Política falsa nas redes sociais
O Facebook voltou a recusar proibir anúncios políticos com mentiras na rede social. Ao invés, vai pôr nos utilizadores o ónus de escolherem se querem ver menos propaganda.
Longe vão os tempos em que a tecnologia era coisa de geeks. Agora, e cada vez mais, é vista como um importante fator de competitividade… para além de arma de arremesso geopolítica (Huawei?) ou risco democrático (fake news?). E, tantas vezes, como geradora de polarização na sociedade.
A cada mês, lá surge um novo tema que marca – chamemos-lhe assim – a “agenda tecnológica”. Uns mais internacionais do que outros. Outros mais complexos e relevantes do que alguns.
Um desses temas recentes é o da publicidade política nas redes sociais. Começou com uma ação do Facebook, que decidiu não proibir que os candidatos a cargos políticos usem da mentira para tentar captar eleitorado.
A decisão mereceu a condenação de várias vozes. Aliás, até uma concorrente, o Twitter, tomou o raro passo de chocar de frente com o Facebook, proibindo não apenas a propaganda política falsa como todo e qualquer anúncio político.
Esta semana, o dossiê conheceu uma nova página. O Facebook reforçou a decisão de continuar a gerar receitas com a promoção de mentiras políticas, mas deu um ligeiro passo em frente: anunciou que vai dar aos utilizadores um maior controlo nesta vertente, permitindo, a quem assim o entender, ver “menos anúncios de política e de questões sociais no Facebook e Instagram”.
É uma típica fuga para a frente. Como argumentou o editor de tecnologia do Politico Europe, é partir do princípio que os cidadãos “têm tempo, vontade e capacidade” (e, digo eu, paciência?) para correr uma série de menus confusos numa aplicação, apenas para verem menos… política.
Fica mais uma vez provado que, em tecnologia, talvez o setor mais dinâmico da economia, muitas vezes a tendência é de inércia, de deixar tudo como está. Veja-se o caso do RGPD, fértil em acusações mas parco em multas às grandes tecnológicas, ou o facto de deixarmos que estas empresas continuem a pagar poucos (ou nenhuns) impostos.
Conta-nos o WSJ que um dos grandes defensores dessa inércia no conselho de administração da rede social é Peter Thiel, administrador e um polémico investidor com fortes ligações à Casa Branca de Donald Trump.
Com as eleições presidenciais nos EUA à porta, conhecendo o candidato e a campanha de 2016, a decisão do Facebook tem pouco de espantosa.
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