente em que se respirasse um clima de tanta intolerância. Em que esquerda e direita tivessem assumido de forma tão evidente, para si próprias, que “nós somos os bons e eles são os maus”.
É este fanatismo que corrompe a democracia e que quebra os laços sociais. Quantas famílias, quantos grupos amigos, quantos colegas de trabalho se deixaram de falar à custa desta nova democracia do dedo em riste? Vamos continuar a ver quem é capaz de berrar mais alto?
A bem ou a mal, vamos acabar por perceber que são precisos consensos e que quando governo e oposição extremam posições, acabam por dar o flanco ao populismo. É da intolerância, da raiva e do pior que todos temos cá dentro, que se alimentam aqueles que se querem aproveitar do poder.
E sabem o que é que a História nos ensinou sobre isto? Ensinou-nos que quando eles tomam o poder, invariavelmente dá merda.
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