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Paulo Simões, uma homenagem devida
O Paulo Simões faleceu inesperadamente na passada quarta-feira. Ficámos todos mais pobres com a sua partida. Que saibamos honrar a sua memória e o seu exemplo.
O Paulo Simões faleceu inesperadamente na passada quarta-feira, fulminado por doença infelizmente identificada numa fase já muito avançada.
O Paulo é, há mais de 15 anos, e enquanto managing partner da Egon Zehnder, uma referência absolutamente incontornável na atividade de executive search em Portugal, tendo contribuído decisivamente para que a seleção de gestores de topo cada vez mais seguisse um processo muito profissional, valorizando-se a qualidade e a definição do perfil – competências e características pessoais que mais se adequa aos requisitos da função. Ajudou muitas empresas a melhorarem o seu desempenho e ajudou a promover uma cultura de meritocracia como alavanca para o sucesso profissional. E fê-lo evidenciando duas características que sempre o acompanharam profissionalmente: era uma pessoa tão confiável quanto discreta, sabendo de modo irrepreensível cuidar do sigilo que cada relacionamento profissional deve impor.
Mas há outro domínio, porventura menos sublinhado, em que os contributos do Paulo foram igualmente muito importantes, refiro-me à corporate governance, e no qual estabeleci com ele, em diferentes vertentes, uma estimulante relação profissional.
Desde logo, e numa área de maior proximidade com a atividade core de executive search, sublinhe-se o seu papel na profissionalização dos processos de seleção de administradores não executivos (em particular nas empresas de interesse público)), habitualmente confinados ao universo das relações pessoais de quem tem voz determinante na escolha dos administradores. Com tacto, paciência e sabedoria foi disseminando as vantagens de previamente se definirem perfis, numa lógica em que primeiro de procura introduzir uma visão de portfólio à composição do Conselho de Administração (CA), mapeando-se conhecimentos e competências e identificando-se, assim, gaps que importa preencher e, só então, se pesquisando candidatos adequados ao perfil definido. Tive oportunidade, em mais de uma empresa, de contratar o Paulo para se concretizar um processo de seleção de administrador não executivos, e era um relacionamento muito estimulante e desafiante, pois o ele tinha permanentemente o foco em contribuir para que no final se fizesse a melhor escolha, reduzindo implicitamente a margem para que outros critérios se sobrepusessem a um racional que deveria ser marcadamente profissional.
Mas houve muitas outras áreas, no domínio do corporate governance em que o Paulo deixou a sua marca, em termos de disseminação das melhores práticas, como as dimensões de independência do CA ou a avaliação das dinâmicas de funcionamento do CA e do desempenho dos administradores.
Tive também oportunidade, nos anos em que presidi ao Instituto Português de Corporate Governance, em realizar diversas iniciativas conjuntas com a Egon Zehnder, que o Paulo quis desde logo tornar sócia do Instituto, nomeadamente conferências de análise e divulgação de temas diversos, como o propósito empresarial e os sistemas de remunerações.
Para o final fica o que é o mais importante, a pessoa. O Paulo era um entusiasta da vida, que deveria e merecia ser plenamente desfrutada e todos os seus amigos ouviram decerto as suas histórias de incontáveis viagens, querendo tocar e sentir todos os países do mundo, de fantásticas refeições em restaurantes estrelados, umas vezes, ou absolutamente escondidos, outras. Eram conversas contagiantes, que nos faziam sentir um pouco mais vivos e com acrescida vontade de partir à descoberta. Mas era, também, um homem preocupado com a sociedade em que vivia e sobretudo com o legado que deixaremos aos nossos filhos. Era um pensador lúcido, com opiniões claras e muitas vezes arrojadas, de como poderíamos, como país e como comunidade, avançar e progredir.
Ficámos todos mais pobres com a sua partida. Que saibamos honrar a sua memória e o seu exemplo.
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